quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Triste Brasil — Aos Trancos e Barrancos

Brasil parece ser ciclotímico e masoquista, e já se sente uma transição com retrocesso
por Alexandre Garcia
Imagem: Dona Mocinha
Lula quando fala assusta, como disse a decepcionada economista Elena Landau, que o apoiou no segundo turno. “Lula não aprendeu com os erros do passado”. Na verdade, parece que voltou ainda mais disposto a recrudescer nos erros. Agora mesmo aceitou o jatinho para ir ao Egito, como aceitou o sítio e o triplex.
Henrique Meirelles já recolheu os flapes e não está disposto a pousar no novo governo. “Boa sorte!”, desejou ironicamente Meirelles, que vê um período diferente daquele primeiro ano de Lula, em 2003, em que a economia mundial derramava suas bênçãos sobre o Brasil. Hoje, a economia chinesa, desacelerada, faz uma grande diferença.

REINA A INCERTEZA — Depois do desprezo pelo “tal mercado”, Lula foi condenado com duras palavras por editorial da Folha de S.Paulo, que tanto o apoiou. Pérsio Arida, falando ontem em Nova York, parecia Paulo Guedes; será que fica na equipe de transição? Investidores, empregadores, produtores ainda não sabem o que virá.
Fernando Haddad em lugar de Paulo Guedes pode ser apenas um bode na sala, para dar lugar a alguém que tenha assistido a mais de dois meses de aula de economia. Boulos para Habitação é tão irônico quanto Stédile para a Reforma Agrária.
Os nomes que circulam podem ser de fogo amigo de quem está de olho no ministério, ou fake news para assustar, mas bem que Lula poderia mostrar algum nome que acalmasse a incerteza que faz os investidores apertarem fundo o pé no freio.

COMPLICAÇÕES EM SÉRIE – Enquanto isso, ele pega o jatinho de 54 milhões de dólares com matrícula americana de um empresário de plano de saúde, que, como ele, já andou preso, e voa para o Egito dos faraós.
As manifestações de rua continuam e os comandantes das três Forças Armadas deram um aviso direto, sem intermediários, às instituições e ao povo: estão ao lado do povo, fonte do poder, e lembram que a lei diz que não é crime a manifestação crítica contra as instituições, vale dizer, o Supremo, o Congresso, o presidente ou mesmo o Exército.
A nota adverte que o Legislativo, casa do povo, tem que ser respeitado — isto é, não se pode prender deputado nem censurar parlamentar e rede social —, e que os parlamentares precisam corrigir possíveis arbitrariedades e desvios autocráticos — vale dizer, o Senado precisa fazer o Supremo voltar à Constituição e ao devido processo legal.

A SERVIÇO DO POVO  A nota reitera que as Forças Armadas estão a serviço do povo brasileiro e que as autoridades a serviço desse povo precisam atender reivindicações legais e legítimas. Fingir que não viu, não leu e não ouviu é esconder-se como avestruz.
Desrespeitaram direitos e garantias individuais que são cláusulas pétreas da Constituição e do direito natural. Crise institucional ter origem num tribunal constitucional é a última causa que se pode imaginar. Parecemos um país ciclotímico e masoquista.
Quando a nação se encaminha para a grandeza, pensa que não merece e provoca uma guinada para cair de novo. Desta vez, a guinada veio de uma elite da política, da Justiça e da mídia, usando eleitores desinformados. Planejada ou não, muitos sentem nesses dias uma transição para baixo.
COMENTO: Ciclotimia ou transtorno ciclotímico, é um transtorno de humor em que a pessoa experimenta momentos de depressão ou euforia subitamente.

