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domingo, 25 de agosto de 2024

Duque de Caxias - Um Humano, Acima de Tudo

por Manoel Soriano Neto (*)
ASPECTOS HUMANOS DO DUQUE DE CAXIAS
1. Considerações Iniciais
Muito já se disse a respeito do Duque de Caxias. Entretanto, traços humanos personalíssimos e aspectos singulares da edificante existência do inigualável Soldado merecem ser rememorados. 
Assim, apresentaremos alguns registros, dignos de nota, relativos ao Homem-Caxias; à sua audácia nos campos de batalha; ao resgate de sua memória e às principais homenagens que lhe foram tributadas. Tal é o objetivo destas despretensiosas achegas, alinhavadas em apertada e incompleta síntese.

2. O Homem-Caxias

a. Luiz Alves de Lima e Silva pautou a sua vida pela inteireza de caráter, arrojo, acendrado patriotismo, fervorosa religiosidade e inexcedível exação no cumprimento do dever.
Caxias possuía estatura acima da média para a sua época (quando trasladado, em 1949, para o Panteão em frente ao Ministério da Guerra — hoje Palácio Duque de Caxias —, no Rio de Janeiro, na Ata de Exumação constou que o esqueleto media 1,72m); de compleição atarracada, ombros largos, olhos castanhos, cabelos castanho-alourados, tez clara e rosada, voz suave, sisudo, garboso, austero, de hábitos morigerados, rigorosíssimo no cumprimento do dever, porém humano, saudável, apesar de padecer de uma malária contraída no Maranhão, que lhe causava a inchação do fígado; era orgulhoso de sua formação militar; corajoso; determinado; sedizente fatalista, o que também explica a sua invulgar temeridade; maçom dedicado; marido e pai extremoso e “cristão de fé robusta”.

b. O Coronel José de Lima Carneiro da Silva, neto de Caxias, entrevistado, aos 83 anos, pela revista “Nação Armada” (n° 23, Out 1941), disse em certo trecho da entrevista: “O Duque, após o passamento da Duquesa, jamais tirou o luto, mesmo em casa. Era, entretanto, alegre e se alimentava bem, preferindo à mesa, pratos da culinária gaúcha. Apesar de fluminense, o Rio Grande do Sul era a sua menina dos olhos. A toda hora falava das suas coisas, dos seus homens e tinha mesmo um certo sotaque de riograndense do sul. A música encantava-o, como velhas mazurcas e valsas, tocadas ao piano por sua comadre Maria José, que ele ouvia em silêncio, fumando grandes e perfumados charutos. Era um inveterado fumante de charutos, consumindo vários por dia.”

c. Caxias trouxe do Paraguai, três cavalos: “Moleque”, “Douradilho” e “Aedo”. Um de seus biógrafos, o Dr.Vilhena de Moraes, nos dá conta da seguinte reminiscência: “Ao fogoso “Douradilho”, da ponte de Itororó, Caxias, já velho e enfermo, costumava melhorar a ração na data do aniversário daquele combate (6 de dezembro de 1868)”.

d. Quando da concessão da anistia aos vencidos, ao término da Revolução Farroupilha, aflorou, sobejamente, o sentimento de generosidade do “Pacificador”.
Ele concedeu a liberdade aos cativos farroupilhas, incorporando os que assim desejassem ao Exército Imperial, e tratou com extrema bondade os derrotados, sendo escolhido, pelos próprios gaúchos, para Presidente da Província e por eles indicado para Senador pelo RS. Não apenas por isso, o saudoso jornalista e acadêmico Barbosa Lima Sobrinho, concedeu-lhe a invulgar honorificência de “Patrono da Anistia” e o eminente historiador militar, Coronel Cláudio Moreira Bento, o cognominou de “Pioneiro Abolicionista”.

e. Ainda com referência à grandeza de espírito de Caxias, observe-se, em seu Testamento, como está expressa uma de suas vontades: “Declaro que deixo ao meu criado Luiz Alves, quatrocentos mil réis e toda a roupa de meu uso”. Diga-se que esse criado era um índio que ele trouxera, ainda jovem, do Maranhão, após a Balaiada, adotando-o e dando-lhe o próprio nome; ressalte-se que ele foi a primeira pessoa lembrada, no dito Testamento, no qual, somente ao depois, são mencionados familiares e amigos íntimos do venerando Marechal.

f. Seria despiciendo falar-se do exacerbado patriotismo do Duque de Caxias. Mas gostaríamos de encerrar essas breves considerações atinentes à figura humana desse exponencial personagem de nossa História, relembrando um trecho de uma carta por ele escrita ao Visconde do Rio Branco, ao tempo da “Questão Christie”, de dolorosa memória, e que bem evidencia o seu acrisolado amor ao Brasil: “Não se pode ser súdito de nação fraca. Tenho vontade de quebrar a minha espada quando não me pode servir para desafrontar o meu País, de um insulto tão atroz”.

3. A audácia e o destemor de Caxias

a. A intrepidez de Caxias revelou-se em inúmeros episódios, nos quais o intimorato Comandante não se furtou a correr o “risco calculado”. A sorte, entretanto, sempre o acompanhou nos momentos de alta periculosidade. É que ele “tinha estrela”, tanto que a “grande estrela de Caxias” apareceu com fulgurante brilho, nos céus do Rio Grande do Sul, quando de uma de suas ofensivas noturnas contra os farroupilhas (era, na realidade, o cometa “Brilhante”), a respeito da qual dizia Caxias, em tom zombeteiro, mas alimentando, com sagacidade, a crendice popular em torno de sua pessoa: “É, eu nasci na Vila de Estrela, no Rio de Janeiro”.

b. Caxias era, de fato, extremamente arrojado, como se pode constatar em várias oportunidades de seu historial militar, desde Tenente a General. Extraordinária foi a sua valentia nos campos de batalha, na Guerra da Independência e na Campanha da Cisplatina, tendo o jovem Tenente e Capitão recebido encomiásticas referências por sua coragem, constância e desprendimento. Saliente-se, outrossim, a sua ousadia, quando do combate de Santa Luzia (MG); no reconhecimento, em 1852, do porto de Buenos Aires e, máxime, na Guerra do Paraguai. Quando do maior conflito bélico de que participamos, o Generalíssimo executou audaciosas manobras como a de envolvimento e cerco, em conjunto com a Marinha, e que redundou na queda da “inexpugnável” Fortaleza de Humaitá, no rio Paraguai (chamada de "A Sebastopol da América"); como a “marcha de flanco” empreendida pelos nossos três Corpos de Exército através de uma estrada, de cerca de 11 km, construída sobre o Grão-Chaco e as operações da “Dezembrada”, no ano de 1868, no começo das quais se travou a memorável batalha de Itororó. No fragor desta refrega, o Marquês de Caxias, aos 65 anos de idade, parte em direção à ponte sobre o arroio Itororó, sabre em punho e a galope de carga, após bradar: “Sigam-me os que forem brasileiros!”. Dionísio Cerqueira, partícipe do cruento recontro, o descreve, magnificamente, in "Reminiscências da Campanha do Paraguai" (consigne-se que o marcial apelo do Comandante-em-Chefe era tão-somente anímico, ao sentimento de brasilidade, posto que apenas tropas brasileiras participaram da batalha).

