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O ataque guerrilheiro no qual se perderam 200 mil galões de petróleo danifica a natureza, danifica os cultivos, danifica o povo simples de Putumayo. E desgasta mais a credibilidade das FARC.
Gente comum, da periferia rural do país, esse é o alvo dos golpes dos ataques terroristas das FARC contra a infraestrutura e o transporte de petróleo. Os prejuízos não são poucos. Nas comunidades, aparecem enfermidades cutâneas, e gastrointestinais pela contaminação da água e do ar. Morrem animais domésticos e a fauna dos territórios manchados com o óleo vazado.
Acabam de atacar um comboio de dezenove caminhões-tanques. O resultado: cinco mil barris (cerca de 159 litros cada) esparramados. Em 2014 também atacaram outra caravana: 4.500 barris derramados. Em Puerto Asís (Putumayo) e suas zonas rurais, os cidadãos conhecem muito bem os efeitos: um entorno devastado, que irá demorar pelo menos dez anos para recuperar-se.
As FARC sabem que suas ações são uma grave infração ao Direito Internacional Humanitário (DIH), porque impactam diretamente em bens essenciais à sobrevivência da população civil, e também violam direitos humanos (econômicos e sociais). Mas suas mensagens de intimidação e destruição se repetem.
Segundo a ECOPETROL, em 2013 houve em Putumayo 123 ataques contra a infraestrutura petroleira. No país, foram 224. Há dez dias, as FARC destruíram o oleoduto da região.
Tratam-se de ações que refletem uma certa virulência contra os recursos e a vida cotidiana de um departamento essencialmente ocupado por camadas urbanas e campesinas que sequer podem ser classificados como classe média. Em sua maioria, são vilarejos habitados por pessoas economicamente situados entre as "classes" baixa-baixa, baixa e média-baixa.
Não é necessária uma análise exaustiva para entender a quem prejudicam esses atos tão irracionais e desprovidos de qualquer "efeito político-militar" contra o que a guerrilha denomina em sua linguagem caduca "estruturas de um estado oligárquico e saqueado por multinacionais". É muito mais vergonhoso e desprezível ver que a subversão não renuncia à brutalidade e à violência indiscriminada e desproporcional, que só deixa ruínas e perdas materiais e humanas.
Um funcionário e habitante de Puerto Asís descreveu a este diário que os derramamentos de petróleo alcançaram o rio Cuembi, de onde se abastecem de água várias comunidades. O óleo se infiltra nos banhados e termina consumido por humanos e animais. Com o derramamento de maio de 2014, por exemplo, "as pessoas começaram a sofrer diarreias, dores de cabeça e náuseas pelo forte odor; as crianças apresentam mais enfermidades cutâneas atribuídas ao consumo de água e peixes contaminados (...) A água se tornou preta e pegajosa e se infiltrou nos banhados danificando as plantações de milho e plátanos (espécie de banana muito usada na alimentação colombiana), e não se podia pescar".
Porém, as FARC - que estão em meio a um processo de diálogo com o Governo visando por fim ao conflito - se fazem desentendidas de sua obrigação de respeitar o DIH e de evitar tantos danos à população civil. Dinamitam a esperança dos colombianos de ver que, pelo menos enquanto o processo avança em meio a hostilidades, a guerrilha seria capaz de não prejudicar as comunidades.
Ontem (9/6), o Presidente Juan Manuel Santos manifestou o que se pensa em todo o país: "Ataques terroristas, ataques irracionais. Nos perguntamos: ¿Que utilidade militar ou de outra índole pode trazer derramar petróleo para contaminar nossas fontes de água?"
A resposta é simples: nenhuma utilidade. Como tampouco tem para Colômbia, a estas alturas da história, que existam as FARC.
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