domingo, 20 de novembro de 2022

Falência Múltipla

por Mariano Andrade
Em medicina, a falência múltipla de órgãos caracteriza um quadro clínico em que mais de um sistema vital para de funcionar adequadamente. Muitas vezes, a própria defesa do organismo torna o processo mais instável, dificultando o tratamento eficaz. Pacientes com falência múltipla de órgãos muitas vezes não têm prognóstico, é uma questão de tempo até virem a óbito. Praticamente, só lhes resta a fé.
Quando um paciente morre de falência múltipla de órgãos, não se pode ao certo afirmar qual sistema ou órgão foi responsável pelo desfecho final.
A eleição de Lula é a falência múltipla do Brasil.
Para combater um governo que não agradava a diversos setores da sociedade — vários deles alijados das benesses polpudas e imorais de outrora — o Brasil testemunhou uma subversão da realidade e uma relativização de conceitos que certamente atacará o país em diversos flancos. Quem se ilude quanto a isso nada mais é do que um tolo. O país não tem prognóstico.

Falência moral.
Somos a primeira nação do mundo a eleger um condenado e preso por corrupção para um cargo executivo. A honestidade deixou de ser uma condição essencial para o tratamento da coisa pública. O texto poderia parar aqui — trata-se de uma disfunção que leva à falência de outros valores. Quem aceita votar em Lula, aceita votar novamente em Sérgio Cabral e  —  dada nossa nova (des)ordem moral  provavelmente terá a chance de fazê-lo.
Várias gerações cresceram ouvindo a máxima de que “no Brasil, só pobre vai preso”, ou “no Brasil, a única coisa que dá cadeia é deixar de pagar pensão”. Tivemos o privilégio de ver isso mudar: cidadãos poderosos, ricos e influentes foram encarcerados, verdadeiras fortunas desviadas dos cofres públicos foram devolvidas. O país, finalmente, estava se tornando um império da lei.
Conseguimos a infeliz proeza de não só soltar os corruptos presos, para agora elegermos o chefe da quadrilha que, certamente, colocará em cargos estratégicos seus companheiros de crime. Ou alguém acredita que Lula virou um político probo ou que se aterá a indicações técnicas e apartidárias? Ao longo do mandato, muitos fantasmas aparecerão.
Lula jamais se desculpou pela corrupção da era PT — desculpas essas devidas mesmo com a fantasiosa narrativa do “eu não sabia” (lembram?). Os eleitores de Lula, quando indagados sobre corrupção, invariavelmente respondem com os “51 apartamentos de Bolsonaro” ou “as rachadinhas”. Esquivam-se do tema, preferindo relativizar os malfeitos. Há uma diferença, porém  Lula foi condenado por vinte juízes, Bolsonaro não. Ainda há a presunção da inocência no Brasil?
A moral da sociedade brasileira parou de funcionar. Aqui, o crime compensa.

Falência política.
Lula elegeu-se aliando-se a pessoas que ele odeia (e que o odeiam), a começar pelo vice Geraldo Alckmin, eterno antagonista ao PT.
Lula aliou-se a Tebet, uma oportunista descarada e cuja companheira de chapa o acusou de mandante de assassinato. A que ponto chegamos? Vale qualquer associação pelo poder.
Lula não apresentou nenhuma proposta   elegeu-se pela sua persona. Culto à personalidade historicamente termina em fracasso. Bolsonaro, por outro lado, perdeu a eleição devido à sua persona. A política brasileira se resume a isso: "gosto" ou "não gosto" do candidato. Pouco importa o que ele pretende fazer e o legado que deixará ao final do mandato. O eleitor se esquece de que personas mudam, mas o legado fica.
O país elegeu um ex-condenado por corrupção e deu a ele um cheque em branco. Que legado esperar?