4. O memorável resgate da memória do Pacificador

a. Quando da trasladação dos restos mortais de Caxias e de sua esposa, em 25 de agosto de 1949, para o “Pantheon Militar”, defronte ao hoje Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, ocorreu um fato histórico singular, muito pouco lembrado, infelizmente. É que, naquela data, se deu o definitivo resgate da memória do Duque de Caxias, que tantos e tamanhos serviços prestara à Pátria Brasileira, na paz e na guerra. Mas tal resgate foi apenas um belo epílogo de um justo desagravo e da recuperação da imagem do Duque, o que já vinha ocorrendo, especialmente a partir de 1923, como adiante faremos referência.

b. Caxias morreu, no ano de 1880, triste e magoado. A tristeza se devia ao falecimento, em 1874, de sua amantíssima esposa, tendo ele usado luto completo, desde então até morrer, seis anos depois. Três pungentes mágoas o afligiram no final da vida e diziam respeito ao Imperador, à Maçonaria e à Igreja Católica.
O Duque encontrava-se agastado com o Imperador, desde quando concedera, com a relutância de D. Pedro II, em 1875, a anistia aos Bispos de Pernambuco e do Pará, solucionando, de forma magnânima, a chamada “questão religiosa”. Após o retorno de uma longa viagem à Europa, o Monarca destituiu o Gabinete Conservador, presidido por Caxias, nomeando um outro, com membros do Partido Liberal. O velho Soldado, bastante desgostoso, recolheu-se à Fazenda Santa Mônica, de propriedade de uma de suas filhas, onde viria a falecer, em 8 de maio de 1880, afastando-se, definitivamente, da vida pública.
O Decreto de anistia aos Bispos, nunca foi aceito pela Maçonaria. O Visconde do Rio Branco, Grão-Mestre da Ordem, solicitou demissão do Conselho de Ministros, a fim de não assinar o citado Decreto, rompendo com o seu grande amigo Caxias, “Irmão que se tornou altamente impopular entre os da Arte Real”, pelo que o Marechal deixou de frequentá-la.
Ademais, a Igreja Católica exigiu que o Duque, provecto e doente, cumprisse os ditames de uma bula papal e abjurasse a Maçonaria. Como ele não obedeceu àquela determinação religiosa, foi expulso, por ser “maçom pestilento”, da Irmandade da Cruz dos Militares, da qual fora Provedor.
Acrescente-se que a figura de Caxias, desde os últimos anos da Monarquia, vinha sofrendo duras críticas, desferidas por profitentes do Positivismo. Os positivistas, que tiveram decisiva participação na proclamação da República, eram pacifistas, agnósticos e adeptos da "ditadura republicana", e, não apenas por isso, menosprezavam os gloriosos feitos marciais do Império, dos quais o nosso “Soldado-Maior” foi o expoente máximo.

c. Porém, naquele agosto de 1949, toda a Nação Brasileira reparou as injustiças e ingratidões perpetradas contra o ínclito Soldado, quando do traslado de seus despojos e os da Duquesa. A histórica Solenidade cívico-militar, presidida pelo Presidente da República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, revestiu-se de superlativo brilhantismo, sendo o presidente da Comissão de Trasladação, o Dr. Nereu Ramos, Vice-Presidente da República, que era um fiel maçom. Membros da Família Imperial Brasileira e o Marechal Rondon, tradicional positivista, estiveram presentes à cerimônia, que se encerrou com um monumental desfile militar. Aduza-se que a Igreja Católica velou os restos mortais de Caxias e os de dona Ana Luíza, na Igreja da Irmandade da Cruz dos Militares, que o havia expulso, em 1876, sendo concelebrada uma Missa por 18 Bispos e Arcebispos, de todos os rincões brasileiros, presenciada pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara. E mais: houve um dobre de sinos, em todas as igrejas católicas do Brasil, na hora da trasladação.
Destarte, em 25 de agosto de 1949, ocorreu, de fato, uma memorável reparação histórica da altaneira imagem de um dos maiores filhos desta Pátria, o Duque de Caxias!

5. Principais homenagens tributadas a Caxias

a. Caxias, “Nume Tutelar da Nacionalidade”, foi tudo! Marechal do Exército, Conselheiro de Estado e da Guerra, Barão, Conde, Marquês, Duque, Presidente e Pacificador de Províncias, Senador (pelo RS), Deputado (pelo Maranhão, eleito, mas não empossado), três vezes Ministro da Guerra e três vezes Presidente do Conselho de Ministros! E o Brasil soube reconhecer os beneméritos serviços por ele prestados à Pátria — “nossa Mãe-Comum”. Por esses “brasis” existem incontáveis monumentos, logradouros públicos, escolas, etc., que ostentam o augusto nome do maior vulto militar da História do Brasil. Dentre essas honrarias, sobrelevam-se as denominações de duas importantes cidades: a de “Duque de Caxias”, no Rio de Janeiro, e “Caxias do Sul”, no Rio Grande do Sul (diga-se, por ilustrativo, que a cidade de Caxias, no Maranhão, onde o então Coronel Luiz Alves venceu o último foco dos rebeldes, quando da “Balaiada”, deu origem ao seu primeiro título nobiliárquico — por ele mesmo escolhido — o de Barão de Caxias).

b. Caxias foi instituído, no ano das festividades do bicentenário de seu nascimento, mediante a Lei n° 10.641, de 28 Jan 2003, “Herói da Pátria”. Por isso, o nome do Herói foi inscrito no “Livro dos Heróis da Pátria” (é um grande livro de aço que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília), por ocasião de bela cerimônia ocorrida em frente ao Quartel-General do Exército, na Capital Federal.

c. No Exército Brasileiro, a impoluta memória de Caxias começou a ser reabilitada de um semianonimato (ao qual foi relegada pelo sectarismo positivista-republicano), em 1923, pelo Ministro da Guerra, General Setembrino de Carvalho. Ele instituiu, pelo Aviso n° 443, de 25 de agosto de 1923, a “Festa de Caxias”. Posteriormente, por meio do Aviso n° 366, de 11 de agosto de 1925, o mesmo Ministro criou o “Dia do Soldado”, também a ser comemorado na data natalícia do Duque. Naquele ano de 1925, sob o influxo das diretrizes do Ministro da Guerra, a Turma de Aspirantes-a-Oficial da Escola Militar do Realengo escolheu a denominação histórica de “Turma Duque de Caxias” (aliás, a Turma de 1962, da Academia Militar das Agulhas Negras, ano em que Caxias foi instituído Patrono do Exército, à qual pertence o ex-Comandante do Exército, General de Exército Enzo Martins Peri, também ostenta, com muita ufania, a denominação de “Turma Duque de Caxias”).
Outro momento histórico de grande relevância no enaltecimento de Caxias, pela Força Terrestre, se deu por ocasião do comando do então Coronel José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque, na Escola Militar do Realengo (1931/34). Este militar, de elevadíssimos méritos, implantou, naquela Escola, várias místicas alusivas a nosso glorioso passado castrense, sendo as maiores delas a instituição do título de “Cadete”, para os então alunos da Escola, e a criação do espadim, réplica do invencível sabre do “Condestável do Império" e “Unificador da Pátria”.
O Duque de Caxias foi proclamado “Patrono do Exército”, consoante o Decreto n° 51.429, de 13 de março de 1962, por louvável iniciativa do Ministro da Guerra, herói da FEB, General de Exército João de Segadas Vianna (tal Decreto também instituiu os Patronos das Armas, Serviços e Magistério Militar).
O glorioso, altaneiro e invicto Exército Brasileiro, do qual Caxias é o Patrono, possui as seguintes Organizações Militares que exibem, em suas denominações históricas, com indescritível orgulho, o seu venerável nome: “Forte Duque de Caxias”, no Rio de Janeiro (RJ); "Palácio Duque de Caxias", sede do Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro (RJ); “Batalhão Barão de Caxias”, que é o 24° Batalhão de Caçadores, de São Luís (MA); “Grupo Conde de Caxias”, que é o 3° Grupo de Artilharia Antiaéreo, de Caxias do Sul (RS); “Companhia Praça Forte de Caxias”, que é a 13ª Companhia de Comunicações, de São Gabriel (RS) e o “Batalhão Duque de Caxias”, que é o Batalhão da Guarda Presidencial, de Brasília (DF). Recentemente (pela Portaria 296, de 31 de março de 2016), o majestático conjunto arquitetônico das portentosas instalações do Quartel-General do Exército, em Brasília (DF), denomina-se "Forte Caxias".

