por Francisco Cândido
Jornalista - Reg. 060/DRT/RR
Canhões, baionetas e muito sangue. A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). O conflito iniciou-se com a invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob as ordens do presidente Francisco Solano López. A Guerra já durava quatro anos. As tropas brasileiras não estavam conseguindo passar a ponte do Ribeirão Itororó, para tomar a estrada para Assunção. No meio do campo de batalha surgiu um homem de 65 anos, montado a cavalo. "Sigam-me os que forem brasileiros!!!." Era o brado de comando de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.
O General Dionísio Cerqueira, à época soldado do Exército Brasileiro na guerra do Paraguai, e que esteve no campo de batalha, escreveu em suas: "Reminiscências da Campanha do Paraguai" (Gráfica Laemmert Ltda, 1948. Rio de Janeiro).
"Quando (Caxias) passou pela nossa frente (...) Perfilamo-nos como se uma centelha elétrica tivesse passado por todos nós. (...). O Batalhão mexia-se agitado e atraído pela nobre figura, que abaixou a espada em ligeira saudação a seus soldados. O comandante dá a voz firme. Daí a pouco, o maior dos nossos Generais arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado dos batalhões galvanizados pela irradiação da sua glória. Houve quem visse (soldados) moribundos, quando ele passou, erguerem-se brandindo espadas ou carabinas, para caírem mortos adiante". Caxias, elevando o moral da tropa, bradou: "Sigam-me os que forem brasileiros!!!." Avançou a frente da tropa, e todos o seguiram. Ocorreu então a vitória nossa final.
O DIA DO SOLDADO é comemorado em 25 de Agosto, homenageando o nascimento do Marechal Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (25/8/1803 - 07/5/1880).
Hoje, aqui nesta Coluna “Minha Rua Fala”, homenageamos não só ao Duque de Caxias, mas a todos os soldados brasileiros, de todas as Forças (naval, terrestre e aérea), de todas as Armas, e de todas as Instituições que fazem parte da Segurança do nosso País.
Soldado! Certamente haverá um dia em que alguém te dirá em tom irônico, que o Brasil não vai à guerra desde as batalhas no Paraguai e nos campos da Europa por ocasião da 2ª Guerra Mundial e, portanto, Soldado, no presente tu não tens serventia, e és um estorvo para teu País. Não ligues, Soldado. Não deixe tais comentários, lançados em teu rosto como cusparada vil, te roubarem a calma ou te perturbarem o coração. Antes de te sentires magoado, responda serenamente:
“Meu amigo, assim falas porque não me viu amparar os sofridos sertanejos nas matas nordestinas; a curar os enfermos nos grotões da Amazônia, a socorrer os flagelados pelas enchentes no Sul e Sudeste; a agasalhar as vítimas do frio no Rio Grande do Sul; a levar socorro médico aos ribeirinhos do alto e baixo rio Branco em Roraima, entre outras ações humanitárias, que não vem ao caso aqui mencionar, porque não propalamos os benefícios que fazemos, nem o trabalho que realizamos para bem servir à Pátria e ao povo brasileiro.
Você que me ofende assim falas, porque jamais sentistes a dor da saudade dos teus amores a aumentar a cada instante, sob o peso das longas jornadas e das imensas distâncias, pelos confins deste País de Meu Deus! Assim falas porque jamais pesou sobre teus ombros a responsabilidade de transformar no Quartel meninos em homens, forjando-lhes o caráter e dando-lhes maturidade para tomar as rédeas de suas vidas nas próprias mãos.
Jamais soubestes o que é passar dias e noites caminhando sob a chuva e frio, sentindo o vento minuano nos pampas gaúchos ou a castigar-te o corpo o vento frio da “cruviana” nos lavrados de Roraima. Nunca tivestes que enfrentar a imensidão verde e abafada da floresta, dias a fio, sobrevivendo apenas do que a mata te oferece. Em tempo algum transpusestes sob sol escaldante as caatingas de espinhos no Centro-Oeste, ou jamais vadeaste a peito nu um rio na Amazônia em noite de agosto. Enquanto isto, você dormia, calma e profundamente, enquanto eu, nas fronteiras, velava por tua guarda e segurança. Falas assim amigo, porque não estavas ao meu lado ajudando a mitigar o sofrimento do povo de Angola e do Timor Leste, de Honduras e da Nicarágua, do Peru, da Bósnia e do Haiti. Ah! Meu amigo, se tu me visses abrindo dois mil quilômetros de estrada, de Cuiabá a Rio Branco, ou cortando 800 quilômetros de floresta abrindo caminhos na mata para construir a BR-174, de Manaus a Boa Vista para que descobrisses um novo Brasil, certamente não falarias assim. Ah! Se tu tivesses chorado comigo os companheiro mortos cumprindo seu dever em outros países, e também aqui nos recantos do interior da nossa Pátria, entenderias porque existo.
Mas, amigo, não te sinta constrangido. Apague do rosto essa expressão envergonhada, pois não tens obrigação de saber disso tudo, assim como não é meu papel alardear o que faço, mas sim, trabalhar simplesmente, pois a obediência, a renúncia e a humildade, que em outros seriam apontadas como grandes virtudes, para nós Soldados espelham apenas o dever de toda uma vida. Saiba, porém, que onde estiveres, estarei sempre guardando teu sono, silencioso e anonimamente, como convém a todos os SOLDADOS deste nosso rincão. E, saiba ainda que: mesmo os que estão na Reserva militar, ainda que não enverguem mais a farda, estes continuam tendo em si a pele camuflada pelo amor pátrio.
Apura agora teus ouvidos no som que sai do meu ufano peito e ouvirás, emanado do meu coração, o meu grito de guerra: SELVA! CONTACT! BRASIL!!!.
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