Falência institucional.
"Eleição não se ganha, se toma". Essa fala de um ministro do STF já esgotaria o tema  a mais alta corte do país entende que as eleições não precisam ser limpas.
A autoridade eleitoral, por sua vez, é contrária ao aumento de transparência, vendendo a ideia esdrúxula de que temos a melhor tecnologia do mundo em sistemas de votação, definitiva e inviolável. Incrível não termos empresas tão grandes e poderosas como Apple, Samsung, Google, não? Num país onde tudo demora (apesar da auspiciosa digitalização da economia promovida nos últimos anos), somos capazes de "apurar" 120 milhões de votos em 3 horas. A eleição poderia passar a acontecer no dia 1º de abril.
A cruzada contra Jair Bolsonaro destruiu a separação de poderes  vimos o judiciário legislar livremente, sem qualquer questionamento do parlamento. Que democracia é essa? Com um parlamento de centro-direita, alguém tem dúvida de que o STF seguirá interferindo no processo legislativo?
Lula indicará dois ministros do STF nesse mandato. Alguma dúvida de que serão amigos, com os quais volta e meia Lula troca tapinhas no rosto? Gente da pior espécie, gente que coloca favores, persona e lealdade política acima dos valores institucionais.

Falência da ordem.
A pauta de Lula e seus aliados contém temas como descriminalizar pequenos delitos e outros afins. Claro, a chapa contou com apoio maciço e explícito de organizações criminosas.
A Califórnia, estado dos mais ricos dos EUA, descriminalizou shoplifting (pequenos furtos no varejo) há alguns anos. Resultadovárias empresas fecharam suas lojas e demitiram funcionários. É exatamente o que nos espera, uma "violência do bem" destruindo a economia e o emprego.
Isso sem falar na "violência do mal", aquela que vem por atacado.

Falência sucessória.
Em 40 anos de política, Lula não formou nenhum líder para sucedê-lo. Quem pensa que, depois de 4 anos, passará o bastão a Alckmin deve morar em outra galáxia. Se sua saúde lhe permitir, Lula concorrerá à reeleição em 2026 e, provavelmente, sem Alckmin na chapa.
E, assim sendo, não escaparemos de mais uma campanha lamentável, dominada pelas personas e pelo populismo. Para um povo de pouca instrução como o nosso, não há chance de um candidato técnico e com agenda propositiva (Tarcísio ou Zema) competir com uma figura como Lula. Lula é capaz de mentir fragorosamente em campanha, de prometer picanha, cerveja, pão e circo  a receita para atrair um adversário também populista para a contenda.
No mínimo, há que se admitir que Bolsonaro seria o “waze eleitoral”, o caminho mais rápido para termos alguma chance de, em 2026, escapar da polarização que tanto emburrece. Carisma não se transmite, e os líderes forjados por Bolsonaro não gozam do mesmo carisma que ele. Portanto, só uma persona (Bolsonaro de novo?) poderá fazer frente a Lula da Silva.
Por segurança, Lula tratará de manter o “nós contra eles”, de infernizar a vida dos estados governados por opositores e de tentar poluir a agenda política com caças às bruxas. Tudo para evitar o surgimento ou consolidação de novas lideranças.

Falência jurídica.
O sistema judiciário do Brasil foi desmontado para que Lula pudesse concorrer à presidência. Os processos, julgamentos e decisões de um sem-número de juízes foram simplesmente rasgados. Como podemos esperar doravante uma sociedade onde todos são iguais perante a lei?
Há alguns anos, Lula já havia afirmado que Sarney não era um homem comum perante a lei. Lula não acredita no império da lei, nunca foi um conceito que lhe agradasse, afinal é um ególatra que espera que a lei se molde à sua conveniência. Agora, powered by STF, Lula é a lei, e assim será.

Falência administrativa.
A eleição de Lula vai custar caro para a sociedade brasileira. Lula deve favor para muita gente  TSE, STF, partidos, políticos, banqueiros, e outros “democratas”. Quem espera que o governo Lula seja pautado por indicações técnicas pode voltar para Marte.
A cartilha petista é indicar para cargos importantes os “companheiros” derrotados nas urnas. Então, teremos que engolir figuras como Fernando Haddad, Olívio Dutra e outras tantas que causam náuseas e para as quais o eleitor já disse "não!". Exagero? Quem foi o primeiro presidente da Petrobrás da era Lula? José Eduardo Dutra, então recém-derrotado na eleição para o governo do Sergipe.
Com indicações políticas, a chance de termos melhoria nos serviços públicos é nula. Também não esperem um ambiente acolhedor para investimentos privados, teremos gente medíocre em todos os escalões, incapazes de inovar e promover as alavancas do crescimento.

