por Ralph J. Hofmann
O poder, por mínimo que seja, nas mãos de certos tipos de servidores públicos, cria delírios autoritários. Dê um pouco de autoridade aos mesmos e viram tiranetes.
Acabo de ler algumas reportagens desta semana sobre as novas tomadas adotadas pelo ABNT. Refletem desde um intenso narcisismo até o exercício do poder pelo poder, sem contar que poderão representar uma mina de ouro para fabricantes destes componentes.
Pareceria lógico adotar a tomada universal, já que, há anos os consumidores brasileiros compram equipamentos importados e nacionais com este modelo. As “réguas” que usamos para plugar nossos computadores, impressoras, estabilizadores, “no-breaks” quase todas vem com tomada universal. Os prédios novos quase todos têm tomadas universais. O bom senso faria com que adotássemos este modelo. Poderíamos, isto sim, fazer com que os fabricantes os produzissem segundo normas e materiais mais rigorosos.
Mas não. A ABNT tudo sabe tudo pode, acaba de decidir soberanamente, e pior, tem autoridade para tanto. Até 2011 todos os brasileiros que possuem qualquer tralha elétrica terão de se adaptar. Adaptadores para o novo modelo apenas estarão disponíveis até 2013.
Naturalmente cada residência terá de se adaptar. Para manter-se dentro da lei os proprietários de imóveis vão ter de mexer nas paredes. Assim por alto eu diria que para um apartamento de dois quartos e sala, pelas horas de trabalho, materiais e incômodo serão uns R$ 2.000,00. Será que dá para atrasar algumas prestações da casa própria para pagar isto?
Mas muitos vão fazer uma gambiarra para resolver o problema. Os burocratas, na ânsia de nos proteger de nós mesmos terão criado um novo fator de risco dentro de casa.
Parece que os visionários alegaram que não adotaram nenhum modelo dos que existem mundo afora para proteger a indústria nacional. Por aí se vê como vivem nos seus casulos estas tecno-antas. Não se lembram dos vídeo cassetes. No começo comprávamos nos Estados Unidos ou na Europa, levávamos para o geninho do bairro e ele fazia funcionar. Depois os japoneses, taiwaneses e coreanos passaram a fornecer os aparelhos com uma chaveta de três posições. Pal-M, Pal-N e NTSC. Depois nem chaveta havia. O aparelho detectava qual o sistema do videocassete e se adaptava sem interferência.
Então vejamos. Para exportar vamos ter de fornecer com o plugue do país de destino, o que já fazemos. E o pessoal de fora, da China et al.? Dentro de uma semana já preparará os aparelhos para o Brasil na nova norma. O maior e mais dispendioso problema vai ficar para o consumidor dentro de sua casa.
Esta história de reserva de mercado com diferença tecnológica eu já vi antes. Havia três normas técnicas para conexões de ferro maleável na Europa. Todas eram variáveis da norma ISO, casos específicos da mesma. O fabricante brasileiro para qual eu trabalhava situou sua norma técnica na faixa de incidência de duas delas. A terceira, a italiana, teve de ser produzida à parte. Mas mesmo assim, como queríamos o mercado nos adaptamos. Quem pode mais chora menos.
Ou seja, é uma norma muito bonita, é um produto muito bonito, mas para que serve?
Para que um grupo de indivíduos possa ter justificado anos de reuniões, viagens, pesquisas, diárias, visitas a fabricantes para obter informações.
Tendo produzido esta mistura de focinho de porco (literalmente) com boca de sanguessuga o que vão fazer a semana que vem para justificar suas pobres existências? O que vão fazer que fira os bolsos do contribuinte apatetado com mais este ataque?
Fonte: Opinião Livre
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