Os abaixo-assinados, ministros da Guerra e do Exército na paz e na guerra, na ditadura e na democracia, encaminham-lhe a presente solicitação: afaste a tropa dos morros cariocas, Exército não é polícia. Pedimos que faça isso porque sabemos como vai acabar essa irresponsabilidade de engajar recrutas no interesse das quadrilhas políticas do Rio de Janeiro. Daqui de nosso posto de observação, vemos o que vai acontecer, mas não podemos revelar.
Decidimos relembrar um caso do nosso tempo, o dos maconheiros do 1º Batalhão de Infantaria Blindada. Em 1971, um capitãozinho de 29 anos arvorou-se em polícia, prendeu quinze soldados, baixou-lhes o pau e morreram quatro. Um IPM de fancaria concluiu que dois desertores haviam matado os colegas. Tudo mentira. Tivemos que ouvir calados vários sermões daquele bispo comunista de Volta Redonda. O comandante do quartel acabou condenado a sete anos de cadeia (pagou seis meses) e o capitão a 84 anos (pagou menos de um décimo). Um comando incapaz contribuiu para a morte dos soldados e destruiu a carreira do capitão.
Pense na educação que demos ao tenente da chacina da Mineira. Ele tem 25 anos e não o formamos para trilhar a senda da delinqüência policial.
General Enzo: não somos meganhas. Oito signatários deste apelo foram ministros durante a última ditadura. Eles insistem para que se registre: a militarização das operações de segurança nacional foi saudada por todo o grande empresariado e todas as grandes empresas de comunicação do país. Repetindo: todas. (Nessa época o senhor era um capitão-aluno do Instituto Militar de Engenharia, e perseguia radicais aritméticos.) Quando o povo foi para a rua e nós voltamos para os quartéis, a conta ficou toda conosco. Mesmo assim, ninguém teve a ousadia de apedrejar nosso glorioso quartel-general.
No caso dos três garotos presos no Morro da Providência, posteriormente achados num lixão, o escriba do Comando Leste disse que "os elementos detidos foram encaminhados à presença do comandante da tropa que, depois de ouvi-los, determinou que fossem liberados. Após a liberação, as tropas do Exército não voltaram a ter contato com os elementos citados".
Falso, eles foram entregues aos Amigos dos Amigos, no Morro da Mineira. Essa nota ofendeu os fatos e o pundonor da tropa. Peça aos escribas que abandonem a expressão "elemento". Isso é linguagem de delegacia. O Brasil é povoado por cidadãos. Elementos são o cobre, o lantânio, ou mesmo o molibdênio.
Oferecemos duas propostas e uma excentricidade. Vão enumeradas, para sua escolha:
— Dos generais Eurico Dutra e Costa e Silva: "Retire o contingente, em silêncio, sem comentários. Garantimos que ninguém vai cobrar."
— Dos generais Henrique Lott e Walter Pires: "Telefone para o governador Sérgio Cabral e avise que, a partir de agora, o general do Comando Leste dará entrevistas na Europa e o mandatário subirá o morro."
— O general Orlando Geisel sugere o cerco e ocupação de dois próprios estaduais. Primeiro, toma-se a Assembléia Legislativa. Depois, passa-se ao segundo objetivo, que só será revelado após a consecução do primeiro.
Seus camaradas subscrevem-se, respeitosamente.
Elio Gaspari é jornalista
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