Falência federativa.
O Nordeste foi instrumental para a eleição de Lula. Trata-se de uma região pobre justamente por ser governada majoritariamente por partidos de esquerda desde a redemocratização, e, com isso, fadada a nunca realizar seu potencial econômico. A região produz pouco e tem muitos eleitores, uma receita perfeita para o clientelismo e a servidão  terreno perfeito para provar empiricamente as teorias de Hayek.
O Nordeste jamais terá progresso com Lula ou outro governo de esquerda, pois ali reside sua possibilidade de se perpetuar no poder, não sem custar aos cofres públicos obras populistas, transferências de renda eleitoreiras e outros movimentos bem conhecidos. Ocorre que os estados que geram mais riqueza têm legitimidade para questionar essa equação: afinal, para que trabalhar e produzir, se os tributos são revertidos para benefícios (de curto prazo e populistas, majoritariamente) de outrem?
A União Europeia está sendo desmantelada justamente pela disparidade dos países-membros. Os alemães não querem mais financiar a Grécia, tal qual SP em algum momento não concordará em bancar o clientelismo nordestino.
Alguns preferem o caminho do progresso, outros trilham (ou são obrigados a trilhar) o caminho da servidão. Essas agendas tão díspares são incompatíveis numa união federativa.

Falência informacional.
Lula acredita no controle da mídia  falou sobre o assunto sem nenhuma censura (oops) durante a campanha. A grande mídia espera voltar a mamar nas tetas do estado e, claro, dará a contrapartida de noticiário favorável ao governo.
É daí para pior. Durante o processo eleitoral, testemunhamos uma censura descarada, inclusive com prerrogativas censoras ex-ante, virou minority report. Para tanto, contou-se com o voto lamentável de uma ministra do STF, “eu sei que está errado, eu sei que é ilegal, mas vou aprovar”, um momento singularmente trágico para nossa história.
Durante o governo "fascista" de Bolsonaro, os “artistas” puderam postar imagens do presidente num caixão com flores, ou montagem de um jogo de futebol onde a bola era a cabeça do presidente. Um jornalista desejou publicamente a morte de Bolsonaro quando o presidente contraiu covid-19. Bolsonaro é o fascista mais incompetente da História, pois deixou a sociedade falar mal à vontade. Pior: deixou haver eleições livres, vejam só!
Já os “democratas” das altas cortes pensam diferente. Prendem quem posta comentários negativos sobre eles, invadem contas de celular e por aí vai. Abusam do poder que têm e do que não têm, não tendo nenhuma censura (oops) em legislar amiúde. Ah, e nada de eleições justas.
Essa será a tônica do governo Lula: adeus informação, adeus contraditório, adeus liberdade de expressão. Virá aos poucos, para ninguém perceber. Quando a sociedade se der conta, a água já estará fervendo.

