Recebi, em 07 Mar 08, a mensagem que se segue:
Meu velho professor
Meu professor de Jornalismo já dizia que o que não dá na rede Globo significa para o brasileiro comum que “não aconteceu”. Assim, vendo os últimos noticiários sobre a invasão do território do Equador por tropas da Colômbia, treinadas e financiadas pelos EUA, recordei sua preocupação. A mentira, a omissão e a mudança do foco são atos que desfavorecem a compreensão dos fatos. Elas têm sido a tônica do nosso noticiário, com a participação de “especialistas”, manjados adversários dos movimentos de soberania que pipocam na América Latina. Eles vêem suas falácias ruírem ante as informações de agências do exterior que sua própria emissora, contrariada, com extrema brevidade, é obrigada a divulgar.
Como o fato de que, ao morrer, o comandante Raul Reyes estava em negociações com os governos do Equador e da França, com o conhecimento da Colômbia, para libertação iminente de prisioneiros, entre eles Ingrid Betancourt, ex-aliada do governo Andrés Pastrana, um ferrenho adversário das FARC. E o fato revelador de que 19 dos 22 guerrilheiros mortos estavam com roupas de dormir, o que caracteriza a ação como um massacre. Os noticiários preferem destacar a pirotecnia diplomática de Uribe, a querer transformar sua grave violação numa “justa ação contra o terrorismo”. E não é a primeira vez que isso acontece.
Na quarta-feira, o Alexandre Garcia, outro “especialista” Global, no afã de satanizar o presidente da Venezuela, deixou escapar, de suas fontes nas Forças Armadas, que no governo FHC, o exército da Colômbia invadiu o território brasileiro para caçar inimigos. Inadmissível atentado à nossa soberania, resolvido com alguns tragos de uísque do nosso chanceler tucano na cozinha de Uribe. Ano passado, a polícia de Uribe violou o território da Venezuela, até Caracas, para “resgatar” um importante adversário político. Na mesma época, também violou o espaço aéreo do Equador supostamente para borrifar plantações de coca. Resultou em inúteis protestos diplomáticos.
As atitudes nada diplomáticas de Uribe e sua estreita ligação com o narcotráfico e com os diferentes grupos paramilitares lhe valeram uma significativa reprimenda do parlamento europeu. Essas razões, somadas à conta de mais de mil assassinatos de sindicalistas e lideranças comunitárias pelos órgãos de repressão do seu governo, o congresso dos EUA vem sistematicamente recusando a sonhada entrada da Colômbia na ALCA.
Por falar em EUA, a agência EFE, desta terça-feira, revela a presença de alto comandante militar dos EUA em Bogotá dois dias antes do bombardeio contra o acampamento equatoriano. Passa da hora de botar as barbas de molho e pensar como o experiente líder cubano Fidel Castro, segundo a France Press desta segunda-feira: “a sangue frio ninguém tem o direito de matar. As acusações concretas contra esse grupo de seres humanos não justificam a ação. Se aceitarmos esse método imperial de guerra e de barbárie, bombas ianques guiadas por satélites podem cair sobre qualquer grupo de homens e mulheres latino-americanos, em território de qualquer país, havendo ou não guerra".
(Leia o texto completo de Sidnei Liberal no Boletim HSLiberal).
Estamos sendo vigiados
Neste momento um telefone pode estar sendo rastreado ou o sistema de comunicação de algum país submetido a interferências externas. No Brasil, escutas telefônicas sem consentimento da Justiça são consideradas ilícitos penais, os responsáveis pela prática respondem pelo crime. Este alerta ocorre face a denúncias de que no município paraguaio de Mariscal Estigarribia, na estratégica região da Tríplice Fronteira, o Pentágono montou uma moderna base de comunicação. Uma sofisticada tecnologia, capaz de monitorar um raio de ação que abarca todo o território brasileiro e muito mais, onde os técnicos militares estadunidenses que lá estão podem grampear algum telefone e mesmo uma comunicação na internet.
Se alguém na Casa Branca quer saber o que Lula (Henrique Meireles, Raúl Reyes) anda falando nos bastidores sobre questões de interesse dos EUA, ordenará aos seus técnicos no Paraguai a colocar para funcionar o aparato espião. A mídia simplesmente procura ignorar a existência deste QG de operações dos EUA em território sul-americano, com base em simples desmentido de Washington que logo virou destaque na mídia tupiniquim. Os estadunidenses argumentam que um pequeno número de militares circula no Paraguai para a realização de exercícios conjuntos para combater o narcotráfico. De tão zelosos, afirmaram estar ajudando também a prevenir a dengue e, quem sabe, botar talquinho nos nenéns.
(Leia o texto integral de Mário Augusto Jakobskind no blog Direto da Redação).
Debi e Lóide: os americanos estão hostis ao conhecimento?
