por Janer Cristaldo
¿Qué hacemos con el capitalismo? — este é título que o espanhol El País dá a uma reportagem sobre o Fórum Social Mundial, que se desenrola nestes dias em Belém. E continua:Las izquierdas presentes en el encuentro alternativo de Belém certifican la muerte del neoliberalismo, al que responsabilizan de la crisis mundial. De una forma u otra, los 120.000 activistas llegados de todo el mundo al Foro Social Mundial (FSM) que se celebra en la ciudad brasileña de Belém son de izquierdas. De todas las izquierdas: antiguas y modernas. Unas izquierdas sin horizontes en las que se dan cita viejos leninistas, nuevos ecologistas, anarquistas con banderas negras, curas progresistas e incluso asociaciones de prostitutas. Muchas izquierdas con una sola pregunta: ¿qué hacer con el capitalismo?
O Fórum Social Mundial, como sabemos, nasceu na esteira do Fórum Econômico Mundial de Davos. Nem nisto as esquerdas são originais. Organizam-se sob a batuta do capitalismo que, de repente, sei lá por que razões, passou a chamar-se neoliberalismo. Não sei se o leitor notou, mas as esquerdas abandonaram a antiga nomenclatura, quando o demônio se chamava capitalismo. Outros demônios também mudaram de nome. Latifúndio virou agronegócio. Burguesia é outra palavrinha que também deixou de existir. Sobre comunismo, quase ninguém mais quer falar. Os antigos PCs, de modo geral, mudaram de nome e já encontrei leitores, por exemplo, que me juraram de pés juntos que Roberto Freire nunca foi comunista. Chamar hoje um comunista de comunista é grossa ofensa. No entanto, já foi motivo de orgulho. Suponho que a nova nomenclatura seja reflexo das ondas concêntricas decorrentes da Queda do Muro e do desmoronamento da União Soviética.
Boa parte dos velhos comunossauros são hoje ecologistas. É sempre uma maneira de continuar lutando contra o velho inimigo, o capitalismo — perdão, o neoliberalismo — sem precisar usar desgastadas palavras como luta de classes, proletariado, imperialismo. A nova bandeira é a defesa do planeta, ameaçado pelo efeito estufa, decorrência do consumo dos insensíveis capitalistas — perdão, neoliberais.
Continua El País:
Sin embargo, aunque la pregunta sobre el futuro del capitalismo es el denominador común de los debates y conferencias del foro, no existe consenso acerca de cómo o con qué sustituirlo. En las discusiones se perfilan dos tendencias: por un lado, la de quienes quieren sustituir el capitalismo por otro sistema económico, sin especificar cuál. Algunos, como el Movimiento de los Sin Tierra (MST), abogan por una vuelta al socialismo. ¿Pero qué socialismo?
A pergunta é ingênua. Pelo jeito, o correspondente do jornal espanhol não viu as efígies dos ícones do MST, Lênin, Mao, Castro, Che Guevara. Se as demais esquerdas estão mais perdidas que cego em tiroteio, o MST sabe muito bem para onde quer ir. É não é rumo à social-democracia. Enquanto Aiatolavo de Carvalho via a grande ameaça no mítico Fórum de São Paulo, a guerrilha católico-maoísta do MST avança a largos passos no Brasil. Financiado pelo governo. Isto é, por nós, contribuintes.
O tal de Fórum Social Mundial começou repelindo a presença de qualquer governante em seus aquelarres. Hoje, já as aceita. Mas só de ditadores ou governos similares. Desde que de esquerda. Presidente analfabeto também serve. Quem não pode freqüentá-los são os dirigentes de democracias sólidas e de alto nível cultural.
Uma segunda tendência, segundo o jornal, é a defendida por um dos criadores do Fórum, o brasileiro Oded Grajev,
quien propone como alternativa al sistema que se ha roto lo que califica de "capitalismo socialmente responsable". En vez de mercado libre, pide un "mercado socialmente responsable, con una democracia más participativa". No rechaza la existencia de empresas privadas, pero siempre, puntualiza, "que sean controladas socialmente".
Por que não pronunciar então a palavrinha? Social-democracia, oras. Ocorre que a social-democracia foi demonizada pelos antigos leninistas, como revisionismo. Da mesma forma como o Dr. Strangelove, de Kubrick, não perdera os reflexos nazistas, Grajev parece não ter perdido ainda seus reflexos bolcheviques.
Mas o melhor vem agora. O FSM, que não sabe o que quer mas sabe muito bem o que não quer, isto é, o capitalismo — perdão, neoliberalismo — aceita volontiers gordas contribuições de empresas capitalistas. Segundo a Folha de São Paulo, quatro estatais brasileiras marcharam alegremente com R$ 850 mil para a organização do encontro deste ano. A Petrobras pôs R$ 200 mil no balaio, o Banco do Brasil R$ 150 mil, a Caixa Econômica R$ 400 mil e a Eletronorte R$ 100 mil. Todas as quatro controladas pelo PT, bem entendido. Dinheiro não tem cheiro. Agora você entende o alto preço da gasolina e porque o "spread" bancário no Brasil é o maior do mundo e 11 vezes o dos países desenvolvidos. É preciso investir no sonho.
Ainda segundo a Folha, a prática não é de hoje. Em 2003, o evento já conseguira arrecadar R$ 1,8 milhão com Petrobras e Banco do Brasil. Para as edições de 2004 e 2005 do fórum, a ABONG (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais) recebeu, em valor também corrigido, cerca de R$ 640 mil dos Correios por meio da SMPB Comunicação, agência de publicidade de Marcos Valério. O publicitário, se alguém ainda não lembra, é aquele ousado marqueteiro que foi operador do mensalão. Foi preso recentemente, acusado de integrar uma quadrilha que praticava extorsão, fraudes fiscais e corrupção. Graças ao coração de mãe do presidente do Supremo, o ministro Gilmar Mendes, já está livre como um passarinho.
Além dos valores das estatais, o Fórum Social atraiu para cidade de Belém investimentos públicos — dos governos federal e estadual — recordes, de aproximadamente R$ 145,3 milhões para as áreas de infraestrutura, segurança e saúde. Para Cândido Grzybowski, do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), fundador do evento, "não haveria fórum no Brasil" se não houvesse apoio de estatais. “Ditosa idade e século ditoso” este nosso — como diria o Quixote — idade de ouro das esquerdas, em que os contestadores do capitalismo são financiados pelo capitalismo para contestá-lo. Nunca foi tão fácil.
Mas a contribuição mais insólita ao Fórum foi a do governo do Pará, que distribuiu 600 mil camisinhas aos participantes desta 9ª edição do FSM. Mas afinal, os bravos salvadores do mundo estão em Belém para quê? Para salvar o mundo ou satisfazer a libido dos salvadores do mundo? Ontem à noite, perguntava eu isto a uma árdega participante do aquelarre e ela respondeu-me indignada: “Ué, a gente trabalha durante o dia e de noite faz o que bem entende”. Totalmente de acordo. Só o que não entendo é porque o contribuinte tem de contribuir para as trepadas dos salvadores da humanidade.
Só faltou o ministro Temporão oferecer alguns milhares de sachês de gel lubrificante para o encontro. Afinal, nesta reunião de fundamental importância para os destinos da humanidade, todas as tendências sexuais têm de ser contempladas.
Sexo anal também é revolução.
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