Falência internacional.
Os fanfarrões Macron, Di Caprio, Mark Ruffalo e outros dementes hipócritas vão comemorar a vitória de Lula. O senil Biden, se lograr compreender o que se passa, também. Porém confundir confete e serpentina com respeito e relevância internacionais é uma infantilidade descomunal.
Lula é um despreparado, capaz de declarar que a guerra da Ucrânia se resolve com cerveja (precisa da picanha acompanhando?). Só isso já bastaria para desacreditá-lo internacionalmente  desrespeita interlocutores que buscaram a paz antes de o conflito ser deflagrado, desrespeita jovens que vão lutar na guerra, desrespeita os mortos e seus familiares. Um ultraje.
Mas Lula é ainda pior: é o "idiota útil" modelo exportação. Lula jamais admitiu o erro de apoiar o chavismo, regime ditatorial que destruiu o país outrora mais rico da América do Sul. Lula jamais se furtou a enaltecer Cuba, algo incompatível com prezar pela democracia. Nos mandatos anteriores, Lula simpatizava com o Irã e o Estado Islâmico, aquele que decapitava jornalistas ocidentais. A Nicarágua parece ser a queridinha da vez. Beijar a mão de ditadores e ter respeito internacional são situações mutuamente excludentes.
"Ah, mas teremos Meirelles". Irrelevante  pode ser Dilma ou Mantega também, o destino é o mesmo, só muda a velocidade. O investidor internacional vai capturar o relief rally, se houver, e depois vai destinar o capital para jurisdições onde a propriedade privada e a lei sejam respeitadas.
A lista é longa, há outras tantas falências que contratamos para a sociedade brasileira ao eleger Lula da Silva. Quando o país finalmente morrer, não saberemos qual “órgão” foi responsável pelo último suspiro, mas saberemos qual foi o molusco causador. Só nos resta a fé.
Fonte:  Contraponto

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A Caça aos Arquivos Secretos do DAS

Manuel Casanova, Diretor de Inteligência, pediu para acessar pastas que foram mantidas em reserva, o pedido está pendente.
Nos arquivos do antigo DAS está armazenada informação recolhida durante 58 años, com relatórios de Inteligência, dados migratórios e antecedentes judiciais, entre outros. FOTO ARCHIVO
por Nelson Matta Colorado
A chegada do ex-guerrilheiro do M-19 Manuel Casanova Guzmán à chefia da Direção Nacional de Inteligência (DNI), acendeu a busca pelo conteúdo dos arquivos sigilosos do Departamento Administrativo de Segurança (DAS), o antigo serviço secreto da Colômbia.
Casanova completou dois meses no cargo, após ser designado em finais de agosto pelo presidente Gustavo Petro, com quem compartilhou a militância no M-19 e na Alcaldía [Prefeitura] de Bogotá (2012-15), onde atuou como profissional em políticas de segurança alimentar da Secretaria de Integração Social.
Fontes de Inteligência contaram reservadamente, que uma das primeiras solicitações do novo chefe foi a revisão das bases de dados do DAS, o organismo civil subordinado ao Poder Executivo que se encarregou da Inteligência estratégica do Estado entre 1960 e 2011, antes de ser suprimido por escândalos de corrupção.
O pedido causou espanto entre os agentes mais veteranos da DNI e os ex-integrantes do DAS que hoje trabalham para outras entidades. A razão: nesses arquivos há múltiplas anotações de Inteligência, seguimentos, interceptações telefônicas, fotos, vídeos, informes, codificações de linguagem cifrada e declarações contra pessoas que hoje integram o Governo Nacional.
Entre eles estão o próprio Casanova, o presidente Petro e outros altos funcionários que também fizeram parte do M-19, como Augusto Rodríguez, diretor da Unidade Nacional de Proteção (UNP), e Carlos García, chefe de Migração Colombiana.
Há muita preocupação na comunidade de inteligência; se teme que haja algum revide, porque na esquerda há pessoas muito revanchistas, manifestou uma das fontes consultadas.
Detalhou que vários dos agentes que obtiveram ou elaboraram os informes, como parte do trabalho de vigilância contra objetivos que ameaçavam a segurança nacional, incluindo o M-19 e outros grupos insurgentes, estão pensando em sair do país, antes que comece uma caça às bruxas.
Após a liquidação do DAS, suas bases de dados ficaram sob custodia do Arquivo Geral da Nação, adscrito ao Ministério da Cultura e com sede em Bogotá. Ali se armazenam os documentos que fundamentam a historia institucional desde a época da Conquista Espanhola.
Acessar a eles não é tão simples, mesmo se tratando do novo diretor da DNI. As informações do DAS estão protegidas pela Lei de Inteligência e Contra-inteligência (nº 1.621 de 2013) e normas subsidiarias, que exigem o sigilo de secretos, uma ordem judicial emanada de um juiz, e a presença de um delegado da Procuradoria, entre outros requisitos.
O decreto presidencial 1.303 de 2014 estabeleceu que o acesso e consulta da documentação dos arquivos de inteligência estará sujeita à reserva legal nos termos estabelecidos na Constituição e a lei (...). Só se propiciará informação às autoridades judiciais que, dentro de um processo judicial, a solicitem ou aos entes de controle que a solicitem.
Essas condições dificultam um acesso imediato às bases de dados. No momento, a cúpula solo tem disponibilidade absoluta sobre a informação produzida a partir de 2011, quando nasceu a DNI.
Essa situação freou os novos chefes, mas sabemos que estão fazendo os trâmites para acessar os arquivos, relatou um ex-agente.

