domingo, 28 de agosto de 2022

O Dia em que Começou a Independência do Brasil

por Percival Puggina
Há exatos 200 anos, no dia 28 de agosto de 1822, chegou ao porto do Rio de Janeiro um navio português. Chamava-se Três Corações, nome sugestivo quando faz pensar no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que se romperia com as determinações que vinham a bordo. Eram ordens alarmantes expedidas pelas Cortes Extraordinárias da Nação Portuguesa.
O príncipe D. Pedro, regente, que desatendera exigência anterior de voltar a Lisboa, teria suas atribuições limitadas ao Rio de Janeiro e perdia a condição de regente. Seus ministros seriam nomeados em Portugal. Seus anteriores “Cumpra-se”, cancelados. As demais províncias se reportariam diretamente a Lisboa. O Brasil perderia seu status e se converteria, na prática, em colônia portuguesa. Entendiam os constituintes lusitanos que nossa economia deveria suprir urgências da nascente monarquia constitucional portuguesa cujas dificuldades fiscais e pobreza eram atribuídas aos “privilégios” a nós concedidos pela família real.
Até então, o Brasil nunca fora, uma “colônia”. Os documentos oficiais sempre se referiam ao Brasil como Estado do Brasil (e, desde 1645, como Principado do Brasil). Vigoravam aqui as mesmas Ordenações Filipinas vigentes em Portugal, utilizadas até a promulgação do nosso próprio Código Civil, em plena República, no ano de 1921. O Brasil era tão membro do reino que nossas províncias tinham direito a 70 representantes nas Cortes Extraordinárias. Quarenta e nove foram para Lisboa, mas chegaram tarde e não conseguiam ser ouvidos.
As Cortes, instituídas em 1821 como desdobramento da Revolução do Porto (1820), haviam sido saudadas, em todo o reino, como adequação portuguesa ao modelo das monarquias constitucionais em generalizado processo de adoção pelas dinastias europeias. No entanto, seus membros, entre os quais os portugueses eram amplamente majoritários, não olhavam para o Brasil com olhos fraternos. Precisavam de soluções econômicas brasileiras para as dificuldades de Portugal.
As determinações desembarcadas no dia 28 de agosto surtiram efeito contrário. Acionaram o gatilho da nossa independência como nação soberana.
Os cinco dias seguintes foram de nervosos entendimentos no Conselho de Ministros, sob a liderança de D. Leopoldina, que estava no exercício das funções de regência, e José Bonifácio. No dia 2 de setembro, D. Leopoldina assinou o decreto de Independência. Após estafante cavalgada em que 500 quilômetros foram vencidos em cinco dias, chegaram a D. Pedro as notícias e o apelo de José Bonifácio. O resto todos sabem.
Escrevo estas linhas em homenagem a duas figuras — Bonifácio e Leopoldina — que deixaram de ser exaltadas pelos nossos contadores de História, mais preocupados com buscar o pouco que nos divide do que em apreciar o muito que nos une como nação. Estamos colhendo os frutos desse maligno trabalho.
Os portugueses defendendo o território; D. João VI trazendo a sede do reino para o Brasil; D. Pedro, D. Leopoldina e José Bonifácio fazendo nossa Independência, mantiveram o Brasil territorialmente unido.
Juntos pelo Brasil no 7 de setembro!
Percival Puggina é membro da Academia Rio-Grandense de Letras, arquiteto, empresário e escritor.
Fonte: Atualização de postagem