6. À guisa de Conclusão

Impende lembrar, por derradeiro, neste breve e inconcluso escorço referente a aspectos pouco lembrados da mui grandiosa gesta e da personalidade do Duque de Caxias, de que certa e recerta é a intemporalidade das inúmeras lições que ele nos legou!
Finalmente, desejaríamos trazer à lembrança, como corolário de tudo o que até aqui foi expendido, uma expressão, — “caxias” —, cunhada pelo saudoso e emérito sociólogo Gilberto Freyre, que bem retrata o caráter adamantino e as peregrinas virtudes de nosso insigne “Soldado e Pacificador”. Tal expressão, uma adjetivação metafórica caída na consagração popular, bem caracteriza aqueles que cumprem, integral e escrupulosamente, os seus deveres. Com esta conotação, assaz notável, urge assinalar-se que o vocábulo "caxias" já está dicionarizado nos léxicos de Aurélio Buarque e Antônio Houaiss! Disse Gilberto Freyre: “Caxiismo não é conjunto de virtudes apenas militares, mas de virtudes cívicas, comuns a militares e civis. Os 'caxias' devem ser tanto paisanos como militares. O caxiismo deveria ser aprendido tanto nas escolas civis quanto nas militares. É o Brasil inteiro que precisa dele”.
(*) Manoel Soriano Neto, é Cel Veterano,
 QEMA de Infantaria e Historiador Militar.

sábado, 30 de março de 2024

31 de Março de 1964 — Para Não Esquecer!

MANIFESTO DO GENERAL OLYMPIO MOURÃO, DEFLAGRADOR DO GOLPE MILITAR, EM 31 DE MARÇO DE 1964
À Nação e às Forças Armadas:
Faz mais de dois anos que os inimigos da Ordem e da Democracia, escudados na impunidade que lhes assegura o Senhor Chefe do Poder Executivo, vêm desrespeitando as instituições, enxovalhando as Forças Armadas, diluindo nas autoridades públicas o respeito que lhes é devido em qualquer nação civilizada, e, ainda, lançando o povo em áspero e terrível clima de medo e desespero.
Organizações espúrias de sindicalismo político, manobradas por inimigos do Brasil, confessadamente comunistas, tanto mais audaciosos quanto estimulados pelo Senhor Presidente da República, procuram infundir em todos os espíritos a certeza de que falam em nome de um Estado estrangeiro, a cujos interesses imperialistas estão servindo em criminosa atividade subversiva, para traírem a Pátria Brasileira, tão generosa e cavalheiresca.
E o atual governo, a cujos projetos que negam a soberania do Brasil vêm servindo essas organizações, dá-lhes até mesmo a faculdade de nomear e demitir ministros, generais e altos funcionários, objetivando, assim, por conhecido processo, a desfazer as instituições democráticas e instituir, aberrantemente, o totalitarismo
 que nega a Federação, a República, a Ordem Jurídica e até mesmo o progresso social.
Tentaram revoltar o disciplinado e patriótico “Círculo de Sargentos”, e, recentemente, essas organizações e esse governo tudo fizeram para desmoralizar e humilhar a Marinha de Guerra do Brasil, na mais debochada e despudorada ofensa à sua disciplina e hierarquia, que nela devem predominar.
O povo, governos Estaduais e Forças Armadas, animados de fervoroso sentimento patriótico, repelem esse processo caprichosamente executado pelo Senhor Presidente da República, o qual, divorciado dos preceitos constitucionais, negando solene juramento, pretende transformar o Brasil, de Nação soberana que é, a um ajuntamento de sub-homens, que se submetem a seus planos ditatoriais.
Na certeza de que o Chefe do governo está a executar uma das etapas do processo de aniquilamento das liberdades cívicas, as Forças Armadas, e, em nome delas, o seu mais humilde soldado, o que subscreve este manifesto, não podem silenciar, diante de tal crime, sob pena de com ele se tornarem coniventes.
Eis o motivo pelo qual conclamamos todos os brasileiros e militares esclarecidos para que, unidos conosco, venham ajudar-nos a restaurar, no Brasil, o domínio da Constituição e o predomínio da boa-fé no seu cumprimento.
O Senhor Presidente da República, que ostensivamente se nega a cumprir seus deveres constitucionais, tornando-se, ele mesmo, chefe de governo comunista, não merece ser havido como guardião da Lei Magna, e, portanto, há de ser afastado do Poder de que abusa, para, de acordo com a Lei, operar-se a sua sucessão, mantida a Ordem Jurídica.
Juiz de Fora, 31 de março de 1964.
Assinado por mim Olympio Mourão Filho,
 General-de-Divisão, 
Comandante da 4ª Região Militar a da 4ª Divisão de Infantaria.
In: — MOURÃO, Laurita.  Mourão: o general do pijama vermelho. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2002
Fonte:  Blog do Prévidi - 31/03/2011
COMENTO:  esse foi o espírito que moveu o movimento contra-revolucionário de 1964. Infelizmente, diferentemente de 1935, a canalha não aceitou a derrota de sua nova tentativa de tornar o Brasil no maior satélite da então URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e partiu para a "luta armada" impedindo que a sucessão dentro da Ordem Jurídica se concretizasse. O resultado foi um período de 21 anos de governo sob o comando militar, com alguns erros e muitos acertos. A quem não concorde é só indagar: o que foi feito nos últimos 39 anos em prol do País?  O que foi feito das estradas, escolas, hospitais, MOBRAL, e grandes construções (Itaipu, Ponte Rio-Niterói, ...) que possibilitaram "pleno emprego à população? Tudo sucateado ou desmontado por ser "entulho autoritário"!! Os governos militares fizeram milagres ou coisas excepcionais? Não! Cumpriram o que deve ser obrigação de qualquer governo.  E nos últimos 39 anos? Por que não foi dada continuidade ao trabalho iniciado? Pense nisso!!  Esta é a Democracia que a sociedade quer e precisa?

domingo, 19 de novembro de 2023

Dia da Bandeira Nacional Brasileira

Foto de Ronaldo Bernardi / Jornal Zero Hora

Apesar de todos os desgostos provocados por alguns que te tocam, és uma das formas de representação de nossa sofrida Nação.
Tuas cores alegres representam, principalmente, a esperança de que este povo, um dia, encontre o rumo certo.
E o carinho que te é dedicado pelas crianças prenuncia que um dia este país terá pessoas responsáveis em seu comando, voltando a ser respeitado e ocupando o lugar que lhe compete no concerto internacional.

sábado, 15 de abril de 2023

O Que Celso Amorim Foi Fazer em Moscou?

O que será que há por trás da reunião sigilosa do "megalonanico" com Putin.
Celso Amorim, foi recebido em Moscou logo após a detenção do jornalista estadunidense Evan Gershkovich. Há hipótese de negociação envolvendo um espião russo preso no Brasil
¿Que foi fazer Celso Amorim na Rússia em 28 de março? O conselheiro de Política Externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido por Vladimir Putin no Kremlin durante uma hora, em uma visita não oficial, qualificada de “discreta” pela imprensa brasileira e somente revelada quando de seu regresso, graças a uma nota do diário Valor.
O ex chanceler, que dirigiu o Itamaraty, o Ministério de Assuntos Exteriores do Brasil, nos dois mandatos anteriores de Lula (2003-2010), saiu de Brasília em 28 de março, aterrissou em Moscou no dia 29 e depois foi à França para uma breve viajem antes de regressar ao Brasil em 2 de abril.
Indagado pela imprensa sobre a viagem, Amorim disse que o objetivo da reunião era tratar de uma possível negociação de paz brasileira para por fim ao conflito na Ucrânia.Não há uma solução imediata”, disse Amorim, “há que preparar um cenário para quando se materialize a vontade política; e quando ficar claro para uma parte e para a outra que o custo da guerra é maior que qualquer concessão, [daí] poderão fluir as ideias de paz. Os russos disseram que apreciam os esforços do Brasil tanto como os da China. Pequim apresentou um plano de paz que foi rejeitado pelo ‘Ocidente’”.
Nos mesmos dias, em Moscou, alguns dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, como o secretario geral Henrique Fontana e o secretario de Relações Internacionais Romênio Pereira, participaram de um evento do partido de Putin, Rússia Unida, sobre o tema do neocolonialismo. À agencia russa Tass, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, se limitou a afirmar que “a reunião com Amorim teve lugar para reafirmar o convite prévio a Lula para realizar uma visita oficial à Rússia e para falar das relaciones bilaterais”.
Segundo os russos, em resumo, Amorim foi recebido por Putin para confirmar o convite a Lula e falar das relações bilaterais, enquanto que, segundo os brasileiros, foi para uma possível negociação de paz na qual Putin, de fato, não estava interessado. Por isto, muitos começam a se perguntar se nessa reunião o tema não era outro.