Copias clandestinas
Mais além da desconfiança que gera a nova cúpula da Inteligência, para as fontes é claro que, mesmo com as medidas para proteger os citados conhecimentos, na última década muitos segredos do DAS foram vazados aos poucos.
A entidade produziu conhecimentos estratégicos durante 58 anos, tendo em conta que herdou os arquivos do antigo Serviço de Inteligência Colombiano (SIC), um aparato de origem policial, criado em 1953 pelo General Gustavo Rojas Pinilla, o qual funcionou por sete anos.
Ao largo de sua historia, o DAS reuniu informação confidencial — oficial e extraoficial — sobre acontecimentos políticos, sociais, econômicos, criminais e internacionais, que moldaram a nossa nação. Entre eles estão a Tomada do Palácio de Justiça, os magnicídios (Luis Carlos Galán, Álvaro Gómez Hurtado, etc.), a luta contra as guerrilhas e os grandes cartéis do narcotráfico, a guerra fria contra o comunismo, o paramilitarismo e a para-política, os falsos positivos, “a comunidade do anel”, a evolução dos partidos políticos, as relações diplomáticas e a espionagem com outros países.
O presidente Juan Manuel Santos ordenou sua dissolução em 2011, com o Decreto 4.057, em resposta a escândalos de corrupção como os "grampos ilegais" em telefones de magistrados, jornalistas e opositores ao governo de Álvaro Uribe (2002-2010); nexos de seus funcionários com as autodefesas paramilitares e a espionagem contra organizações de Direitos Humanos.
No artigo 24 desse mesmo decreto ficou estabelecido que enquanto se procedia na supressão do DAS, a Procuradoria devia vigiar “o processo de custodia, consulta e depuração dos arquivos de Inteligência”.
Nos deram a ordem de digitalizar os conhecimentos e estivemos muitos meses escaneando cada documento. Entregamos muitíssimos terabytes de dados em discos rígidos, não saberia dizer a quantidade exata. Também foi entregue material físico: cada unidade e direção regional apresentou uma media de 100 a 400 caixas, e cada uma delas tinha dez pastas de arquivo com 100 a 200 folhas, disse um conhecedor do processo.
Nas caixas e discos rígidos se guardaram os dados criptografados de três bases de dados usadas pelos detetives. Uma delas era o Sistema de Informação do DAS (SIFDAS), que continha informação migratória, antecedentes judiciais e anotações de Inteligência.
Ainda que se supunha que tudo era ultra-secreto, as fontes revelaram que de maneira clandestina foram feitas milhares de cópias de documentos. Parte da informação, relativa a operações que se executaram com cooperação internacional, foi copiada por agencias como a CIA estadunidense, o MI-6 britânico e o Mossad israelita.
Com esses sócios foram feitos trabalhos contra o comunismo e as guerrilhas, os cartéis de droga, o financiamento do terrorismo e o recrutamento de ‘convertidos’, uns católicos colombianos que aderiram ao Islã e foram enviados ao Oriente Médio para trabalhar com grupos extremistas, contou um ex-agente.
Ratificou que ditas agências armazenam as réplicas de informações como evidencia do que fizeram naqueles tempos e uma espécie de seguro, no o caso de que alguém pretenda alterar os fatos.

