por Paulo Diniz
Muito tem sido feito, ao longo de décadas, para exorcizar o fantasma do nazismo. Assim, filmes, livros, peças de teatro, etc., foram produzidos em quantidade praticamente incalculável, demonstrando os horrores, a violência e a brutalidade do regime dirigido por Adolf Hitler.
Porém, seria interessante lembrar um aspecto há muito tempo omitido pelos formadores de opinião: qual o papel do regime comunista soviético numa das maiores tragédias da história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial?
Esse assunto tem sido convenientemente esquecido, em grande parte, por problemas de ordem ideológica. Afinal, a maior fatia da mídia é de esquerda, e não seria de se esperar que o comunismo fosse devidamente associado ao nazismo. Por outro lado, com alguma freqüência é possível ler notícias do tipo "ex-nazistas serviram aos norte-americanos durante a Guerra Fria", ou então "Inglaterra planejou atacar a URSS logo após o final da Segunda Guerra Mundial", sempre procurando criar algum tipo de vinculação entre os norte-americanos e britânicos e o nazismo. Contudo, nunca é escrita nem uma linha sequer com notícias semelhantes envolvendo a URSS, ela sim o verdadeiro capanga do grotesco regime nazista. Ao contrário. Em uma matéria publicada no jornal paulista "Diário de São Paulo", no mês de dezembro de 2001, a professora da USP Maria José de Aquino foi entrevistada, e era possível perceber a sua "indulgência" em relação à antiga URSS (a matéria abordava os dez anos do fim do regime comunista soviético). Em determinado ponto, a professora afirmava que "ninguém está sendo pró-Rússia, mas pelo menos havia um equilíbrio de poder com os Estados Unidos". A ilustre professora só se esqueceu de falar sobre o horrendo e assassino regime que governou a Rússia no auge dos tempos do "equilíbrio de poder" ao qual ela se referia.
São declarações como esta que tornam mais fácil entender porque as pessoas comuns dificilmente terão acesso a algum tipo de informação sobre o cínico colaboracionismo existente entre nazismo e comunismo no período pré-guerra, e compreender, por exemplo, as reais implicações do pacto de não-agressão soviético-alemão firmado em 1939, que possibilitou o início da carnificina. O fato de a Polônia ter sido invadida não apenas pelos alemães, mas também pelos soviéticos, é muitas vezes omitido. A brutalidade da ocupação soviética na Polônia, com massacres de prisioneiros militares e civis (dos quais o episódio de Katyn é só o mais conhecido, mas está longe de ser o único), a repressão política e a coletivização forçada, são envolvidos num véu de silêncio. A permissão contida no pacto para que os comunistas soviéticos ocupassem os países bálticos, que já haviam sido alvo de terríveis atrocidades durante tentativa de ocupação comunista, após a revolução bolchevique em 1919, também é ignorada. O mesmo ocorre com a invasão da Finlândia pelo Exército Vermelho, em 1939-1940. A cooperação existente entre os dois regimes totalitários foi intensa nesse período, demonstrando as imensas semelhanças que existiam entre as duas ideologias. Essa situação, por si só, já seria mais do que suficiente para tornar pelo menos estranha a classificação do regime de Adolf Hitler como uma ditadura de "extrema-direita". No máximo, pode-se afirmar que o nazismo era um regime socialista (o próprio nome do partido era nacional-socialista) que se servia, e muito bem, de instrumentos do conservadorismo alemão, como Forças Armadas altamente treinadas, para atingir objetivos que eram essencialmente iguais aos do comunismo soviético. Entre as semelhanças, pode-se destacar: presença maciça do estado na economia; culto ao líder máximo; censura; repressão política e religiosa; objetivos expansionistas, política de fome como instrumento de controle político, massacre de reféns.
A liderança do partido nazista tinha em seu meio vários homens que eram simpatizantes do regime soviético, que incentivariam Hitler a buscar a paz em separado com a URSS durante grande parte da guerra.
