Editorial
Enganosas, infames, mas acima de tudo profundamente hipócritas foram as expressões vertidas na quarta-feira passada pelo ministro de Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, em torno das evidentes graves irregularidades que rodearam todo o concernente ao turvo processo eleitoral venezuelano e o questionado resultado que lançou, com o hipotético “triunfo” do novo manda-chuva da Venezuela, Nicolás Maduro.
O chanceler brasileiro afirmou que seu país “reconhece” o triunfo do controvertido sucessor de Chávez e que os resultados do Conselho Nacional Eleitoral devem ser “respeitados”.
Evidentemente, esta primeira manifestação desconhece uma realidade bem profunda: na Venezuela se produziu praticamente um empate entre o candidato oficialista e o opositor, e existem fundadas suspeitas de que o regime chavista recorreu à fraude para impor sua discutida “vitoria”.
Depois, ao ser consultado sobre a necessidade de auditar o processo eleitoral realizado no domingo passado, para eventualmente eliminar qualquer suspeita de ilicitudes, Patriota disse que uma decisão em tal sentido cabe somente às autoridades eleitorais venezuelanas. “Respeitamos a soberania” da Venezuela e essa seria “uma decisão interna”, manifestou.
Parece mentira que quem se expressa em tão condescendentes termos para com o neodespotismo bolivariano seja o mesmo tipo que em junho do ano passado encabeçou uma gangue de chanceleres da UNASUR que invadiu o Palácio do Governo do Paraguay para impedir por todos os meios possíveis que aqui se realizasse o julgamento político do então presidente Fernando Lugo; julgamento esse embasado claramente no que estabelece o artigo 225 da nossa Constituição Nacional.
Naquela ocasião, Patriota afirmava em sua descarada intervenção nos assuntos internos do nosso país que tal ato — o julgamento constitucional do ex-bispo — constituía uma “ruptura da ordem democrática”. Claro, a “ruptura”, para ele e seus amigos, estava fundamentada no fato de que, com o deslocamento de Lugo do poder, eles perdiam uma ficha importante no tabuleiro bolivariano que o Brasil, com o concurso de seus cafetões e alcoviteiros Hugo Chávez e os Castro, vem criando e consolidando desde há aproximadamente uma década nos países da região.
Sem dúvidas, agora se trata de um “sócio”, um cupincha a quem é preciso salvar e resgatar a qualquer preço, incluso o altíssimo custo de pisotear os mandatos da Constituição da Venezuela e ser vistos ante a opinião pública mundial como os hipócritas que são já sem nenhuma dissimulação. Nem isso os preocupa.
Como estão desesperados atrás do ouro negro venezuelano, agora sequer lhes interessa salvar as aparências, e se prestam a legitimar — como sempre fizeram — as tramoias do totalitarismo chavista.
O que está claro é que com sua atitude obstinada poderão encobrir as miseráveis tramoias de seu amigote Maduro, porém nunca vão conseguir que Venezuela reencontre o caminho da paz interna, a estabilidade e a reconciliação, que sem dúvidas foram profundamente quebradas desde que o chavismo capturou o poder.
Desgraçadamente, a hipocrisia é um elemento indissolúvel da política exterior brasileira. Parte daí o padrão permanente de duas caras aplicado quando se trata, por exemplo, de seus amigos endinheirados — como é o caso, agora, do péssimo Nicolás Maduro — e absoluta intransigência a que recorre no caso do Paraguai, não só em termos políticos, mas também econômicos.
Este é o repugnante neocolonialismo imperialista a que o Brasil nos vem impingindo desde há tantas décadas. Séculos talvez. E que deseja seguir impondo miseravelmente para conseguir perpetuar-se com nossos recursos naturais.
Certamente, as declarações de quarta-feira passada de Patriota demonstram e desmascaram o baixo nível desse canalha intelectual, esse mercenário que pretende, a força de enganos e enredos retóricos, fazer crer ao mundo que é um grande defensor da democracia e promotor dos direitos humanos, quando na realidade não é mais que um farsante, um sujeito sem princípios nem dignidade de nenhum tipo.
É importante, pois, conhecer a natureza e a verdadeira dimensão da falsidade dos indivíduos como Patriota, sobretudo agora, quando teremos que escutar todas as mentiras que tem preparadas para tentar que — uma vez passadas as eleições nacionais do próximo domingo — nós paraguayos aceitemos todas as agressões a nossa dignidade que por ordem sua e de sua chefa nos tem infligido no Mercosur, e as novas autoridades eleitas continuem consentindo o vil despojo de nossas riquezas naturais que desde décadas vem o Brasil cometendo em nosso prejuízo.
Fonte: tradução livre do Jornal ABC Color
COMENTO: certamente, um Editorial desse calibre não é uma opinião isolada de um jornalista qualquer. Para publicar essa crítica tão contundente, a direção do jornal deve contar com o apoio de boa parcela da população, não só paraguaia mas de toda a América Latina de língua espanhola, leitora do diário em questão. Podemos dizer que essa é a opinião de nossos vizinhos que não se enquadram no Foro de São Paulo, não só dos paraguaios. É o resultado da diplomacia comandada por aquele chorume humano dos dentes podres que manipula o pusilânime inútil que, infelizmente, ostenta o adjetivo "patriota" no nome. Rio Branco deve estar chorando em seu túmulo!
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