Informação compartilhada
Outra parte dos arquivos foi copiada por gente da direita entre 2012 e 2013, em plena etapa de dissolução do DAS. Eram empresários, políticos e gente da Força Pública, que lograram acesso porque tinham amizade com funcionários da Procuradoria que lhes faziam, o repasse.
Algumas caixas, aparentemente, saíram do inventario e foram espalhadas pelas instituições criadas para assumir as funções do DAS: a DNI, Migração Colombiana e a UNP, hoje comandadas pelos ex-membros do M-19.
Há ex-detetives que pensam que durante o processo de liquidação foram violados o sigilo dos arquivos, quando a empresa contratada para o armazenamento e classificação das bases de dados reorganizou seu conteúdo.
A Armada, a Fiscalía e a Polícia também receberam alguns desses insumos. Nesta última entidade, a Direção de Investigação Criminal (DIJIN) obteve informação relacionada com os acordos de cooperação com a Interpol; e a Direção de Carabineiros (Dicar) ficou com os informes do outrora Grupo de Segurança Rural do DAS.
Mais além do que repousa no Arquivo Geral da Nação, as informações secretas seguem vivas na memoria dos cerca de 6.000 empregados que laboravam no DAS.
A maioria foi realocada na Polícia (SIJIN e DIJIN), no CTI da Fiscalía, na UNP ou Migração, onde seus talentos costumam ser desaproveitados.Nos tratam com muita desconfiança, como se fossemos párias, porque a inteligência civil ficou estigmatizada depois do ocorrido com o DAS, narrou um deles.
Há ex-agentes expertos em contraterrorismo que estão trabalhando de mensageiros ou secretarias nos novos escritórios; outros, especializados em administrar fontes internacionais, servindo como simples escoltas; e uns mais, que antes se infiltravam na máfia, agora estão carimbando passaportes em um cubículo.
Entre eles, figuram alguns dos que pensam abandonar o país, temendo retaliações de altos funcionários do Governo que perseguiram no passado, agora que tem acesso aos secretos mais fundos do Estado.
Se abrirem esses arquivos para mudar coisas da historia, ou simplesmente para atacar a oposição, podem desestabilizar o Estado. Em troca, se o fazem para descobrir a corrupção, seria muito importante, porque ali há informação que nunca gerou processos judiciais e que demonstra quem é quem entre os corruptos, concluiu um ex-investigador.

A Vigilância sobre governos de esquerda
Entre as funções principais da DNI está a construção de informação de Inteligência e Contra-inteligência com fontes estrangeiras, em especial sobre aqueles governos que de alguma maneira ameaçam as políticas e bens da nação. Até a presidência de Iván Duque, a entidade mantinha redes de informantes e uma vigilância detalhada das atividades dos governos de Venezuela, Nicaragua e Cuba, entre outros regimes de esquerda, segundo as fontes consultadas. Também sobre os movimentos de Rússia e China na Colômbia e América Latina, com apoio de agencias de segurança ocidentais como a CIA e o MI-6.Agora que temos um novo governo, que quer acercar-se a esses países, quem sabe como se procederá. Há queixas porque se atrasaram os pagamentos para os informantes do exterior, relatou um ex-agente.