O Ministro da Propaganda alemão, Joseph Goebbels, por exemplo, defendia constantemente a ideia de um compromisso com os soviéticos, inclusive, admirando os meios de repressão utilizados pelos comunistas, no que era acompanhado por Heinrich Muller, chefe da Gestapo, e "fã" dos métodos da NKVD, a polícia secreta soviética. Em 1944, outro exemplo: Goebbels anotaria em seu diário, com inveja, como os soviéticos, com apenas quatro divisões da NKVD, conseguiam controlar toda a Romênia. O ministro das relações exteriores nazista, von Ribentropp, sempre fora contrário a uma invasão da URSS, preferindo atacar a Inglaterra. Em suas origens, o partido nazista era controlado por homens de esquerda, anticapitalistas e antiocidentais, cujos objetivos eram parte de um projeto nitidamente esquerdista. O líder das S.A., Ernest Rohn, era violentamente antiburguês, desejando eliminar o exército regular alemão e criar um "exército revolucionário". Hitler, que além de frio assassino, era também um grande oportunista que estava decidido a conquistar o poder, freou essa corrente, pois necessitava do apoio dos militares alemães, então seriamente preocupados com as ações comunistas na Alemanha, além de desejarem livrar o país do Tratado de Versalhes. Contudo, o ditador não pensaria duas vezes, durante a guerra, em entrar em constante conflito com seus comandantes, sempre desprezando suas sugestões, e nos meses finais da guerra mandaria assassinar vários oficiais envolvidos ou não, num complô contra sua vida. Nessa ocasião, Hitler elogiaria Stálin pela forma como este tratara seu próprio estado maior, nos anos 30, cometendo um imenso massacre, lamentando não ter "seguido seu exemplo".
Quando da ocupação de parte do território soviético pelas tropas alemãs, Hitler e seus capangas nazistas recusaram-se a eliminar um dos tradicionais instrumentos de controle soviético, as fazendas coletivas, sobretudo na Ucrânia. Isso levou grande parte da população ucraniana, esperançosa de ser libertada dos horrores do comunismo, à conclusão que os nazistas não eram diferentes dos bolcheviques.
Após o ataque alemão à URSS, vamos assistir não apenas a maior guerra da História, mas também a mais violenta e sanguinária. O terrorismo soviético, que já havia sido utilizado durante o período de guerra civil, entre 1918 e 1922, e que se fizera presente em várias ações na Europa durante as décadas de 20 e 30, ressurgiu de forma avassaladora, voltando-se contra os atacantes alemães e contra a própria população russa.
As atrocidades cometidas pelos guerrilheiros comunistas soviéticos são inumeráveis e dariam para escrever um livro de horror. Não apenas na URSS os guerrilheiros soviéticos atuavam, mas também penetravam no território da Polônia, onde voltavam suas atividades contra a população civil polonesa, esmagadoramente católica e anticomunista.
Tendo como excelente desculpa as inúmeras atrocidades cometidas pelos guerrilheiros comunistas, a repressão alemã, seguindo os padrões de brutalidade nazista, reagia de forma indiscriminada, fuzilando ou enforcando civis e incendiando aldeias. Apesar da violência nazista ser muito grande, é bem provável que os guerrilheiros comunistas tenham matado tantos civis russos, ucranianos e bielo-russos, quanto os alemães.
O morticínio de prisioneiros de guerra também foi característica comum entre os nazistas e comunistas. Do lado alemão, dos 5,5 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos capturados, cerca de 3 milhões morreram. Muitos deles — uma parte considerável — pereceram após ter sido libertados pelos aliados ocidentais, pois ao ser repatriados para a URSS, foram encarcerados pelos comunistas e tratados como "traidores" e "espiões em potencial". Os prisioneiros alemães capturados, cuja soma variava de 3 a 4 milhões, sofreram aproximadamente 2 milhões de mortos. Do número total de prisioneiros alemães capturados, a maior parte foi internada nos campos de prisioneiros soviéticos após o final da guerra, uma vez que relativamente poucos prisioneiros foram capturados ao longo dos anos de 1941-44 e, dos que foram presos nesse período, a maior parte pereceu. Destino semelhante aguardou os prisioneiros italianos e japoneses capturados pelos comunistas. Dessa forma, dos cerca de 60 mil italianos capturados entre 1942-43 pelos soviéticos, apenas 12 mil foram repatriados com o fim da guerra, e dos aproximadamente 500 mil japoneses capturados durante a invasão da China e da Coréia pelo Exército Vermelho, em agosto-setembro de 1945, somente 90 mil estavam vivos em 1949.
