sexta-feira, 30 de abril de 2021

História: Ferenc Vajta — O Espião Que Fugiu Para a Colômbia

O húngaro Ferenc Vajta chegou em meados do Século à Colômbia e se converteu em um reputado Acadêmico.
Era fichado pela CIA e pelo FBI.
por Jhon Torres — @jhontorreset
Na Bogotá dos anos 50, ainda provinciana e ardentemente católica, se movimentou nos mais importantes salões um ex-espião que, se os documentos de segurança gringos são corretos, escapou dos julgamentos contra criminosos nazistas, teve contatos secretos com o Papa Pío XII e com o General Charles de Gaulle para tentar frear o comunismo internacional; tentou montar um governo no exílio quando seu país foi absorvido pelo bloco soviético e, já na Colômbia, conspirou contra compatriotas seus aos quais acusava de serem agentes dos bolcheviques.
Ferenc Vajta — um dos membros da ‘legião estrangeira’ que em meados do século passado chegaram fugindo dos estragos da Segunda Guerra Mundial e que aqui encontraram uma nova vida como professores da Universidade dos Andes e outros destacados centros de educação — é lembrado como mecenas do teatro moderno, humanista que consagrou sua vida à academia, e como ‘salvador’ de centenas de seus compatriotas refugiados na Áustria.
Nascido em 1914, educado na Sorbonne de Paris e na Itália, poliglota e ex-diplomata, seu rastro foi se perdendo com a passagem das décadas. E, ainda, nos anos 50 e 60 foi protagonista de primeira linha na vida universitária, social e cultural de Bogotá, jornalista de temas internacionais, e até correspondente por breve tempo da prestigiosa revista Time. Isso na esfera pública.
Em segredo, era objeto de um minucioso seguimento da Inteligência e Embaixada dos Estados Unidos, e informante desse governo e de agencias de segurança nacionais. Até sua morte, no final dos 60, foi um intenso lobista ante Washington, visando cancelar a marca de criminoso de guerra que o impediu de cumprir o plano de viver no país do norte e dirigir desde ali sua ‘cruzada contra o comunismo’.
Tudo isso é o que contam centenas de relatos secretos da poderosa Agencia Central de Inteligencia (CIA) que vem sendo desclassificados desde os anos 80. Vários deles foram recolhidos em livros e versões de imprensa publicados nos EUA que denunciavam como a Casa Branca fez vistas grossas frente a dezenas de reconhecidos nazistas que buscaram refúgio em todo o hemisfério.
O quadro que a CIA pintava de Ferenc Vajta era bem diferente do que se conheceu na Colômbia e que pouco mudou apesar de que, marginalmente, até aqui tenham chegado os ecos de seu passado. Inclusive conhecendo os rumores, poucos haviam imaginado que o homem corpulento, de nariz grande e cabelo negro engomado, que em 1957 foi um dos impulsores do primeiro Festival Nacional de Teatro (que se realizou no Teatro Colón), tivesse uma vida secreta. Um lado obscuro que, segundo a CIA, incluía além de seu passado nazi, capítulos como agente da Hungria, França, Vaticano e até mesmo dos EUA, e também a entrega de um tesouro de ouro na Áustria para evitar ser julgado e até fuzilado pelo que fez durante a guerra.

