por Celso Arnaldo Araújo
É só cavoucar um pouco que vão aparecer rendimentos que credenciam Palocci à lista da Forbes no ano que vem. Seria o primeiro médico do clube dos bilionários da revista americana — detentor de uma especialização única que o autoriza a cobrar a consulta mais cara do mundo.
Imagina-se sua fenomenal capacidade de amealhar fortuna pela atitude de seus clientes quando avisados de que ele fecharia o consultório para assumir o hospital: todos entraram na fila do caixa para quitar integralmente os serviços interrompidos — daí seu espantoso faturamento de 10 milhões nos dois meses que se seguiram à eleição de outubro de 2010.
Detetives experimentados costumam se gabar da solução de crimes com fins pecuniários com a velha fórmula “follow the money”, “siga o dinheiro”. No caso de Palocci, o enigma não está na origem e no montante dos milhões arrecadados por seu consultório, que aos poucos virão à tona para formar uma pilha de dinheiro jamais sonhada pela gulosa petralhada. Mas a contrapartida para os fees milionários, isto é, o inteiro teor do serviço prestado, talvez nunca venha a ser esclarecida, apesar da enorme curiosidade que desperta:
*Como Palocci divulgou o Projeto para os possíveis interessados? Anúncio no jornal? Boca a boca? Facebook? Twitter? Fumaça? Telegramas? “Gente, o Palocci abriu uma consultoria!”. Como essa informação chegou ao mercado?
Exatamente para que minha empresa pagaria milhões a um ex-ministro da Fazenda, agora deputado federal da base aliada, sem demitir toda a minha diretoria por incompetência e desídia? Dicas de investimento? Planilhas financeiras sobre a evolução e as perspectivas da Taxa Selic? Sugestões de áreas para novos lançamentos imobiliários? Um encontro exclusivo com o Bill Gates, o Warren Buffet ou o Carlos Slim para eu lhes propor um negócio? Enfim, o que minha empresa comprou dele?
Será uma infâmia desconfiar que o grosso da consultoria prestada pelo deputado Dr. Palocci, sem o auxílio de um único funcionário graduado, não consistiu de relatórios, laudos, papers, palestras, power points — mas apenas de seu dedo gordo teclando números privativos de telefone de gente ainda mais gorda nos subterrâneos do governo que ele frequenta com desenvoltura e repeitabilidade há oito anos?
Independentemente das respostas, que provavelmente nunca surgirão, o fato é que o mensalão agora deve ser colocado em sua devida perspectiva: o escândalo Palocci é um calendário gregoriano completo. É a mãe de todas as corrupções do império petista. Que me desculpe o caseiro — agora o problema é a nível de mordomo. Não é um projeto de escândalo — mas uma obra acabada. O governo Dilma, nascituro doentio, estará inviabilizado com Palocci se ainda houver alguma resistência neste país.
Por enquanto, por incrível que pareça, está mais fácil confiar no poder inconfiável do “fogo amigo”. Se havia ainda alguma dúvida sobre a origem da denúncia que destampou o bueiro, é só dar uma passada pelo blog do Paulo Henrique Amorim — que faz o do Luis Nassif, funcionário do PT, parecer um bastião feroz da oposição. Em circunstâncias normais, PH estaria almoçando um PIG com o Palocci, num domingo espetacular. Mas, não. Eis o que ele escreveu sobre o braço direito da presidente Dilma:
“O Palocci é um fardo desde o caseiro. Agora, se tornou incarregável. Palocci, vá ser vereador em Ribeirão! Deixa a Dilma trabalhar!”
Eu, se fosse o Palocci, já daria alguns telefonemas para Ribeirão Preto.
Fonte: Augusto Nunes
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