O tratamento dispensado aos civis também deixa clara a natureza desses dois sistemas totalitários. Enquanto ocuparam parte da Rússia, os alemães deportaram civis para trabalhos forçados, massacraram inimigos políticos e todos os elementos que considerassem ameaçadores, além de reprimirem os anseios das populações locais por reformas políticas. À medida que se retiravam da Rússia, os alemães levavam consigo os homens em idade militar, para evitar que engrossassem os exércitos comunistas. Também aplicavam uma "política de terra arrasada", destruindo e saqueando tudo. O mesmo tipo de tática era aplicado pelos russos, inclusive com a maciça deportação de populações, supostamente devido à sua "deslealdade" para com o regime comunista.
Enquanto os desmandos e as violências nazistas na URSS encontraram algum tipo de oposição entre os oficiais do Exército alemão (embora de pouco efeito prático), as atrocidades contra civis e prisioneiros eram largamente defendidas pela propaganda oficial soviética, o que resultou em terríveis massacres quando da invasão do território alemão, ocasião em que os comunistas soviéticos assassinaram milhares de civis, homens, mulheres e crianças, sobretudo na Prússia Oriental. A política de estupro generalizado, realizada durante a invasão da Prússia Oriental, a partir de outubro de 1944, é somente comparável ao que os japoneses realizaram na China. Os relatos incluem atrocidades monstruosas, como mutilações em massa, crucificação de centenas de civis (o que já havia sido registrado em massacres comunistas na Ucrânia e na Polônia), e incêndios, aos quais vem se juntar o afundamento de navios transportando milhares de civis, em ações que dificilmente podem ser consideradas como atividades militares legítimas.
O mais incrível de tudo é que brutalidades desse tipo não impediram que nazistas e comunistas soviéticos estivessem muito perto de fechar um acordo de paz. Esse aspecto, sem dúvida, é um dos menos conhecidos da guerra, e nunca é lembrado pelos simpatizantes da causa marxista.
Os historiadores Trumbull Higgins e Martin Kitchen afirmam que entre 1942 e 1943, foram realizadas negociações secretas entre nazistas e soviéticos, para selar uma paz em separado. Esse acordo, segundo afirma Martin Kitchen, em seu livro Um Mundo em Chamas (1993, p. 204-205), foi conduzido pelo embaixador Konstantin Kolontai, na Suíça, e seria basicamente o seguinte: os alemães se retirariam para as fronteiras da Rússia de 1914, o que daria aos soviéticos o controle de grande parte da Europa Oriental, e, em troca, a URSS daria aos alemães um amplo tratado comercial. Esse acordo foi oferecido pelos russos que estariam "insatisfeitos com os aliados ocidentais". Hitler recusou tal oferta, pois, como bom megalomaníaco, não queria parecer fraco aos olhos dos soviéticos. Entre os grandes defensores de um acordo semelhante, porém utilizando como limites territoriais as fronteiras de 1918, estavam von Ribentropp, Herman Goering e o ditador fascista Benito Mussolini. (HIGGINS, Trumbul, Hitler e a Rússia, pg. 183, 209)
Assim, as afirmações soviéticas de que os aliados ocidentais no íntimo desejavam que os nazistas esmagassem a URSS, e os temores sobre um possível acordo de paz em separado, que permitisse aos alemães concentrarem-se numa guerra com os comunistas, são uma grande hipocrisia.
Como se vê, mesmo com uma série de contatos e acordos firmados com os aliados ocidentais, os comunistas soviéticos estiveram para abandonar a luta contra o nazismo, supostamente o inimigo maior, traindo seus aliados.
Ao longo de toda guerra, inúmeros outros exemplos de atividades desleais podem ser imputados a Moscou: o abandono de milhares de guerrilheiros nacionalistas poloneses à própria sorte, durante o levante de Varsóvia, entre agosto e outubro de 1944, quando as forças soviéticas, do outro lado do rio Vistula, ficaram assistindo ao massacre cometido pelas tropas de segurança das SS, em grande parte formadas de mercenários e desertores russos, que chacinaram dezenas de milhares de civis poloneses; a invasão da Bulgária, que não havia declarado guerra à Rússia, mas mesmo assim foi ocupada pelo Exército Vermelho; o apoio fornecido pela URSS aos guerrilheiros comunistas gregos, os mesmos guerrilheiros que fechavam acordos com os alemães, trocando salvo-condutos por armas e material, depois utilizado para atacar os guerrilheiros não-comunistas que resistiam aos nazistas; o seqüestro e assassinato do conde sueco Raoul Wallenberg, que salvou milhares de judeus na Hungria, mas mesmo assim não escapou da sanha comunista; a morte de prisioneiros de guerra ocidentais, detidos pelos alemães, durante a invasão da Prússia Oriental pelo Exército Vermelho, em 1944-45.
