Alberto de Jesús Morales Morales, alias "Pájaro" - El Colombiano |
Com a desmobilização de "Pájaro" ("Pássaro"), o segundo em mando da "companhia Felipe Paternina" da frente 36 das FARC, esta quadrilha pode se extinguir.
Só o fato de que "Pássaro" ou Alberto de Jesus Morales Morales tenha abandonado as filas da narco-guerrilha desmoralizaria os demais bandidos que teve sob seu comando, o que os levaria a tomar o caminho da desmobilização.O criminoso explicou que sua saída da frente 26 das FARC se deu "por que na guerrilha não vemos futuro. Sabemos que temos a luta perdida, as Forças Militares são muito grandes e possuem uma Inteligência muito forte. E a isso se soma a tecnologia".
O guerrilheiro contou que alguns de seus companheiros "querem vir de lá por que não vêem um futuro claro. Eu convido a "Olmedo", a "Pecueco", a "Ficha", a "Marcelino", e ao "Primo", que não sigam com essa luta que já está perdida".
Por isso, às 02:30h da madrugada de terça-feira (8/2), entre os distritos de Madreseca e Las Cruces, "Pássaro" deu adeus a 17 anos de militância nas FARC e se entregou às tropas da XIV Brigada.
Sete meses em seu rastro
"Pássaro"caiu por que foi atacado em seu ponto fraco. Com mensagens difundidas desde um helicóptero por sua amante, conhecida por "Catalina", ele era convidado a desmobilizar-se.
"Venha daí para ficarmos os dois juntos. Eu estou bem e tu também podes ficar", dizia a jovem desde a aeronave. A idéia agradou a "Pássaro".
Fontes da Inteligência Militar confirmaram que as buscas ao bandido já duravam sete meses.
Começou com um informante que tinha acesso à frente 36. Após infiltrar a frente, conseguiram identificar as coordenadas de sua localização e foi dado o aviso à Brigada e à VII Divisão de Exército. Ele estava no distrito de Tacamocha.
Em 29 de janeiro foi feita uma Operação da Força Aérea com o Exército. O General Alberto José Mejía, Comandante da IV Brigada, declarou que naquela ocasião foram capturados três guerrilheiros, entre os quais havia dois menores de idade: "Catalina" de 15 anos, amante de "Pássaro"; "Pedro", de 14 anos; e "Henry", de 21 anos. "Pássaro" escapou do ataque aéreo.
Mas ficou ferido e angustiado. Se sentiu tão desesperado que começou a pensar em deixar a guerrilha, principalmente quando o Governo Colombiano ofereceu 100 milhões de pesos (cerca de 100 mil reais) por sua cabeça e, segundo a Inteligência Militar, "alguns companheiros pensavam em entregá-lo".
"Enviava mensagens por guerrilheiros rasos", afirmam fontes oficiais. Localizado novamente por agentes da Regional de Inteligência nº 7 da CTI, "nos damos à tarefa de convencê-lo a desmobilizar-se", disse o General Mejía.
As Autoridades coincidem ao assinalar que com a perda de "Pássaro" se abre uma brecha na estrutura na frente 36 por que, além de tudo, ele era o representante da quadrilha nos negócios ilegais e nas extorsões.
"Pássaro" convidou a população de Anori a não apoiar às FARC, por que, segundo ele, a guerra está perdida e não há esperança de triunfo.
Com esta desmobilização, a estrutura das FARC no nordeste de Antioquia, sem dúvida, estará quebrada. Agora, a investida das Forças Militares buscará dar o golpe final um uma região chave, utilizada nas últimas décadas para as ações da guerrilha.
"Na Frente 36 há muito medo", disse "Pássaro"
Em entrevista ao jornal El Colombiano, Alberto de Jesús Morales Morales, o "Pássaro", falou da frente 36 das FARC, sua estrutura, a rota que utiliza para conduzir a coca, o recrutamento de menores de idade e sua passagem pela guerrilha. Deixou claro que essa quadrilha não passa por seus melhores dias.
Como está a frente 36?"Lá há muito medo e o comandante (Ánderson) anda muito preocupado. São muito poucos os guerrilheiros, mais ou menos 30 homens e há muitas mulheres. Há gente nova e não se pode contar com eles. Estão cercados pelo Exército e não há comida nem provisões. Tem muita gente irritada".
Como são obtidas as provisões e alimentos?
"Alguns campesinos levam a comida por que são obrigados. Eles (os guerrilheiros) lhes dizem que tragam o 'mercado' se não arcarão com as consequências".
Há menores de idade?
"Sim, muitos. Eles seguem recrutando menores de idade e as origens são de distritos como Tenche, La Concha, Las Cruces e até de Bricenho quando os comandantes determinam".
É dado treinamento militar aos que ingressam?
"Lá não há treinamentos. Dão umas instruções de regulamento e disciplina, porém não há treinamento militar. Lhes entregam os uniformes e o fuzil e estão prontos para a guerra".