A ideia da troca
Sergey Cherkasov em um vídeo de 2017
Por exemplo sobre Sergey Cherkasov, um cidadão russo com a falsa identidade brasileira de Victor Muller Ferreira, acusado de espionagem ao tentar infiltrar-se como estagiário no Tribunal de Haya, na Holanda, onde, segundo as investigações, queria acessar informações sobre as investigações relacionadas a crimes de guerra russos.
As autoridades holandesas o deportaram para o Brasil, onde foi detido em 3 de abril de 2022 e condenado a 15 anos de prisão pela Justiça Federal de São Paulo por uso continuado de documentação falsa. Desde dezembro, Cherkasov está preso em Brasilia e Moscou solicitou sua extradição alegando  como é habitual quando se trata de repatriar a seus próprios agentes operacionais  que Cherkasov é um fugitivo, membro de uma organização de tráfico de heroína, e que seus crimes foram cometidos entre 2011 e 2013, ainda que Rússia nunca o havia buscado antes de 2022. Mais estranho ainda quando se considera que, segundo os registros de imigração brasileiros, o espião russo estava no Brasil tanto em 2010 como em 2011.
Evan Gershkovich (The Wall Street Journal/Handout via REUTERS)
Justo quando Amorim aterrizava na capital russa, em 29 de março, o correspondente em Moscou do diário estadunidense Wall Street Journal, Evan Gershkovich, era detido en Ekaterimburgo pelo FSB, o Serviço Federal de Segurança, sucessor da temida KGB. A acusação é de espionagem, algo que não se via desde 1986, durante a Guerra Fria, com a detenção pelos russos, pelas mesmas acusações, do jornalista estadunidense Nicholas Daniloff.
Uma semana antes da prisão de Gershkovich, o que demonstra como as datas nesta historia também podem indicar um rumo geopolítico, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos havia acusado de espionagem a  Cherkasov, que sempre sob falsa identidade brasileira de Victor Muller Ferreira, após estudar Ciências Políticas no prestigioso Trinity College de Dublín, Irlanda, havia obtido um título de Mestre no programa de Relações Internacionais da Universidade John Hopkins de Washington, especializando-se em política exterior estadunidense. A acusação das autoridades da administração Biden é o requisito legal prévio para um possível pedido de extradição pelos EUA.
No Wall Street Journal, John J. Sullivan, embaixador dos Estados Unidos em Moscou até o ano passado, afirmou que o fato de que o jornalista fosse acusado de espionagem e não de um delito comum sugere “que o Kremlin quer um grande premio na troca, um prisioneiro de alto perfil”. Algo como um espião. Nada a ver com as mais recentes permutas de prisioneiros entre Moscou e Washington, como a de abril de 2022 entre o ex marine Trevor Reed, acusado de agredir a dois oficiais russos, e Konstantin Yaroshenko, condenado por tráfico de drogas nos Estados Unidos. E, mais recentemente, em dezembro, a negociação da campeã de basquete Brittney Griner, detida em Moscou com menos de um grama de óleo de haxixe, pelo russo Viktor Bout, notório traficante de armas conhecido como O Mercador da Morte.
Daniel Hoffman, ex funcionário da CIA em Moscou, declarou ao Wall Street Journal que “o momento da detenção de Gershkovich não é, provavelmente, uma coincidência” e que o Kremlin “está tratando de incentivar uma troca de prisioneiros”, assinalando que a acusação de Cherkasov por parte dos EUA precedeu em uma semana à detenção do jornalista. Para o ex embaixador Sullivan, sem dúvidas, não está claro que Washington tenha sob sua custodia algum espião russo de alto nível. E, acrescenta o Wall Street Journal, “um câmbio incluindo Gershkovich pode ser mais difícil hoje, devido às atuais relações entre EUA e Rússia”.
Aqui, portanto, é onde o Brasil poderia entrar no jogo. Porque tem um espião russo que pode oferecer como moeda de troca — o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição para a Rússia quando acabe a investigação no Brasil — e porque haveria uma perspectiva de dívida moral, tanto no Kremlin como na Casa Branca, que daria a Lula, e nem tanto ao país, uma vantagem política em sua ambígua política exterior, na qual aperta a mão de Biden e abraça o mundo multipolar de China, Rússia e Iran.
Cherkasov, que não está acusado de espionagem no Brasil, também exercia seu oficio de espião no país latino-americano. Utilizava esconderijos — "dead drop", ou recipiente fixo — para deixar dispositivos eletrônicos e mensagens, que depois eram recolhidos por outros membros da organização. Um destes recipientes foi descoberto em um bosque de Cotia, cidade vizinha a São Paulo. O documento falso com que ele ocultou sua identidade durante anos no Brasil declarava seu nascimento em 4 de abril de 1989 em Niterói, Rio de Janeiro. Foi precisamente em Niterói que a justiça brasileira descobriu e fechou, após 10 anos de processo penal, um cartório de registro civil que servia como uma fábrica de certidões de nascimento falsas, utilizadas também por uma rede de libaneses condenados por obter a nacionalidade brasileira com documentos falsos.
Além de Cherkasov, nos últimos meses foram descobertos pelo menos outros dois espiões russos com falsas identidades brasileiras. Em outubro, o serviço secreto norueguês deteve Mikhail Valeryevich Mikushin. Ele havia se apresentado como o pesquisador José Assis Giammaria na Universidade de Tromsø. Gerhard Daniel Campos Wittich era o nome falso de outro espião russo, cujo verdadeiro sobrenome segundo as autoridades gregas é Shmyrev, que viveu no Rio de Janeiro durante cinco anos, sob uma identidade brasileira com ascendência austríaca. Foi descoberto pelo serviço secreto grego porque sua esposa, a também espiã Irina Romanova, sob o nome de Maria Tsalla, operava em Atenas. O casal fugiu supostamente para Moscou, em janeiro.
No Rio de Janeiro, o suposto Daniel Campos havia alugado recentemente uma moradia próxima ao consulado estadunidense e era proprietário de uma empresa de 3D que produzia, entre outras coisas, esculturas de resina e vendia seus produtos tanto ao Exército como à Marinha e ao Ministério da Cultura do Brasil. Quem deu o sinal de alarme de seu desaparecimento em janeiro foi a noiva brasileira de Daniel Campos, que desconhecia a verdadeira identidade do jovem e denunciou seu desaparecimento durante uma viajem à Malásia.
O grande mistério segue sendo por que os espiões russos utilizam tanto o Brasil. As explicações podem ser múltiplas. Desde a facilidade para conexão a redes ilegais que proporcionam identidades falsas até a riqueza do país e seu papel estratégico no continente americano. Sob os mais de 7.000 quilômetros de costa atlântica do Brasil há quilômetros de cabos submarinos que conectam a infraestrutura de Internet do país com redes de todo o mundo. Fortaleza, no Ceará, hospeda o segundo maior centro de cabos submarinos do mundo (12 no total), com conexões para Estados Unidos (incluídos os cabos Monet em Boca Ratón, Florida), África e Europa. A Contra-inteligência, também é frágil no país. Ninguém investigou, por exemplo, se havia espiões a bordo do navio russo Akademik Boris Petrov.
O Governo do ex presidente Jair Messias Bolsonaro autorizou uma expedição científica deste navio em águas amazônicas [na verdade, atlânticas (*)] após reunir-se com Putin no ano passado, poucos dias antes do início da guerra na Ucrânia. A zona onde o Akademik Boris Petrov realizou sua exploração, em novembro passado, tem importância geopolítica. A companhia petroleira nacional brasileira Petrobras está investigando a região em busca de seus recursos petrolíferos. Além disso, o Akademik Boris Petrov havia desviado para a costa britânica em sua rota para o Brasil. Segundo o blog Plentyofships e alguns meios britânicos, sua passagem coincidiu com um acidente que danificou a infraestrutura do cabo submarino entre as Ilhas Feroe e Shetland. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, falou de uma “situação de emergência” para as ilhas.
Por último, cabe mencionar que se a guerra na Ucrânia fracassa, Vladimir Putin poderia fugir para a América Latina, segundo informou Abbas Gallyamov, antigo porta-voz de Putin. O canal de Telegram Mozhem Obyasnit afirma que funcionários russos de alto escalão estariam se empenhando em comprar propriedades e em solicitar o status de residentes na Venezuela, Equador, Paraguai e Argentina.
Também, diplomatas russos teriam comprado propriedades na Ilha Margarita da Venezuela, para escapar da detenção em caso de que a guerra conduza a uma mudança de regime na Rússia. Enquanto isso, Lula se prepara para receber em visita oficial o ministro russo de Assuntos Exteriores, Sergei Lavrov, que chegará a Brasília em 17 de abril após a viajem de Lula a China, o que poderia aplainar o caminho para a troca de Cherkasov por Gershkovich.
Fonte: tradução livre de Infobae
COMENTO: Temos, então, mais uma jornalista se esmerando para justificar ou manipular os objetivos do passeio inútil do megalonanico Celso Amorim pela Europa, dissimulado em "assuntos bilaterais", talvez com o propósito de apagar a imagem de anão diplomático adquirida pelo atual assessor presidencial em gestões passadas. O propalado "plano de paz" sequer teve a atenção de Putin. A propósito, com a recusa do russo, o Borracho-mor deu entrevista sugerindo, então, que a Ucrânia aceitasse abrir mão da Crimeia, como "gesto de boa vontade" para encerrar o conflito com a Rússia. O chanceler ucraniano, diplomaticamente só faltou recomendar que o Cachaceiro enfiasse a proposta no rabo. Sobrou, então, a narrativa sobre os espiões russos com documentação brasileira, que poderia ser o motivo da visita do chanceler russo, trazendo um contêiner com cinco toneladas de misteriosa "bagagem diplomática", previamente guardado na Argentina.
Negociações obscuras sobre compra e venda de insumos, não passaram pela imaginação da jornalista, obviamente.
Esperamos que tanto o pessoal da nossa Polícia Federal, quanto o da ABIN estejam atentos a esses possíveis indícios de "ameaças e oportunidades" e que, pelo menos tenham identificado os "outros membros da organização" que apanhavam as encomendas deixadas no bosque em Cotia/SP Enquanto isso, o pessoal da Contrainformação russa continua alimentando a história do espião preso no Brasil, sabe-se lá com qual interesse. 
(*) Não sei se houve falta de informação ou excesso de má fé da redatora original do texto, mas a Portaria autorizando o trabalho de pesquisa do navio russo na costa brasileira é muito clara e específica. Não houve autorização para ingresso em área interna brasileira, sendo que a pesquisa foi em águas marítimas atlânticas. Durante todo o período em águas brasileiras, havia um Oficial da Marinha Brasileira fiscalizando, desde a rota percorrida, até os trabalhos propriamente ditos. As amostras coletadas foram analisadas e conferidas pela FURG (Fundação Universidade de Rio Grande) e pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); o blog citado como fonte de suspeitas sobre o navio já não se encontra na internet. Por fim, a mesma Portaria prevê a apresentação de um Relatório, com itens muito específicos a serem bem detalhados ao término das pesquisas.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Golpe Interrompido

