por Janer Cristaldo
Quando compro um jornal, jogo fora imediatamente dois cadernos, o de esportes e o de economia. O primeiro, porque esportes se reduziu a futebol no Brasil e detesto futebol. Dentro de trinta minutos, estarei batendo ponto em um simpático botequinho, onde vou limpar a serpentina aos sábados e domingos, antes de dedicar-me à bona-xira. Invariavelmente, todo santo sábado e domingo, lá reúne-se uma mesa onde há um único assunto, futebol. Eles são incapazes de falar de viagens, cinema, amizade, mulheres. Só futebol. Sempre procuro manter uns bons dez metros de distância dos fanáticos, para não ouvir besteiras.Não que deteste o esporte em si, aliás o considero um esporte bonito e inteligente. O problema são as multidões e o fanatismo que gera. Jamais entrei em um estádio. Enfim, a bem da verdade, certa vez entrei em um, em construção, para fazer uma reportagem. Foi em janeiro de 1969, creio. Estava começando como repórter no Diário de Notícias, de Porto Alegre, e “seu” Olinto, o diretor de redação, me chamou:
— Janer, vai até o Gigante da Beira-Rio ver o andamento das obras.
Minha resposta quase custou-me o emprego:
— Certo, “seu” Olinto! De que time é mesmo esse estádio?
Perplexidade na redação. A sala era enorme, tínhamos de falar alto. Os redatores não acreditavam no que haviam ouvido. Do setor de esportes, voou pela redação uma pergunta indignada do editor:
— Tu não sabes a que time pertence o maior estádio particular do mundo?
Não sabia. Aliás, sabia até demais para minha erudição na área. Sabia pelo menos que o tal de Gigante tinha algo a ver com futebol. Essa foi a única vez que entrei em um estádio. Não por preconceito. Eu até que era bom no esporte, me lembro que certa vez fiz um gol. (Milagres acontecem! Meus colegas não conseguiam acreditar no que haviam visto). Ocorre que multidões me horrorizam, sejam quais forem. Se uma multidão vai para o sul, eu rumo ao norte. Pela mesma razão, jamais assisti a uma tourada. Os réveillons quase sempre me pegam nalguma capital européia. Em vez de comemorar na rua com a multidão, me refugio no quarto do hotel.
Quanto ao caderno de economia, eu o jogo fora por duas razões. Primeiro, nada entendo de economia. Já entendi o mistério da Santíssima Trindade, mas até hoje não consigo entender a oscilação das bolsas. Por que razões, quando um banco quebra nos Estados Unidos, o índice Bovespa cai? Por que quando uma sumidade americana faz um discurso, a Bolsa sobe? Como é que se fecham grandes negócios com simples gestos de mão? Mistério profundo. Segundo, por mais que eu leia sobre economia, isso não vai afetar minha economia pessoal. Não sou grande investidor, não sou empresário, não sou administrador. Então, nada tenho a ver com tal caderno.
Meu consolo foi o que ouvi certa vez de um amigo, redator de economia da Folha de São Paulo:
— Nós redatores de economia, não entendemos nada de economia. Mas descobri outra coisa: os economistas também não entendem.
O que é óbvio. Se entendessem, uma crise financeira jamais surpreenderia alguém. Assim sendo, é com satisfação que leio, no El País de hoje, esta declaração de Jean Daniel, diretor de redação do francês Nouvel Observateur:
Hemos perdido los instrumentos de previsión; eso es lo más novedoso. No hay ciencia económica, no hay conocimiento analítico financiero: se han equivocado todos. Desde hace diez años se han equivocado todos. Hemos perdido los instrumentos de previsión y nos faltan paradigmas. Estoy rodeado de jóvenes economistas, muy seductores y muy simpáticos, pero si los reúno no saco nada en claro. Primero, porque no están de acuerdo entre ellos y cuando están de acuerdo no saben qué va a pasar. Levi-Strauss me lo ha dicho y lo he escrito: la ciencia es importante, todo el mundo se alegra de ello, pero nada es verdadero porque el mundo se ha vuelto imprevisible. Eso decía.
Bom saber que não sou só eu que não entende de economia.
Fonte: Janer Cristaldo
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