domingo, 7 de agosto de 2022

Crescimento da Economia na Colômbia

Narcotráfico cresce como nos tempos de Pablo Escobar, ¿Quem o deterá?
O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente de Ecopetrol, um dos economistas mais importantes da Colômbia, analisa o crescimento da produção de cocaína — 8,6 kg por hectare — no país.
Os cultivos, como o da foto no Norte de Santander, se traduzem em uma vida de ricos para narcos disfarçados de “novos ricos”, como o recente caso de Falcon, extraditado aos EUA.
por Juan Carlos Echeverry
(@jcecheverryCol)
Desde os tempos de Pablo Escobar, lá pela década de 1980, o tamanho do negocio da cocaína na Colômbia nunca foi tão grande como aparentemente é agora. A informação das Nações Unidas (UNODC) é preocupante: em um lustro Colômbia passou de uma produção potencial de 290 toneladas métricas (tm) de cloridrato de cocaína puro para 1.200 tm (ver Gráfico 1).
O Departamento de Estado dos EUA tem uma estimativa distinta, como aparece no mesmo gráfico, ainda que não menos preocupante, pois estaríamos a cerca de 970 toneladas métricas de cocaína neste ano (todas as projeções de 2022 são feitas por EConcept com base em diversas fontes).
Como se vê nas duas linhas do Gráfico 1, o crescimento acelerou entre os anos 2013 e 2017. Mais tarde, basicamente se manteve estável a produção, apesar dos aparentes esforços para combatê-la. Se corretas estas cifras, a produção se quadruplicou em menos de cinco anos. É o único sector produtivo da Colômbia com semelhante capacidade de crescimento. Cabe recordar que boa parte de sua atividade ocorre na selva, sob terríveis condições de segurança.
Segundo a ONU, a produtividade estimada de cocaína é de 8,4 kg de cocaína/hectare colhido de folhas de coca, e vai em constante aumento. ¿Quais são as rotas para a exportação? 74% pelo Pacífico, 16% pelo Caribe e 8% por Venezuela.
¿Quanto pode retornar dessa produção para a Colômbia? Segundo estimativas, o preço no atacado oscila entre 7.500 e 10.000 dólares por kg de cocaína pura entregue em alto mar; entre 7,5 e 10 milhões de dólares por tonelada (ver Gráfico 2).
Em consequência, a produção potencial da Colômbia, ao ano valeria entre nove e onze bilhões de dólares (Gráfico 3). Naturalmente, disto se deve subtrair a cocaína apreendida, se realmente ela não volta ao mercado. Para efeitos comparativos, tomaremos o ponto médio destas duas estimativas de ingresso potencial, ou seja, dez bilhões de dólares por ano, na atualidade. Tenhamos em conta que se trata de estimativas e números grosseiros.
Se compararmos esse fluxo potencial de dólares por cocaína com as entradas legais de dólares na Colômbia estimadas para o fim de 2022, o tráfico de cocaína seria na atualidade a terceira fonte de ingressos, depois da exploração do petróleo e o carvão, e das exportações agropecuárias e manufatureiras; e estaria acima das remessas, que se encontram em níveis recorde (que se acercam a nove bilhões de dólares), e o turismo, que também vem se recuperando (Gráfico 4).
De fato, 2022 será um ano recorde de ingressos do exterior, pelas diversas fontes. Podemos dizer que a soma de todos os valores do que vendemos, com o que nossos compatriotas enviam desde o exterior, disparou em 2022. Parte da razão é a boa sorte, que sempre nos acompanha na saída das crises.
Com efeito, o Gráfico 5 mostra que os preços de alguns produtos básicos que exportamos se acham em níveis recorde. Não nos alegremos da boa sorte. A guerra na Ucrânia fez disparar os preços da energia, assim como fenómenos climáticos tem afetado os mercados agrícolas. Se bem que, também fez disparar a inflação, a qual não é benvinda, mas não faz parte do tema que nos ocupa.
Voltando à dinâmica das exportações ilegais, se pode dizer que, apesar da luta contra o narcotráfico e dos apresamentos, o tamanho do negocio da cocaína na Colômbia nunca foi tão grande como agora. Seu poder pode ser tão devastador ou desestabilizador como foi nos tempos de Pablo Escobar e o cartel de Cali. Naquela época, chegou a ser 3% do PIB, e, na atualidade estamos próximos a esse nível.
¿O que pode passar para o futuro? Os preços da cocaína parecem estar no auge, da mesma forma que os de outros produtos básicos. O Gráfico 6 mostra um forte aumento em finais da década passada; esses preços indicariam que se manter-se o imenso incentivo de rentabilidade da cocaína, isso seguirá representando uma seria ameaça para a estabilidade política nas regiões pacífica, sul, oriental e norte da Colômbia.
Uma última reflexão surge ao observar o Gráfico 4. Se forem mantidas as tendências observadas no primeiro semestre de 2022, e ao final do ano se materializa o cenário projetado nessa imagem, Colômbia estaria experimentando em 2022 a maior bonança externa de sua historia. Se esse fosse o caso, ficaria por explicar um aparente paradoxo: ¿como se pode estar desvalorizando o peso colombiano e encarecendo o dólar, em circunstancias de uma bonança externa legal e ilegal de semelhante magnitude?
Certamente, a resposta a essa questão se fixa em que a demanda de dólares está superando a oferta, por maior que esta seja. Apesar da imensa afluência, há mais gente tratando de guardar divisas no exterior, que os que estão tratando de trazê-las ao país. De fato, as importações estão disparadas, e o déficit da  Balança de Pagamentos se ampliou.
Isto indicaria que os colombianos que compram no exterior, e que até maio vinham adquirindo importações em níveis recordes, ou anteciparam uma desvalorização ou se juntaram a um suposto contingente de pessoas que estão sacando divisas (depositando no exterior).
Nesse sentido, há uma controvérsia sobre quanto se deve aos resultados políticos da Colômbia, e quanto se deve ao fenômeno internacional de aumento de juros pelo Federal Reserve dos EUA e ao fortalecimento global do dólar. O Gráfico 7 pode ajudar a responder essas perguntas. Todos os países do gráfico experimentaram alguma pressão de desvalorização. Foi mais forte para Chile e Colômbia, talvez pelos fenômenos políticos recentes. Mas a da Colômbia se manteve, indicando a presença de uma fonte interna que a diferencia dos demais. Bem poderia ser política.
¿Ou a bonança colombiana pode ter como fundo a lavagem de dinheiro?
Fonte: tradução livre de El Colombiano

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