por Jacornélio M. Gonzaga
“Na mentira patológica, o ato de dizer mentiras é com frequência um fim em si mesmo. Um mentiroso que mente deliberadamente sabe que mente, ao passo que um mentiroso patológico pode não saber."
Na mitologia grega, Prometeu, filho do Titã Jápeto e de Clímene, era primo de Zeus (Júpiter), o deus que mandava no Monte Olimpo, que embora fosse bem mais alto que o Morro do Alemão, sem teleférico e longe da Linha Amarela, era a morada dos doze deuses chefões daquela quadra do tempo.
À época, só existiam os deuses e seus familiares, portanto ninguém trabalhava. Depois da “intentona” dos Titãs, o socialismo bolivariano foi implantado e os moradores do Olimpo, que continuaram sem trabalhar, passaram sentir a falta de artigos de primeira necessidade. Historiadores citam que houve até a necessidade da importação de papel higiênico. Zeus, muito preocupado com o andar da carruagem, e sentindo a necessidade de cobrar novos impostos, para sustentar as diversas bolsas do Olimpo, resolveu povoar o planeta Terra, dando a seu primo — Prometeu — a missão de educar os mortais, que seriam a nova fonte de recursos.
Antes de roubar o fogo de Zeus — no sentido literal da palavra — para dá-lo aos homens, Prometeu que era também um grande escultor, resolveu usar toda sua habilidade para esculpir uma nova forma que representasse uma reflexão filosófica de atitude, que ele achava essencial para regular o comportamento das pessoas: a Verdade. Como naquela época o português ainda era restrito aos garrafeiros e “burros sem rabo”, Prometeu deu o nome de Aletheia (Veritas) à sua nova obra.
O preocupado escultor, sentindo-se cansado e sem descendentes com dons artísticos, havia feito uma seleção para uma vaga de “training” em sua oficina. O jovem Dolus (Trapaça) fora o vencedor da acirrada concorrência, tendo demonstrado, de imediato, suas características de interesse e astúcia.
Trabalhando incessantemente em seu ateliê, o dedicado CEO (1) da humanidade dava os últimos retoques em Aletheia quando foi convocado por Zeus para comparecer, com urgência, ao Olimpo. Como hoje, já naquela época, atender ao chefe tinha caráter emergencial; e lá se foi o diligente escultor em direção ao Olimpo, sabendo que teria de encarar uma baita subida, passando por encardidos becos, sempre disputado por facções rivais.
Dolus, sentindo no afastamento de Prometeu a sua grande oportunidade para mostrar serviço ao mestre, aproveitou o tempo para moldar uma réplica de Véritas, copiando todas as características com apurado esmero. A pequena estátua estava ficando idêntica, mas um imprevisto aconteceu: Prometeu foi assaltado quando cortava caminho por uma das vielas da “comunidade” (2) da Rocinha e retornou ao ateliê para buscar mais dinheiro para dar aos ladrões, caso fosse abordado novamente.
Apavorado com o repentino retorno do mestre, Dolus sentou-se sobre a réplica, o que ocasionou dano às partes inferiores da peça — os pés. Estudiosos de mitologia dizem que houve também o esmagamento do dedo mínimo da mão esquerda.
Desconfiado, o Antônio Francisco Lisboa (3) da época mandou que seu estagiário se levantasse, tendo ficado admirado com a perfeição da réplica elaborada pelo aprendiz. Mas, a fim de comprovar a semelhança, colocou as duas estatuetas no forno e, quando estavam completamente cozidas, infundiu-lhes a vida.
Véritas deu seus primeiros passos com firmeza, ao contrário de sua estátua gêmea que, por ser uma falsidade, uma ilusão, um produto de subterfúgios, após cambaleantes passos, empacou, não mais conseguindo sair do lugar.
Prometeu batizou a grotesca imitação com o nome de Pseudologos, em homenagem aos espíritos especializados em farsas, mentiras e engôdos; posteriormente, os romanos deram o nome de Mendacium (Falsidade) àquela divindade grega da dissimulação.
Passam-se os anos, os séculos, os milênios e chegamos aos dias atuais e lá encontramos o Mendacium de Garanhuns (Caetés), o deus, que mesmo nunca sabendo de nada, é o responsável pelo(a): pagamento da dívida externa; autossuficiência energética (incluindo o petróleo); inclusão de milhões e milhões de pessoas na classe média; total erradicação da pobreza; fim da inflação; saúde pública de primeiro mundo, que “dá vontade ‘dagente’ ficar doente”; segurança pública em nível suíço; educação modelo Coréia do Sul; e, blá. Blá, blá. ...
O Mendacium de Garanhuns não é um mentiroso patológico, ele mente deliberadamente e sabe que mente. Suas mentiras têm o aval e a colaboração do séquito de daimones que compõe a corte petralha; e dos aproveitadores e vendilhões que manobram a política “Panis et Circensis”, em voga na Ilha de Vera Cruz.
O dito popular nos ensina que a Mentira tem pernas curtas e os gregos e romanos nos passaram que ela não tem pés, assim sendo, acredito que, de vez em quando, alguma coisa falsa pode começar com sucesso e nos enganar alguns anos, mas com o tempo, Véritas (Verdade) é a certeza da vitória.
NOTAS:
(1) CEO é a sigla inglesa de Chief Executive Officer, que significa Diretor Executivo em português. CEO é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização. É o responsável pelas estratégias e pela visão da empresa.
(2) Nome politicamente correto dado às favelas na Grécia antiga.
(3) O Aleijadinho
Jacornélio é especialista em história grega.
Concorreu a uma bolsa de estudos no Oráculo de Delfos, na Grécia
Por não ser filiado ao ParTido foi preterido.
Em função disso, fez seus estudos mitológicos em OLÍMPIA/SP.
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