domingo, 21 de agosto de 2022

A Duvidosa Estória da Espiã Que se Infiltrou nas FARC

Magaly tem 17 anos e chegou à Colômbia em 6 de novembro de 2021. Diz que passou um mês usando eletrônicos para que a Polícia localizasse o líder da coluna móvel Franco Benavides.
FOTO: copiada de vídeo - Cortesia.
por Javier Alexandre Macias
Na noite em que Magaly* recebeu o envelope de dinheiro, se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Não lembra o dia da semana, a única coisa que recorda é que não conseguia lidar com tantas notas: as mãos tremiam enquanto agarrava a sacola, os olhos dispersos olhavam para todos os lados, vigiando para que não chegasse ninguém para roubar o que era dela, e quando tentou ir guardar tanto dinheiro, seus pés não responderam bem e ela terminou de bruços no solo.
Nessa noite correu tanto para se esconder, que quando caiu da cama e abriu os olhos, se liberou rapidamente da almofada que tinha apertada contra o peito e com amarga dor descobriu que só havia sido um sonho. Mas não se desesperou. Na penumbra, seguiu sonhando desperta. Sonhava com o carro que sempre havia querido, sonhava tirar sua irmã do bar de má fama em que trabalhava lá em Nariño desde que deixaram seu país, e sonhava com uma moradia rodeada de luxos para sua mãe.
Distraída pelos pensamentos Magaly* foi surpreendida pela alvorada. Sabia que com os 120 mil dólares (504 milhões de pesos colombianos) que receberia se cumprisse o trabalho proposto, arrumaria a vida dela, de sua pequena de 3 anos e de toda sua família que havia ficado em seu país.
O que Magaly* não desconfiara nas noites de insônia que se seguiram a quando disse sim ao contrato, era que matar um homem custasse tanto, e muito mais o que lhe haviam ordenado assassinar: o chamado "Marlon", comandante da coluna Franco Benavides, das dissidências de as FARC.

Seus dias na Colômbia
Com a promessa da terra prometida, Magalychegou à Colômbia em 6 de novembro de 2021. E foi para Policarpa, Nariño, onde sua irmã trabalhava como garçonete em um salão de bilhar.
Como decidi trabalhar fui fazer uns exames. Usei o nome de minha irmã mais velha para poder começar a trabalhar em um clube. Como as enfermeiras conheciam minha irmã, elas avisaram a SIJIN (Secional de Investigações Judiciais da Polícia Nacional) e me levaram para a Fiscalía (Procuradoria) porque sabiam que não era eu no documento nem tinha essa idade. Fiquei um mês presa, me soltaram com a obrigação de que minha irmã se responsabilizasse por mim. Me levaram para a delegacia de Policarpa, Nariño” relata Magaly*.
Durante os 30 dias que esteve atrás das grades, Magaly*, de 17 anos de idade e figura miúda, só pensava no que iria fazer quando saísse da prisão. No dia em que a libertaram se foi com sua irmã ao local conhecido como La Playa para fumigar coca, mas o odor dos produtos químicos fazia arder “suas narinas”, então decidiram deixar o emprego e  foram trabalhar em um outro local.
Enquanto laborava em seu novo trabalho, uma mulher cuidava de sua filha. Em um descuido da babá, a pequena deu uma cambalhota, e terminou com a cabeça sob a cama e com um hematoma que provocou sua internação por um mês na clínica infantil de Pasto.
Mas como as dores continuaram, o choro da menina se tornou entre anormal e insuportável e Magalyterminou, outra vez, no hospital. Tivemos que levá-la a Pasto e a hospitalizaram no Infantil. Estive um mês com ela, recorda.
A longa estadia em Pasto pareceu curta a Magalypor uma razão: o amor que acreditava ter se extinguido pelos maltratos e má vida que  seus dois companheiros anteriores lhe deram, renasceu quando um agente da SIJIN, que havia conhecido em dezembro em uma discoteca, a encontrou no hospital.
Nossa relação seguiu normal. Um dia me disse que tinha uma  proposta que iria me agradar, algo que ia ser bom para mim economicamente, para sair da situação em que estava, conta.
Mauricio, como chamaremos o investigador da Polícia, cortejou Magalyaté que uma tarde revelou o que ela não esperava, mas ele tinha planejado milimetricamente.
Ele me disse que a proposta era eles me darem 120 mil dólares para que eu ingressasse nas FARC-EP e entregasse cinco comandantes que estavam prejudicando o povo. Como estava necessitada, disse que sim, e depois contei a uma de minhas irmãs e ela me disse que não; eu liguei para ele e disse que aquilo era ruim e que eu não distinguiria as pessoas que deveria entregar, e ele me disse: bem, és tu quem perde”.
Passaram quinze dias daquela declaração, que não foi precisamente de amor, conta Magaly*, que uns agentes da SIJIN a procuraram. Me disseram que se não colaborasse me separavam de minha filha. Tive que me meter nas matas, disse.

