por Janer Cristaldo
Comentei, em crônica anterior, que os comunistas, imbuídos da idéia de serem os detentores da verdade e do sentido da História, jamais aceitaram a idéia de serem terroristas a serviço de uma utopia sangrenta. Esta mesma certeza os leva a não aceitar a idéia de anistia para seus adversários. Para um comunista, anistia é sempre unilateral. “Anistia é para mim, que lutei do lado do Bem. Nós, comunistas, temos de ser perdoados por nossos crimes. Para eles, que lutaram nas hostes do Mal, anistia nenhuma”.Vários foram os mails de protesto. Seleciono alguns:
1) O autor do texto é um tremendo cínico; quer por força das palavras descaracterizar o que é uma ditadura: um regime criminoso e arbitrário que prende, tortura, persegue e mata, o oposto do Estado de Direito, onde os governantes estão sob o jugo das leis. O infeliz quer justificar a ditadura caluniando as vítimas como terroristas, quando na forma pessoas que não aceitaram ser vergados e intimidados pelo regime criminoso e muitos foram mortos na tortura, covardemente, isto é, depois de presas. Devia ter vergonha; mas não é um homem, é um rato.
2) Devo discordar de que o autor seja um cínico. Muitas pessoas têm a ilusão de que havia um complô comunista para dominar o país. A fantasia é ainda maior, porque qualquer um que conheça a realidade nacional sabe que não é possível fazê-lo numa sociedade tão conservadora. O que ele é, isso sim, é um pedante, que tenta nos embromar usando um vocabulário barroco. E ainda tenta sujar o nome de autores de fato bons, como Jorge Amado, comprovando que também é um invejoso. Agora, cínico, penso que não.
3) O conceito de terrorismo não é o mesmo em diferentes países do mundo. Acho que seria bom o autor dar uma estudada nisso antes de falar. No site da Abin tem esta informação. O conceito de terrorismo usado pelo autor não é o oficial, vigente no Brasil, mas sim sua opinião sobre o tema.
4) O autor está certo: os crimes tornam-se mais graves quanto mais limpinha a vítima. Mesmo assim, nem todos os mortos ou torturados pela ditadura eram comunistas ou tinham levantado armas. Alguns sofreram simplesmente porque ousaram manifestar sua insatisfação. Além disso, a tese de que os comunistas estavam querendo dominar o país é ridícula: quem tomou o poder à força foram os militares. E derrubaram um governo perfeitamente legítimo e eleito democraticamente.
Eu, o rato, respondo. Em momento algum neguei a ocorrência de uma ditadura no país. Existiu, matou e torturou. Da mesma forma como a guerrilha existiu, matou e torturou. Quem pega em armas contra um Estado, não pode pretender uma reação com flores. Terroristas e militares mataram, de parte a parte. O Exército matou mais? É normal. Exército não existe apenas para desfilar em paradas. Por definição, é uma força treinada para matar. Além do mais, tinha superioridade numérica, superioridade em armas e uma infra-estrutura nacional. A guerrilha perdeu a luta armada. Verdade que mais tarde ganhou a luta administrativa, revelando-se um excelente investimento, pelo menos para os sobreviventes. Enquanto milhares de brasileiros morrem sem receber os precatórios que o Estado lhes deve, os militantes da guerrilha têm sido recompensados com indenizações e aposentadorias milionárias. Isentas de imposto.
Os leitores, seguindo a ladainha de Tarso Genro, o ministro da Justiça, pretendem que a luta armada das esquerdas não pode ser definida como terror. Isto é, seqüestrar diplomatas, assaltar bancos, matar pessoas que nada têm a ver com o embate político, executar colegas de armas, elaborar manuais de terrorismo, isto não é terrorismo. Os militantes das esquerdas viajavam para a União Soviética, China, Cuba e Argélia não para treinar guerrilha, mas para exercitar-se em paintball. Os fuzis que Fidel mandou para as Ligas Operárias do Julião não eram para matar pessoas, e sim para espantar caturritas.
Celerados como José Genoíno, Zé Dirceu, Dilma Roussef, Franklin Martins, Fernando Gabeira, Apolônio de Carvalho, Joaquim Câmara Ferreira, frei Tito de Alencar, Mário Alves de Souza Vieira, Carlos Lamarca, Carlos Marighella eram cidadãos beneméritos que só apelaram ao terror para introduzir a democracia neste Brasil dominado por militares.
Claro que não houve um assalto comunista ao poder. Cuba, China e União Soviética estavam financiando a guerrilha apenas com o exclusivo intuito de fortalecer as instituições democráticas no país. A Aliança Libertadora Nacional (ALN), a Ação Popular (AP), a Ação Popular Marxista-Leninista (AP-ML), o Comando de Libertação Nacional (Colina), as Forças Armadas da Libertação Nacional (FALN), a Frente de Libertação Nacional (FLN), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), a Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP), o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partido Comunista do Brasil (PC do B), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Val-Palmares), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) — todas estas organizações nada tinham a ver com comunismo. Eram, singelamente, instituições beneficentes que pretendiam salvar o Brasil de uma ditadura militar.
Os comunistas não dominaram o país porque os militares tomaram o poder à força. No que dependesse de Jango, estaríamos vivendo até hoje numa republiqueta soviética. Quando militar toma o poder é crime. Quando comunista toma o poder, é revolução. Espantoso constatar que, apenas passadas quatro décadas, os bandoleiros que tentaram tomar o poder para instalar uma ditadura stalinista, de repente assumiram a auréola de santos.
Fonte: Janer Cristaldo
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