domingo, 4 de setembro de 2022

Quem é o Novo Chefe da Inteligência Colombiana

Casanova, o homem que dirige a DNI
Manuel Alberto Casanova, que militou no M-19, é experto em marketing e, agora, está por trás da Inteligência Colombiana.

Quando estudava Filosofia, Casanova se uniu a um grupo estudantil ligado ao M-19
FOTO CORTESÍA

por Daniel Rivera Marín
Manuel Alberto Casanova Guzmán é um mistério; um homem que deixa poucas pistas e que agora está no comando da Direção Nacional de Inteligência (DNI). Se sabe que é filósofo, que foi guerrilheiro do M-19 e que responde a uma denuncia de assédio trabalhista, supostamente praticado no ano passado quando atuava no programa de Bem-estar ao Aprendiz do Sena; processo que ele também respondeu na via judicial. Para além disso, Casanova é como um personagem de um filme de espionagem: uma incógnita.
Os que conhecem Casanova o descrevem como um homem tímido e reservado, responsável, capaz de grandes cargas de trabalho analítico. No entanto, entre seus ex-companheiros de luta no M-19, poucos dão referencias: nem o ex-senador Antonio Navarro Wolff, nem Vera Grabe; René Guarín diz que não está autorizado a dar nenhuma informação.É um tipo inteligente, mas muito tímido, pouco falador. Muito organizado mentalmente”, diz o escritor e ex-militante do M-19, Otty Patiño.
O M-19 foi uma guerrilha que tinha muitos protocolos de segurança, inclusive, nas missões mais importantes, os guerrilheiros ignoravam muitas coisas da vida de seus companheiros. Mesmo não sendo uma guerrilha de linha soviética, compartilhavam um secretismo muito parecido ao da KGB. Sem dúvidas, dizem que Carlos Pizarro [último líder do M-19] apreciava seu trabalho e que esteve muito apegado a ele em alguns momentos.
Casanova é filósofo formado na Universidade dos Andes, onde estudou entre 1978 e 1982. Foi nesses anos que se uniu a um grupo estudantil que tinha nexos com o M-19. Diz o ex-guerrilheiro Darío Villamizar:Todos no M-19 éramos importantes, mas ele era de uma estrutura bastante clandestina, uma estrutura de forças especiais. Isso tinha sua importância”.
Villamizar não sabia muito sobre essas tarefas devido aque a informação era compartimentada”, o que significa que todos sabiam só uma parte.O 'M' realizava operações especiais, todos tínhamos uma formação político-militar. Alguns recebiam tarefas políticas, e outros, tarefas mais clandestinas ou de campo”.
É um mistério: aparece em poucos arquivos. Petro sequer o menciona em seu livro Una vida, muchas vidas (Planeta, 2021), e lá aparecem Navarro, Grabe, Patiño e os nomes mais notórios do M-19. Um jornalista de Bogotá comentou que:Parece que o diretor da DNI foi um guerrilheiro mais 'hesitante' que Petro”, referindo-se ao fato de que o Presidente nunca participou de ações armadas.
Casanova Guzmán recebeu o beneficio de indulto por haver participado em atos de terrorismo como membro do M-19, segundo a Lei nº 77 de 1989 (concedeu indultos e regulou a cessação de procedimentos penais) e o Decreto nº 206 de 1990; essa decisão [foi questionada e] chegou em 2019 à Corte Suprema de Justiça para rever o perdão, mas o tribunal indeferiu o pedido.
O informe da Comissão da Verdade revela que em 1989 a 30ª Vara de Bogotá ordenou reabrir a investigação contra vários ex-guerrilheiros pelas mortes e desaparecimentos no ataque ao Palácio da Justiça, e entre eles estava o nome de Casanova.
Além de filósofo, Casanova é profissional em Política Pública de Segurança Alimentar pela Escola Superior de Administração Pública e especialista em Gerencia de Marketing pela Universidade Los Andes. Nada de seu perfil diz que seja experto em Inteligência a serviço da segurança do país ou das instituições do Estado, como sucedia com os diretores do DAS — instituição substituída pelo DNI. Sua maior experiência de trabalho reside na direção de equipes comerciais.
Seu último trabalho foi como diretor do Proyecto Colombian Peace Coffee, onde ideou uma estratégia para que em zonas de pós-conflito de Tolima, os camponeses e os ex-combatentes das FARC se unissem para a produção de cafés especiais.Foi um homem muito generoso, bastante inteligente, porque nos ensinava a maneira de trabalhar em colaboração. Nos ajudou a promover marcas e a ingressarmos no Comitê de Cafeicultores como exportadores. Muito tímido. Reservado”.
Desde o indulto ao M-19, o agora diretor da DNI foi diretor geral da Globo Televisión LTDA, um noticiário de televisão; durante oito anos foi gerente de marketing da Sociedade de Marketing de Alimentos Expofruta Ltda., organizou a Fundação para o Desenvolvimento do Conhecimento Avanzar; entre 2004 e 2005 foi consultor superior do projeto de Metrovivienda no bairro El Porvenir, em Bogotá; depois foi consultor de projetos com população deslocada pelo conflito armado para o PNUD; e durante o mandato de Gustavo Petro na prefeitura de Bogotá, atuou na política pública de segurança alimentar da Secretaria de Integração Social.
Nunca teve sequer uma investigação por seu trabalho público o qual, dizem as pessoas — as poucas que falam — próximas a seus labores, desempenhou de maneira destacada. Diz Otty Patiño:Eu creio que Casanova tem a capacidade de conduzir a Inteligência, porque é analítico e muito organizado. Não o havia visto próximo a Gustavo Petro, mas deve haver elementos de confiança entre eles. Eu o vi varias vezes junto a Pizarro, tinham confiança nele porque parecia saber ler muito bem as circunstancias. O "M" era uma guerrilha muito estratégica, mas não de inteligência”.
Algumas pessoas que participaram em reuniões com Casanova nas últimas semanas, dizem que é um homem que escuta, que tem a particularidade de prestar muita atenção a seu interlocutor. Além disso,é visto como alguém franco. O problema com esta gente do "M" é que ninguém sabe quem esteve participando nas ações”.
Por enquanto, a oposição tem dúvidas sobre a nomeação de Casanova. A bancada do Centro Democrático enviou uma carta à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que vigie com cuidado esta designação porqueconstitui um fato grave para a segurança nacional e um abalo às garantias aos membros da oposição democrática na Colômbia”.