Veja, também:
São três exM-19 os que manejam a poderosa inteligência colombiana
Formado na U.P.B. é Jornalista da Área de Investigações, especializado em temas de segurança, crime organizado e delinquência local e transnacional.
Fonte: tradução livre de El Colombiano

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

E, Assim Seguimos, em Ritmo de Ganso — Um Passo e Uma Cagada

Eis a situação.
Houve eleições, sob condições que alguns acham suspeitas.
Os responsáveis pela aplicação dos princípios constitucionais de LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, e PUBLICIDADE, para garantir a EFICIÊNCIA, se empenharam no sentido de que a OBSCURIDADE se impusesse sobre o processo.
A violenta reação a sugestões que permitem, um maior controle da sociedade sobre o processo gerou desconfiança de que algo não anda conforme os preceitos democráticos.
Os "representantes" da sociedade, encastelados no Congresso Nacional, tornaram-se, alguns poucos, extremamente atuantes no sentido de recorrer à justiça — STF — para fazer calar quem manifestasse tal desconfiança; enquanto que a maioria covardemente omitia-se até de opinar a respeito.
O discurso do presidente
por Percival Puggina
Dois dias depois de concluída a apuração do pleito, o presidente emergiu, enfim, de prolongado retiro para um discurso de dois minutos que deixou boquiaberto o jornalismo brasileiro. Quando achavam que ele estava nas preliminares, a missão foi concluída. Precoce, muito precoce.
Humor à parte, dois minutos foi tudo que o jornalismo brasileiro teve para transmitir. Havia uma razão para a frustração: passados dois dias da eleição, os profissionais da comunicação continuavam convencidos ou querendo convencer a sociedade que tivemos uma eleição absolutamente normal. No entanto, a única coisa normal foi o cumprimento do cronograma. Quase tudo mais compôs um catálogo de absurdos.
Entre esses absurdos está a total incapacidade de perceber, ou a deliberada intenção de não revelar, a anormalidade do ambiente político em que se travou a campanha eleitoral, desde muito antes da abertura de sua abertura oficial. Aliás desde antes, até mesmo, da sequência de atos judiciais que produziram o grande disparate: Lula em condições de disputar a presidência.
Mesmo em presença dessa imensa anomalia seria perfeitamente possível uma disputa isonômica, se travada num contexto de equidade. Mas não. Lula foi beneficiado com a invulgar condição de ser um candidato cujo passado não podia ser mencionado (a não ser de modo elogioso, imagino) e cujas más companhias, relações políticas e empresariais foram aspiradas do mundo dos fatos.
Por outro lado, esse mesmo jornalismo que esperava e cobrava do presidente uma reação protocolar, integrou-se de modo notório à oposição desde 2019. Por anos a fio, cada jornal, um manifesto; cada rádio emissora, um discurso; cada TV, um comício. Sem chances ao contraditório. E onde esse contraditório surgiu no pequeno nicho das possibilidades, ergueu-se contra ele o braço inominável da censura.
Enquanto grandes grupos de comunicação se dedicaram intensamente à construção de narrativas, aos sofismas e à análise ilógica, as redes sociais, responsáveis diretas pelos resultados eleitorais de 2018 e 2020, foram levadas a uma espécie de campo de concentração onde a vastidão do ciberespaço virou um galpão patrulhado por cães farejadores.
Se tudo isso é muito normal, se tudo isso é “protocolar” ou constitucional, se escrevo sobre sapos de bom paladar facilmente digeríveis, então o discurso do presidente deveria ser bem outro. Só que não. Obviamente, não. Durante quatro anos, sempre acusado de autoritário, ditatorial, golpista e outras coisas mais, o presidente lecionou respeito às quatro linhas da Constituição àqueles que a transformaram em tempero para uso ao gosto.
Em seu discurso, reprovou a paralização das estradas e disse bem-vindas as pacíficas manifestações populares (as pessoas já experimentaram perdas expressivas de sua liberdade de opinião, expressão, locomoção e temem pelo futuro). Entendam isto os responsáveis: as pessoas sentiram suas liberdades sufocadas, se sentem ameaçadas e fazem inevitáveis analogias com nações vizinhas!
Quem não sabe o tamanho do problema que ajudou a criar, não entendeu a festa nos presídios e nos bastiões do crime organizado, não assistiu ao comício do vencedor, não viu algo muito errado no “feirão” dos saques a estabelecimentos comerciais, é inepto para as funções que exerce.