E ainda é muito fácil encontrar intelectuais e historiadores esquerdistas que escrevem inúmeras interpretações sobre o papel da URSS na Segunda Guerra Mundial sempre dando ares heróicos ao regime comunista soviético.
Também é fácil para muitos desonestos classificarem como "revisionismo" apontar os males do comunismo e seu colaboracionismo com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, os fatos são inegáveis: um regime sanguinário, expansionista, capaz de se aliar ao nazismo, desleal para com seus companheiros de armas na luta contra Hitler, e acima de tudo, responsável pela chacina de milhões de seus próprios cidadãos, além de civis e prisioneiros de guerra, repetindo as mesmas atividades pelas quais os nazistas estavam sendo combatidos, isso é o que o governo soviético era, nada mais.
É ainda mais estarrecedor que esse regime estivesse representado no banco da promotoria durante o Julgamento de Nuremberg, onde um dos males do século XX, o nazismo, foi eliminado, não importa o quanto alguns mistificadores insistam em agitar seu espantalho como uma ameaça presente.
Infelizmente, esse quadro de atrocidades cometidas pelos comunistas durante a Segunda Guerra Mundial, ela própria causada por uma indecente aliança entre nazismo e comunismo, permanece praticamente esquecido. Esse "esquecimento" deveria ser substituído pela verdade, inclusive como forma de impedir que eventuais saudosistas do nazismo utilizassem esses fatos como elementos para glorificar o regime de Adolf Hitler, e também como forma de lembrar aos "donos da verdade" marxistas exatamente que tipo de sistema é o que tanto admiram.
Porém, seria interessante lembrar um aspecto há muito tempo omitido pelos formadores de opinião: qual o papel do regime comunista soviético numa das maiores tragédias da história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial?
Esse assunto tem sido convenientemente esquecido, em grande parte, por problemas de ordem ideológica. Afinal, a maior fatia da mídia é de esquerda, e não seria de se esperar que o comunismo fosse devidamente associado ao nazismo. Por outro lado, com alguma freqüência é possível ler notícias do tipo "ex-nazistas serviram aos norte-americanos durante a Guerra Fria", ou então "Inglaterra planejou atacar a URSS logo após o final da Segunda Guerra Mundial", sempre procurando criar algum tipo de vinculação entre os norte-americanos e britânicos e o nazismo. Contudo, nunca é escrita nem uma linha sequer com notícias semelhantes envolvendo a URSS, ela sim o verdadeiro capanga do grotesco regime nazista. Ao contrário. Em uma matéria publicada no jornal paulista "Diário de São Paulo", no mês de dezembro de 2001, a professora da USP Maria José de Aquino foi entrevistada, e era possível perceber a sua "indulgência" em relação à antiga URSS (a matéria abordava os dez anos do fim do regime comunista soviético). Em determinado ponto, a professora afirmava que "ninguém está sendo pró-Rússia, mas pelo menos havia um equilíbrio de poder com os Estados Unidos". A ilustre professora só se esqueceu de falar sobre o horrendo e assassino regime que governou a Rússia no auge dos tempos do "equilíbrio de poder" ao qual ela se referia.
