Já que o assunto veio à baila, acho importante lembrar um episódio que ocorreu em março de 2001 e só foi tornado público em 2004, quando a Revista ISTO É publicou uma reportagem com foto e tudo (edição n° 1801, 14/04/2004). Na verdade, a primeira menção ao episódio ocorreu em 25 de setembro de 2001, quando o general Valdésio Guilherme de Figueiredo proferiu uma palestra na sede da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), mas naquela ocasião era um público restrito. A reportagem da ISTO É em 2004 alcançou um público amplo e causou bastante perplexidade.
Pois bem, ocorreu o seguinte. O Informe Secreto n° 157 de 13 de agosto de 2001, emitido pelo VII Comando Aéreo Regional, narra que em 14 de março de 2001, um avião C-98 Caravan da FAB perdeu o controle durante pouso e atolou em Paa-Piú Novo, em Roraima.
Para recuperar o avião, militares da FAB foram levados à região e lá montaram acampamento. "No reconhecimento da região foi observada a presença atuante da ONG Médecins du Monde, da União Européia, que ocupava uma casa de madeira e supostamente cuida da saúde dos índios ianomâmis", relata o documento. Os militares constataram que a ONG mantinha laboratórios bem equipados na região e levantaram indícios de que "existe um rigoroso acompanhamento biológico dos índios com análises sanguíneas e avaliações dos princípios ativos dos remédios naturais utilizados pelos silvícolas", descreve o Informe.
O documento prossegue dizendo que "diversos estrangeiros presentes na região tentavam se esconder" quando eram vistos e dois brasileiros funcionários da ONG identificados apenas como José Melo e Elissandra negavam aos militares qualquer informação sobre o grupo. "Um oficial nosso conseguiu conversar com uma senhora francesa e, quando lhe perguntou como se sentia na condição de estrangeira em uma localidade tão inóspita, ela lhe respondeu que ali não era estrangeira, pois a Amazônia também era dela", descreve o Informe.
Na frente da sede da ONG encontrava-se hasteada a bandeira da União Européia. Ao serem questionados pelos militares sobre a bandeira, os funcionários da ONG responderam que não havia a bandeira nacional porque "o Brasil não ajuda em nada ali". Mais adiante, o documento diz: "No interior da casa de madeira foi observado um mapa do Brasil com a inscrição 'Brasil 500 anos... O Brasil que nós queremos são outros 500' e com o Brasil politicamente dividido sem a região Amazônica". Revoltados, os militares derrubaram a bandeira européia e hastearam uma bandeira do Brasil na porta da entidade.
Bem, companheiros, como eu disse lá em cima, esse episódio foi descrito em setembro de 2001 pelo general Valdésio de Figueiredo durante palestra na FIEC. Um trecho do relato dele segue abaixo:
"Eu quero contar um caso aqui. Há pouco tempo, houve um acidente com um avião da FAB, um Caravan, numa região próxima à dos pelotões de fronteira e depois o nosso pessoal do Esquadrão de Aviação foi auxiliá-los, para ver como resgatar os destroços do avião acidentado. Lá, eles encontraram um acampamento, no qual estava hasteada a bandeira da União Européia. O pessoal da FAB foi lá e questionou por que a bandeira da União Européia e não a bandeira do Brasil, e uma senhora, provavelmente francesa pelo sotaque, disse a eles que não tinha nada que botar Bandeira do Brasil, que o Brasil não faz nada ali pelos índios. Então oficiais se enfureceram e os obrigaram a hastear a Bandeira do Brasil e depois conversando, perguntaram como é que ela se sentia, originária de um país desenvolvido, numa região tão inóspita, ela disse que se sentia muito bem, pois estava em casa, que a Amazônia também é deles. Depois eu já mandei, umas duas vezes, uma patrulha com a Polícia Federal. Achei que o atrevimento foi muito grande e não podia ficar assim, mas não a encontraram, estava em trabalho de campo. Primeiro disseram que ela estava ali trabalhando pela ONG Médicos para o Mundo, em convênio com a FUNASA. Se existisse convênio com a FUNASA eu tinha que voltar atrás e deixar, mas não há convênio nenhum e, nessa última ida lá, só encontraram brasileiros, não encontraram mais a francesa, porque eu mandei a Polícia Federal junto para prendê-la, se estivesse com o passaporte irregular, pois a maior parte desse pessoal tem 'visto' de turista e está lá no meio dos índios, trabalhando e fazendo proselitismo ou fazendo pesquisas".
Três anos mais tarde, esse 'causo' foi objeto de uma reportagem da ISTO É, que teve acesso às fotos tiradas na ocasião. Uma delas é a que segue acima, na qual os militares tiram a bandeira da União Européia e no lugar botaram a nossa. Deixo aí para que sirva de reflexão.
Fonte: CMI
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