Assim ela se infiltrou
Na noite em que Magalydecidiu infiltrar-se como espiã nas fileiras das dissidências das FARC, intuiu que aquele poderia ter sido seu último dia de vida sobre a terra.
Com dor no peito, a jovem de 17 anos se despediu mentalmente de cada um dos integrantes de sua família. Chorou por sua filha que, segundo conta, ficou nas mãos do ICBF, e apresentou-se cedo à SIJIN.
Sem entender o que se passava, Magalyfoi recebida por mais de 15 homens que vociferavam em um salão. Todos ditavam instruções, até que um deles, se acercou e explicou qual seria sua missão.
Ela teria três meses para entregar a eles cinco líderes do grupo dissidente. Os prazos foram determinados em um por mês, e nos primeiros 30 dias ela teria que entregar o chefe principal, vulgo “Marlon”.
Com o plano em sua cabeça, e ao melhor estilo de um filme de espionagem, entregaram a Magalyum par de brincos que serviriam de microfones e, ao mesmo tempo, para ela ouvir. Eram pequenos e pretos e eles me rastreavam onde eu estava. Me escutavam todas as conversas que tinha e as registravam em um computador, diz; e no cotovelo esquerdo lhe implantaram um chip sob a pele para saber como, quando e para onde se movia.
Pensei que a missão seria fácil e que fazer as sabotagens também. Me disseram que a ideia era que eu poderia ir para a cama com um dos comandantes para eu mesma mata-lo e eles fariam o desembarque. Me tocava cativa-lo e mata-lo. Eu não planejei, essa foi a instrução que eles me deram e, como me haviam tirado a menina, eu decidi pois por minha filha faço o que seja; e então, eu estive com o comandante”, conta Magaly*.
Com os apetrechos prontos, a jovem caminhou varias horas até onde sabia que estava o grupo armado ilegal. Ao achar os primeiros homens armados, disse que queria ingressar na quadrilha. Preguntaram por que, e ela respondeu que estava cansada dos maltratos e também necessitava dinheiro para levar comida a sua casa. A partir daí, puseram um quadrilheiro que vigiou todos seus passos e se converteu como sua sombra.
O olheiro, um homem experto nos pormenores da guerra, começou a notar que cada vez que Magalyse isolava os helicópteros voavam baixo e sentiam que as tropas se aproximavam “respirando-lhes na nuca”.
Magalytambém notou que o dissidente começou a segui-la mais que o normal e se encheu de temor, então, na primeira oportunidade avisou aos da SIJIN que não continuaria com o plano para matar “Marlon”.
A jovem equatoriana convertida em espiã, aproveitou um castigo aplicado por insubordinação (?) e se foi até o rio. Subiu em uma canoa tirou os brincos e os lançou ao rio. Depois, com um bisturi fez uma pequena incisão no braço, que cobriu com o uniforme e tirou o chip rastreador, enterrando-o na margem do rio. Desde esse dia e como em um ato de desespero ao perder o contato com a infiltrada, começaram a sobrevoar a baixa altura e a desembarcar tropas, mas as dissidências se moveram selva adentro para evitar o confronto.
Nas palavras da jovem: “Somente uma vez bombardearam e tentaram um assalto. Nós nos movemos para a montanha. Quando me mandaram para baixo subi na canoa os joguei (brincos) no rio, um deles me indagou que por que me desfazia dos brincos e respondi que era porque estavam velhos e oxidados”. Depois daquele episodio, o combatente informou a Marlon, e ele deu a ordem de que algemassem Magaly*. Ela ficou assim durante um mês amarrada a um pau.
Diga a verdade, diga a verdade e te pouparemos sua vida”, recorda a adolescente que lhe diziam, mas ela só desejava que a “atirassem no buraco porque de todas formas iam me matar fora ou lá dentro”.
Contrariando seus pedidos, o tal Marlon decidiu não fuzilar Magaly*, como é norma nos grupos criminosos fazer com quem os traem. Em vez disso, decidiu entregar a garota ao CICR (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) no passado dia 5 de agosto, como registraram em um vídeo que publicaram.

