A respeito da postagem anterior, transcrevo uma reportagem antiga da revista ISTOÉ:
Preso no Ceará, colombiano conta que opera com dinheiro do cartel de Cáli no País há seis anos
Francisco Alves Filho - Fortaleza
Na atual temporada de caça aos narcotraficantes, inspirada pela CPI, um peixe grande foi apanhado no Ceará. O colombiano Joaquim Hernando Castilla Jimenez, 35 anos, preso desde 6 de outubro, admitiu que há seis anos lava dinheiro no Brasil para traficantes de Cáli. Jimenez dá detalhes de sua atuação, nomeia os bancos com os quais trabalhou e diz que o Banco Central poderia, se quisesse, identificar essas operações.
IstoÉ — Você faz parte do cartel de Cáli?
Joaquim Hernando Castilla Jimenez — Esse conceito de cartel de Cáli não existe mais. Isso houve numa época de muita violência. O fato de eu ser de Cáli não quer dizer que seja do cartel. Agora, a maneira como eles ganhavam o dinheiro ... isso não era da minha incumbência. Minha tarefa era fazer aplicações.
IstoÉ — Mas você sabia que o dinheiro vinha do narcotráfico.
Jimenez — Nós nunca perguntamos de onde vem o dinheiro. Eu procurava aplicá-lo da melhor forma possível.
IstoÉ — De que maneira fazia isso?
Jimenez — Inicialmente usamos a cidade de Letícia (Colômbia) como ponte. Vinha em espécie, passava na fronteira como se fosse carregamento de peixes e depois ia de balsa até Manaus, onde distribuíamos para aplicá-lo no Brasil. Até que encontramos métodos melhores.
IstoÉ — Que meios foram esses?
Jimenez — Métodos legais, por intermédio de bancos. O dinheiro é remetido de uma conta nos EUA, limpa e legal. Utilizamos também Ilhas Cayman, Bahamas. Através de operadores de nossa confiança dentro desses bancos, diminuímos o rastreamento do dinheiro pelo Federal Bank dos EUA.
Usando essas pessoas, autorizávamos a emissão de ordem de pagamento para bancos dentro do Brasil. Quando o dinheiro chegava aqui, antes de concluir o fechamento do câmbio, estornávamos o dinheiro. A operação aparecia registrada legalmente. Se o banco me perguntasse sobre a justificativa do dinheiro, dizia que tinha uma ordem de pagamento. E acabou. Tínhamos operadores no Banco Real, HSBC-Bamerindus, Unibanco, Bradesco e Bozano, Simonsen. Do Exterior, só quero citar o Delta Bank.
IstoÉ — A partir daí, você fazia o quê?
Jimenez — Eu fazia a operação. Depois, advogados se encarregavam de adquirir imóveis. A operação era feita para mim, por mim e meus operadores, que tinha dentro dos bancos.
IstoÉ — O Banco Central tem como checar as suas informações?
Jimenez — Se quisesse realmente faria isso. Basta verificar as ordens de pagamento.
IstoÉ — É verdade que você movimentou US$ 720 milhões?
Jimenez — Não posso te dar uma cifra real. Entenda: de 1985 a 1997, nada menos que 85% da cocaína que entrava nos EUA e na Europa vinha dos cartéis colombianos. Posso dizer que na última operação movimentei US$ 5 milhões.
IstoÉ — Políticos ou empresários lhe dão proteção?
Jimenez — Não. Minha proteção se chama dinheiro.
IstoÉ — O trabalho da CPI pode diminuir o problema do narcotráfico?
Jimenez — Acho que a CPI faz um trabalho para aparecer. O melhor seria um trabalho investigativo. Mas vi nomes na imprensa com quem não tenho nada a ver. Isso é perigoso. Os traficantes de Cáli não são como a quadrilhinha de Hildebrando Pascoal. O negócio é diferente. Corre-se o risco de envolver pessoas que não têm nada a ver e podem amanhecer mortas por aí...
IstoÉ — Tem medo de morrer depois dessas declarações?
Jimenez — Eu circulei livremente por dez anos, tenho dez nomes falsos. Eu sei como me cuidar. Eu irei embora e virão outros Joaquins Castillas. Mas vai ser difícil que esse tipo de dinheiro pare de entrar no Brasil.
IstoÉ — Por que você e seu grupo escolheram trabalhar no Brasil?
Jimenez — O Brasil é um país muito grande, privilegiado, é o país do futuro... (sorri). Decidimos operar por aqui. Mas, desafortunadamente, fomos presos.
Esta reportagem foi feita pela Revista IstoÉ em 24/09/1999.
Fonte: Ex-Bancário
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