sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Tudo Começou em Santo André

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RIO — “Fiquei puto porque, como pode um cidadão que nunca conversou comigo, que nunca tomou um copo de cerveja comigo, que nunca tomou um copo d'água comigo, fazer uma matéria de que eu bebia? Isso me deixou muito puto”.
(Entrevista de Lula à “Folha”, em 2007).
O cidadão que “emputeceu” Lula é Larry Rohter, americano de Oak Park, Ilinois, Chicago, onde também nasceu Ernest Hemingway. Casado com brasileira da TV Globo em Nova York, a partir de 1971 também foi da Globo lá e, depois de 77, correspondente do jornal “The Washington Post”, da revista “Newsweek” e do jornal “New York Times” no Brasil.
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LARRY ROHTER
Por escrever sobre a bebeção de Lula, em 2006 o governo expulsou e desexpulsou Rohter do pais. Agora, ele conta toda a historia no melhor capitulo de um livro muito interessante e bem escrito sobre seus quase 20 anos de Brasil: “Deu no New York Times – O Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo” (Ed. Objetiva, RJ).
Nas paginas 161 a 199 (“Eu e Lula”), parece que o capitulo é todo alcoolizado, mas logo se vê que os goles de Lula não têm maior importância diante das denuncias sobre o assassinato do prefeito do PT de Santo André, Celso Daniel, cuja revelação foi a verdadeira razão da fúria de Lula.
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LULA
Ao contrario do que Lula disse à “Folha”, ele conhece bem o gringo:
1 — “O meu relacionamento com Lula data dos anos 70. Já conversei bastante com ele. Já tomei água, refrigerante e até uma cachacinha com ele. Também fiquei impressionado na época com as generosas quantidades de álcool que ele consumia. Me lembro de Lula me provocar com bom humor: 
 “Que é isso, meu caro, um jornalista que não gosta de beber”? De uma reunião a outra, ele bebia o que lhe ofereciam: cachaça, uísque, conhaque”.
2 — “Em setembro de 2003. Brizola, companheiro de chapa de Lula, disse
 '“Quando eu fui candidato a vice do Lula, ele bebia muito. Eu o alertava que a bebida destilada é perigosa. Ele não me ouviu e, segundo dizem, continua bebendo. A bebida ataca os neurônios e talvez esse seja um dos motivos que o têm levado a perder a percepção das coisas”'.
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MIRIAM LEITÃO
3 — “Miriam Leitão é uma craque, das melhores jornalistas do Brasil. No dia 1º de maio, li na coluna dela no Globo:
 '“O presidente Lula fala demais, de forma irrefletida. No jantar da bancada do PTB fez algo mais perigoso: misturou uísque com o improviso”'. Quando perguntei a dois informantes (presentes ao jantar), à queima-roupa, se Lula parecia estar bêbado, um deles riu e disse:
 '“Lula bebe tanto que é difícil saber”'.
4 — Dois repórteres da “Folha” e do “Estado de S. Paulo” (“Viagens com o Presidente”, de Eduardo Scolese e Leonencio Nossa), contam:
— “Ao chegar a um jantar na embaixada brasileira em Tóquio, Lula pediu uma dose caprichada de uísque com gelo e antes mesmo do jantar mandou servir o segundo, o terceiro e o quarto copos, usando linguagem chula, que deixou constrangidos os presentes, diplomatas, ministros, senadores: 
 '“Tem hora que eu tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que o pariu. A verdade é que temos que ter muito saco para aturar a Argentina. O Chile é uma merda. Querem mais é que a gente se foda”'.
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CELSO DANIEL
5 — Diz Rohter: 
— “Mas nada tinha alarmado e assustado tanto o entorno de Lula do que uma reportagem que escrevi sobre o caso Celso Daniel, em fevereiro de 2004. O maior golpe de sorte de Lula foi que o PT conseguiu desviar a atenção do assassinato, em 20 de janeiro de 2002, de Celso Daniel, prefeito de Santo André. Se aquela investigação tivesse sido levada a cabo com o mesmo vigor e energia que foram dirigidos contra Roseana Sarney, poderia facilmente ter torpedeado a candidatura de Lula”.
6 — Os irmãos de Celso Daniel, Bruno e João Francisco, disseram que, de acordo com o que o irmão tinha contado a eles, os membros mais importantes do PT não apenas sabiam do esquema de corrupção que provocou sua morte, como desempenharam um papel ativo na operação.
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JOSÉ DIRCEU
7 — Disse Bruno: 
— “Pouco depois do enterro de Celso Daniel, Gilberto Carvalho me contou que tinha feito varias entregas em dinheiro vivo ao partido e que ficou apavorado quando estava transportando mais de 500 mil dólares em uma valise. E entregou o dinheiro diretamente a José Dirceu”.
8 — “Uma pessoa que cumpria um papel importante no PT paulista, em uma longa entrevista, me disse que a atividade ilegal de levantamento de dinheiro em Santo André não era um caso isolado, como afirmavam os lideres do partido, mas era parte de um esquema generalizado para acumular grande soma em caixa 2 para a campanha” (de Lula em 2002).
9 — “Tinham sido dadas ordens a todos os prefeitos do PT para levantar dinheiro por todos os meios possíveis, e cada município havia recorrido a um mecanismo um pouco diferente para cumprir sua cota. Em Santo André eram as empresas de ônibus. Em Santos, era o programa da AIDS. Em Campinas, onde o prefeito Toninho do PT tinha sido assassinado quatro meses antes de Celso Daniel, era o superfaturamento de obras publicas e de contratos de estacionamento. E em Ribeirão Preto eram os contratos de coleta de lixo”. (O prefeito era Palocci, o amoroso caseiro).
Eu sabia que o caso de Santo André era apenas a ponta do iceberg”.

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