Executam guerrilheiros?
"Aos que fogem e são pegos são feitos conselhos revolucionários de guerra e os matam".
Há mulheres grávidas?
"Não, lá são obrigadas a abortar. Só a mulher do comendante pode ter filhos. A desmobilização da minha irmã foi por isso, por que iam obrigá-la a abortar. Ela fugiu e pode ter seu bebê".
Continuam semeando minas anti-pessoal?
"Há muitas minas 'quebra-patas', por que não há condições de enfrentar as Forças Militares".
Como é financiada a frente 36 das FARC?
"Com a coca e a cobrança à mineração, que são suas principais fontes. Mensalmente se recolhem entre 30 a 50 quilos de mercadoria e se recolhem 100 ou 130 milhões de pesos (cerca de 100 a 130 mil reais) semanais. Some-se a isto as extorsões às retroescavadoras que são cerca de 40 milhões de pesos (40 mil reais)"
Por onde sai a coca?
"Essa mercadoria sai pelo corredor que vai ao distrito Las Cruces, sai a Charcón e vai até Zaragoza".
Qual era a importância de "Pássaro" na frente 36 das FARC
Um prontuário de 17 anos na guerrilhaAlberto de Jesús Morales Morales, alias "Pájaro", entre otras "tarefas" tinha a seu cargo a comissão de finanças e organização de massas da "companhia Felipe Paternina" da frente 36 das FARC. Era o segundo no mando.
Especialista em explosivos e com fama de ser cruel com a Força Pública, "Pássaro" esteve 17 anos militando nas FARC e era o encarregado da comercialização da pasta base de coca, da cobrança de extorsões a mineiros pelo uso de máquinas para exploração de ouro, e da cobrança de "vacunas" ("vacinas" = propinas) aos proprietários de sítios da região. Instalou minas anti-pessoal que vitimaram mais de 20 militares. Planejou, segundo as autoridades, atentados às torres de energia em municípios como San Andrés de Cuerquia, Ituango e Anorí.
É acusado de carregar um ônibus com explosivos em novembro passado, na rodovia entre Medellin e Anorí, e de organizar o deslocamento massivo de 5.200 campesinos (para protestar em Anorí). Teria mandado matar a Freddy Esteban Espinoza que recusou-se a participar do protesto.A influência na suspensão de Porce IV
A EPM (Empresa Pública de Medellin) suspendeu em dezembro passado o projeto da hidrelétrica Porce IV, na qual ia investir 2 bilhões de pesos (cerca de 2 milhões de reais), por razões de "força maior", ou causas de ordem pública.
Segundo as autoridades, 371 hectares de cultivos ilícitos seriam submersos pela represa e uns 1.400 outros ficariam na zona de proteção da obra.
O cultivo e produção da pasta base de coca é o negócio mais lucrativo que há na zona de atuação da frente 36 das FARC, chefiada por "Anderson", que tinha "Pássaro" como seu homem de confiança.
A construção de Porce IV ia converter-se em um obstáculo ao corredor de drogas e armas formado pelo Baixo Cauca, Norte e Nordeste de Antioquia, usado para levar o alcalóide às zonas costeiras e, dalí, aos mercados internacionais. Dessa forma, faz sentido a ordem que o comando das FARC deram a "Pássaro" para que "inundem isso abaixo", ou seja, os terrenos de Porce IV (mediante sabotagens), segundo interceptações de telefonemas feitos pelos órgãos de Inteligência.
Autor do deslocamento forçado em Anorí
Cerca de 5.200 campesinos se deslocaram até a área urbana de Anorí em 24 de janeiro passado, por pressão da frente 36 das FARC por meio de dois de seus comandantes, "Olmedo" e "Pássaro", e permaneceram em um parque da cidade até o dia 1º de fevereiro.
Os lavradores foram conduzidos desde seus distritos em ônibus cujos proprietários também foram pressionados pela guerrilha.Líderes de diferentes distritos argumentaram que se deslocaram por que não concordavam com a fumigação dos cultivos ilícitos, o fechamento de minas ilegais, a falta de estradas e a suspensão do projeto de Porce IV.
Para atender a emergência, o DAPARD (Departamento Administrativo do Sistema de Prevenção, Atenção e Recuperação de Desastres), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e outras entidades entregaram alimentos e cobertores aos manifestantes, que regressaram aos seus locais de origem depois de seus líderes se reunirem com o governo de Antioquia.
Os campesinos se comprometeram a não semear coca e o governo a cessar as fumigações na região.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO: as autoridades colombianas tem interesse nas informações que esse bandido pode fornecer sobre a estrutura e localização de lideranças da narcoguerrilha, mas não se pode confiar no arrependimento desse sujeito que, aparentemente, só entregou-se às autoridades quando se viu perdido, com sua quadrilha se esfacelando e na iminência de ser traído pelos próprios companheiros. Faço votos de que ele seja processado devidamente e cumpra uma boa pena antes de ser considerado "desmobilizado".
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