Imagem: Internet
por Ari Cunha
Nesta data, em 1964, o Brasil pegava fogo. João Goulart armava a mudança do regime. O comunismo ameaçava o país.
Em São Paulo, surgiu movimento comandado pelas senhoras católicas. Saíram às ruas protestando contra o desvio para onde o Brasil estava sendo dirigido. O movimento chegou a outros estados. Mostrava a revolta em que vivia o povo. O comunismo não tinha vez. Era contra o que pensam ainda hoje os brasileiros.
As Forças Armadas seguiram a tradição de paz. Apareceram com valor. Assim foi evitada a entrada do Brasil no caminho aberto por outros povos.
Instituiu-se o governo militar. O presidente escolhido para substituir Jango foi Castello Branco. Homem de liderança nas Forças Armadas, prontificou-se a terminar o mandato interrompido. Ficou mais um ano por determinação da massa e da força.
O projeto era devolver a democracia ao Brasil. A revolução durou 20 anos, sufocando até guerrilha no Araguaia.
O país não vive mais a agonia. A história é contada fora da verdade. Derrotados ganharam em dinheiro o “patriotismo” do gesto. Foi prêmio aos porcos, que mataram jovens com a farda militar, para roubar armas. Esses mortos escreveram a história com dignidade.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

E, Assim Seguimos, em Ritmo de Ganso — Um Passo e Uma Cagada

Eis a situação.
Houve eleições, sob condições que alguns acham suspeitas.
Os responsáveis pela aplicação dos princípios constitucionais de LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, e PUBLICIDADE, para garantir a EFICIÊNCIA, se empenharam no sentido de que a OBSCURIDADE se impusesse sobre o processo.
A violenta reação a sugestões que permitem, um maior controle da sociedade sobre o processo gerou desconfiança de que algo não anda conforme os preceitos democráticos.
Os "representantes" da sociedade, encastelados no Congresso Nacional, tornaram-se, alguns poucos, extremamente atuantes no sentido de recorrer à justiça — STF — para fazer calar quem manifestasse tal desconfiança; enquanto que a maioria covardemente omitia-se até de opinar a respeito.
O discurso do presidente
por Percival Puggina
Dois dias depois de concluída a apuração do pleito, o presidente emergiu, enfim, de prolongado retiro para um discurso de dois minutos que deixou boquiaberto o jornalismo brasileiro. Quando achavam que ele estava nas preliminares, a missão foi concluída. Precoce, muito precoce.
Humor à parte, dois minutos foi tudo que o jornalismo brasileiro teve para transmitir. Havia uma razão para a frustração: passados dois dias da eleição, os profissionais da comunicação continuavam convencidos ou querendo convencer a sociedade que tivemos uma eleição absolutamente normal. No entanto, a única coisa normal foi o cumprimento do cronograma. Quase tudo mais compôs um catálogo de absurdos.
Entre esses absurdos está a total incapacidade de perceber, ou a deliberada intenção de não revelar, a anormalidade do ambiente político em que se travou a campanha eleitoral, desde muito antes da abertura de sua abertura oficial. Aliás desde antes, até mesmo, da sequência de atos judiciais que produziram o grande disparate: Lula em condições de disputar a presidência.
Mesmo em presença dessa imensa anomalia seria perfeitamente possível uma disputa isonômica, se travada num contexto de equidade. Mas não. Lula foi beneficiado com a invulgar condição de ser um candidato cujo passado não podia ser mencionado (a não ser de modo elogioso, imagino) e cujas más companhias, relações políticas e empresariais foram aspiradas do mundo dos fatos.
Por outro lado, esse mesmo jornalismo que esperava e cobrava do presidente uma reação protocolar, integrou-se de modo notório à oposição desde 2019. Por anos a fio, cada jornal, um manifesto; cada rádio emissora, um discurso; cada TV, um comício. Sem chances ao contraditório. E onde esse contraditório surgiu no pequeno nicho das possibilidades, ergueu-se contra ele o braço inominável da censura.
Enquanto grandes grupos de comunicação se dedicaram intensamente à construção de narrativas, aos sofismas e à análise ilógica, as redes sociais, responsáveis diretas pelos resultados eleitorais de 2018 e 2020, foram levadas a uma espécie de campo de concentração onde a vastidão do ciberespaço virou um galpão patrulhado por cães farejadores.
Se tudo isso é muito normal, se tudo isso é “protocolar” ou constitucional, se escrevo sobre sapos de bom paladar facilmente digeríveis, então o discurso do presidente deveria ser bem outro. Só que não. Obviamente, não. Durante quatro anos, sempre acusado de autoritário, ditatorial, golpista e outras coisas mais, o presidente lecionou respeito às quatro linhas da Constituição àqueles que a transformaram em tempero para uso ao gosto.
Em seu discurso, reprovou a paralização das estradas e disse bem-vindas as pacíficas manifestações populares (as pessoas já experimentaram perdas expressivas de sua liberdade de opinião, expressão, locomoção e temem pelo futuro). Entendam isto os responsáveis: as pessoas sentiram suas liberdades sufocadas, se sentem ameaçadas e fazem inevitáveis analogias com nações vizinhas!
Quem não sabe o tamanho do problema que ajudou a criar, não entendeu a festa nos presídios e nos bastiões do crime organizado, não assistiu ao comício do vencedor, não viu algo muito errado no “feirão” dos saques a estabelecimentos comerciais, é inepto para as funções que exerce.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