¿O que é a DNI?
Após o desaparecimento do DAS, por numerosos escândalos de seu uso de inteligência contra a oposição do governo de Álvaro Uribe, nasceu no governo de Juan Manuel Santos a Direção Nacional de Inteligência (DNI), cuja missão éproduzir inteligência estratégica e contra-inteligência de Estado no âmbito nacional e internacional, desde uma perspectiva civil, orientada ao cumprimento dos fins essenciais do Estado, com fundamento no respeito à dignidade humana”. A missão de Manuel Casanova é que a DNI se converta no principal organismo de inteligência que oriente a tomada de decisões estratégicas do Estado a partir da antecipação de oportunidades, riscos e ameaças que impactem a segurança nacional, a competitividade e o desenvolvimento.
Fonte: tradução livre de El Colombiano
COMENTO:  obviamente, o serviço de inteligência de qualquer país deve ser dirigido por alguém que tenha total confiança do dirigente desse país. E esse dirigente seguirá as diretrizes políticas do dirigente nacional. O problema é a distinção que deve haver entre servir o Estado e servir o Chefe de Estado. Pode parecer algo óbvio, mas não é. No caso atual da Colômbia, deve ser preocupação da nossa ABIN analisar os novos direcionamentos dos trabalhos da DNI  afim de que o relacionamento bilateral seja mantido ou tenha modificações, dentro das mesmas perspectivas de  antecipação de oportunidades, riscos e ameaças que impactem a segurança nacional, a competitividade e desenvolvimento.
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