Derrotados nas cidades, os terroristas se lançaram para o interior do Brasil, na tentativa de aproveitar o esquema que já estava sendo preparado muito antes de 64, com orientação e ideologia chinesa trazida por Marighella depois de seu curso na Escola Militar de Pequim em 1952. Grandes áreas já estavam preparadas para tal objetivo, sendo escolhida a do Araguaia (Xambioá, Marabá).
Depois de tentar, sem resultado, reconduzir ao bom caminho os guerrilheiros, o resultado foi acabar com o foco o que foi feito entre outubro e dezembro de 1973, em pouco mais de dois meses de operações de combate na difícil área. Dada a Ordem de Operações, em outubro/73, o primeiro combate destruiu o grupo militar da guerrilha. Em seguida, o grupamento da Gameleira, comandado por Osvaldão, teve seu aparelho (esconderijo) destruído. Osvaldão escapou porque estava na região do grupamento A, em reunião com o comandante Mário (Maurício Grabois). Em seguida, o comandante Mário foi morto, junto com a maioria da cúpula da guerrilha, no chafurdo do Natal, em 25/12/1973.
Transcrevo:
Com a constante permanência das patrulhas vasculhando a mata, a partir do início de outubro, os militares já com o sangue quente por tantos feridos e baixas do nosso lado, a vida dos guerrilheiros remanescentes, escondidos em suas tocas, tornou-se difícil. Os procedimentos de combate da tropa foram revistos, não eram mais missões de busca de informes; eram equipes de combate. Os diversos apelos para que desistissem, não foram atendidos. Não podíamos continuar a agir correndo riscos desnecessários, como até então.
Desde o assalto ao quartel da PM, no início de outubro ao início de novembro de 1973, vários combates tinham ocorrido, com perdas importantes para a guerrilha.
Fechado o cerco, eles teriam que se mexer e, na mata, quem se mexe se revela, se demonstra. Eles perderam a grande vantagem de ver sem visto. Até os animais praticam instintivamente esta verdadeira lei de sobrevivência.
Em conseqüência das inúmeras baixas ocorridas nesse período, os guerrilheiros se deslocaram para se reunir em torno da base do grupamento A, onde se achava o chefe Mauricio Grabois. Enquanto isso, as bases dos grupamentos B e C foram completamente destruídas pelas equipes do sul da serra das Andorinhas.
Duas patrulhas do norte, comandadas pelo Tenente Siguimar Lacerda Ventura e Tenente Luiz Carlos Hallier, ambos já falecidos, localizaram um grupo no alto de uma colina, em mata densa, e atacaram na manhã de 25 de dezembro de 1973. Eram 16 guerrilheiros, sendo que 9 foram mortos e 7 conseguiram fugir na confusão do tiroteio. Os mortos: Maurício Grabois (Velho Mário), Paulo Mendes Rodrigues (Paulo, comandante do grupamento A), Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri), José Humberto Bronca (Fogoió), Orlando Momento (Landim), Gilberto Olímpio Maria (Pedro Gil), Guilherme Gomes Lund (Luiz), Marcos José de Lima (Ari Armeiro) e Luiz Vieira de Almeida (Luizinho). Minha única dúvida é que eu tinha sabido da morte do Amauri em junho de 1972, próximo a Santa Luzia, área do Osvaldão. O Luizinho faleceu no dia seguinte ao combate. Ângelo Arroyo conseguiu fugir.
Osvaldão foi um dos que escaparam por estar um pouco distante do local no momento do combate. Sua base da Gameleira já tinha sido destruída. Agora, com a destruição da última base, a do grupamento A, ele ficou vagando na selva, sozinho, e não se sabe bem porquê não procurou reorganizar o que restou dos grupos.
Este combate do dia 25/12/74 foi, sem a menor sombra de dúvida, o ponto alto da luta anti-guerrilheira no Araguaia, o combate decisivo; alguns o denominam “chafurdo de Natal”. Estava terminada a luta.
Na mata, porém, a gente perde a noção do tempo, só interessando o cumprimento da missão, que só termina quando o combate apontar ou decidir o vencedor, ou os que saírem vivos. Com certeza, ninguém deveria estar sabendo que era Natal, pois estavam em guerra, em plena ação, o perigo espreitando a cada passo na mata, a adrenalina a mil.
