terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Resto é Silêncio

por Paulo Timm
A verdade é nua e crua: Dilma ganhou a eleição.
Escrevo como analista, não como militante. Os militantes dos adversários vão berrar pela possibilidade de vitória de seus candidatos até a última hora. Esse é o seu papel e devem cumpri-lo com elegância.
Mas, salvo uma “bala de prata”, capaz de ferir a candidata num suposto “calcanhar de Aquiles”, Dilma ganhou. Faltam duas semanas para as eleições. E não há mais tempo para revisões de campanha. O que foi feito, está feito. Fim de papo.
A hora é, pois, de começar a pensar por que (?) ela ganhou.
Por que ganhou?
A meu juízo três razões:
1. Situação econômica do país
2. Falta de um partido claramente conservador
3. Falta de combatividade do Serra
Comento:
1. A situação econômica do país
Diversas pesquisas vinham apontando uma performance surpreendente da economia brasileira entre 2003-2009, destacando a entrada na classe média baixa, isto é, na Classe C, de cerca de 20 milhões de brasileiros. Na sexta feira passada consagrou-se a percepção com a divulgação da pesquisa de Fundação Getúlio Vargas — A Nova Classe Média: O Lado Brilhante dos Pobres (FGV), coordenada por Marcelo Neri. Aí os dados são insofismáveis. A economia brasileira recuperou seu dinamismo histórico e conseguiu melhorar os índices de distribuição de renda. Hoje, cerca de 94 milhões de brasileiros estão na classe C, diminuindo, em consequência os que estavam nas classes mais baixas de renda — C e D. Surpreendentemente também cresceu o número dos que ganham mais, nas classes A e B. Verdadeiro milagre, que, no fundo, sustenta as altas taxas de aprovação do Governo. Dir-se-á que tudo isto é uma consequência da estabilização da moeda conseguida pelo Plano Real graças à Fernando Henrique Cardoso. E daí? Ninguém quer saber quem plantou, quer saber se a colheita foi boa. E aí Lula surfa com prepotência.
2. Falta um partido conservador
Todos os analistas desapaixonados são unanimes em dizer que não há debates de fundo ideológico no país, nem propostas. A campanha está aguada. Todos os candidatos são ou foram grandes amigos, têm origem na esquerda que enfrentou o regime militar e pensam mais ou menos igual. Serra, mais à direita, embora odeie esta classificação, é o mais conservador, mas, no Governo corria o risco de ser mais intervencionista no mercado financeiro do que a Dilma, avalizada por Lula, que mantém 40% dos gastos da União para o pagamento da dívida interna, aos juros mais elevados do mundo. Houvesse um partido de tipo liberal-conservador, capaz de colocar a questão do aparelhamento do Estado sob a ótica do contribuinte que paga a conta e não estritamente moral ou político, talvez tivesse assistido a um debate efetivo de tipo ideológico. Serra não conseguiu, sequer, defender os feitos de Fernando Henrique Cardoso durante seu Governo entre 1995-2002.
3. Falta de combatividade de Serra
Todo mundo sabe que nas artes marciais a falta de combatividade leva à desclassificação do combatente. Pois foi o caso de Serra nesta campanha. Ele pretendeu se apresentar como uma alternativa à continuidade de Lula, com medo de enfrentar seus altos índices de popularidade. Acreditou ser possível enganar o eleitor fazendo-se passar como "uma das alternativas" em processo e não como aquele que estava no tatame para dar sequência a oito anos de enfrentamento no Senado Federal, contra o governo Lula. Ora, isto é piada. Serra está perdendo não a eleição mas a própria credibilidade que tanto lhe custou construir. Talvez tenha sido vítima do próprio orgulho de se acreditar com um currículo mais à altura dos desafios, talvez tenha claudicada frente às exigências do marketing eleitoral, talvez, enfim, não tenha sabido todos os que estão ao seu lado. A verdade é que lhe faltou combatividade e isto é muito feio. Dilma tomará posse dia 1º de janeiro. Mas terá imensos problemas pela frente. Sua assessoria, confiante, já está liberando informações de que haverá um período de arrocho nas contas públicas, com uma nova reforma na previdência. Terá problemas políticos com um PMDB fortalecido na Vice Presidência, com um nome forte como Michel Temer. Terá problemas com uma oposição que, depois do fracasso de Serra, e com dois Governadores, em Minas e São Paulo, com o agravante de um líder forte no Senado, Aécio Neves, começará batendo forte. Aliás, ou isso, ou adesão sumária, o que não deixa de ser uma hipótese, o que, por sua vez abriria espaço para a emergência de um partido "puro sangue" de estilo liberal-conservador, sem o ranço da origem social-democrata do PSDB. Além disto, o Brasil é um país com uma sólida Sociedade Civil, muito organizada, na qual a grande imprensa, os blogueiros independentes, os empresários, a Igreja, a OAB, diversas ONGs estão firmemente estabelecidas e vigilantes. Isso posto, Dilma enfrentará uma queda significativa na sua popularidade já no primeiro ano e se chegar ao fim de 2011 com 40% poderá soltar muito foguete.
