por Márcio Accioly
É possível que a crise econômica a se abater sobre o planeta promova, finalmente, algum tipo de mudança no Brasil. Torçamos para que traga saldo positivo. Num país dirigido de fora para dentro, onde as chamadas autoridades sabem quase nada de coisa nenhuma, providências, como se sabe, demoram além das medidas.O presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP), depois de classificar o início da tempestade econômica como “gripezinha”, “marola” e “marolinha”, ainda não se fixou na impressão de ter exata consciência da gravidade do cenário que se vive.
Não se sabe a razão de o Brasil estar sempre na contramão de todos os outros países: enquanto os juros são reduzidos nos diversos quadrantes, os nossos não param de subir. A população está sendo garroteada alegremente, sem tugir nem mugir.
Ainda bem que não existem fissuras no chamado Estado Democrático de Direito. Na madrugada de sexta-feira (10), o “empresário” Marcos Valério foi preso outra vez em Belo Horizonte, numa operação chamada de Avalanche, deflagrada pela Polícia Federal.
Admira o fato de ele, na ocasião, não estar com habeas corpus preventivo no bolso, verdadeiro descuido que terminou por encaminhá-lo às grades. Marcos Valério, como alguns recordam, foi acusado de ser operador do mensalão, escândalo em que o governo supostamente pagava a parlamentares para aprovar projetos de seu interesse.
Ao ser preso naquela ocasião, o “empresário” mandou recado para altas figuras da administração federal, ameaçando contar o que sabia se não fosse solto imediatamente. Comportamento igual ao do então senador Luiz Estêvão (PMDB-DF), cassado e preso, mas imediatamente solto depois de ameaçar “derrubar a República”.
Apesar de condenado pela Justiça, Luiz Estêvão continua solto. No mês passado, uma casa de sua propriedade foi fechada pela Polícia ao se constatar que ali funcionava, em plena Península dos Ministros (Distrito Federal), um cassino. São coisas que se forem contadas por aí o cidadão pode até ser chamado de mentiroso.
Mas tudo finalmente é válido para se conseguir o desejado. E o envolvimento do público com o privado não tem delimitação. Todos se recordam do artigo escrito pelo hoje ministro Mangabeira Unger, publicado na Folha de S. Paulo do dia 15/11/05, dizendo ser “o governo Lula o mais corrupto de nossa história nacional”.
Da mesma forma que existem artigos contra, cartas a favor são também contabilizadas: o noticiário informa que o deputado federal Eduardo Paes (PMDB), que disputa com Fernando Gabeira (PV) o segundo turno das eleições municipais no Rio de Janeiro, enviou missiva chorosa a Dom Luiz Inácio com pedido de desculpas.
O parlamentar, quando no PSDB, combateu duramente o presidente da República, a quem chamou de “omisso” e “mentiroso” na CPI dos Correios, além de “chefe de quadrilha”. Sem contar que defendeu investigações “sobre o contrato da Telemar com a Gamecorp, empresa do filho do presidente, Fábio Luiz Lula da Silva.”
Eduardo Paes negou que tenha escrito a Dom Luiz Inácio. Dizem que escreveu mesmo a dona Marisa Letícia, mulher do presidente, a qual não perdoa o parlamentar por causa das acusações ao filho.
Carta por carta, Eduardo Paes poderia citar companhia ilustre. O artifício foi muito usado para alcançar objetivos. O escritor francês Voltaire, anticlerical e agnóstico, escreveu ao papa Bento XIV (1745), “beijando humildemente seus sagrados pés” e implorando a bênção. Queria a Academia Francesa e terminou conseguindo.
Nossos políticos querem apenas gerenciar recursos financeiros públicos.
Márcio Accioly é Jornalista.
Fonte: Alerta Total
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