por Janer Cristaldo
Ainda há pouco eu comentava uma notícia alarmante: metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga 2ª série) do ensino fundamental em escolas públicas e privadas não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6%, em escrita; e 57%, em matemática.
Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em um texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital ou calcular operações envolvendo intervalos de tempo; não identificam um polígono nem reconhecem centímetros como medida de comprimento.
Na ocasião, republiquei crônica de 1977, na qual eu manifestava meu espanto ante uma funcionária dos correios, que precisou usar uma calculadora para subtrair 20 de 31. Minha crônica tem 34 anos de idade. Ou seja, há mais de três décadas um funcionário público não conseguia fazer uma subtração banal sem recorrer a uma máquina eletrônica. De lá para cá, o ensino só tem se degradado.
Mas ainda acabaremos sentindo saudades do analfabetismo contemporâneo. Em maio passado, provocou celeuma o livro Por uma Vida Melhor, adotado pelo Ministério da Educação, que considera ser válido o uso da língua popular, ainda que com seus erros gramaticais. Dizer "Nós pega o peixe" ou "os menino pega o peixe", seria aceitável. Para quem não tem escola, sem dúvida é aceitável. Mas a escola existe para ensinar os alunos a falar corretamente. Se não ensina, não tem porque existir. Um livro, adotado pelo MEC, não pode abrir tal exceção.
O pior ainda está por vir. Leio na Folha que o Estado de São Paulo reduzirá a carga horária das aulas de português e matemática para aumentar o espaço de outras matérias. No ensino médio matutino, por exemplo, o aluno que está na rede hoje deverá ter assistido a 560 aulas de português quando se formar. Pela proposta, se ele escolher ênfase em linguagem, serão 440 aulas (20% menos). No currículo com ênfase em matemática, seriam 400 aulas e 360 em humanas.
Por outro lado, todos os estudantes terão carga maior de física, química, filosofia e sociologia, que hoje chegam a ter apenas uma aula semanal.
Ora, se com 560 aulas de português os alunos saem da escola apenas balbuciando o vernáculo, imagine o leitor como sairão com 120 horas a menos. Português e matemática são as matérias fundamentais de qualquer escola. Se você não conseguir expressar-se corretamente ou entender um texto, ou dominar pelo menos a tabuada, você não vai longe na vida. A menos que opte pela política. Aí poderá ser até mesmo presidente.
Quanto a física ou química, quem de nós lembra das leis da termodinâmica ou de alguma formula química? Eu não lembro mais. Só gente do ramo, médicos, físicos ou engenheiros retêm tais conhecimentos. Eu, que desde jovem tinha uma propensão às humanidades, nunca entendi porque tinha de aprender leis da física ou da química. A única lei da qual lembro hoje é a da gravidade. O que estudei de história ou geografia até hoje me acompanha. De física e química, devo confessar que pouco ou nada me serviu.
Quanto à filosofia, isto é coisa que não existe. O que existe é a história da filosofia, que começa lá nos antigos gregos, evolui no tempo e se tornou hoje esta disciplina confusa, cujo sentido é procurar o sentido da filosofia. Filosofia, assim sem mais nem menos, só existe para os marxistas. Para estes, a única filosofia permissível é o marxismo e todos os demais rumos do pensamento não têm sentido algum. Não por acaso, os cursos todos de filosofia são dominados pelas viúvas do Kremlin.
Como também os de sociologia. Sociologia, desde sempre, foi um laboratório de marxismo. A decisão dos burocratas paulistas, no fundo, está privilegiando a masturbação intelectual, em detrimento do ensino que é fundamental para a vida. Com a alteração — leio na Folha — o governo tira carga de matérias em que os alunos têm problemas. Prova da secretaria aponta que 38% estão abaixo do esperado em português e 58% em matemática. La solución de un problema muchas veces es muy simplona, dizia um de meus professores em Madri. Se os alunos estão abaixo do nível esperado em português e matemática, é simples: reduz-se o número de horas/aula. Para que complicar, quando se pode facilitar?
Melhor mesmo, só eliminando essas disciplinas chatas do currículo. Afinal, ninguém precisa delas para ser presidente da República.
Fonte: Janer Cristaldo
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