por Paulo Carvalho Espíndola
“Um frade pobre, que andava em peregrinação, chegou a uma casa e, orgulhoso demais para simplesmente pedir comida, pediu aos donos da casa que lhe emprestassem uma panela para ele preparar uma sopa — de pedra. E tirou do seu bornal uma bela pedra lisa e bem lavada. Os donos da casa ficaram curiosos e, de imediato, deixaram entrar o frade para a cozinha e deram-lhe a panela. O frade colocou a panela ao lume só com a pedra, mas logo disse que era preciso temperar a sopa. A dona da casa deu-lhe o sal, mas ele sugeriu que era melhor se fosse um bocado de chouriço ou toucinho. E lá foi o unto para junto da pedra. Então, o frade perguntou se não tinham qualquer coisa para engrossar a sopa, como batatas ou feijão que tivessem restado da refeição anterior. Assim se engrossou a sopa “de pedra”. Juntaram-se couves, cenouras, mais a carne que estava junta com o feijão e, evidentemente, resultou numa excelente sopa.
Comeram juntos a sopa e, no final, o frade retirou cuidadosamente a pedra da panela, lavou-a e voltou a guardá-la no seu bornal ... para a sopa seguinte!” (fábula de autor desconhecido).
Há outras versões para essa estória. Em inúmeras delas, comuns no Brasil, o frade é substituído por malandros, principalmente com cargos de mando.
A cada dia, servem-nos de sopas de pedra feitas por eles.
De repente, fomos surpreendidos com o descalabro de um jovem tenente a oferecer três jovens “inocentes” à sanha de bandidos. A pedra foi o tenente. A sopa foi a desmedida exploração do fato e, até hoje, os bandidos, verdadeiramente os assassinos, não foram levados a julgamento nem pela opinião pública que recebeu a pedra para fazer a sopa. Não excluo desse rol os pais do PAC, o ministro Jobim, o bispo-senador Crivela, o indignado governador Sérgio Cabral e o mais indignado ainda presidente Lula. Com muito retardo, a polícia apresentou “suspeitos” da mortandade e só. O que ficou, no entanto, foi a intoxicação que a sopa trouxe à sociedade e à veneranda instituição Exército Brasileiro.
O governo, a sua Polícia Federal, o seu ministro da justiça e a própria Justiça movem-se a oferecer-nos, a todo o momento, pedras para fazermos sopa.
O molusco Lula, no Vietnã, acreditou que degustaria o caldo de uma revolução vencida pelo tempo e pelos fatos. Sei lá que temperos ou quais destemperos o levaram a esse despropósito. Coisas de bafômetro, embora ele assegure ter tomado o seu último porre no ano de 1974, na derrota da seleção brasileira para a Holanda, durante uma malfadada copa do mundo.
Delegados federais com pedras lisas, bandidos de pedras brancas, governo de pedras multicoloridas, mídia de pedras furtivas, todos abarrotam panelas e caldeirões com paios e legumes, para servirem-se de boa sopa, boa sempre pra eles. Depois descartam as pedras que somos nós
Que barato de sopa, saboreiam certos ícones de telenovelas. Vamos vestir-nos de branco e protestar contra tudo, dizem eles. Balas perdidas ou nem sempre perdidas; não lhes interessa. O importante é a notoriedade de que se valem para ganhar o pó que cheiram no sopé da Providência e de outras bocas poeirentas
Vivam os perseguidos! Abaixo os opressores! Bradam organizações governamentais e não governamentais para a preparação de uma chorumenta sopa no dia 31 de julho, no Ministério da Justiça.
Com o pomposo mote de "Limites e possibilidades para a responsabilização jurídica dos agentes violadores de direitos humanos durante estado de exceção no Brasil", os fariseus da anistia ampla-geral-e-muito-restrita e os paladinos dos vermelhos direitos humanos esmeram-se nos ingredientes ... ufa! O “chef”, ministro Tarso Genro, usará, para misturar os pertences alucinógenos desse regalo, a colher de pau feita de um pedaço das ruínas do seu trotskismo. É uma pena que Luiz Eduardo Greenhalg não possa colaborar com nenhuma pitada nesse tempero. Pobrezinho! Já está cozinhando, agora como lingüiça de grosso calibre, no caldeirão do maître Daniel Dantas.
Seria eu inoportuno se perguntasse a Greenhalg (perdoem-me a intimidade com S Exa, posto fora pelas urnas) onde estão as ossadas de humildes camponeses que o ex-defensor dos direitos humanos exumou de pobres jazigos para, espetaculosamente, fazer-nos crer que o saco de ossos eram restos mortais de comunistas mortos no Araguaia? Ainda jazem os exumados desprezivelmente esquecidos em gavetas do IML de Brasília ou já foram devorados por bichos de algum lixão “sanitário”? O Sr é muito eficiente em defender corruptos abastados; nem tanto para ser diligente com direitos de indigentes. Preza o Sr, muito mais, o centavo de um malfeitor de gravatas do que esqueletos de pobres coitados. Nos quintos dos infernos encontrariam, todos, o seu igualitarismo fariseu, acreditaria não fosse eu um cristão.
Do Oiapoque ao Chui. De Ponta Seixas às nascentes do Rio Moa. De todo lado surgem sopas. Muitas oficiais, algumas policiais, outras insípidas e inodoras, mas em todas os malandros são os mesmos. Uma coisa, entretanto, me intriga. Por que não fazem sopas de pedra com molusco?
Tolo eu era até fazer uma simples pesquisa no mundo da Internet. Descobri que molusco é um animal que “tem um corpo mole e muitas vezes dividido em cabeça (com os órgãos dos sentidos), um pé muscular e um manto que protege uma parte do corpo e que muitas vezes secreta uma concha”.
Fantástico esse molusco!
Corpo mole, pois não é chegado a trabalho. Cabeça prodigiosa, capaz de enganar a tantos por tanto tempo, sem ver nem ouvir nada, poupando os seus sentidos. Pé musculoso, com o qual se agarra ao poder, enquanto secreta um manto que o protege de tudo.
Ressabiado, decidi abolir sopa de molusco da minha dieta, até, quem sabe, que a concha se rompa e um sal sagrado o leve ao caldeirão.
Enquanto isso, vou tomar só caldo de galinha, é claro, junto com uma boa dose de precaução sem álcool, para não ser flagrado nas blitze da lei seca sancionada pelo presidente abstêmio desde 1974.
Todavia, malandros surgem do nada e nós continuamos os mesmos.
Quem sabe o voto nos ensine a tirar leite da pedra.
Ainda assim, cuidado, pois a mesma Internet me ensinou que o risco é grande, pois existem mais de 250.000 espécies de moluscos parecidos com minhocas, que se enterram no solo. Imaginem milhares deles emergindo da terra, após chuparem canaviais pelas raízes?
Cruz, credo!
Fonte: TERNUMA Regional Brasília
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