Primeiro ato: A guerra e o ouro
Ferenc Vajta é um jornalista húngaro e criminoso de guerra (...) Ex-cônsul em Viena antes da ocupação russa, escapou da custodia americana para a zona francesa em junho de 1945. Nove solicitações diferentes foram feitas para sua entrega a nossas tropas, diz um relato da CIA de março de 1952. Segundo o oficial norte-americano que o capturou, “Vajta deu aos franceses informação que foi usada para recuperar seis toneladas de ouro puro. Como recompensa, foi recrutado como informante pelas forças francesas de segurança”. O ouro e também uma carga de diamantes, agregam os documentos, provinha de fundos públicos húngaros que os governantes haviam movimentado para Áustria durante a guerra, como seguro se tivessem que sair fugindo de Budapeste (como de fato ocorreu), e que caíram nas mãos dos aliados após a derrota nazista. O informe assinala que, “apesar da promessa francesa de entrega-lo, isto não foi cumprido” e, pelo contrario, “o ajudaram ou lhe permitiram escapar para Itália”.
¿Quais eram as acusações contra ele? Segundo os arquivos desclassificados, Ferenc Vajta — que se apresentava publicamente como um perseguido pelo comunismo e atribuía aos russos e a seus aliados na Hungria uma suposta montagem contra ele — era conhecido em sua nação como uma especie de ‘campeão’ da causa hitleriana através de seus escritos periodísticos: “Seus artigos glorificavam os nazis. Em abril de 1943 fundou o jornal AZ Orszag, um panfleto semi-oficial do Ministério do Exterior húngaro que chamava o povo a unir-se ao lado alemão”.
Em 1944, o regime de Miklós Horthy, alinhado com a Alemanha, começou a debilitar-se e Hitler decidiu enviar suas tropas a Budapeste. E em setembro daquele ano, quando se descobriu que Horthy buscava um acordo secreto com os aliados ante a iminente derrota do Eixo, a ala radical nazi deu um golpe de Estado que pôs no comando a Ferenc Szálasi, de quem Vajta era muito aproximado. E não só seguiu publicando seu periódico, mas meses depois foi nomeado cônsul em Viena, a segunda capital do Terceiro Reich. A explicação do salto de jornalista a diplomático foi dada por  outra nota da CIA: “Em novembro de 1944, o avanço das tropas russas ameaçou engolir toda a Hungria. O governo de Szálasi estava pronto para fugir para Viena. Nesta situação, significativamente nomeou Vajta como primeiro cônsul húngaro na Áustria”. Ali se instalou em uma “suntuosa vila” apontada pelos alemães.
Sobre o que fez Vajta na Áustria há duas versões. A dele, segundo cartas enviadas desde Bogotá a altos funcionários dos EUA, pedindo ajuda para que revisassem seu caso, era esta: “Nunca fui nazi (...) Aceitei o consulado em Viena para atender o problema dos refugiados húngaros que saíram quando os russos cercaram Budapeste (...) Em abril de 1945, pouco antes do fim da guerra, contamos cerca de 400.000 refugiados. Trabalhei algumas vezes entre 14 e 16 horas ao dia e ainda assim não era suficiente para atende-los”. E argumentava: “No crescente caos (os aliados bombardeavam diariamente as linhas férreas austríacas) não era possível achar uma adequada solução para todos, mas fizemos o que pudemos. Se eu aceitei minha nomeação em Viena o fiz somente porque queria ajudar os húngaros a escapar”. Também assegurava que não só ele, senão todo seu país, havia estado do lado alemão durante a guerra, e que seu crime era assistir a seus compatriotas, sem importar qual era sua ideologia, quando fugiram “do paraíso comunista”. Quase as mesmas palavras com que foi apresentado um artigo seu sobre ‘Problemas europeus’, publicado na revista da Universidad Javeriana de Bogotá em 1950: “Vajta, um jovem diplomata húngaro residente atualmente na Colômbia e professor de vários centros de educação, desempenhou o consulado de sua pátria em Viena e desde esse cargo procurou auxiliar a numerosos compatriotas seus, vítimas da perseguição marxista”.