É isso. O resto é silêncio.
Paulo Timm é escritor e polemista.
Vive, feliz, em Torres
Fonte: Blog do Prévidi - 16 Set 10
COMENTO: obviamente, o autor do texto é eleitor da antiga militante da VAR-Palmares, mas sua análise não deixa de ser interessante. É claro que o resultado das eleições só poderá ser comprovado após as mesmas, mas o escritor está excessivamente otimista. Aguardemos! Do texto em si, há que se concordar com dois tópicos. José Serra não se mostrou um candidato à altura de ser "oposição". Comportou-se como candidato ao continuísmo da "obra" do batráquio cachaceiro, esperando ser adotado pela dissidência dos que foram contrariados pela indicação de alguém que sequer tem um histórico de militância petista. Me parece que Morena Marina também teve essa inspiração. Falharam, pois o eleitorado 'pertence' a Luis Inácio e o segue como os ratos seguiam a flauta de Hammelin. Também temos que concordar que não há hoje no país um partido conservador. O que restou da ARENA pode se resumir ao DEM (ex-PFL) e PP (ex-PDS), porém com a nódoa de terem perdido seus grandes ideólogos, se é que assim podiam ser denominados os velhos caciques 'de direita', substituídos por gente que tem dado mais maus que bons exemplos. Se olharmos as listas de envolvidos em escândalos financeiros e picaretagens com verbas públicas, infelizmente constatamos a prevalência de nomes ligados a esses partidos, mesmo levando-se em consideração as inúmeras patifarias da 'cumpanherada' lulista. Por outro lado, me dei ao trabalho de dar uma olhada nos 'insofismáveis' dados do citado trabalho sobre A Nova Classe Média da FGV. E comprovei, mais uma vez que, ao trabalhar com números é muito fácil mentir falando a verdade. Um dado é simples para explicar a expressiva migração de pessoas para a classe econômica "C". Os parâmetros utilizados classificam a classe "E", os mais pobres, os que pertençam a uma família com renda até R$ 705,00. Assim some-se um Salário-Mínimo que qualquer um da família receba, com os benefícios de Auxílio-Transporte, Auxílio-Alimentação (tickets) e algum outro benefício social (bolsa-escola, seguro-desemprego, auxílio-doença — o Auxílio-Reclusão, que atende às famílias de presos, está valendo R$ 752,12 atualmente) e teremos uma família inteira saindo da classe "E" e ingressando na "classe média" (classes "B", "C" e "D"). A título de curiosidade, os parâmetros de renda da classe "C" estão entre R$ 1.126,00 e R$ 4.854,00; e estão na classe "A" (ricos) todos os que tem renda familiar acima da fortuna representada por R$ 6.329,00. Me deu uma curiosidade enorme de saber como classificar a petralhada que se acomodou nos Cargos de Confiança da Esplanada dos Ministérios nos últimos sete anos, com 'subsídios' superiores a 10 ou 15 mil mensais. Por fim, ainda sobre a situação econômica do país, a afirmação de que "Ninguém quer saber quem plantou, quer saber se a colheita foi boa" reflete o velho mau exemplo de vigarice do "cumprimentar com o chapéu alheio". Quem colhe o que não plantou está, no mínimo, cometendo furto! Só nos resta esperar que o autor do texto esteja errado em seu otimismo eleitoral e que o país consiga eleger o candidato 'menos pior' a fim de evitarmos, por mais algum tempo, a "bolivarização" brasileira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente a sua análise sobre o artigo transcrito. A grande verdade é que não havia um real motivo para Serra buscar esse combate. O motivo si ne qua non para a derrocada democrática de outubro de 2010 é que não há forças conservadoras, que se apresentem como tal. Para pensar e adubar a idéia de incrementarmos a força militar no congresso. Bom dia e um abraço.