Os bravos militares participantes desse combate notável devem escrever a respeito, uma vez que o que se sabe ainda é muito pouco, dado à importância da ação. Praticamente, depois de passado o tempo de tolerância para que se entregassem, passamos apenas um pouco mais de dois meses para acabar com a festa deles: de 13/outubro a 25/dezembro, exatos dois meses e 13 dias.
Relatório Arroyo: — “Quando já estavam a mais ou menos um quilômetro do acampamento, às 11 hrs e 25 da manhã, ouviram cerrado tiroteio. Encontraram-se logo depois com Áurea e Peri, que vinham apanhá-los para o acampamento. Os dois afirmaram que o tiroteio tinha sido no rumo do acampamento. Cinco minutos depois do tiroteio, dois helicópteros e um avião começaram a sobrevoar a área onde houvera o tiroteio, e continuaram durante todo o dia nessa operação. Dois helicópteros grandes fizeram duas viagens — da base do Mano Ferreira, a uns cinco ou seis quilômetros, até o local do tiroteio. Tinha-se a impressão de que ou estavam levando mais tropas ou retirando mortos e feridos do local. J. e seus companheiros (eram oito) afastaram-se do local mais ou menos um quilômetro. No dia seguinte, 26 (de dezembro), foram a uma referência para encontro, num local próximo. Aí encontraram os companheiros Osvaldo, Lia (Telma Regina Cordeiro Corrêa), Batista (Uirassú de Assis Batista) e Lauro. Osvaldo informou o seguinte: que o grosso da força havia acampado dia 24, mas percebeu que estava perto da estrada. Dia 25, pela manhã, afastaram-se para uns cem metros de onde se achavam, designando alguns companheiros para limpar (camuflar) o local em que estiveram. Os membros da CM (comissão militar) e sua guarda ficaram num ponto mais alto do terreno, e os demais ficaram na parte de baixo. Na hora do tiroteio havia 15 companheiros no acampamento: Mário (Maurício Grabois), Paulo, Pedro, Joca, Tuca, Dina (com febre), Luís (com febre), na parte alta; embaixo: Zeca, Lourival, Doca e Raul (estavam ralando coco babaçu para comer). Lia e Lauro faziam guarda. Osvaldo e Batista realizavam a camuflagem.”
Aqui, desejo deixar registrado mais um exemplo da tremenda injustiça do destino, ao mesmo tempo querendo deixar minhas homenagens aos bravos guerreiros Tenente Siguimar Lacerda Ventura e Tenente Luiz Carlos Hallier. Depois de todos os sacrifícios e esforços inauditos no treinamento e na luta real, ainda em serviço dedicado à Pátria, num exercício em Resende/RJ, morrem os dois em acidente lamentável.
Hallier e Lacerda, vocês dois e todos os elementos de suas equipes, tiveram a oportunidade de, numa inigualável demonstração de lealdade, coragem, de dedicação e amor à Pátria, desenvolver uma ação que poucos guerreiros conseguem alcançar pelas mãos do destino: vocês executaram o Combate Decisivo de toda a nossa luta contra os guerrilheiros do Araguaia. Onde vocês possam estar nessa imensidão imperscrutável de Deus, serão sempre lembrados pelos seus companheiros de profissão como Heróis Maiores.
Fonte: Blog do Lício Maciel
COMENTO: vale a pena ler o original do relato do "Combate Decisivo", onde o Coronel Lício destaca o abandono dos guerrilheiros por suas "lideranças" e sugere o destino dos que sobreviveram aos combates e são, ainda, considerados "desaparecidos". Clique AQUI para ler a verdade que a canalha procura esconder ao mesmo tempo em que brada pela "abertura dos arquivos".
ATUALIZAÇÃO: infelizmente o atalho que conduzia a descrição do acidente que vitimou os então Major Luiz Carlos Maria Hallier e Capitão Siguimar Lacerda Ventura leva a uma página que foi apagada da internet. Mas o relato do acidente é o seguinte:
A instrução noturna para cadetes da AMAN em 25 Mai 1980, constava de um ataque aéreo de dois caças da FAB contra um objetivo. O primeiro caça destruiu todo o alvo, que tinha lâmpadas sinalizadoras. O 2º caça terminou atingindo um helicóptero que estava em outro local, próximo aos cadetes que assistiam o bombardeio, confundido pela lâmpada que piscava intermitentemente no alto do aparelho, matando os dois Oficiais do EB e ferindo outros três militares da FAB, tripulantes do helicóptero. O Jornal do Brasil, edição de 29 Mai 80 - pag 15 noticiou o fato.
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