por João Pequeno
Cadê o Amarildo? A pergunta está em todos os cantos, até projeções de vídeo em paredes de edifícios. Até ao Papa ela foi virtualmente feita, na Jornada Mundial da Juventude, o que conota a imensa preocupação dos militantes com a vida do pedreiro desaparecido há 17 dias após ser detido por PMs da UPP da Rocinha.
O caso de Amarildo é mesmo grave, como escancarou “O Globo”, em excelente matéria de Elenilce Bottari. Enquanto ela fazia reportagem, quem prefere não confiar na grande mídia malvada seguia só gritando palavras de ordem — que, por coerência, também gritaram nos (muitos) casos semelhantes e recentes. Será?
Dois policiais respondem pela morte, em público, de outro pedreiro, Wagner Dias, 27, em maio, no Tocantins. Protestos? Só locais.
De volta ao Rio, dia 12, foi adiado julgamento de três PMs acusados de matar o universitário Thiago Henry. Notícia: vão a júri popular PMs acusados de matar e ocultar o corpo da engenheira Patricia Amiero. Casos de 2008; manifestações, só da família dela.
PMs também respondem por matar e tentar sumir, em 2011, com o corpo de Juan Moraes, de 11 anos, na Baixada Fluminense.
Nem a chacina de 29 pessoas na mesma região, em 2005, por um bando de policiais, teve protestos como os atuais. O que denota — no país de 40 mil homicídios anuais — que o zelo da militância com uma vida específica, sem mensurações de ordem política, pode ser só imaginação.
Fonte: Jornal Destak - 31 Jul 13
COMENTO: a preocupação com a vida de um cidadão desaparecido é plenamente justificável e até mesmo uma manifestação de cidadania. Por outro lado, é estranho o empenho da grande imprensa no caso. Destaco que o mesmo jornal "O Globo" estampa na lateral de sua página, o espaço "Você pode estar interessado", onde aparecem fatos relacionados à reportagem em foco. Junto a notícia sobre Amarildo, constam duas promessas de realização de exame de comparação de DNA de filhos de Amarildo com sangue encontrado em uma viatura policial. Há também outra nota relatando a coleta de material genético do filho do desaparecido. Olhando com atenção, vemos, também duas outras notícias: a suposição de que um cadáver encontrado em um valão da Rocinha possa ser de Amarildo; e a constatação de que o corpo encontrado é de uma mulher. Estas notas pecam por sua concisão, que concluem informando que o fato será investigado pela delegacia da área. Quem é a morta? Como seu corpo apareceu em um valão? Como foi morta? Tem parentes? São indagações sem resposta até o momento.
Aparentemente sua vida não tinha muito valor — certamente bem menos que a de Amarildo. Não mereceu sequer um pouco de empenho jornalístico, muito menos da "comunidade" em prol de sua identificação!
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