É Só Desta Vez???

por J. R. Guzzo
Há duas perguntas fundamentais a se fazer para a eleição presidencial do próximo dia 30, ambas trazidas pelos fatos. O ex-presidente Lula acaba de censurar o jornal Gazeta do Povo: exigiu que o TSE proibisse o diário de publicar informações sobre atos de repressão praticados pelo ditador da Nicarágua, com quem vive aos beijos e abraços há anos, e foi obedecido na hora.
Charge do Solda (Site Solda Cáustica)
A pergunta é: Lula vai censurar a imprensa só essa vez, ou vai censurar de novo se chegar ao governo e publicarem alguma coisa que ele não gosta?

VIOLAÇÃO GROSSEIRA – O complexo STF-TSE, que manda nas eleições e em mais um caminhão de coisas, violou de forma grosseira a Constituição ao censurar a Gazeta. Pergunta: o alto Judiciário vai desrespeitar a lei só no período eleitoral, ou vai continuar assim pela vida afora?
Lula diz o tempo inteiro, e cada vez com mais raiva, que vai impor ao Brasil, se eleito, o “controle social dos meios de comunicação” — ou seja, o governo vai ficar autorizado a proibir a publicação de qualquer conteúdo que ele não queira que seja publicado.
Dizem, é claro, que “não é bem isso”. Mas é exatamente isso — ou alguém acha que o “controle social” da mídia vai existir, num governo de Lula, para garantir que a imprensa publique todas as críticas, notícias e opiniões que quiser?

“CORONEL DE AI-5” – Hoje, mesmo sem dispor do seu tão exigido “controle”, ele já está censurando como um coronel de AI-5; decidiu que o povo não pode saber o que já sabe sobre os seus amores com a ditadura da Nicarágua, porque ficou com medo de perder voto com isso. E se tiver esse controle? Vai utilizar seus poderes de censor para proteger a liberdade de imprensa?
É a mesma coisa com a conduta que se vê no topo da cadeia alimentar do Poder Judiciário. Censurar um órgão de imprensa é expressamente proibido pela Constituição Federal do Brasil. Prender um deputado federal durante nove meses, sem que ele tenha sido preso em flagrante cometendo crime inafiançável, também é uma ação 100% ilegal.
É contra a lei, igualmente, mandar a polícia invadir às 6 horas da manhã residências e escritórios de cidadãos por imaginar que eles estariam armando um golpe de Estado num grupo particular de conversas no WhatsApp.

INQUÉRITO PERPÉTUOÉ obviamente ilegal o STF conduzir um inquérito policial, e mais ainda que este inquérito seja perpétuo.
É proibido por lei excluir o Ministério Público do processo acusatório — ou manter pessoas na cadeia por tempo indeterminado, sem culpa formada e sem data prevista para o julgamento. Nenhuma dessas coisas pode ser feita. O STF faz todas. Dá para acreditar que vão mudar de conduta se Lula for eleito?
A democracia brasileira está sob o risco de demolição.
COMENTO: os remanescentes do Foro de São Paulo — aquela entidade que nossa grande imprensa jurava ser uma alucinação de Olavo de Carvalho e seus "terraplanistas" —, agora sob a nova denominação de Grupo de Puebla, tem pressa na implantação de seus desígnios para a América Latina. Se o Brasil cair nas mãos do ladrão descondenado e sua quadrilha (partidários, militantes, braço armado — MST —, excremerdíssimos empoleirados em cargos jurídicos, imprensa vendida, etc.), será a maior conquista deles para a tomada de toda a América Latina pois, o Brasil é a única fonte de recursos econômicos para a manutenção de um regime de força em todos os latinos países ao mesmo tempo. A união e os esforços para esse fim ocorrem de forma acelerada. Nem bem completou dois meses de seu mandato, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro já determinou o "embargo" de contas correntes e de poupança dos colombianos. Sua aproximação com o ditador venezuelano, também se dá rapidamente. A Argentina já está com sua população dominada. Quando o povo busca sua própria sobrevivência, já não há resistência política! O Chile tenta reverter a merda feita, aparentemente sem sucesso. O Brasil é a única esperança de resistência a uma ditadura em âmbito regional.
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quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Preparem-se Para o Retorno Disso se o Inominável for Eleito

Grampo no STF, um crime esquecido
por Renato Sant'Ana
A maior agressão à ordem democrática da história do Brasil é ignorada por grande parte dos brasileiros: ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, foram criminosamente grampeados no curso da Operação Satiagraha, comandada por Protógenes Queiroz, servindo a interesses do governo Lula.
Esse e muitos outros fatos escabrosos estão descritos e documentados no livro "Assassinato de reputações - um crime de Estado" (ed. Topbooks) de Romeu Tuma Junior, secretário nacional de justiça no governo Lula, que, por isso mesmo, conhece muito bem o modus operandi do Lula e do PT.
"O grampo foi feito com uma maleta francesa, empregada para rastrear celulares em presídios", relata Tuma Junior no capítulo 9 do livro.
A maleta é capaz de identificar todos os celulares ativos num ambiente, mostrando o número de cada um no display. O agente seleciona o número da vítima do grampo e faz a máquina entrar no lugar da companhia telefônica, virando seu "provedor", com a função das ERBs (Estações Rádio Base), que conectam os telefones celulares à companhia telefônica.
Aí, é possível, por exemplo, enviar um torpedo para um traficante em nome da vítima, o que ficará registrado como se fosse dela na companhia telefônica. A máquina falsifica o torpedo e não deixa rastros. "Aí você bota a PF em cima da pessoa, cujo sigilo telefônico, quebrado mediante ordem judicial legalíssima, vai acusar o torpedo entre ela e o traficante. Pronto: a mala acabou de assassinar mais uma reputação!", escreve Tuma Junior.
Quanta chantagem essa gente terá praticado produzindo provas falsas? Se o governo petista foi capaz de usar a polícia contra o STF grampeando os seus ministros, o que não terá feito com "inimigos" mais vulneráveis?
Fato é que no governo do PT a PF (Polícia Federal) foi levada a cumprir funções iguais à da Gestapo, a temível polícia secreta do regime nazista chefiado por Adolf Hitler, isto é, investigar e perseguir pessoas e grupos fichados como inimigos do regime.
Aliás, a PF grampeou até o próprio Tuma Junior por ele ter investigado petistas como José Dirceu e Luiz Eduardo Greenhalgh, além de ter dado uma espiada no assassinato de Celso Daniel.
É assustador saber que o PT instituiu um Estado policial para perseguir adversários e proteger aliados, um regime no qual governo, Estado e partido se confundem, o que é característico dos regimes totalitários  a pior espécie de ditadura, a morte da liberdade.
Esse projeto abominável só não se consolidou porque o mensalão foi descoberto a tempo e acabou atrapalhando a compra de parlamentares pelo governo petista.
Mais assustador ainda é haver quem, por desconhecimento, má-fé ou ambos, admita a volta desse governo comprovadamente desumano. Não existe hipótese pior para o Brasil do que eleger Lula. Votar nele é dar um sinal verde a um projeto alicerçado no crime. Nada pode ser pior!
Renato Sant'Ana
 é Advogado e Psicólogo.
E-mail: sentinela.rs@outlook.com
COMENTO:  terá sido este o motivo da "degola" do ex-delegado, depois deputado federal, que teve que sumir do Brasil? Será que ele tentou obter alguma vantagem, indo além do que foi "permitido" pelo sistema?
Não o esqueçam. E aprendam que o sistema não tem sentimentos. Enquanto tiveres utilidade, serás prestigiado. No momento em que te julgares independente, com poder de decisão própria, o sistema te coloca no lugar que entende te pertencer: no fundo da lata de lixo.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Eis o Que Pode Ser Nosso Futuro