Um vídeo popular no YouTube mostra Kellie Pickler, a loura adorável de "American Idol" no jogo da Fox "Você é mais inteligente que um aluno do quinto ano?", durante a semana da celebridade. A pergunta de 25.000 dólares, do currículo de geografia do terceiro ano do ensino fundamental, era: "Budapeste é a capital de qual país europeu?" Pickler jogou as duas mãos para cima e olhou para o grande quadro negro, perplexa. "Achei que a Europa era um país", disse ela. Para se garantir, decidiu copiar a resposta oferecida por um dos alunos do quinto ano: Hungria. "Hungria?", disse ela, com os olhos esbugalhados e descrentes. "Isso é um país? Ouvi falar da Turquia, mas Hungria? Nunca ouvi falar."
Tal, digamos, falta de consciência global é o tipo de coisa que deixa Susan Jacoby, autora de "The Age of American Unreason" subindo pelas paredes. Ela apontou para uma pesquisa da National Geographic de 2006 que revelou que quase metade das pessoas de 18 a 24 anos não pensa que é necessário ou importante saber em quais países as notícias estão localizadas. Então, depois de mais de três anos de guerra no Iraque, apenas 23% de pessoas no terceiro grau sabiam localizar no mapa o Iraque, Irã, Arábia Saudita e Israel.
(...) ouvindo silenciosamente dois homens bem vestidos, de terno. Por um segundo, achou que eles iam comparar aquele dia horrível com o bombardeio japonês de 1941 que levou os EUA à Segunda Guerra Mundial: "Isso é igual a Peal Harbor", disse um dos homens. O outro perguntou: "O que é Pearl Harbor?" "Foi quando os vietnamitas jogaram bombas em um porto e começou a guerra do Vietnã", respondeu o primeiro homem. Naquele momento, Jacoby decidiu escrever o livro.
(Leia matéria integral de Patrícia Cohen para o New York Times).
Em resposta, escrevi o texto abaixo:
Oi.
Com algum atraso, volto a lhe escrever para expor minha opinião, que contrasta com a sua em alguns pontos, com relação à sua postagem de 7 de março.
1. Quanto ao primeiro texto: "Meu velho professor".
Concordo com o texto no que tange à omissão da grande imprensa brasileira em relação a alguns aspectos “dos movimentos de soberania que pipocam na América Latina. (...) (e que) ante as informações de agências do exterior que sua própria emissora, contrariada, com extrema brevidade, é obrigada a divulgar”, particularmente às referências feitas ao já antigo Foro de São Paulo, que só recentemente teve a capacidade de chamar a atenção dos meios de comunicação brasileiros.
Quanto à morte do guerrilheiro Raul Reyes, devo discordar em alguns pontos: primeiro, é incompreensível que países supostamente regidos pelo denominado “estado de direito” negociem qualquer coisa com um grupo ilegal, sem representatividade diplomática, que se mantém vivo à base de sequestros, atentados generalizados com explosivos contra a população civil e comercialização de cocaína (vide “Fernandinho da Beira-Mar e as diárias apreensões de grandes quantidades da droga produzida no interior colombiano – é bem verdade que isto não é um monopólio das FARC, pois também as famigeradas AUC e o ELN também usam dos mesmos expedientes para sobreviver como organizações “guerrilheiras”). Em segundo lugar, massacre é o que as FARC fazem cotidianamente ao atacarem povoados com seus morteiros de botijões de gás, matando “democraticamente” os cidadãos colombianos, sejam eles simpatizantes do governo ou não, sejam jovens ou velhos, independentemente de cor, raça ou religião, simplesmente para se impor como “autoridade” com base no terror que semeiam (é claro que os outros grupos de bandidos também usam os mesmos expedientes).
O fato dos membros das FARC morrerem em trajes menores demonstra que, ou se achavam em segurança (estariam sendo “protegidos” pelas autoridades equatorianas?), ou eram muito incompetentes, deixando sua segurança relegada a segundo plano (não havendo sequer “vigias” que se opusessem aos militares colombianos que atacaram o acampamento), ou quem sabe as duas hipóteses se completam.
Quanto ao episódio ocorrido durante o governo FHC, me parece que houve um “ruído na comunicação”. O que realmente ocorreu foi, em 1991, um ataque de cerca de 40 membros das FARC às instalações de um destacamento de fronteira do Exército Brasileiro, ocasião na qual assassinaram três soldados, dominando os demais e roubando armas e equipamentos. Imediatamente após o fato, uma equipe das Forças Especiais do nosso Exército foi deslocada para a região, perseguindo os atacantes e encontrando-os dois dias depois. No embate que ocorreu, foram mortos sete guerrilheiros e o material roubado foi totalmente resgatado. O caso, fartamente noticiado na época, e denominado como “Episódio do Rio Traíra” não teve “declarações de guerra” de nenhum dos países envolvidos. (Veja mais detalhes em: Mujahdin Cucaracha).