São declarações como esta que tornam mais fácil entender porque as pessoas comuns dificilmente terão acesso a algum tipo de informação sobre o cínico colaboracionismo existente entre nazismo e comunismo no período pré-guerra, e compreender, por exemplo, as reais implicações do pacto de não-agressão soviético-alemão firmado em 1939, que possibilitou o início da carnificina. O fato de a Polônia ter sido invadida não apenas pelos alemães, mas também pelos soviéticos, é muitas vezes omitido. A brutalidade da ocupação soviética na Polônia, com massacres de prisioneiros militares e civis (dos quais o episódio de Katyn é só o mais conhecido, mas está longe de ser o único), a repressão política e a coletivização forçada, são envolvidos num véu de silêncio. A permissão contida no pacto para que os comunistas soviéticos ocupassem os países bálticos, que já haviam sido alvo de terríveis atrocidades durante tentativa de ocupação comunista, após a revolução bolchevique em 1919, também é ignorada. O mesmo ocorre com a invasão da Finlândia pelo Exército Vermelho, em 1939-1940. A cooperação existente entre os dois regimes totalitários foi intensa nesse período, demonstrando as imensas semelhanças que existiam entre as duas ideologias. Essa situação, por si só, já seria mais do que suficiente para tornar pelo menos estranha a classificação do regime de Adolf Hitler como uma ditadura de "extrema-direita". No máximo, pode-se afirmar que o nazismo era um regime socialista (o próprio nome do partido era nacional-socialista) que se servia, e muito bem, de instrumentos do conservadorismo alemão, como Forças Armadas altamente treinadas, para atingir objetivos que eram essencialmente iguais aos do comunismo soviético. Entre as semelhanças, pode-se destacar: presença maciça do estado na economia; culto ao líder máximo; censura; repressão política e religiosa; objetivos expansionistas, política de fome como instrumento de controle político, massacre de reféns.
A liderança do partido nazista tinha em seu meio vários homens que eram simpatizantes do regime soviético, que incentivariam Hitler a buscar a paz em separado com a URSS durante grande parte da guerra.
O Ministro da Propaganda alemão, Joseph Goebbels, por exemplo, defendia constantemente a ideia de um compromisso com os soviéticos, inclusive, admirando os meios de repressão utilizados pelos comunistas, no que era acompanhado por Heinrich Muller, chefe da Gestapo, e "fã" dos métodos da NKVD, a polícia secreta soviética. Em 1944, outro exemplo: Goebbels anotaria em seu diário, com inveja, como os soviéticos, com apenas quatro divisões da NKVD, conseguiam controlar toda a Romênia. O ministro das relações exteriores nazista, von Ribentropp, sempre fora contrário a uma invasão da URSS, preferindo atacar a Inglaterra. Em suas origens, o partido nazista era controlado por homens de esquerda, anticapitalistas e antiocidentais, cujos objetivos eram parte de um projeto nitidamente esquerdista. O líder das S.A., Ernest Rohn, era violentamente antiburguês, desejando eliminar o exército regular alemão e criar um "exército revolucionário". Hitler, que além de frio assassino, era também um grande oportunista que estava decidido a conquistar o poder, freou essa corrente, pois necessitava do apoio dos militares alemães, então seriamente preocupados com as ações comunistas na Alemanha, além de desejarem livrar o país do Tratado de Versalhes. Contudo, o ditador não pensaria duas vezes, durante a guerra, em entrar em constante conflito com seus comandantes, sempre desprezando suas sugestões, e nos meses finais da guerra mandaria assassinar vários oficiais envolvidos ou não, num complô contra sua vida. Nessa ocasião, Hitler elogiaria Stálin pela forma como este tratara seu próprio estado maior, nos anos 30, cometendo um imenso massacre, lamentando não ter "seguido seu exemplo".
Quando da ocupação de parte do território soviético pelas tropas alemãs, Hitler e seus capangas nazistas recusaram-se a eliminar um dos tradicionais instrumentos de controle soviético, as fazendas coletivas, sobretudo na Ucrânia. Isso levou grande parte da população ucraniana, esperançosa de ser libertada dos horrores do comunismo, à conclusão que os nazistas não eram diferentes dos bolcheviques.
Após o ataque alemão à URSS, vamos assistir não apenas a maior guerra da História, mas também a mais violenta e sanguinária. O terrorismo soviético, que já havia sido utilizado durante o período de guerra civil, entre 1918 e 1922, e que se fizera presente em várias ações na Europa durante as décadas de 20 e 30, ressurgiu de forma avassaladora, voltando-se contra os atacantes alemães e contra a própria população russa.
As atrocidades cometidas pelos guerrilheiros comunistas soviéticos são inumeráveis e dariam para escrever um livro de horror. Não apenas na URSS os guerrilheiros soviéticos atuavam, mas também penetravam no território da Polônia, onde voltavam suas atividades contra a população civil polonesa, esmagadoramente católica e anticomunista.
