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Nos últimos quatro anos, as autoridades confiscaram mais de 50 computadores da guerrilha. SEMANA teve acesso à maioria deles, onde se evidencia a crítica situação militar, psicológica e econômica que a quadrilha atravessa.
"Os segredos das FARC se perderam". Esta foi uma das últimas frases de Manuel Marulanda Vélez, vulgo "Tirofijo" (Tirocerto), que estava em uma extensa carta escrita pelo fundador do grupo criminoso, lida por "Mono Jojoy" ante um grupo de militantes (meliantes). O Fundador das FARC se referia às graves consequências que teriam para eles o confisco de vários computadores durante a Operação Xeque, em março de 2008, no acampamento de "Raul Reyes", na qual este foi morto.Nos últimos quatro anos, as autoridades confiscaram mais de 50 computadores da guerrilha. SEMANA teve acesso à maioria deles, onde se evidencia a crítica situação militar, psicológica e econômica que a quadrilha atravessa.
O que o velho guerrilheiro não sabia é que, apesar dos PC de "Reyes" poderem efetivamente ser considerados a "joia da coroa" pelo volume de informações que eles contém, eles não são os únicos computadores com grandes segredos dos narcoguerrilheiros que terminaram nas mãos das autoridades. Nos portáteis de "Reyes" existe valiosa informação, parte da qual já de conhecimento público, onde são revelados desde planos terroristas e vínculos com traficantes de drogas e armas, até alianças e apoio de governos estrangeiros. Mas há muito mais.
Somente entre 2005 e 2009, foram confiscados em diferentes locais 42 PCs e mais de uma centena de dispositivos de armazenamento de dados como "pen-drivers", disquetes e memórias portáteis entre outros.
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SEMANA teve acesso à maioria desses computadores e é claro que sua importância está não só na quantidade de dados que eles contém, mas nas revelações que fazem. Centenas de homicídios, recrutamentos forçados e abusos de menores de idade, narcotráfico, forte debilidade militar e uma espantosa campanha de assassinatos em suas próprias filas fazem parte de fatos documentados pelas próprias FARC.
Tudo isso vêm à luz devido a que, ironicamente, os avanços em tecnologia se converteram no pior inimigo dos segredos melhor guardados pelas FARC. Ante à pressão das forças de segurança e o aumento das operações em grande parte do território, os chefes das diversas quadrilhas das FARC buscaram compensar as dificuldades de mobilidade para reunirem-se, trocando dados e informações pela Internet.
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Desde 2004, quando foi capturada a chefe de finanças do Bloco Sul, Nayibe Rojas, vulgo 'Sonia' e seu computador portátil, revelando uma detalhada relação dos negócios de narcotráfico daquela fração das FARC, e especialmente entre 2007 e 2009, as operações contra importantes chefes guerrilheiros se intensificaram. E com elas as apreensões de computadores e dispositivos de informática onde os próprios integrantes das FARC registraram segredos escabrosos que nunca imaginaram que seriam conhecidos e que permitem fazer uma radiografia verdadeira do grupo. São mensagens eletrônicas, arquivos em "Word" e "Excel", informes, manuais, vídeos e milhões de fotografias onde se evidencia, inclusive para os próprios guerrilheiros, a acelerada decomposição interna e os duros golpes que vêm recebendo.
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Prova disso se vê nos três PCs e nos 42 "pen-drivers" apreendidos do chefe da Frente 43, Gener Garcia, em setembro de 2008.
Conhecido como "John 40", ele é o chefe de uma das facções mais envolvidas com o narcotráfico e que atua no oriente colombiano. As fotos e documentos existentes nos equipamentos evidenciam que seu perfil era mais ajustado ao de um "tramposo" típico que ao de um "revolucionário". Gastava milhões de pesos em excentricidades mafiosas como comprar cavalos e cães de raça, gravar discos de músicas com apologia à narcoguerrilha e custear luxuosos trajes para ele e seu grupo musical.
Em vários documentos de Excel com sua contabilidade também estão detalhados 122 milhões de pesos que o subversivo gastou entre 2006 e 2007 para custear viagens aéreas para prostitutas que fazia levar desde Antioquia e Eixo Cafeteiro até seus acampamentos em diferentes zonas de La Macarena. Na relação de gastos também há registros de pagamento de cirurgias estéticas para algumas de suas mulheres.
