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Diariamente o público brasileiro é bombardeado com novos escândalos, denúncias e ramificações de esquemas de corrupção. Por simples fadiga, muitos talvez não se tenham dado conta de que a crise política em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou impulso e mudou de patamar.
Ela alcançou, agora, o Palácio do Planalto. E quem avocou o assunto para o centro do poder foi a própria presidente Dilma Rousseff.
Ungida por Lula como sucessora, ela parece ter concluído que chegou a hora de sair em defesa enfática do mentor, ora enredado no mensalão. Coisa que Dilma se abstivera de fazer, até aqui, mantendo a imprescindível equidistância de primeira mandatária com relação ao julgamento, por outro Poder da República, do caso de desvio de recursos públicos para comprar apoio do Congresso ao primeiro governo Lula.
"É sabida a minha admiração, o meu respeito e a minha amizade pelo presidente Lula", afirmou Dilma em Paris, em rara declaração sobre política doméstica dada em solo estrangeiro. E arrematou: "Eu repudio todas as tentativas — e esta não será a primeira vez — de tentar destituí-lo da imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem".
O que parece ter motivado a presidente a dar o passo temerário foi a conjugação, em manchetes sucessivas, de duas revelações particularmente danosas para a reputação de seu antecessor.
Primeiro, a divulgação da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que expôs as negociatas de pessoa íntima de Lula — Rosemary Noronha — no governo federal. Depois, a confirmação do conteúdo do depoimento do operador do mensalão, Marcos Valério, dado ao Ministério Público Federal em setembro (depois de condenado pelo STF, mas antes de ser apenado com mais de 40 anos de prisão).
Valério arrastou Lula para o fulcro do mensalão. Ainda que a credibilidade do empresário seja duvidosa, tantas são as contradições e reviravoltas em seus testemunhos, só uma investigação séria das alegações poderá dissipar suspeitas que pairam sobre a participação de Lula no esquema.
Dilma disse ao diário francês "Le Monde" que ela e seu governo não toleram corrupção, mas que não se devem confundir investigações com caça às bruxas. Assim como seus ministros, que saíram em defesa concertada do prócer petista, dá indicação de que tem Lula na conta de cidadão especial, fora do alcance da lei e da Justiça.
Não há lugar para isso na República. Ao avalizar a conduta de seu correligionário e padrinho, antes de qualquer investigação, a presidente se apequena aos olhos de quem lhe atribuía a disposição de romper com a corrupção política.
Fonte: Folha de São Paulo
COMENTO: na realidade é mais que lamentável, é inconcebível que alguém use sua posição de autoridade presidencial para manifestar-se em defesa de "amizades" apontadas em ilícitos. É uma clara ameaça à independência que deve pautar os trabalhos da Polícia Federal — subordinada a um ministro da Justiça tendencioso — em suas investigações. As contradições surgidas quanto a gravações de telefonemas entre o Canalha-Mor e sua amante, que depois tiveram sua existência negada oficialmente — como no caso das imagens de Lina Vieira acessando o Palácio do Planalto quando a presidente chefiava a Casa Civil, oficialmente "apagadas" contrariando normas e contratos — demonstram a interferência nessas investigações. Que a presidente tenha suas amizades e preferências, se entende, que esses sentimentos interfiram na apuração das patifarias praticadas é o cúmulo da falta de vergonha na cara. Da presidente e de seus apoiadores.
Um comentário:
VÍDEO HISTÓRICO:
Homem de vida impecável, ex-amigo de Lula, Hélio Bicudo, 90 anos, explica por que se afastou do PT, critica Lula por ambição de poder e pergunta como é que o ex-presidente ficou tão rico:
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti
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