por Ernesto Cortés Fierro
A falta de autoridade se converte em estímulo para o péssimo comportamento dos cidadãos.
Autoridade. Isso foi o que demostrou o Real Madrid frente ao Bayer Munich em sua classificação à Liga de Campeões de futebol europeu. Essa autoridade tinha sua fonte de inspiração em regras de jogo claras, contundentes, precisas, que emanavam de um técnico a quem se havia encomendado a tarefa de exercer com autoridade para obter bons resultados. E de uma equipe que se cingiu a esses parâmetros e atua em consequência. E então, após o 4-0 fulminante da equipe espanhola, não eram de estranhar as manchetes e comentários do dia seguinte: ‘O Real ganhou com autoridade’.
Não me ocorre uma melhor maneira de ilustrar algo que de fato já havia comentado aqui, porém volto ao caso porque dia a dia somos testemunhas de como a falta de aplicação de autoridade bem entendida é a responsável de boa parte dos males que nos afetam. Com um agravante: a falta de autoridade se converte em estímulo para o péssimo comportamento cidadão.
Não de outra forma se entende que hoje qualquer um se sinta com direito a fazer o que lhe dê vontade com a cidade, em beneficio próprio e em detrimento dos demais. E há exemplos aos montes, vocês devem conhecer muitos deles.
A ver: ¿quando, onde ou sob que norma ficou estabelecido que as oficinas de mecânica podem ocupar as calçadas para reparar carros?, ¿quem autorizou as concessionarias de veículos a fazer o mesmo?, ¿quem permite que pululem os transportadores piratas em ônibus sucateados sem que ninguém diga nada?, ¿onde está o decreto que ordena que os postes são lugares para publicidade?, ¿não se diz que o trabalho infantil está proibido nos semáforos?, ¿não se diz que há multas para tudo: para os que contaminam, jogam o lixo a céu aberto, urinam na rua, invadem espaços públicos recuperados, para os que fazem ruido, para os que estacionam onde não devem, falam por celular enquanto dirigem, bloqueiam as ciclopistas com toda sorte de avisos…?
O problema não é de normas. É de falta de liderança para exercer a autoridade que os cidadãos entregaram a nossos governantes em troca de que nos garantam à maioria o direito a viver em harmonia, de estabelecer a ordem que emana das leis, de fazer que uma sociedade funcione sob um mínimo de regras para que não termine impondo-se a arbitrariedade de uns poucos em detrimento dos demais.
A autoridade não pode ser seletiva, como ocorre em muitos casos, há de ser democrática, aplicar-se ao conjunto da sociedade, do contrario o contrapeso da justiça se perde. Como ocorreu com as cadeias de supermercados que foram sancionadas pela Secretaria de Saúde pela aparente presença de roedores em suas instalações. Se ordenou o fechamento temporário de alguns locais, com entrevista coletiva e tudo. ¿Onde está a mesma medida para a quantidade de restaurantes, cafeterias e venda de comida ambulante que funcionam na cidade em condições insalubres?, ¿onde o burburinho na mídia? Fazer show midiático aproveitando-se do revestimento de autoridade tampouco é sadio.
Estas reflexiones vem ao caso não só porque são o pão nosso de cada dia, senão porque o vai-vem político em que vive a cidade parece gerar um relaxamento coletivo. Se cai na tentação de que como há instabilidade na Prefeitura então não há para que aplicar autoridade. Crasso erro, porque se termina tomando um de dois caminhos: o desconhecimento das normas ou a aplicação delas segundo nosso próprio saber e entender. E aí sim adeus autoridade e bem vinda a desordem.
Ernesto Cortés Fierro
Editor Chefe de EL TIEMPO
erncor@eltiempo.com - @ernestocortes28
Fonte: tradução livre de El Tiempo
COMENTO: o autor do texto expressou a situação atual de Bogotá, Colômbia, mas que certamente ocorre em muitos outros lugares, particularmente no Brasil. O temor das pessoas investidas de autoridade em exercer essa autoridade em benefício da sociedade faz com que uma minoria mal educada e mal intencionada assuma o protagonismo social em nome do "politicamente correto" e da "defesa da minorias". Colaborando com essa situação, a imprensa se omite de identificar criminosos presos para que possamos identificá-los caso os encontremos em outra situação e possamos fugir a uma nova investida criminosa dos mesmos. Tudo sob a desculpa cretina da "inocência presumida", mesmo quando se trata de criminosos confessos. Além do nojento hábito de adjetivar esses mesmos canalhas como "suspeito". Esse tipo de procedimento conduz a coisas estúpidas como afrontar um fumante até mesmo em via pública ao mesmo tempo em que se aceita passivamente um maconheiro fazer uso de seu "baseado" mesmo em salas de aula. As denúncias contra a "violência policial" é outro aspecto a ser pensado. Todos os dias vemos vídeos de policiais agredindo cidadãos apresentados nos noticiários televisivos. Nunca ficamos sabendo sobre os antecedentes que levaram à ação gravada. Raríssimos são os casos de policiais agredidos filmados. E por aí vai. Há uma "cultura" de contestação à autoridade, sem a preocupação de que um mundo sem autoridade está entregue à lei do mais forte. É o retorno à barbárie, como vimos em Pernambuco. Será que é isso mesmo o que queremos?
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