Posteriormente, em 1998, durante um ataque guerrilheiro à cidade colombiana de Mitu, um avião militar colombiano que apoiava as ações das Forças Armadas de seu país ficou sem condições de aterrissar naquela cidade (a guerrilha havia ocupado o aeroporto) nem de retornar a uma base militar colombiana por falta de combustível. A tripulação colombiana solicitou permissão para aterrissar em uma base brasileira junto à fronteira, alegando razão humanitária prevista na legislação internacional e, assim, invadiu o território brasileiro, pois aterrissou quando a permissão ainda não havia sido concedida. Os militares colombianos foram retidos até que, de Brasília foi emitida autorização para que fossem liberados. O governo brasileiro protestou diretamente ao governo colombiano, que se desculpou afirmando que o fato não iria se repetir e o episódio foi encerrado, também sem “declarações de guerra”. Nos dois casos, o Brasil fez valer seu papel de maior país da América do Sul, com poder para fazer valer sua soberania sem, todavia causar estardalhaço nem arroubos guerreiros.
Quanto à captura do “importante adversário político” colombiano em Caracas, não tenho certeza, mas me parece que se tratava de um dos chefes da quadrilha FARC e sua prisão teria sido feita por policiais venezuelanos subornados pela polícia colombiana (ato ilegal é óbvio, mas que se restringe à justiça venezuelana).
Não sou colombiano nem tenho procuração para defender ninguém do governo Uribe, mas as supostas violações do espaço aéreo equatoriano para borrifar plantações de coca são fatos freqüentemente questionados junto aos organismos internacionais, assim como as ligações do presidente colombiano com o para militarismo e a perseguição a sindicalistas e lideranças comunitárias, sem que sejam apresentadas provas concretas de sua existência; e apesar de tais acusações, o episódio com o Equador projetou a aprovação de Uribe junto à população para acima de 80% (1) o que demonstra a legitimidade democrática de sua autoridade, tanto quanto a de Hugo Chaves à frente da Venezuela. Talvez eu peque por falta de conhecimento mais aprofundado quanto às negociações da ALCA, mas me parece que as reações contra o que eles chamam TLC são provenientes mais do Congresso colombiano que do americano por que os latinos temem ficar economicamente mais atrelados aos yankes.
Por fim, uma pessoa que se impôs por quase cinqüenta anos no governo com eleições de um único partido com candidatos certos para cada vaga, tendo encaminhado ao “paredón” centenas, para não dizer milhares, de “adversários políticos” (sem contar os que foram recolhidos “ad perpetuum” para “readaptação” nas prisões políticas cubanas), não me parece a mais apta para afirmar que “a sangue frio ninguém tem o direito de matar”, esquecendo que seu famoso ataque ao quartel de La Moncada ocorreu à noite, liquidando seus defensores “A sangue frio”.
OBS:
(1) Dados sobre a pesquisa:
“Ficha Técnica.
(1) Dados sobre a pesquisa:
“Ficha Técnica.
Empresa que la realizó: Gallup Colombia Ltda.
Persona Natural o jurídica que la encargó: Gallup Colombia Ltda, para su venta por suscripción.
Fuente de financiación: Recursos propios Gallup.
Universo: Hombres y mujeres de 18 años o más, de todos los estratos, residentes en Bogotá, Medellín, Cali y Barranquilla.
Marco muestral: Hogares con línea telefónica fija. El cubrimiento telefónico en las 4 grandes ciudades, según censo del DANE, es del 85%.
Tamaño y distribución de la muestra: 1.000 entrevistas distribuidas así: Bogotá 400, Medellín, Cali y Barranquilla 200 entrevistas cada una.
Margen de error: +/-3% para el total de las 4 ciudades.
Fecha de recolección de datos: 4 al 6 de marzo.”
Afinal, quarenta anos depois, creio que não podemos mais concordar com a frase: "Não posso ser amigo de quem não compartilha das mesmas idéias que eu". (Ernesto Guevara Lynch de la Serna)
Um comentário:
HS Liberal respondeu:
Caro Ferraz, minhas respeitosas saudações. Gostaria de lembrar, embora não costume contestar pesquisas, que a Gallup "colombiana" tem séde matriz nos EUA. Que episódios como Fernandinho (carinhosamente, como nossa mídia trata), dólares cubanos para o processo eleitoral brasileiro, como as bailarinas contratadas pelos cartões corporativos, são barrigas e factóides já desmoralizados. Sobre as drogas na Colômbia, seus protetores estão, todos, na cozinha de Uribe. As FARC apenas cobram o "imposto" por não receberem os dólares de Washington. Abração.
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