Segundo ato: a fuga
A CIA contava outra historia. Em 1949 seus agentes na Europa enviaram relatos como estes a Washington: “Em geral, a historia de Vajta é a de um húngaro fascista com conexões com os nazis antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Os arquivos revelam que foi reportado como agente do serviço secreto húngaro em Roma, Belgrado e Istambul e que seus serviços foram importantes para a Gestapo nesse tempo (...) É culpável de atrocidades de guerra como o envio, durante o regime de Szálasi, de 20.000 judeus húngaros que foram forçados a marchar de Budapeste a Viena. Durante essa marcha, mais de 6.000 pereceram”. E sobre o que lhe teria acontecido se não houvesse escapado com a ajuda dos franceses, o aviso secreto é contundente: “Teria sido, com toda probabilidade, imediatamente fuzilado se houvesse caído em mãos de soviéticos”.
Outro despacho assinala que os norte-americanos estavam prontos para envia-lo ao tribunal de Nüremberg ou ao do Povo da Hungria — que julgavam os criminosos de guerra — quando fugiu e apareceu protegido pelos franceses. Martin Himmler, do Exército dos Estados Unidos, testemunhou que Vajta havia enviado judeus húngaros para os campos de concentração na Áustria e que em seu poder foram achados bens esbulhados:No começo do cerco de Viena desapareceu com o tesouro (húngaro na Áustria) e outros bens valiosos como tapetes e objetos de arte, além dos valores de seu escritório. Quando foi preso pelos americanos, algumas das propriedades roubadas foram achadas em sua casa”. Ele, por seu lado, sempre acusou a Himmler de inventar as provas que o indiciavam.
Naquela época, recém finalizada a guerra, Colômbia não figurava para nada nos planos de Ferenc Vajta. Os documentos desclassificados da CIA o localizavam, após a fuga da Áustria, na Itália; ali foi recebido pelo círculo mais próximo ao papa Pio XII, cujo papel na guerra segue gerando polêmica porque muitos consideram que não fez o suficiente contra o genocídio. Seu sócio em Roma era um jesuíta também húngaro que, como ele, veio se acomodar em Bogotá poucos anos depois: Nyisztor Zoltan, então chefe de imprensa do Vaticano e também com fama de pró-nazi.
Na Itália, Vajta foi um dos promotores do Parlamento Húngaro no exílio e fundou um periódico, Salve Hungría, que atacava de frente o novo governo comunista de seu país. Ali foi preso pela segunda vez, acusado por crimes de guerra. 
Graças a seus contatos, assinala o arquivo da CIA, foi liberado pela segunda vez, mas o advertiram para que se fosse porque não poderiam protege-lo de novo. E lhe facilitaram tudo para viajar ao reduto fascista que restou na Europa após a guerra: a Espanha de Franco. Segundo se percebe, Vajta conhece muito das atividades da Inteligencia francesa na Áustria, mas parece irritado com eles porque não cumpriram as promessas que lhe fizeram. Também parece irritado com os britânicos porque não o defenderam (...) Vajta se ofereceu para trabalhar com os italianos se eles garantissem sua segurança pessoal, notificou a Agencia. Entre a queda de Viena, em 1945, e sua nova prisão, Vajta teve contatos com achegados ao herói da Resistência francesa, o general De Gaulle, pois Paris supostamente via nele uma figura chave para fazer contrapeso ao comunismo húngaro. Esses contatos, sem dúvida, cessaram com a mudança de governo na França, em 1946.
Na Espanha foram documentadas reuniões com funcionários do regime do ‘Generalíssimo’ e com o controvertido arcebispo de Toledo, Enrique Plá y Deniel, um dos líderes mais ultraconservadores da Igreja católica. Também contatou a embaixada dos Estados Unidos com a oferta de estabelecer em Madrid o ‘Centro Anticomunista da Europa Ocidental’. Os informes dizem que “aparentemente tinha uma grande soma de dinheiro a sua disposição, aparentemente originada no Vaticano”. Nessa época era um dos cabeças de um movimento chamado Intermarium, de extrema direita, que congregava varias forças anti-soviéticas.
Em dezembro de 1947, com visto yankee apesar de seus antecedentes e acompanhado por um vice-cônsul americano, voou de Madrid a Nova York. Sua ideia, dizem os documentos, era “contatar os exilados húngaros” para uni-los a seu movimento. Mas em janeiro de 1948 estourou o escândalo por seu ingresso em território americano; e ele foi preso e confinado na ilha Ellis. Como a Hungria comunista nunca respondeu para que fundamentassem as acusações de guerra contra Vajta, ao final, decidiram deporta-lo sob o motivo de ser considerado “prejudicial aos interesses dos Estados Unidos.