La columna móvil Franco Benavides, del Comando Conjunto de Occidente, hacemos (sic) entrega de la menor MBDP, identificada con el número 33... al Comité Internacional de la Cruz Roja, CICR, en perfectas condiciones de salud para que se inicien los trámites pertinentes para su deportación”, diz o comunicado.
De Magalynão se sabe hoje a sua localização. Antes de ir-se assegurou que depois de ter uma segunda oportunidade sobre a terra, não quero voltar a meter-me nunca em nenhum grupo armado.
* Nome trocado por segurança.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: Brincos com transmissores? Chip com localizador? E as baterias para fornecer energia? A "menina", com 17 anos  um histórico de dois ex-companheiros, e uma filha de três anos  foi para a Colômbia seguindo uma irmã, tendo a mãe e o "restante da família" (inclusive a filha de três anos) ficado no Equador. Depois, a criança aparece com ela, mais uma "irmã mais velha" que a aconselha não aceitar a aventura. Por fim, ninguém com um mínimo de conhecimento do assunto, realizaria um "recrutamento" de forma mais atabalhoada. A história, muito mais romanceada do que o normal, parece uma narrativa marqueteira com o objetivo de mostrar os narcoterroristas remanescentes das FARC como bons meninos que evitaram "prejudicar" a jovem equatoriana. Esperei alguns dias e, como não houve desmentidos sobre o caso, estou publicando este texto só como "fato curioso", e para não perder o trabalho da tradução.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

A Geopolítica dos Semicondutores


A competição estratégica pela fabricação e comercialização dos semicondutores, mais conhecidos como chips, é cada vez mais intensa entre potencias como China e Estados Unidos, Taiwan, Coreia do Sul ou Japão.
A geopolítica impacta em nossa vida diária e a competição estratégica a nível global pelos semicondutores, também. Para entender como os semicondutores influem na nossa, é só pensarmos que em cada vez que nos comunicamos com alguém através de nosso dispositivo eletrônico ou que esperamos dele uma resposta instantânea, conforme as instruções que a ele são dadas, há o trabalho de um semicondutor por trás, na maioria das vezes.
Como nuance de atualidade, destacamos a recente aprovação nos Estados Unidos de uma “Lei de Chips” para promover a produção local de semicondutores e competir com a China, em um capítulo mais da guerra tecnológica entre os dois países.O resultado definirá o equilíbrio global de poder durante décadas e impactará na segurança e na prosperidade de todos os estadunidenses”, disse o senador republicano Roger Wicker, um de seus maiores promotores.
Por desgraça, neste momento, não estamos no banco do piloto em uma variedade de tecnologias importantes. Os chineses, sim. China e outras nações são, de forma cada vez mais destacada, os dominantes em inovação tecnológica, o que supõe um risco enorme não só para nossa economia, senão para nossa segurança nacional”.
Além disso, como indica o Diretor de LISA Institute, Daniel Villegas, no Twitter os semicondutores também jogam um papel no conflito entre China e Estados Unidos no Pacífico.
A posição de Taiwan não só é estratégica no tabuleiro internacional, a ilha também é chave pelos produtos tecnológicos que gera, que são vitais para o Ocidente, entre os quais se encontram os semicondutores ou chips.
Segundo explica Isabel Valverde em El Orden Mundial, que os semicondutores estejam no centro da corrida geopolítica do século XXI é devido ao boom tecnológico. “Salvando as distancias, se o carvão foi o combustível da primeira Revolução Industrial, os semicondutores são os propulsores da revolução tecnológica atual. Os avanços nesse setor aumentam a produtividade no resto da economia”, resume Valverde.
A colaboradora de EOM, que participa na equipe docente do Máster Profesional de Analista Internacional y Geopolítico de LISA Institute, também destaca a importância dos semicondutores no âmbito militar. “O mesmo ocorre com as aplicações militares: todo exército moderno necessita chips para seguir desenvolvendo-se. E o valor estratégico desses componentes aumenta na medida em que seus usos crescem em variedade e sofisticação”, acrescenta.

¿E o que é um semicondutor?
O dispositivo que busca quantifica, otimiza e entrega os resultados desejados, na maioria dos casos é um semicondutor”, explicam desde a empresa de processadores AMD que consideram que os semicondutores, também conhecidos como chips, são o “cérebro da eletrônica moderna”.
Os semicondutores são circuitos integrados (CI). Quer dizer, um conjunto de circuitos eletrônicos compostos por vários dispositivos, que estão interconectados entre si e sobrepostos em uma estrutura de material semicondutor, onde o silício é o mais utilizado, por seu preço.
Os semicondutores são um componente básico em dispositivos eletrônicos como computadores, smartphones, consoles de videojogos, etc. Quando utilizamos nosso computador para reservar nossas férias online, buscar recomendações sobre um restaurante ou, inclusive, ver um filme na Netflix a unidade de processamento central (CPU) e a unidade de processamento de gráficos (GPU) do semicondutor do equipamento executam funções de cálculo que transformam as perguntas em respostas no instante.