Tendo como excelente desculpa as inúmeras atrocidades cometidas pelos guerrilheiros comunistas, a repressão alemã, seguindo os padrões de brutalidade nazista, reagia de forma indiscriminada, fuzilando ou enforcando civis e incendiando aldeias. Apesar da violência nazista ser muito grande, é bem provável que os guerrilheiros comunistas tenham matado tantos civis russos, ucranianos e bielo-russos, quanto os alemães.
O morticínio de prisioneiros de guerra também foi característica comum entre os nazistas e comunistas. Do lado alemão, dos 5,5 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos capturados, cerca de 3 milhões morreram. Muitos deles — uma parte considerável — pereceram após ter sido libertados pelos aliados ocidentais, pois ao ser repatriados para a URSS, foram encarcerados pelos comunistas e tratados como "traidores" e "espiões em potencial". Os prisioneiros alemães capturados, cuja soma variava de 3 a 4 milhões, sofreram aproximadamente 2 milhões de mortos. Do número total de prisioneiros alemães capturados, a maior parte foi internada nos campos de prisioneiros soviéticos após o final da guerra, uma vez que relativamente poucos prisioneiros foram capturados ao longo dos anos de 1941-44 e, dos que foram presos nesse período, a maior parte pereceu. Destino semelhante aguardou os prisioneiros italianos e japoneses capturados pelos comunistas. Dessa forma, dos cerca de 60 mil italianos capturados entre 1942-43 pelos soviéticos, apenas 12 mil foram repatriados com o fim da guerra, e dos aproximadamente 500 mil japoneses capturados durante a invasão da China e da Coréia pelo Exército Vermelho, em agosto-setembro de 1945, somente 90 mil estavam vivos em 1949.
O tratamento dispensado aos civis também deixa clara a natureza desses dois sistemas totalitários. Enquanto ocuparam parte da Rússia, os alemães deportaram civis para trabalhos forçados, massacraram inimigos políticos e todos os elementos que considerassem ameaçadores, além de reprimirem os anseios das populações locais por reformas políticas. À medida que se retiravam da Rússia, os alemães levavam consigo os homens em idade militar, para evitar que engrossassem os exércitos comunistas. Também aplicavam uma "política de terra arrasada", destruindo e saqueando tudo. O mesmo tipo de tática era aplicado pelos russos, inclusive com a maciça deportação de populações, supostamente devido à sua "deslealdade" para com o regime comunista.
Enquanto os desmandos e as violências nazistas na URSS encontraram algum tipo de oposição entre os oficiais do Exército alemão (embora de pouco efeito prático), as atrocidades contra civis e prisioneiros eram largamente defendidas pela propaganda oficial soviética, o que resultou em terríveis massacres quando da invasão do território alemão, ocasião em que os comunistas soviéticos assassinaram milhares de civis, homens, mulheres e crianças, sobretudo na Prússia Oriental. A política de estupro generalizado, realizada durante a invasão da Prússia Oriental, a partir de outubro de 1944, é somente comparável ao que os japoneses realizaram na China. Os relatos incluem atrocidades monstruosas, como mutilações em massa, crucificação de centenas de civis (o que já havia sido registrado em massacres comunistas na Ucrânia e na Polônia), e incêndios, aos quais vem se juntar o afundamento de navios transportando milhares de civis, em ações que dificilmente podem ser consideradas como atividades militares legítimas.
O mais incrível de tudo é que brutalidades desse tipo não impediram que nazistas e comunistas soviéticos estivessem muito perto de fechar um acordo de paz. Esse aspecto, sem dúvida, é um dos menos conhecidos da guerra, e nunca é lembrado pelos simpatizantes da causa marxista.