Terceiro ato: preso nos EE.UU.
Passou quase 26 meses detido. Então, é quando aparece pela primeira vez a Colômbia no mapa de Ferenc Vajta. ¿Como aconteceu isto? Nos anos 80, com milhares de documentos desclassificados pela primeira vez desde os anos 40, a imprensa norte-americana acusou o Vaticano de Pio XII de haver realizado uma enorme operação de movimento clandestino de fascistas e nazistas para a América Latina. As opções para o húngaro eram ser enviado a Itália (que se negou a recebe-lo) ou a seu país natal, onde o esperavam para julga-lo; mas ele alegou que sua vida estava em perigo. E, já com a expulsão decidida, surpreendeu ao pedir que o enviassem a Bogotá, uma cidade que nunca havia mencionado em seus escritos. Inclusive, informou que já tinha passagem da Avianca para 5 de fevereiro de 1950. 
Nunca se estabeleceu claramente como ele foi aceito pelo Governo colombiano, que seguía "ao pé da letra" as diretrizes de Washington em matéria de assuntos exteriores e certamente não teria recebido a ninguém de seu perfil sem um tranco americano. Vajta pode ter recebido ajuda de Pat McCarran, senador democrata de Nevada e um dos mais beligerantes anticomunistas do congresso dos Estados Unidos. McCarran, como muitos outros, acreditava que em plena Guerra Fria o inimigo era Moscou e que os antigos nazis podiam ser valiosos aliados. E é muito significativo que, na mesma época, monsenhor Nyistor Zoltan, seu contato no Vaticano, preparava as malas para vir ao país.
Após serem notificados de sua chegada, os oficiais da embaixada em Bogotá o apelidavam de “personagem indesejável” e avisaram a Washington que iam seguir sua pista, coisa que fizeram por anos. Os informes secretos não só chegaram à CIA mas também a J. Edgar Hoover, o quase eterno diretor do FBI.
Seus antecedentes não eram desconhecidos para o governo conservador da época. A embaixada reportou um Informe da Inteligencia colombiana que destacava o seguinte: Um documento da Polícia Nacional, Chefia de Segurança, datado de 27 de novembro de 1951 assinado pelo funcionário Manuel Antonio Orduz Duarte e dirigido ao dr. Pablo Jaramillo Arango, ministro encarregado da carteira de Governo, diz que o professor Vajta foi membro do serviço secreto francês em Innsbruck e finalmente do serviço secreto norte-americano na Colômbia”. E outro aviso, datado em Bogotá a 2 de março de 1950, resenha uma conversação entre Robert Newbegin, então conselheiro da Embaixada, e o dirigente liberal Álvaro García Herrera: “García disse que se subentende que essa pessoa (Vajta) está agora na Colômbia e que o Governo considera usá-lo em conexão com a polícia secreta (...) García expressou sua preocupação porque uma pessoa com o passado de Vajta possa influenciar em que os liberais sejam tratados de maneira brutal”. Preocupação que, por certo, nunca teve um piso real.

Quarto ato: um espião no país
O que se acredita é que Vajta seguiu, durante seus anos no país, com a ideia de sua cruzada anticomunista. A CIA revelou que ele e o monsenhor Zoltan acusaram ante a embaixada e ante o serviço secreto colombiano a outro professor húngaro, Jorge Kibedi, que havia chegado ao país em 1950 para trabalhar com a Universidade Javeriana e fez parte da Missão de Planejamento que modernizou Bogotá.
Em uma ficha sobre Kibedi que chegou a Washington, são mencionados todos seus dados (inclusive o endereço de sua casa no antigo bairro Sears de Bogotá) e as acusações que seus dois compatriotas fizeram indicando-o como suposto espião da União Soviética. Nessa época estava vigente uma norma que proibia “a atividade política do comunismo internacional” porque — destacava — “dita atividade atenta contra a tradição e as instituições cristãs e democráticas da República, e perturba a tranquilidade e o sossego públicos”. Ser comunista dava cadeia de 1 a 5 anos em uma colonia penal.
Em abril de 1951, a embaixada reportou a Washington quemonsenhor Zoltan afirmou que Kibedi levou a cabo uma missão de espionagem internacional para o governo comunista de Budapeste e que esteve sob vigilância da polícia secreta espanhola, que descobriu contatos com comunistas estrangeiros.
O mesmo documento diz que Vajta assegurava que Kibedi e seu irmão Irving, “que também está em um país de Sul-americano, eram agentes comunistas”: “Vajta está convencido de que Kibedi é um agente da Russia e que está levando a cabo uma missão de espionagem na Colômbia”. A foto de Kibedi que acompanha o relatório foi confirmada pelo próprio Vajta.
A mesma versão terminou em mãos do general do Exército Régulo Gaitán, um dos ‘duros’ da segurança colombiana da época. O Governo ordenou interceptar a correspondência de Kibedi e seguir todos seus movimentos e os de sua família. Finalmente optaram por deporta-lo do país sob a imputação de promover o comunismo.A expulsão de Kibedi foi resultado dos esforços de Ferenc Vajta”, diz outro comunicado dos EUA. Que acrescenta: “A vigilância ao correio de Kibedi pela Polícia indicou um sustancial volume de correspondência sobre temas sociais e laborais, mas as autoridades nunca encontraram uma prova concreta de conexões comunistas”.
A expulsão do professor da Javeriana, em 1952, foi um escândalo nacional que pôs parte da Igreja colombiana em choque com o Governo. Vajta, em uma conversação com a embaixada, se queixava de que os estilhaços de seu papel neste caso lhe haviam fechado varias portas:O sujeito ainda ensina ciências sociais na Universidade dos Andes, em Bogotá (...) Recentemente tentou complementar sua renda obtendo um cargo de professor na Universidade Nacional, mas não conseguiu. O motivo dado por Vajta é que líderes da Igreja católica o bloquearam por suas atividades contra Kibedi”. Este se instalou no Chile e se converteu em um dos dirigentes sindicais mais importantes do continente.
Nessa época, Vajta começou a escrever para a revista Semana, na seção Internacional, e era frequentemente consultado por seus conhecimentos da situação europeia. Ensinava, também, historia francesa em um colégio para moças, e seu radical discurso anticomunista começava a gerar muitos ruídos.