A escola liberal preconiza, quase como dogma, que o Capital depende do Trabalho e vice-versa, estipulando um círculo virtuoso desta relação.
Este dogma não é absolutamente verdadeiro, vez que, sim, o Capital empregado na Economia Real, aquela vinculada à produção, tem a virtuosidade de acionar a Equação de Keynes: Emprego > Renda > Consumo > Lucro > Reinvestimento na Produção > Poupança > Produção > Emprego > Renda, e assim por diante, o que explica o ciclo virtuoso relacionado ao termo macroeconômico de crescimento econômico anual do Produto Interno Bruto (PIB), quando atrelado à Economia Real.
Contudo, quando se fala em Economia Financeira, o ciclo é vicioso e é a maior causa desta guerra que se trava, por enquanto, somente por enquanto, na Eurásia, entre Rússia e Ucrânia, que tende a se espalhar por toda a Europa, envolvendo diretamente a China e os Estados Unidos, numa guerra que promete ser nuclear, química e bacteriológica e que provocará, se acontecer, centenas de milhões de mortos.
Explico: A Economia Real tem lastro real, concreto, em moeda norte-americana, na casa aproximada dos 60 trilhões de dólares, enquanto os bancos alavancam um giro de cerca 300 trilhões de dólares, o que equivale dizer que a economia global tem 230 trilhões de dólares meramente contábeis, não físicos, e sim, virtuais, empenhados em títulos governamentais colocados no mercado.
Aí entra outro termo que sempre se ouve e pouco se explica, chamado “spread”, que nada mais é que o índice de risco dos títulos públicos de cada país, representados por seus bancos centrais.
Quanto maior o “spread” (risco), maior será a taxa de juros que os bancos centrais ofertarão no mercado, ou seja, países que são qualificados por agências internacionais, como a Goldman-Sachs  nem sempre honestas e isentas, mas quase sempre servis a interesses das grandes corporações e holdings financeiras (e que lhes pagam regiamente para direcionar o mercado financeiro global) , tidos como países de risco, estes verão o seu desenvolvimento, cada vez mais, a cada dia, a cada mês, a cada ano, se atrasar, e sua população carecer de bens, serviços e infraestrutura, onerando o povo a pagar, via impostos, taxas e que tais, os juros das dívidas expressas nos títulos, quanto aos valores e prazos.
Em poucas palavras, as corporações financeiras, sobretudo, os grandes bancos, sugam do emprego, da produção, da renda, recursos, empobrecendo os povos e os países, para se locupletarem de lucros escabrosos para a presidência das instituições, diretorias e acionistas.
Some-se ao quadro a questão monetária, no sentido que o Ocidente  lendo-se Ocidente como sendo: Estados Unidos da América, Canadá e Europa Ocidental da Zona do Euro , depois da decisão de 1973, do presidente Nixon, da República dos EUA, de que não mais se tem a obrigação em lastrear a sua moeda em ativos reais, passaram a emitir moeda a rodo, de forma absolutamente irresponsável.
Evidente que o “lastro” destas moedas, sobretudo, Euro e Dólar, se fixa nos critérios do crescimento do PIB, sendo que, o desempenho das corporações financeiras, passaram a integrar o cálculo do PIB de cada país.
Equivale escrever que os lucros estratosféricos advindos com a negociação dos títulos no mercado e com a concessão de créditos a juros compostos, pelos bancos e instituições financeiras  integrantes da Economia Financeira , se expressam como “crescimento” do PIB, de forma desvinculada dos índices que expressam o crescimento das empresas voltadas à produção, que integram a Economia Real.
Sabido que o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é um bloco que se distingue, antes tudo, pelo tamanho territorial dos respectivos países, e pela abundância de seus recursos naturais e tecnológicos.
Evidente que o sistema financeiro e monetário imposto pelo Ocidente Mundialista, é altamente prejudicial à macroeconomia do bloco BRICS, que além de tudo, deve obrigatoriamente, negociar em dólar norte-americano nos mercados internacionais da Economia Financeira e da Economia Real também.
É esta dissonância, é esta desarmonia, é este desiquilíbrio, a causa maior, principal, da Guerra da Ucrânia, na qual China e EUA se digladiam num braço de ferro que tende a colocar fogo no planeta; com a Rússia  armada até os dentes, e que teve oito anos para planificar a guerra e suas consequências, sobretudo, econômicas , sufocando a Zona do Euro, apertando a sua garganta com corte no fornecimento de gás, enquanto exige que seus créditos sejam pagos em rublos, moeda lastreada toda em ouro.
De feita que não é difícil imaginar que a se continuar assim, o sistema financeiro ocidental quebrará, expondo-se a podridão dos títulos alavancados no mercado financeiro global, não mais bastando, como ocorreu em 2008, a ajuda dos governos em trilhões de dólares aos bancos, para que não ocorresse a falência total do sistema.
Por esta razão, o primeiro-ministro italiano Mário Draghi disse que a Rússia não pode vencer esta guerra, pois que tal seria catastrófico para o Ocidente, especialmente, para a Europa, para a Zona do Euro, e para as agendas globalistas impostas pela ONU, sobretudo, em relação aos costumes e à sexualidade, que visam, antes tudo, desagregar as famílias, atacando a gravidez, via aborto, como meio e modo de desarticular a ligação das mulheres com o direito à maternidade, derrubando assim o principal pilar das sociedades nacionais: a mulher com sua prole e a instituição da família!
Basta, para isto ver e saber, que em 2008 os bancos foram salvos pela enxurrada de dinheiros saído dos Bancos Centrais e dos Tesouros Nacionais, aos trilhões, enquanto, para zerar a fome no mundo, bastaria cerca de 100 bilhões de dólares norte-americanos.
Decorre disto o aviso de Musk, no sentido que muitas empresas ocidentais, que giram o seu capital no mercado financeiro, e se financiam pelos títulos públicos  pois que amplamente deficitárias nos seus balanços, e, mesmo assim, continuam a ser providas de créditos continuados pelo sistema que se alimenta desta contabilidade virtual dos “créditos a receber”, mas que jamais serão pagos , quebrarão, acarretando desemprego em massa, pobreza, fome e desagregação social, quiçá, violenta.
Enquanto isso a China quase dobrou a importação, a bom preço, de petróleo da Rússia, enquanto a Índia aumentou as suas importações de petróleo russo em 800%, valendo-se da relação interna como integrante do BRICS.
Daí, o Brasil deve sim se valer de sua posição de integrante do bloco para manter o seu crescimento econômico real, importando petróleo e diesel russo, assim como já vem fazendo com os fertilizantes, o que garante os altos níveis de crescimento da produção agrícola brasileira.
Uma coisa é certa: Os limites da guerra na Ucrânia já desestabilizaram todo o sistema econômico ocidental, que tende a se liquefazer integralmente, atendendo em grande parte o objetivo de Rússia e China, de impor uma moeda comum do BRICS, como meio de pagamento das transações internacionais, a nível global.
Paulo Emendabili Souza Barros De Carvalhosa – OAB/SP 146.868
Dia de Vênus, 01 de julho de 2022
90º da Revolução Constitucionalista.
105º da Revelação em Fátima.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Missão Cumprida, Estela!