Fonte: AMD
Para os mais técnicos, destacamos que os semicondutores podem ser classificados em três categorias: semicondutores lógicos, fundamentais para a computação, onde se incluem microprocessadores, micro controladores, chips WiFI ou Bluetooth ou controladores Ethernet; memorias de semicondutores, como as memorias DRAM e NAND; e os semicondutores DAO (Discretos, Analógicos e Opto-eletrônicos), que transmitem, recebem e transformam informação relacionada com parâmetros, como temperatura.
A produção de semicondutores é um processo complexo que maneja prazos de execução extensos e uma grande quantidade de capital, variando os tempos de produção entre três e cinco anos desde a investigação inicial ao produto final.

O mercado global dos semicondutores
A importância dos dispositivos semicondutores fez da produção do silício e do resto dos materiais necessários para sua fabricação um campo de competição geopolítica. Os semicondutores são o quarto produto mais comercializado do mundo e sua cadeia de suprimento está baseada na especialização dos países que os comercializam. Estes são Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão, China e Taiwan, assim como a União Europeia.
Na atualidade, cada país se especializa em uma parte da cadeia de produção dos semicondutores. Por exemplo, enquanto os Estados Unidos lideram as atividades mais intensivas em I+D (Pesquisa=Investigação e Desenvolvimento), como a automatização de projetos eletrônicos, Coreia do Sul e Taiwan estão imersos na fabricação de pastilhas de silício. China é o terceiro país na lista dos produtores de semicondutores, apesar de não ter nenhuma das principais empresas que os desenvolvem.
Inicialmente, as empresas da industria dos semicondutores seguíam uma estrutura vertical, que lhes permitia realizar todas as etapas da produção, desde o desenho até a fabricação e venda.
Conforme expõe Jose Matos em Decifrando a Guerra, este era o caso de empresas como Intel, líder mundial em volume de ventas de chips, a sul-coreana Samsung ou Texas Instruments. Entretanto, a partir de 1987, surgiu um novo modelo de produção, baseado na distribuição da fabricação de semicondutores.
As empresas estadunidenses investiam no desenho, na propriedade intelectual e no desenvolvimento de equipamentos de fabricação. Enquanto isso, Taiwan abrigava as cinco maiores fundições do mundo.
Fonte: Decifrando a Guerra
Atualmente, a China é o principal consumidor de semicondutores no mundo, acima dos Estados Unidos, e a porcentagem que ocupa no mercado de fabricação, alcança os 15%. Por sua parte, os Estados Unidos planejam investir uma grande quantidade de dinheiro e atrair às grandes empresas fabricantes, como TSMC e Samsung, para território americano.
Estados Unidos chegaram a produzir 40% dos semicondutores do mundo, mas agora só alcançam 12% deles, tendo perdido sua hegemonia em favor de países como China, Coreia do Sul ou Taiwan.
A Europa depende do desenho industrial estadunidense e asiático para a produção dos semicondutores, pois não há instalações fabris na Europa. Sua participação no mercado de fabricação chegou a ser de 44% nos años 90 mas na atualidade alcança apenas os 9%.
Outro fator desta competição geopolítica é a escassez mundial de semicondutores ou “Chipgeddon”. Segundo os expertos, as principais causas desta situação estariam relacionadas em sua versão mais simples por um excesso da demanda dos dispositivos eletrônicos, as dificuldades surgidas na pandemia de COVID-19 e as peculiaridades da cadeia da produção global e suprimento.
Neste contexto de “escassez” destacamos a corrida geopolítica pela autossuficiência em relação à explosão da demanda de, principalmente, China, Estados Unidos e a União Europeia. Profissionais do setor, como Intel e AMD, tem feito projeções sobre quando a indústria de semicondutores se recuperará desta escassez mundial de chips. É consenso que durará até 2023.