Os historiadores Trumbull Higgins e Martin Kitchen afirmam que entre 1942 e 1943, foram realizadas negociações secretas entre nazistas e soviéticos, para selar uma paz em separado. Esse acordo, segundo afirma Martin Kitchen, em seu livro Um Mundo em Chamas (1993, p. 204-205), foi conduzido pelo embaixador Konstantin Kolontai, na Suíça, e seria basicamente o seguinte: os alemães se retirariam para as fronteiras da Rússia de 1914, o que daria aos soviéticos o controle de grande parte da Europa Oriental, e, em troca, a URSS daria aos alemães um amplo tratado comercial. Esse acordo foi oferecido pelos russos que estariam "insatisfeitos com os aliados ocidentais". Hitler recusou tal oferta, pois, como bom megalomaníaco, não queria parecer fraco aos olhos dos soviéticos. Entre os grandes defensores de um acordo semelhante, porém utilizando como limites territoriais as fronteiras de 1918, estavam von Ribentropp, Herman Goering e o ditador fascista Benito Mussolini. (HIGGINS, Trumbul, Hitler e a Rússia, pg. 183, 209)
Assim, as afirmações soviéticas de que os aliados ocidentais no íntimo desejavam que os nazistas esmagassem a URSS, e os temores sobre um possível acordo de paz em separado, que permitisse aos alemães concentrarem-se numa guerra com os comunistas, são uma grande hipocrisia.
Como se vê, mesmo com uma série de contatos e acordos firmados com os aliados ocidentais, os comunistas soviéticos estiveram para abandonar a luta contra o nazismo, supostamente o inimigo maior, traindo seus aliados.
Ao longo de toda guerra, inúmeros outros exemplos de atividades desleais podem ser imputados a Moscou: o abandono de milhares de guerrilheiros nacionalistas poloneses à própria sorte, durante o levante de Varsóvia, entre agosto e outubro de 1944, quando as forças soviéticas, do outro lado do rio Vistula, ficaram assistindo ao massacre cometido pelas tropas de segurança das SS, em grande parte formadas de mercenários e desertores russos, que chacinaram dezenas de milhares de civis poloneses; a invasão da Bulgária, que não havia declarado guerra à Rússia, mas mesmo assim foi ocupada pelo Exército Vermelho; o apoio fornecido pela URSS aos guerrilheiros comunistas gregos, os mesmos guerrilheiros que fechavam acordos com os alemães, trocando salvo-condutos por armas e material, depois utilizado para atacar os guerrilheiros não-comunistas que resistiam aos nazistas; o seqüestro e assassinato do conde sueco Raoul Wallenberg, que salvou milhares de judeus na Hungria, mas mesmo assim não escapou da sanha comunista; a morte de prisioneiros de guerra ocidentais, detidos pelos alemães, durante a invasão da Prússia Oriental pelo Exército Vermelho, em 1944-45.
E ainda é muito fácil encontrar intelectuais e historiadores esquerdistas que escrevem inúmeras interpretações sobre o papel da URSS na Segunda Guerra Mundial sempre dando ares heróicos ao regime comunista soviético.
Também é fácil para muitos desonestos classificarem como "revisionismo" apontar os males do comunismo e seu colaboracionismo com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, os fatos são inegáveis: um regime sanguinário, expansionista, capaz de se aliar ao nazismo, desleal para com seus companheiros de armas na luta contra Hitler, e acima de tudo, responsável pela chacina de milhões de seus próprios cidadãos, além de civis e prisioneiros de guerra, repetindo as mesmas atividades pelas quais os nazistas estavam sendo combatidos, isso é o que o governo soviético era, nada mais.
É ainda mais estarrecedor que esse regime estivesse representado no banco da promotoria durante o Julgamento de Nuremberg, onde um dos males do século XX, o nazismo, foi eliminado, não importa o quanto alguns mistificadores insistam em agitar seu espantalho como uma ameaça presente.
Infelizmente, esse quadro de atrocidades cometidas pelos comunistas durante a Segunda Guerra Mundial, ela própria causada por uma indecente aliança entre nazismo e comunismo, permanece praticamente esquecido. Esse "esquecimento" deveria ser substituído pela verdade, inclusive como forma de impedir que eventuais saudosistas do nazismo utilizassem esses fatos como elementos para glorificar o regime de Adolf Hitler, e também como forma de lembrar aos "donos da verdade" marxistas exatamente que tipo de sistema é o que tanto admiram.
Paulo Diniz é Professor de História
Fonte: CASAMATA
Um comentário:
Gostei muito do texto. Gosto do tema (Segunda Guerra) e mesmo sem ler muito sobre o Comunismo, sabia que não é tudo o que pintam os saudosistas do regime. Pergunte a uma soviético que viveu o período de Stalin, você vai ver. Mas infelizmente que "escreve" a história é quem vence a guerra.
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