Doc 1: Bogotá, Abril de 1952
"O Quartel General foi avisado pelo Serviço de Imigração e Naturalização que Ferenc Vajta, que foi deportado dos Estados Unidos em 5 de fevereiro de 1950, é um sujeito indesejável devido a suas atividades relacionadas com os nazis durante a Segunda Guerra Mundial; deseja insistir para obter seu visto para os Estados Unidos. Com essa intenção escreveu ao senador McCarran afirmando que deseja voltar aos EUA para "continuar" sua luta contra os comunistas". Vajta pediu ao senador McCarran, que é presidente do Comitê Judicial, para que o Comitê o ajude a revisar seu caso de Imigração, aparentemente para obter reivindicação moral e para que o senador o ajude a ser readmitido (...) Em sua carta ao senador, Vajta caracteriza a Martin Himmler, que foi a principal testemunha dos Estados Unidos no processo de deportação, como "um húngaro nascido em  Hungria no Serviço Secreto e antigo comunista".


Doc 2: Hungria, 5 de dezembro de 1945
"Ferenc Vajtga é um jornalista húngaro e criminoso de guerra que escapou de uma prisão americana na Áustria. Esteve em Roma em novembro e viaja rumo a Paris. Seus amigos em Roma foram informados por ele mesmo de que discutirá seus planos para a restituição do antigo regime húngaro com o general De Gaulle. Vajta espera um papel principal no planejamento e execução dos planos franceses sobre Hungria(...)"


Doc 3:
Bogotá, 23 de junio de 1952 
"A expulsão de (Jorge) Kibedi (da Colômbia) é principalmente resultado dos esforços de Ferenc Vajta (...) As suspeitas também foram alimentadas por um importante jesuíta húngaro em Bogotá. A vigilância do correio de Kibedi pela Polícia encontrou um importante volume de correspondência sobre assuntos sociais e trabalhistas. As autoridades nunca obtiveram uma prova concreta de conexões comunistas (...)".


Doc 4: 
Bogotá, 23 de fevereiro de 1954 
"O sujeito regressou a Colômbia em janeiro de 1954 e está de novo ensinando na Universidade dos Andes e em uma escola. Assegura que não há nada que fazer, mas que fará o melhor na situação e esperará uma oportunidade mais favorável para regressar a França (...) Vajta crê que seu fracasso para obter o visto francês é consequência de que seu nome ainda aparece em uma lista negra elaborada imediatamente depois da guerra quando as influencias dos comunistas cresceram no governo francês (...)"

Doc 5: 
Bogotá, 18 de fevereiro de 1956 
"Em 17 de fevereiro de 1956, o Consulado notificou que o sujeito Ferenc Vajta está se esforçando por um visto (para os Estados Unidos). "(Nome omitido no documento) assegura que o sujeito é o mais anticomunista (...), muito inteligente, tem um amplo número de conexões no país e fala bem cinco idiomas. Ele pensa que o sujeito foi um húngaro pro-nazi e que provavelmente ainda guarda sentimentos pro-nazis".

