por Francisco Miranda
Segue abaixo, texto enviado pelo Pesquisador Rigoberto Souza Júnior sobre a atuação e morte de umas das figuras lendárias do Exército Brasileiro e um Herói Brasileiro de primeira grandeza.
Passados alguns anos da Campanha da FEB na Europa, em suas considerações o Coronel Raul da Costa Mattos, se questionava da real necessidade de se levar Aspirantes para o Teatro de Operações da Itália, pois se por um lado há afoiteza e impetuosidade do jovem, falta-lhe bom senso dos homens maduros. Quando o navio aportou em Nápoles, onde a crueza da guerra se mostrava com todas as suas cores, causando impacto no mais calejado militar, nos trazia a preocupação de pelo fato de não ter ido um contato mais próximo com os soldados, pois só na teoria estávamos preparados a comandar. O Aspirante, na carreira militar, vive a fase de transição, em que diante de casos práticos, só lhe vem à mente a teoria da difícil arte de comandar, e dentro desta ordem de ideias, o que dizer a um futuro Aspirante, para que lhe sirva numa contingência igual à vivida na 2ª Guerra Mundial.
A cidade de Montese, que no consenso do IV Corpo, foi a posição mais duramente atingida e bombardeada pelos alemães desde Monte Casino, foi o palco trágico da perda de uma vida preciosa: a do Aspirante Mega, carioca do Regimento Sampaio, sendo o único Aspirante a oficial tombado em combate, egresso da Escola Militar do Realengo, de onde havia saída há apenas três meses.
O alemão se alojou numa posição, num último esforço de barrar a arrancada da 10ª Divisão de Montanha – linha de frente do IV Corpo, e que a FEB deveria cobrir, atacando aquela pequena cidade que se postava ao lado da Divisão Americana. Esta ação coube ao regimento Tiradentes, que por sua vez, era coberto ao Norte pelo Batalhão Syzeno do Regimento Sampaio, que participou daquela sanguinolenta batalha, por três longas jornadas, e devido ao pesado número de baixas, ficou conhecida pelos que lá combateram como a “cidade da torre sinistra”.
O principal Herói desta Batalha foi o Aspirante Mega, que já fizera três lances vitoriosos por entre a fuzilaria, as minas e granadas, além do inferno imposto pela pesada artilharia do Exército Alemão. O ápice da luta se deu por volta das três da tarde de 14 de Abril de 1944, quando a cidade de Montese fumegava diante da artilharia da Força Expedicionária Brasileira, enquanto nossos infantes progrediam pelas encostas, repletas de casamatas, destruindo-as uma a uma.
Impulsionados pelo vigor do Aspirante Mega, o seu Pelotão rompia os campos minados rumo à cota 778, seguido pelo Pelotão Amorim (que ainda não havia sido ferido), que os apoiava com seus fogos, por ordem do Capitão Vargas, comandante da Companhia. Em sua empreitada, o Aspirante Mega se defronta com uma casamata alemã, detém-se por alguns momentos, preparando sua bazuca e dispõe sue Pelotão para o assalto final. Neste momento um estilhaço de granada o acerta em cheio. Tomba, tenta erguer-se e tomba novamente. Seus homens vacilam diante do Chefe ferido, e ele percebendo, antes que o assalto não se iniciasse e seus homens fossem trucidados pelos alemães, chama seu Adjunto, o Sargento Agenor, que se aproxima com os olhos marejados, encarando-o serenamente, e ordena que assuma o comando, dizendo: “Por que estão parados diante de mim? A guerra é lá adiante, estou aqui por que quis, se vocês estão sentidos com o que aconteceu, se vinguem, acertando o Comandante deles. De nada valerá o meu sacrifício, se não conquistarem o objetivo. A minha vida nada vale. A minha morte nada significa diante do que vocês ainda tem por fazer. Prossigam na luta…”
E apontando para o inimigo, o Aspirante Mega lançou seus bravos para frente, pedindo apenas um soldado para acompanhá-lo em suas orações. Ele morreu contemplando, heroico, o último ataque que o Pelotão fazia sob seu comando.
A Associação Nacional dos Veteranos da FEB - Regional Pernambuco, tem orgulho de ter a efígie do Aspirante Mega, estampada em uma de suas medalhas, pois citando o Estadista e General Grego Péricles, do século V A.C. e grande artífice do apogeu da Grécia Antiga, berço da Arte Militar Ocidental.
“Os que morrem por seu País o servem mais num só dia, do que os demais em todas as suas vidas”.
Este post é dedicado a todos os amigos da Associação dos Oficiais da Reserva do Recife –AORE e a todos que compõem o corpo do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva –Recife.
Bibliografia:
- “Do terço Velho ao Sampaio da FEB” - Ten Cel Nelson Rodrigues de Carvalho – Bibliex – 1953
- “A presença do Brasil na 2ª guerra Mundial” – Cel Raul Mattos Simões
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