Competição geopolítica dos semicondutores
Como explica EOM, o marco do enfrentamento comercial e tecnológico existente entre China e Estados Unidos, se encontra na denominada “guerra de chips”. Este conflito se intensificou durante o mandato de Donald Trump, que em 2020 sob o pretexto de uma ameaça para a segurança nacional, concebeu um projeto para eliminar os componentes chineses dos dispositivos estadunidenses. O ex-presidente chegou a proibir o uso de dispositivos de marcas chinesas, como Huawei ou ZTE entre os membros do Governo.
TrendForce. Reprodução: Poder360
Por sua parte, a China vem intensificando o desenvolvimento de sua indústria de microchips e fundou a empresa SMIC, cuja participação no mercado de fabricação é de 5%. Coreia do Sul e Taiwan, tem se mostrado reticentes a comercializar com a China.
Por outro lado, Japão e Coreia do Sul, tiveram uma disputa comercial em 2019 que afetou o setor dos microchips. O Japão restringiu a exportação de determinados componentes essenciais para fabricar semicondutores, sob o pretexto de que poderiam ser utilizados com fins militares por outros países que comprassem da Coreia. Desta forma, se viu afetada a indústria sul-coreana, pois não contavam com alternativas para manter seu nível de produção.
Álvaro Sánchez, correspondente de El País, declarou que os semicondutores pertencem a um “setor com uma indústria rígida”, com pouca adaptabilidade para atender as mudanças na oferta e demanda. O setor também conta com condições particulares de produção e a necessidade de ingentes investimentos, assim como da cada vez maior necessidade de semicondutores por dispositivo.
São vários os fatores que condicionam uma indústria cada vez mais necessária, mas que segue limitada a produtos específicos. Sob estas condições, a ameaça geopolítica também aumenta, pois ante a tensão entre China e Estados Unidos durante a administração Trump, as cadeias de suprimento global se viram ameaçadas”, explica.
Isabel Valverde, colaboradora de EOM e do Observatório da Política Chinesa, afirma que a disputa pelos semicondutores é “como a corrida geopolítica do século XXI, junto a outros recursos como as Terras Raras ou a água. Sendo propulsores da revolução digital atual, os semicondutores não são um item substituível”.
*Colaboradora de LISA News.  Especializada em Estudos Internacionais e Ciência Política. Interessada em Segurança Internacional, processos de paz e de resolução de conflitos internacionais.
Fonte:  Lisa News