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"Nosso calcanhar de Aquiles é a débil formação dos mandos (chefes) médios e inclusive de membros de estados-maiores das frentes (...). Mais que os méritos do inimigo, esta é a causa da grande maioria dos golpes que temos recebido. Falta dom de mando com caráter. (...) As relações entre os próprios mandos e entre estes e os guerrilheiros devem ser reimplantadas. Se vê muita frouxidão, cumpincharia, alcaguetería, amiguismo. Há que promover a renovação e fazer um esforço para incorporar gente nova". Este é um trecho de um dos correios encontrados no computador de Manuel de Jesús Muñoz, vulgo 'Iván Ríos', chefe do Bloco José María Córdoba, assassinado por seu guarda-costas em março de 2008, no qual o subversivo descreve parte da crise interna.
Mortos por suspeita
Com esse argumento de frear a indisciplina, a falta de controle e "renovar" combatentes, 'Ríos' desencadeou um verdadeiro massacre entre os próprios integrantes de seu Bloco, composto por quatro Frentes. Em seu computador existem os registros de cerca de 300 conselhos de guerra realizados entre 2005 e 2007, os quais terminaram com o fuzilamento de igual número de guerrilheiros. "Desmoralização insuperável" e acusações de ser infiltrados dos paramilitares ou do Exército são as acusações mais comuns com os quais justificava os assassinatos. O cerco militar a que esteve submetido 'Ríos' também o levou a extremos incríveis de paranoia que terminaram com a morte de guerrilheiros antigos que estavam há anos com ele. Essas "baixas" eram compensadas com o recrutamento forçado de jovens. Em seu PC há centenas de fotografias desses novos guerrilheiros, os quais, em sua maioria eram meninas menores de idade.
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Ninguém se salva
Documentos com descrições detalhadas sobre os guerrilheiros que foram assassinados, em muitos casos por simples suspeita, abundam em quase todos os computadores apreendidos. Dessa frieza e facilidade com que se ordenam crimes não escapam sequer os menores de idade. Nos computadores do abatido chefe da Frente 35, Aycardo Agudelo, vulgo 'Paisa', e de Arquímedes Muñoz, vulgo 'Jerónimo', chefe do Comando Conjunto Central, existem centenas de fotografias dos menores de idade que foram recrutados por essas estruturas.
Nos PC confiscados se pode observar os formulários de currículos estipulados pelas FARC onde não só estão os dados com a idade real dos meninos recrutados, como os de seus pais e irmãos, como uma medida dissuasiva a deserções. Nesses mesmos formulários estão as irracionais sanções a que são submetidos os menores. Por dormir durante uma guarda, Yuri, uma recruta da Frente 58, de escassos 13 anos de idade, foi obrigada a cavar trincheiras durante dois meses, transportar "100 cargas de lenha" durante três meses e fazer 50 buracos para lixo. Sneider, outro menor, não contou com a mesma sorte. Em abril do ano passado foi convocado a um conselho de guerra da Frente 48. Estava acusado de "desmoralização", "grupismo", "roubo à população" e "tentativa de deserção". Dos 40 guerrilheiros que faziam parte do "jurado", 39 votaram por fuzilar-lo, sem importar seus escassos 15 anos de idade.
Porém, se todo o anterior deixa em evidencia o decadente panorama das FARC, no campo militar os resultados não são nada alentadores. Em todos os computadores apreendidos há relatórios de deserções permanentes. As partes de guerra das diferentes Frentes evidenciam um alto número de mortos e feridos em combate. Documentos da Frente 35, por exemplo, deixam ver como essa estrutura chegou a contar com 300 integrantes há oito anos e, segundo o relatório de seu comandante, no começo de 2008 só tinha 44 integrantes.
Analisar toda a informação que caiu em mãos das autoridades levará anos. Sem dúvida ainda falta muito. A realidade das FARC, hoje, descrita por eles mesmos, evidencia um panorama pouco alentador para a guerrilha mais velha do mundo.
Fonte: Revista SEMANA
COMENTO: esta é somente uma tradução livre de trechos da reportagem publicada. É interessante a leitura de toda ela, clicando no enlace da fonte, o que lhe permitirá acesso às fotos que ilustram o texto e demonstram parte da patifaria dos narcoguerrilheiros. Outras fotos podem ser vistas no jornal espanhol "El Mundo", que trata sobre o mesmo assunto.
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