por Sérgio Pinto Monteiro*
Imagem: O Globo - edição de 6 de Novembro de 1969
“Quero este mundo assim como ele é, com sonhos para sonhar, problemas para resolver e lutas para lutar”.
(Estela). 
O processo histórico brasileiro, especialmente os episódios ocorridos durante os chamados “governos militares” — 1964 a 1985 — tem sido objeto de análises, narrativas e interpretações dos mais variados matizes, nem sempre focados na verdade dos fatos. A vasta literatura disponível sobre aquele período assim o demonstra. Há muito que no Brasil proliferam jornalistas, pesquisadores e pseudo-historiadores comprometidos, apenas, em contar a história à luz de suas posições politico-ideológicas e, até mesmo, por vezes, reescrever e inventar fatos e ocorrências. 
O ano de 1969 foi um dos mais conturbados daqueles dias. Pouco antes, com a intensificação da luta armada desencadeada pelos opositores da contrarrevolução de 1964, o governo federal editou o Ato Institucional nº 5, cujo objetivo, entre outros, era o de enfrentar e derrotar os rebelados que tentavam, a todo custo, a tomada do poder. Nesse contexto, sucederam-se inúmeros confrontos armados entre revoltosos e agentes do Estado, um dos quais ocorreu em 4 de novembro de 1969, na Alameda Casa Branca, próximo à Avenida Paulista, em São Paulo.
Carlos Marighella foi um ex-deputado do Partido Comunista Brasileiro. Dissidente do PCB, fundou, em 1962, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com o qual rompeu e acabou expulso. É de sua autoria o Mini Manual do Guerrilheiro Urbano, publicado em vários idiomas, onde ensina aos seus comparsas como matar pessoas, explodir instalações, sequestrar, torturar. Em 1964, o terrorista Marighella foi baleado e preso num cinema do Rio de Janeiro. Solto pela Justiça, criou a Ação Libertadora Nacional, organização terrorista responsável por inúmeras ações criminosas, inclusive o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick.
Marighella foi um dos alvos da Operação Bandeirante, desencadeada pela polícia paulista. Sua morte polêmica, em confronto com as forças policiais, tem sido objeto de inúmeras versões, algumas totalmente inverossímeis. Na época, os principais jornais do país noticiaram, em manchetes de primeira página, que Marighella teria sido traído por dois frades dominicanos, seus amigos e cúmplices, detidos anteriormente. Numa tentativa de prender o terrorista, o Delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS paulista, planejou, em 4 de novembro de 1969, uma emboscada na Alameda Casa Branca. O dispositivo contava com a participação de vários policiais disfarçados, inclusive duas investigadoras. Uma delas, Estela Borges Morato — recém-nomeada em concurso público para a polícia civil de São Paulo — e Ana Pereira Leite. No relato da época, a policial Estela estava num veículo particular, parado no local, simulando um namoro com o Delegado Rubens Tucunduva.
A dinâmica da ocorrência até hoje não foi totalmente esclarecida. Há versões conflitantes e até claramente fantasiosas, inclusive da desacreditada “Comissão da Verdade” que, estranhamente, concluiu não ter havido tiroteio e que Carlos Marighella foi sumariamente executado. Estranhamente porque, se não houve enfrentamento, como justificar a existência de outras vítimas, inclusive policiais? Alegam os defensores dos terroristas — sem provas — que os agentes da lei teriam sido vitimados pelo chamado “fogo amigo”. Ao final da operação, logo após as 20 horas, além do terrorista Marighella, morreu um transeunte, o protético Friederich Rohmann. A investigadora Ana Pereira Leite ficou levemente ferida. O Delegado Tucunduva foi gravemente atingido na perna [NR: o que lhe causou sequela permanente] e sua parceira, a jovem investigadora Estela Borges Morato, de 22 anos, foi atingida por um tiro na cabeça, falecendo três dias após, no Hospital das Clínicas.
No sepultamento, seu corpo foi conduzido num Carro de Bombeiros, seguido pelo governador de São Paulo, Abreu Sodré e pelo Secretário de Segurança, General Viana Moog. Diante de uma chuva torrencial, centenas de policiais dispararam para o alto, saudando a Agente 2706.
Estela Borges Morato foi homenageada com a designação do seu nome para uma das ruas da cidade de São Paulo e para uma Escola Estadual. Muito pouco para quem, tão jovem, perdeu a vida combatendo terroristas. Lamentavelmente, na Alameda Casa Branca, no local onde Estela tombou, há hoje uma placa homenageando o bandido Marighella, recentemente travestido de herói em filme nacional. Tempos estranhos. Creio ter sido Estela a nossa primeira policial feminina sacrificada no cumprimento do dever.

Lembrando Estela
Estela Borges Morato nasceu em Campo Limpo, São Paulo, em 22 de janeiro de 1947. Filha de policial civil, cursou o primário no Externato Santo Antônio e no Colégio Paulistano, o ginasial e o científico. Em 1964 participou de um concurso bíblico instituído por uma estação de rádio da Capital Paulista, obtendo o primeiro lugar.
Recebeu como prêmio mil discos e um aparelho de televisão. Em 18 de dezembro de 1965 casou-se com Marcos Morato, com quem permaneceu unida até a sua morte em 1969. Foi bancária, ingressando no Banco Comércio e Indústria de São Paulo, em 1966, através de concurso. Aperfeiçoando-se na profissão, fez o curso de grafo-datiloscopia bancária, denominado "Preventivo de Falsificação", da Academia de Polícia de São Paulo, se familiarizando com a atividade policial.
Em 1969, foi nomeada investigadora de polícia, após prestar concurso público. Como primeira lotação, foi destacada para atuar no Departamento de Ordem Política e Social, onde, segundo os seus chefes, foi um exemplo de disciplina e abnegação ao serviço público. Dois meses antes de sua morte, ainda bancária, Estela escreveu uma crônica no jornal do Sindicato dos Bancários, onde revelava sonhos e desejos que, tristemente, seriam frustrados pela infâmia do terrorismo:
Que tipo de mundo você queria? Para esta pergunta, a resposta é sempre a descrição de uma utopia. Porém, eu gosto deste século, cheio de vivacidade e colorido, planos e esforços que nos fazem participar de uma experiência excitante e maravilhosa, sendo exatamente isso que dá a vida sua única atração verdadeira. Vida é movimento. Quero este mundo assim como ele é, com sonhos para sonhar, problemas para resolver e lutas para lutar. Vivamos intensamente a vida que Deus nos deu, afinal ela nos oferece mais prazer que dor, mesmo que haja sempre algo para ser resolvido ou remediado. Este mundo merece voto de confiança, porque ele é bom, só é mau para gente dura e de cabeça mole. O homem, enfrentando suas dificuldades, pode mostrar que é homem, aceitando o desafio. As dificuldades serão superadas e a vida valerá a pena ser vivida. Afinal já conquistamos a Lua.
“Estela”
DESCANSE EM PAZ, JOVEM E LINDA GUERREIRA.
JAMAIS A ESQUECEREMOS.
MISSÃO CUMPRIDA, ESTELA!
*é Professor, Historiador e Oficial da Reserva do Exército. 
É fundador, ex-presidente e Patrono do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva. 
É membro da Academia Brasileira de Defesa, da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto Histórico de Petrópolis. 
É presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB e vice-presidente da Liga da Defesa Nacional/RJ.
Recebido por mensagem eletrônica.