Sucessivas têm sido as declarações públicas do Presidente da República de compromisso com os princípios democráticos. Em mais de uma oportunidade, declarou que não fora a democracia não teriam sido criadas as condições para que chegasse onde chegou, o que é uma cristalina realidade.
No entanto, algumas de suas ações e, mais do que isso, de suas omissões conduzem a um clima de suspeita sobre a sinceridade de seus propósitos democráticos. E não se pode olvidar a história em nada comprometida com a democracia de um grande número de seus auxiliares, até no primeiro escalão. Gente que em tempo passado chegou a pegar em armas para implantar uma ditadura socialista em nosso país. Gente que hoje proclama fé na democracia e não poupa palavras para condenar ditaduras, quando de direita, é claro. Sobre os ditadores de esquerda, daqui do continente ou de alhures, nem uma censura.
Uma das omissões de nosso primeiro mandatário está, justamente, na falta de tomada de posição clara contra ditadores e ditaduras tenham elas a conotação ideológica que tiverem. Isso tem se refletido em nossa política externa, ainda mais se levarmos em conta algumas tiradas infelizes — como a de atribuir a culpa da crise aos “louros de olhos azuis” — e a prevalência de um viés ideológico sobre o interesse nacional na condução de nossa diplomacia. Tudo somado pode, somente, ser classificado como uma grande lástima. Nossa política externa, até poucos anos atrás, era objeto de admiração internacional. O Itamaraty soube, com maestria, adaptar a velha e boa tradição política lusitana às condições da nova terra, e nos legou grandes realizações, como, por exemplo, a consolidação de nossa linha de fronteiras, obra magistral do Barão do Rio Branco.
A omissão quando se trata de condenar ditadores de esquerda fica patente, no momento em que lembrarmos os afagos concedidos a um dos mais sanguinários ditadores do século XX — Fidel Castro. O próprio Presidente Lula e um grande número de seus ministros se desmancham em mesuras, quando em presença do velho ditador. Quem não se lembra das lágrimas de José Dirceu? Quem poderá esquecer a deportação ultra rápida de dois boxeadores cubanos que pretendiam fugir do “paraíso” comunista? Na ocasião, o ministro tentou justificar sua atitude, alegando que os atletas pediram para voltar. Além de parecer isso algo inverossímil — é pouco razoável duas pessoas fugirem em um dia para se arrependerem alguns momentos depois — a versão caiu por terra quando ambos voltaram a fugir, desta vez para um país cujo governo é menos comprometido com a ditadura cubana.
Adicionem-se a tudo isso algumas atitudes dúbias do governo na América do Sul. Sem maior esforço de memória, podemos lembrar elogios e arrazoados de defesa a aprendizes de ditadores. É exemplo a afirmação de que, na Venezuela, há excesso de democracia. Lula, ao fazer essa afirmação esdrúxula, mostrou ou que desconhece o que seja democracia ou que esteve tentando proteger o parceiro do Foro de São Paulo. Também, por ocasião do incidente envolvendo Colômbia e Equador, muitas declarações oficiais foram emitidas. Poucas e muito tênues as condenações às FARC, organização clandestina que pratica atos de guerrilha, tráfico de drogas e terrorismo. Mais grave, ainda, foi a omissão quando a Bolívia ocupou militarmente instalações da Petrobras. Nesse caso, claros interesses brasileiros foram relegados a um segundo plano.
Agora, tomamos conhecimento da estranha abstenção no Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre a Coreia do Norte. Aquele Conselho aprovou uma resolução que condena as "graves violações" dos direitos humanos na Coreia do Norte e aconselha Pyongyang a rever a decisão de barrar as missões de inspeção da organização. O texto foi aprovado sem o apoio do Brasil, que preferiu se abster na votação. A omissão do Brasil em condenar ditaduras acusadas de claras violações dos direitos humanos tem sido objeto de críticas, justas, de diversos organismos internacionais.
Realmente, configura-se, de forma clara, uma atração irresistível deste governo para a aproximação com ditaduras. Alguém, algum dia, há de explicar o motivo.
Gen Ex Gilberto Barbosa de Figueiredo
Presidente do Clube Militar
Fonte: Clube Militar
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