domingo, 7 de agosto de 2022

Crescimento da Economia na Colômbia

Narcotráfico cresce como nos tempos de Pablo Escobar, ¿Quem o deterá?
O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente de Ecopetrol, um dos economistas mais importantes da Colômbia, analisa o crescimento da produção de cocaína — 8,6 kg por hectare — no país.
Os cultivos, como o da foto no Norte de Santander, se traduzem em uma vida de ricos para narcos disfarçados de “novos ricos”, como o recente caso de Falcon, extraditado aos EUA.
por Juan Carlos Echeverry
(@jcecheverryCol)
Desde os tempos de Pablo Escobar, lá pela década de 1980, o tamanho do negocio da cocaína na Colômbia nunca foi tão grande como aparentemente é agora. A informação das Nações Unidas (UNODC) é preocupante: em um lustro Colômbia passou de uma produção potencial de 290 toneladas métricas (tm) de cloridrato de cocaína puro para 1.200 tm (ver Gráfico 1).
O Departamento de Estado dos EUA tem uma estimativa distinta, como aparece no mesmo gráfico, ainda que não menos preocupante, pois estaríamos a cerca de 970 toneladas métricas de cocaína neste ano (todas as projeções de 2022 são feitas por EConcept com base em diversas fontes).
Como se vê nas duas linhas do Gráfico 1, o crescimento acelerou entre os anos 2013 e 2017. Mais tarde, basicamente se manteve estável a produção, apesar dos aparentes esforços para combatê-la. Se corretas estas cifras, a produção se quadruplicou em menos de cinco anos. É o único sector produtivo da Colômbia com semelhante capacidade de crescimento. Cabe recordar que boa parte de sua atividade ocorre na selva, sob terríveis condições de segurança.
Segundo a ONU, a produtividade estimada de cocaína é de 8,4 kg de cocaína/hectare colhido de folhas de coca, e vai em constante aumento. ¿Quais são as rotas para a exportação? 74% pelo Pacífico, 16% pelo Caribe e 8% por Venezuela.
¿Quanto pode retornar dessa produção para a Colômbia? Segundo estimativas, o preço no atacado oscila entre 7.500 e 10.000 dólares por kg de cocaína pura entregue em alto mar; entre 7,5 e 10 milhões de dólares por tonelada (ver Gráfico 2).
Em consequência, a produção potencial da Colômbia, ao ano valeria entre nove e onze bilhões de dólares (Gráfico 3). Naturalmente, disto se deve subtrair a cocaína apreendida, se realmente ela não volta ao mercado. Para efeitos comparativos, tomaremos o ponto médio destas duas estimativas de ingresso potencial, ou seja, dez bilhões de dólares por ano, na atualidade. Tenhamos em conta que se trata de estimativas e números grosseiros.
Se compararmos esse fluxo potencial de dólares por cocaína com as entradas legais de dólares na Colômbia estimadas para o fim de 2022, o tráfico de cocaína seria na atualidade a terceira fonte de ingressos, depois da exploração do petróleo e o carvão, e das exportações agropecuárias e manufatureiras; e estaria acima das remessas, que se encontram em níveis recorde (que se acercam a nove bilhões de dólares), e o turismo, que também vem se recuperando (Gráfico 4).
De fato, 2022 será um ano recorde de ingressos do exterior, pelas diversas fontes. Podemos dizer que a soma de todos os valores do que vendemos, com o que nossos compatriotas enviam desde o exterior, disparou em 2022. Parte da razão é a boa sorte, que sempre nos acompanha na saída das crises.
Com efeito, o Gráfico 5 mostra que os preços de alguns produtos básicos que exportamos se acham em níveis recorde. Não nos alegremos da boa sorte. A guerra na Ucrânia fez disparar os preços da energia, assim como fenómenos climáticos tem afetado os mercados agrícolas. Se bem que, também fez disparar a inflação, a qual não é benvinda, mas não faz parte do tema que nos ocupa.
Voltando à dinâmica das exportações ilegais, se pode dizer que, apesar da luta contra o narcotráfico e dos apresamentos, o tamanho do negocio da cocaína na Colômbia nunca foi tão grande como agora. Seu poder pode ser tão devastador ou desestabilizador como foi nos tempos de Pablo Escobar e o cartel de Cali. Naquela época, chegou a ser 3% do PIB, e, na atualidade estamos próximos a esse nível.
¿O que pode passar para o futuro? Os preços da cocaína parecem estar no auge, da mesma forma que os de outros produtos básicos. O Gráfico 6 mostra um forte aumento em finais da década passada; esses preços indicariam que se manter-se o imenso incentivo de rentabilidade da cocaína, isso seguirá representando uma seria ameaça para a estabilidade política nas regiões pacífica, sul, oriental e norte da Colômbia.
Uma última reflexão surge ao observar o Gráfico 4. Se forem mantidas as tendências observadas no primeiro semestre de 2022, e ao final do ano se materializa o cenário projetado nessa imagem, Colômbia estaria experimentando em 2022 a maior bonança externa de sua historia. Se esse fosse o caso, ficaria por explicar um aparente paradoxo: ¿como se pode estar desvalorizando o peso colombiano e encarecendo o dólar, em circunstancias de uma bonança externa legal e ilegal de semelhante magnitude?
Certamente, a resposta a essa questão se fixa em que a demanda de dólares está superando a oferta, por maior que esta seja. Apesar da imensa afluência, há mais gente tratando de guardar divisas no exterior, que os que estão tratando de trazê-las ao país. De fato, as importações estão disparadas, e o déficit da  Balança de Pagamentos se ampliou.
Isto indicaria que os colombianos que compram no exterior, e que até maio vinham adquirindo importações em níveis recordes, ou anteciparam uma desvalorização ou se juntaram a um suposto contingente de pessoas que estão sacando divisas (depositando no exterior).
Nesse sentido, há uma controvérsia sobre quanto se deve aos resultados políticos da Colômbia, e quanto se deve ao fenômeno internacional de aumento de juros pelo Federal Reserve dos EUA e ao fortalecimento global do dólar. O Gráfico 7 pode ajudar a responder essas perguntas. Todos os países do gráfico experimentaram alguma pressão de desvalorização. Foi mais forte para Chile e Colômbia, talvez pelos fenômenos políticos recentes. Mas a da Colômbia se manteve, indicando a presença de uma fonte interna que a diferencia dos demais. Bem poderia ser política.
¿Ou a bonança colombiana pode ter como fundo a lavagem de dinheiro?
Fonte: tradução livre de El Colombiano