Doc 6: 
Bogotá, 1950. 
Carta ao senador Pat McCarran
A carta:  "Eu deportei a mim mesmo" 
"Sou Ferenc Vajta, um antigo cônsul húngaro, que durante a última Guerra Mundial supostamente ajudou a Hitler a "assassinar milhões de pessoas indefesas" e que supostamente é o grande responsável pelo massacre de pilotos americanos na Hungria (...) Tenho 36 anos, não tenho uma nação, sou um jornalista de profissão e vivo na Sul-America (...) Cheguei livremente, em um voo, e no aeroporto havia alguns velhos e queridos amigos que me receberam. Exceto eles, ninguém sabe aqui quem sou e por que escolhi este país para 'reiniciar' minha vida. Estou vivendo em uma humilhação constante e rara vez tenho um momento no qual realmente não deseje esquecer tudo. Desperto cada dia com a decisão de, a partir desse momento, não recordar nunca mais meu passado, mas até as coisas de minha rotina tornam impossível que possa matar minhas recordações (...) Meus problemas, a humilhação na ilha Ellis, minha própria deportação de um país que amo (e o que é pior, que sigo amando com todo meu coração) nunca permitirão romper essas correntes invisíveis que me atam com incrível força. Antes de sair da cela 222 da Ilha Ellis, nunca imaginei, nem por um momento, que na verdade não existe liberdade para um homem cuja honra tenha sido arruinada (...) "Em abril de 1944, quando os alemães ocuparam a Hungria, eu era um simples editor de noticias que defendia os judeus e exigia um tratamento mais humanitário para eles, e ainda hoje, depois de tudo que passei, não me arrependo do que fiz, não lamento te-los defendido. É tudo o que tenho que dizer a esses que tratam de fazer propaganda de anti-semitismo com meu caso. Mas também é natural que eu lute e trate de lutar sempre para que me façam justiça. Do contrario nunca terei paz".

