domingo, 25 de dezembro de 2022

O Catecismo Secreto.

por Joseph Agamol
Há uma história clássica do Tio Patinhas, chamada “O Sovina Gastador”, publicada em 1964, se não me engano, escrita e desenhada pelo gênio dos quadrinhos, Carl Barks.
Em resumo, no gibi, o pato Donald, cansado dos presentes mixurucas que seu tio ricaço e pão-duro lhe dá a cada Natal, usa nele um raio hipnótico que fará com que o Tio Patinhas sinta uma vontade irresistível de dar um presente magnífico para a primeira pessoa que ele avistar. O que poderia dar errado? Claro que, sendo o pato Donald, TUDO: a primeira pessoa que tio Patinhas vê após ser atingido pelo tal raio é, na verdade, o CACHORRO de uma milionária.
E, como não entende muito de DAR presentes, o velho pão-duro busca inspiração em uma antiga canção de natal inglesa, que apresenta uma lista de doze presentes, digamos, insólitos, que incluem uma perdiz numa pereira, duas pombas, três galinhas francesas, quatro pássaros cantando, cinco anéis dourados, seis gansos chocando, sete cisnes nadando, oito servas ordenhando, nove senhoras dançando, dez lordes saltando, onze flautistas tocando, doze tocadores de tambor… 
A história se desenvolve com o Donald achando que os presentes são para ele — e suas tentativas de fazer o tio fracassar na obtenção dos itens.
Li a historinha ainda menino, nos anos 70, mas só recentemente descobri que a canção existe de verdade — e a belíssima história por trás dela. Embora no Brasil não seja tão conhecida como os maiores hits natalinos, na Europa e USA ela faz parte do panteão dos grandes clássicos de Natal. 
Chama-se “Twelve Days of Christmas” — em português, “Doze dias do Natal” — que seriam os dias entre o Natal e a epifania, em 6 de janeiro.
E qual é a história?
Diz a lenda que a canção surgiu na Inglaterra, no século XVI, durante a perseguição aos católicos naquele país, que, como forma de proteger, praticar e divulgar sua fé, ocultaram na letra de uma música de Natal os mais valiosos preceitos do catolicismo.
Assim, por exemplo, a perdiz na pereira simboliza Cristo e sua morte na cruz. As duas pombas, o Antigo e o Novo Testamento. As três galinhas seriam as três virtudes, fé, esperança e caridade. Os quatro pássaros, os quatro evangelhos. Os cinco anéis dourados seriam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Os seis gansos, os seis dias que o Eterno usou na criação do mundo. Os sete cisnes seriam os sete dons e os sete sacramentos. As oito servas? As oito bem aventuranças. As nove senhoras, os nove frutos do Espírito Santo. Dez lordes, dez mandamentos. Onze flautistas são os onze apóstolos fiéis a Yeshua. Os doze tambores representariam os doze artigos do Credo.
Alguns pesquisadores não acreditam nessa versão de um catecismo clandestino embutido na canção, atribuindo sua origem apenas a um jogo musical infantil que era cantado entre o Natal e o Dia de Reis.
Se eu acredito que “Twelve Days of Christmas” oculta um catecismo secreto em sua letra, no intuito de preservar e divulgar a fé cristã?
Amigos, eu acho que o Eterno age de modos misteriosos.
Tão misteriosos que até uma história em quadrinhos pode ser um instrumento de Sua vontade.