por Ary dos Santos
Brasília completou 50 anos. Conheci a Capital, a passeio, entre 19 e 23 de abril de 1960. Cinco meses depois seria transferido para cá, diga-se de passagem, contra meus desejos pessoais pois gostava muito do 10° RI e de Juiz de Fora. Aqui já se fazia presente a 6ª Cia de Guardas de Infantaria assentada nas proximidades do Palácio da Alvorada marcando a presença do Exercito Brasileiro no novo projeto. Em 21 de abril, do histórico desfile da inauguração da cidade, com a presença das mais altas autoridades, participou um Destacamento de Infantaria com cerca de 90 homens que fazendo “Alto!” frente ao palanque presidencial, aguardou que o seu comandante — Cap Inf Lauro Magalhães de Castro AMORIM (Turma 1949) — se dirigisse ao palanque e entregasse um documento de saudação da primeira capital a nova sede do Governo. O ”Dst. Amorim” chegara e acampara nas proximidades da Cia de Guardas, no dia 19 — é impressionante! — encerrando uma marcha mista iniciada em Salvador, num total de 1.818 km.
Deixemos que, com a devida autorização, fale por nós o relatório do Cap Amorim que, como bom documento militar é simples, objetivo e verdadeiro. Apenas ressaltamos que a operação realizada em uma época quase sem estradas e quando inexistiam celulares, GPS e helicópteros, compreendeu 1.109 km rodoviários (Salvador-Bom Jesus da Lapa); 115 km a bordo do “Barão de Cotegipe” (B. J. da Lapa–Cariranha) e 685 km a pé, em 29 dias (Cariranha–Brasília).
Na leitura do documento pode ser percebida, ao lado de sua simplicidade, a extensão da magnitude da operação.
O feito militar de forma simples ali relatado é, na visão do conceituado historiador Cel Claudio Moreira Bento (“O combate de Jenipapo” – 2009 ) comparável á marcha do Maj Fidié, Cmt Das Armas (portuguesas) do Piauí, nas suas lutas contra a independência do Ceará, Piauí e Maranhão.
Juntemos a esses dados sucintos a participação do Gen Pessoa Cavalcanti no Planejamento de Brasília, magnificamente apresentada, há algum tempo atrás, na TV, pelo jornalista Alexandre Garcia e que, nos últimos dias, voltou a ser difundida em e-mails. Aquele competente oficial deixou lançadas, entre outras, as ideias dos “dois eixos ortogonais’ (Eixo Monumental e Eixo Rodoviário) e das simpáticas “tesourinhas”, hoje marcas registradas do sistema viário da Capital e demitiu-se das funções inconformado com o que apontava como descaso pela legalização dos problemas fundiários da área do futuro Distrito Federal (visão antecipada de um problema que vem se concretizando ao longo dos anos...).
Temos assim, resumidamente, a presença histórica, marcante e positiva de Instituições, Oficiais e Praças em fases importantes de Brasília, ou seja:
— no seu Planejamento, com a presença lúcida do Gen Pessoa Cavalcanti, também responsável, é bom lembrar, na década de 40, pela implantação da Academia Militar de Agulhas Negras;
— na sua Construção pela presença pioneira e dedicada da 6ª Cia de Guardas de Infantaria; e
— na sua Alvorada Oficial, com a presença do “Destacamento Cap Amorim”, que após feito singular e louvável, trouxe, em mãos, o abraço fraterno da primeira Capital à Brasília, na figura de seu fundador.
Não chegou a mim, nem a vários colegas com os quais conversei, nenhuma manifestação do nosso EB sobre esses assuntos. Creio que foi uma oportunidade ímpar de projetar, positiva e concretamente, a figura da instituição verde-oliva no cenário nacional em importantes fatos históricos recentes.
Que se saiba nada foi feito para evocar, realçar, louvar mesmo, essa participação que, queiramos ou não, fazem parte intrínseca das Historias do Brasil e do EB.
Atestam a presença física do nosso EB na estratégica decisão de “se voltar para o interior” que, mesmo tendo enfrentado forte reação, na época, constitui-se, acima dos eventuais erros e acertos, em memorável jornada histórica.
Nada foi lembrado! Nem inserido na festa popular da cidade, nem mesmo em manifestação mais restrita dirigida ao Publico Interno!
É possível que a Força tenha tido alguma razão para isso, embora, necessariamente “Há que se comemorar” as atividades militares ao longo dos tempos, plenamente reconhecidas, no mínimo, por se tratarem da Historia do Exercito que não é de ninguém é de TODOS os que lutaram e lutam, dentro de suas possibilidades, pela sua consecução.
Deixemos de lado o aspecto financeiro, pois mesmo que a Força não disponha de recursos para a alimentação do seu efetivo durante o ano de instrução, as chefias e respectivos auxiliares diretos seriam competentes para planejarem alguma comemoração perfeitamente factível e adequada ao momento e ao valor histórico da participação do Exército.
Passamos tristemente em branco!
Só nos resta, lembrar o Cel Bouchacourt (Ensaio sobre a psicologia da Infantaria – 1933) quando se referia a merecida estátua para o Tenente de Infantaria :
“... Que o deixem desconhecido e que o digam morto ...
para desencorajar a inveja e para fixar o momento de fastígio, sem temor de que o derrubem mais tarde ...”
para desencorajar a inveja e para fixar o momento de fastígio, sem temor de que o derrubem mais tarde ...”
Ary dos Santos é Oficial da Turma Inf 1958
Recebido por correio eletrônico
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