Quinto ato: o solitário mecenas do teatro
¿Quantos sabiam de sua historia na Universidade dos Andes? Não há nenhuma evidencia de que houvesse, por parte dos Estados Unidos, alguma entrega de informação nesse sentido. Nos documentos só aparece uma conversação de um funcionário da embaixada com Frans Von Hildebrand, um dos mais destacados professores daquela universidade e cuja família teve que fugir da Alemanha de Hitler em 1933 por sua pública oposição ao projeto totalitário.Hildebrand diz que não aprova as ideias políticas defendidas por Vajta no passado, mas diz que o sujeito parece estar por fora de atividades políticas na Colômbia tem certeza de que ele não tem recebimentos diferentes dos que recebe da universidade”, informa um relatório de 1953. O biólogo Martin von Hildebrand, filho do professor, descreve Vajta como “um homem de aparência triste e que dava a impressão de que sofria muito”. Era recebido na casa de seu pai como outros muitos professores dos Andes vindos da Europa, entre eles muitos judeus. “Às vezes, algumas pessoas perguntavam ao meu pai como podia tolerar a Vajta, tendo o passado que tinha. Ele dizia que não podia julgar uma pessoa por uma decisão de estar no lado equivocado que todo um povo havia adotado. Mas não creio que meu pai nem os outros conheceram em profundidade a sua historia”, disse o reconhecido antropólogo e diretor da Fundação Gaia.
O grande ator Kepa Amuchastegui, que estudou nos Andes nos 60, via Vajta indo tomar o chá na casa dos Von Hildebrand. “Era intelectualmente muito respeitado (...) Não tratei muito com ele porque era de outra geração, mas era uma figura reconhecida, mais porque estava muito vinculado ao mundo do teatro”, assinala. Também recorda que em voz baixa diziam que havia defendido ideias nazis, mas diz que sempre foi mais um rumor que um questionamento concreto.
Durante duas décadas, Ferenc Vajta seguiu tentando, sem êxito, conseguir um visto dos Estados Unidos para “reivindicar” sua historia. Em uma carta que titulou ‘Eu deportei a mim mesmo’, escrita em Bogotá, assegurava que “ainda se sentia prisioneiro” por ter que carregar uma fama de nazi que, segundo ele, foi invenção de seus inimigos comunistas e judeus: “Não há liberdade para um homem cuja honra tenha sido arruinada”, dizia. E em sua defesa escreveu que quando a Áustria foi ocupada pelos russos, ao final da guerra, ele foi “imediatamente trabalhar com a Inteligencia francesa para organizar um centro anticomunista”. Ele escreveu a congressistas republicanos e democratas e até pediu aos gringos que o contatassem durante uma viajem à Europa, no começo de 1954, para concretizar seu plano de criar uma comunidade de exilados contra Moscou. 
Se eu puder me colocar de acordo com os serviços (secretos) dos Estados Unidos e trabalhar com eles, somente eu serei responsável por minha vida. Como não sou um covarde, não estou interessado em meu futuro e não me importa se devo pagar com minha vida por minha futura missão”, escreveu à embaixada em Bogotá antes de viajar. A CIA recebeu cada carta sua, mas ninguém chegou a procura-lo.
Nos 90, o mesmo estigma caiu sobre Gerardo Reichel-Dolmatoff, o austríaco que foi o 'pai' da antropologia na Colômbia e herói da França na guerra de Resistência contra os alemães, quando se revelou que em sua juventude havia servido nas temíveis SS de Hitler.
Vajta terminou regressando a sua vida de professor na Colômbia apesar de outro relato, dizer que “estava totalmente entediado” no país, que “não tinha interesse em seu trabalho atual” e estava desesperado por voltar à Europa. 
Em 1956, por pouco tempo, foi nomeado correspondente da revista Time. E a mesma Embaixada advertiu o Departamento de Estado para contatar os editores nos EUA e os advertir sobre seu perfil. O episódio durou um mês e, em abril do mesmo ano, o diário Intermedio (a versão de El Tiempo durante a ditadura de Rojas Pinilla) informou que “o professor Ferenc Vajta renunciou a seu cargo como correspondente”, pois “devido a suas atividades universitárias não podia dedicar suficiente tempo à revista”. A embaixada havia sido informada dias antes de que em Time tomaram nota “do histórico do sujeito” e que “estavam dispostos a fazer uma mudança em vista da informação” que haviam recebido.
A partir desse momento — ainda que até o final de seus dias insistiu em pedir visto aos Estados Unidos, que foi negado todas as vezes —, o professor Vajta pareceu dedicar todos seus esforços em promover a cultura colombiana, especialmente os nascentes projetos de teatro moderno. Em 1957, com recursos que ele mesmo obteve entre a comunidade diplomática acreditada no país, foi um dos organizadores do Festival Nacional que ocorreu ano após ano até 1963 no Teatro Colón, ao lado de figuras como Gloria Zea, Ramón de Zubiría e o maestro Bernardo Romero Lozano. Desse experimento cultural começaram a surgir grandes figuras como Enrique Buenaventura, Carlos José Reyes e Santiago García, entre outros. Também foi muito próximo ao grande poeta Eduardo Carranza e, apesar do anticomunismo que corria em suas veias, apareceu, em 1960, acompanhando Orlando Fals Borda e ao padre Camilo Torres na criação da famosa faculdade de Sociologia da Universidade Nacional.
O maestro Reyes, que o conheceu no começo daquela década, recorda de Vajta promovendo ativamente a discussão sobre os temas que se tratavam nas obras de teatro do Festival: Conhecia muito bem o teatro europeu e apoiou projetos de escolas colombianas que estavam iniciando. Chegou até a sustentar várias apresentações com recursos próprios, ou os que obtinha com seus contatos nas embaixadas. Reyes também ouviu os rumores sobre o passado do professor da los Andes, mas garante que nunca o escutou defender ideias extremistas e que jamais censurou alguma obra, por mais ‘tirada’ à esquerda que fosse. “Sempre era visto com ar doutoral, muito acadêmico, mas muito respeitoso”, diz. Por essa época, inclusive, aparecia na Radio Nacional, com seu espanhol marcado pelo forte acento centro-europeu, comentando as adaptações teatrais em companhia de famosos como Gloria Valencia de Castaño. 
Ainda que tenha chegado com sua esposa e um filho ao país, Ferenc Vajta morreu só no final dos anos 60. Seu corpo foi encontrado vários dias depois, segundo relatos da época. Foi um epílogo dramático para um ator de primeira linha na Segunda Guerra Mundial que terminou sua existência em um país, Colômbia, em que nunca pensou viver mas ao qual dedicou as últimas duas décadas de sua existência. E até o final, em segredo, tratou de mudar o bordão que o perseguiu até depois de sua morte: “o único nazista a ser deportado dos Estados Unidos”, comentou o ex-promotor norte-americano Allan A. Ryan, que investigou e perseguiu nazis que emigraram para aquele país e escreveu vários livros sobre os criminosos de guerra que conseguiram uma segunda oportunidade sobre a terra ao fugir para a América.

