quarta-feira, 6 de maio de 2009

Até Um Asno Saberia Que Iria Acontecer Isso. Menos o STF.

SEGUNDO DIA NA RAPOSA / SERRA DO SOL
por Izidro Simões
O Desembargador Jirair Meguerian, Presidente do Tribunal Regional Federal, por determinação do STF, está coordenando a “desintrusão” na Raposa/Serra do Sol. Seu Quartel General está montado nas instalações turísticas no aprazível Lago Caracaranã, município de Normandia, quase na fronteira do Brasil com a Guiana (ex-inglesa), cujo proprietário ali nasceu e, aos 86 anos de idade, foi expulso do que foi fundado pelo seu pai, de quem recebeu por herança.
Não está sendo nada fácil para o Desembargador. Ali mesmo nas vizinhanças do lago, há dois dias tenta convencer a dois casais de idosos, para abandonarem as suas terras. A recusa dos casais é porque não receberam nenhuma indenização, não tem para onde ir, nem casa para morar e nem recursos financeiros para isso, aos 75/77 anos de idade.
Na Raposa/Serra do Sol, os desdobramentos continuam sendo imprevisíveis e ninguém pode afirmar como, quando e de que maneira isso tudo vai terminar. Um outro dos vários idosos que moram na região, não quer sair porque é filho de branco com mãe índia, dizendo bem claro para Jirair Meguerian que de lá só sairá morto.
São vinte e oito pequenos fazendeiros (média de 200 cabeças de gado cada um), que não arredam do lugar em que geralmente nasceram. Até o segundo dia da “desintrusão”, Meguerian não conseguiu convencer ninguém à sair pacificamente e está sem argumentos melhores que uma Ordem Judicial, a Polícia Federal e as tropas da Força Nacional, numa truculenta operação de guerra, muito bem armada e municiada.
Meguerian, que já esteve várias vezes antes na área, já sabia do “abacaxi” que lhe deram para descascar e por isso está de semblante sempre carregado. Diferentemente dos Ministros do STF, que continuam lá em Brasília, ele está no vis-a-vis com os fazendeiros e com os índios das diversas etnias e diferentes ideologias e religiões. Sabe e sente na pele, os problemas que o STF criou.
O relator do STF, o piauiense Carlos Ayres Britto, nada sabe de pecuária, de agricultura e, evidentemente, de miscigenação racial. No caso em pauta, bateu o martelo numa data final que lhe veio à cabeça, talvez pensando que é rápido e fácil retirar bens pessoais (mobiliário, fogão geladeira etc) e que cerca de vinte mil cabeças de gado e cavalares é só ir empurrando pelas estradas afora. Talvez seja assim no Piauí, onde a tradição é a criação caprinos, mas a logística para gado e cavalos, é outra. Inclusive, não há em Roraima, no momento, caminhões suficientes para transporte tanto de bens quanto de animais.
A UNIÃO, abusada como sempre, não indenizou, não assentou em outra área, não promoveu os meios de transporte dos bens e gado, e quer que as pessoas (idosas na maioria) saiam de lá à toque-de-caixa e por seus próprios pés, enfrentando 40, 50, 60 quilômetros de caminhos até a cidade mais próxima, deixando para trás os bens que não tem como carregar!
Fonte: Blog do Puggina
COMENTO: é exemplar o empenho governamental ao destinar meios (Polícia Federal e Força Nacional) para "cumprir a ordem judicial" de desocupação das "terras indígenas" de Roraima. Pena que tal empenho não ocorra no cumprimento das mais de cem reintegrações de posse determinadas pela justiça, relativas às invasões do MST no Pará.
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