quarta-feira, 27 de agosto de 2008

E Por Falar em Heróis

por Zuenir Ventura
Não, não é sobre os heróis das Olimpíadas, não. Chega (para a mídia, cada atleta ganhador de medalha de ouro foi herói ou heroína). Refiro-me a personagens históricos que morreram ou arriscaram a vida por uma causa nobre. "O Brasil só se lembra de um único herói, Tiradentes", declarou recentemente o presidente Lula, ao assinar o projeto de lei que reconhece a responsabilidade do Estado na destruição da sede da União Nacional dos Estudantes, a UNE. Talvez porque a época seja mais dos vilões que dão certo, ele conclamou os jovens a "cultuar nossos heróis", isto é, "aquelas pessoas que tombaram lutando pelo que acreditavam".
Nesse sentido, o seu governo podia dar o exemplo, fazendo alguma coisa para salvar das traças e cupins a sede da Associação Nacional dos Veteranos da FEB (Força Expedicionária Brasileira), a entidade que congrega os brasileiros que combateram heroicamente na Itália durante a II Guerra Mundial para impedir que as forças nazi-fascistas triunfassem: os nossos pracinhas, cujo hino a gente cantava na escola: "Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra, sem que volte para lá." Em 1945, eles eram 24 mil. Hoje, são 7 mil velhinhos com mais de 80 anos em todo o país; no Rio, eles são de 500 a 700.
Há alguns meses, durante uma solenidade, o major Thiago da Fonseca, 87 anos, que atravessou "muito campo minado" nas frentes de batalha, arranjou um jeito de expor rapidamente para o presidente a dramática situação da entidade da qual é um dos vice-presidentes. Com uma doação de R$ 300 mil em duas parcelas, ele salvaria a associação, que não tem mais como se manter funcionando. Perdeu muitos associados, que já não podem contribuir com a mensalidade de R$ 20, e teve que dispensar e indenizar oito funcionários. Para continuar preservando o acervo da FEB — fotos, livros e documentos — ela precisa de ajuda em forma de doações. Lula sensibilizou-se com a história, chamou um assessor e ordenou que providências urgentes fossem tomadas. O ex-pracinha conta: "Pouco depois, o auxiliar ligou para saber do que precisávamos. Fiquei todo animado: agora vai!" Que nada, doce engano.
De "pires na mão", como diz, o major então saiu por aí atrás de recursos. Percorreu várias empresas públicas, das mais conhecidas e poderosas, mas, além de promessas, nada de concreto obteve. Por incrível que pareça, quem mais se indignou foi um empresário russo. Ao tomar conhecimento do caso pela imprensa, procurou a direção da entidade, e é possível que dele saia uma solução.
Não sei o que constrange mais — deixar a ANVFEB entregue às traças ou permitir que um revendedor estrangeiro de bebidas alcoólicas seja a salvação da memória de nossos pracinhas. Será que é isso o que o presidente quis dizer ao conclamar os jovens a "cultuar nossos heróis"?
Fonte:  O Globo - 27 Ago 08
COMENTO: Dois enganos do bravo major, Herói de Verdade. A primeira, acreditar no cumprimento de alguma "ordem" presidencial que não seja para favorecer algum "cumpanhêro". A segunda, esquecer que as verbas para gastos culturais só podem ser destinadas a artistas, cineastas e produtores teatrais "engajados com a causa comunista", ou para atividades relativas ao incentivo da homossexualidade, proteção a drogados e outros fins nobres assim.
Pequena história que serve de parâmetro de comparação entre os "heróis" atuais e um Herói que sequer é citado na nossa imprensa atual:
HERÓIS DA FEB (Fonte: Navegação Programada)

Substituindo o famoso Aspirante Mega, que morreu metralhado nas neves da Itália, o então Tenente Thiago assumiu o comando daquele pelotão com a moral baixa pela morte do seu líder e os conduziu às glórias das vitórias.
Tendo que atravessar um campo minado, ele mandou que cada um pisasse nas marcas deixadas pelas suas botas, pois, se ele não explodisse, todos passariam vivos, o que — graças a Deus, ocorreu.
Ele, Thiago, é simples e modesto e não gosta de conversar sobre seus feitos.


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