terça-feira, 15 de setembro de 2009

Há 33 Anos, Morria Mao, Poeta, Guerreiro e Líder — Grande FDP!

por Janer Cristaldo em 09 Set 09
Quem tem a minha idade, deve lembrar do sufoco que era não ser marxista nos anos 70. Intelectuais do mundo inteiro criam, unânimes, que o mundo rumava ao socialismo. Os brasileiros, sempre na rabeira da História, não poderiam pensar diferente. Eu, que havia lido e me formado em filosofia, não conseguia ver Marx como filósofo. Muito menos via qualquer consistência em seu pensamento. Por não participar do Zeitgeist da época, fui considerado agente do DOPS. A coisa era simples assim: se você não era comunista, só podia ser agente da ditadura. Mais tarde, fui promovido a agente do SNI. Quando comecei a viajar, atingi o ápice de minha carreira. Fui elevado a agente da CIA. Assim fosse. Agente da CIA devia ganhar bem. Em Estolcomo, eu tinha de espichar minhas kronor para poder tomar um vinhozinho em fim de semana.
A pressão era tão violenta que chegava a impedir os relacionamentos pessoais. Já devo ter contado: certa vez, nos dias de Porto Alegre, eu estava debaixo de uma ducha com uma jornalista gaúcha, naquele estado em que Adão e Eva viviam antes de comer a frutinha aquela. Ela afastou-me delicadamente com as mãos. “Tu me excitas. Mas infelizmente nossas posições ideológicas não combinam”. Nada feito. Então tá!
Na época, me disse um bom amigo, o Aníbal Damasceno Ferreira: “tu estás contra toda tua geração”. Só anos mais tarde fui entender a frase do Damasceno: eu não era marxista. O curioso é que, enquanto era visto na universidade como agente da ditadura — ou do imperialismo, como também se dizia naqueles dias —, em Dom Pedrito fui preso como perigoso agitador comunista. Em Porto Alegre, para obter passaporte, tive de explicar junto a funcionários do DOPS, que não era comunista. O interrogatório foi ardiloso. Não me fizeram pergunta alguma. Eu é que tinha de confessar-me.
Le fonds de l’air est rouge, diziam na época os filhinhos de papai franceses que bagunçaram Paris em 68. O fundo do ar é vermelho. A mídia toda celebrou a Revolução de Maio de 68. Pas de sang, trop de sperme, como a definiu alguém. Sangue nenhum, esperma demais. Entre nós, paradoxalmente, a Ideia — como se dizia então — foi levada um pouco mais a sério. Se esperma houve, sangue também. Jovens fanatizados e sem maiores leituras, conduzidos por velhas raposas a soldo de Moscou, Pequim, Tirana e Havana, foram levados a uma aventura que resultou em centenas de mortes. O fundo do ar era de fato vermelho. O pior é que, cá no Brasil, continua vermelho. As raposas continuam pontificando na política e na história nacional. Os mortos, estes pelo menos descansam em paz.
Há 33 anos, morria Mao Tse Tung, o mais operoso assassino do século passado. Seu regime foi responsável pelo assassinato de 65 milhões de chineses. Matou mais do que Hitler e Stalin juntos. Levou a China à miséria e mesmo ao canibalismo. Um leitor com memória me envia uma terna lembrança daqueles dias. No dia 09 de setembro de 1976, o Jornal do Brasil saudava em garrafais, na primeira página do Caderno B, a morte do assassino:
"MAO, POETA, GUERREIRO E LÍDER".

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