CRÉDITOS:
— Diretor do Especial: Jhon Torres, Editor de Mesa Central 
— Desenho Digital: Sandra Rojas
— Diagramação: Carlos Alberto Bustos
— Editor de Multimídias Especiais: José Alberto Mojica
Fonte: tradução livre de  El Tiempo

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Porque Não Sou de Esquerda

por Roberto Motta
Não sou de esquerda porque essa posição ideológica é baseada em três crenças equivocadas: a de que totalitarismo produz liberdade, a de que a distribuição da riqueza é mais importante que sua criação, e a de que o Estado deve dirigir nossas vidas nos mínimos detalhes.
Essas crenças são a base do comunismo e do socialismo, que são a mesma coisa: sistemas filosóficos, morais e políticos mórbidos, usados por psicopatas e aventureiros para transformar o ser humano em um farrapo corroído por fome, miséria e degradação.
Esse é o resumo breve do que é “esquerda”.
Faltou dizer que a esquerda sempre contou com o apoio dos intelectuais e, por isso, tem um marketing incomparável: foi assim que uma ideologia totalitária, violenta e empobrecedora se tornou promotora da “justiça social” (seja lá o que for isso) e ganhou o apelido de “progressista”.
Quando as revoluções sangrentas saíram de moda, a esquerda abraçou as bandeiras das minorias, do feminismo e da ecologia para se manter no poder. Percebam a ironia de ter esquerdistas liderando movimentos feministas, antirracistas e ecológicos: basta contar quantos negros já foram presidentes de Cuba ou Venezuela, quantas mulheres já foram chefes do Partido Comunista Soviético ou Chinês, ou lembrar do desastre ambiental da China e da usina nuclear ucraniana de Chernobyl.
No ano passado os Estados Unidos foram paralisados pelos protestos contra a morte de George Floyd. Em qualquer país comunista, você jamais teria ouvido falar do George Floyd; ele teria sumido rápida e completamente, e toda sua família e amigos teriam sido internados em algum campo de “reeducação”.
Todo os regimes comunistas da história foram ditaduras. Não há uma única exceção. Opositores são perseguidos, presos, torturados e mortos. Os países são cercados de muros para que ninguém escape.
Apesar disso, o comunismo ainda é apresentado como o regime da solidariedade e do amor, onde “cada um dá o que pode e recebe o que precisa”.
O comunismo é um remédio que mata 100% dos doentes, mas que continua sendo vendido até para crianças. “Pode confiar”, diz o fabricante. “Da próxima vez vai dar certo”.
Essa mentira assombrosa é divulgada nas artes plásticas, na literatura, na arquitetura, no teatro, no cinema e na TV como verdade.
Livros escolares usados por nossos filhos plantam, em suas mentes imaturas, uma ideia que significará, para muitos, uma vida de frustração, revolta vazia, vício e pobreza.
Escolas de direito doutrinam futuros juízes, promotores e defensores públicos no ódio ao capitalismo e à prosperidade, e na promoção de um Estado intervencionista, autoritário e onipresente.
O esquerdismo, socialismo ou “progressismo” é isso: um equívoco moral e lógico, um instrumento de violência e opressão, e uma armadilha emocional e intelectual, glamourizada, divulgada e promovida pelos segmentos mais influentes e charmosos da sociedade.
Quem paga o preço disso são os que não podem se informar ou se defender.
Como disse Theodore Dalrymple, “os pobres colhem o que os intelectuais semeiam”.
E é por isso que eu não sou de esquerda.