terça-feira, 10 de janeiro de 2012

In Memorian — 4 Anos

Fantasmas
por Carlos Sampaio
Conheço os meus fantasmas. Eles também sabem quem eu sou, por onde ando, para onde vou, ou ainda, para os lugares que eu quero ir.
Meus fantasmas sabem tudo de mim, timtim por timtim. Deles pouco sei.
Sei que estão nas esquinas por ando passo, que estão ao meu lado quando assisto aos filmes no cinema ou entre as músicas que eu escuto diariamente. Eles estão entre meus amigos, na Universidade, no barzinho da esquina, no supermercado, entre os meus filhos, entre os meus ex-amores, entre a mulher amada, enfim, estão em todos os lugares possíveis.
Não sei viver sem eles e, sem mim, eles não sobrevivem.
Há, nessa cumplicidade, a oportunidade de um dia entrarmos em um acordo. A idéia central do tal acerto é de um dia dar um basta. Ou eu, ou eles. Eu os deixaria partir enquanto eles não mais me amedrontariam.
Sinceramente, entro em desvantagem, pois fantasmas não são apegados em pactos e sabe-se lá cumpririam tal disposição.
Li, certa vez, não mais me lembro onde, que "os nossos sonhos da adolescência, são os pesadelos da nossa vida adulta", e, a partir dessa afirmativa, soube que todos nós possuímos um fantasma predileto que age muitas vezes com violência dentro de nosso peito nos fazendo sentir dúvidas e, na maioria das vezes, um medo intenso.
Mas, esse fantasma que nos é peculiar, não é totalmente ruim, ao mesmo tempo em que amedronta e aterroriza com seus impulsos, nos dá coragem para vencer o medo momentâneo para se fazer o que é necessário.
Fantasmas são assim mesmo. Há várias espécies de fantasmas, todos eles com habilidades e com determinados fins.
Por exemplo: Uns arrastam correntes pelos corredores da nossa casa, alguns zombam de você, enquanto outros apagam as luzes do teu quarto e te assolam em pesadelos que não possuem fim. Considero estes os mais maldosos, eles não pedem licença e nem avisam que irão atacar, são traiçoeiros.
Quando você menos espera, lá estão no seu mais profundo sono.
Entretanto, o meu fantasma predileto ficou sendo aquele amor que perdi, e, embora tenha me servido de outros amores, até hoje não consegui me desfazer daquele sorriso, daquelas mãos trêmulas por entre as minhas e o beijo gelado da despedida.
Nossas despedidas sempre geram fantasmas, aquele adeus será sempre o meu maior temor, a minha intensa lembrança, a eterna vontade de não mais repetir a cena com alguém. O amor, dentro de sua intensidade, sempre foi e será o que sempre nos assombrará. Embora nos faça sorrir, ficarmos alegres por qualquer motivo, também nos trazem dissabores, desilusões, e por que não dizer, retorna incertezas de tudo que tínhamos certeza. Estranho essa dualidade.
Fragilizado pela despedida o fantasma-mor atacou-me ficando instalado em meu coração, em meus pensamentos e nas minhas emoções contidas e naquelas incontidas também. Aonde vou, não o vejo. Mas ele está dentro do peito, entalado e acomodado como poucos.
Sei que poderei um dia, na fatalidade, encontrá-la, em uma mesa de bar, entre as cadeiras de um cabaré, nas esquinas por ando passo, na calada da noite, em uma poltrona de cinema, entre os amigos, ou então, ao contemplar a imensidão do oceano na beira do mar.
E se esse dia acontecer, sentirei as mais tenras lembranças, do primeiro beijo, da frase que dita ao vento, nos soou como sendo eterna, da noite de amor, que entre promessas, esquecemos de jurar que elas seriam cumpridas.
Mas num belo dia, veio aquela despedida, embora esperada, sempre procuramos adiar até que a última lágrima caia exatamente entre o último aperto de mão.
Quando partimos levamos seqüelas ou deixamos cicatrizes estranhas pelo corpo, pela alma e no coração. Como conseqüência disso elas demoram a sarar. Nesse momento, uma espécie de fantasma costuma atacar e quando invade os nossos pensamentos, choramos baixinho para afugentar as saudades que insistem ficar ao nosso lado.
Muitas vezes sem solução, ficamos morrendo aos poucos até que um novo trocar de olhos, um novo sorriso e uma nova promessa nos fazem renascer das cinzas e começar tudo novamente. Com medo e algumas dúvidas.
Embora a despedida sempre seja o nosso medo maior, entre os amigos, entre colegas de trabalho, universidade e aqueles que nos esperam voltar, existe uma regra muito explícita que não nos deixa jamais em dúvida:
— A vida com amor sempre será mais bonita!  Sempre, não importa qual experiência você esteja passando agora.
Distraído, olho pela janela do meu prédio e percebo que o céu está azul e com nuvens brancas desfilando na imensidão.
O meu fantasma sorri. Decididamente não sei viver sem ele.
Fonte:  12º RC Mec
COMENTO:  com esse texto, lembro que hoje faz quatro anos que esvaiu-se a expectativa de rever meu fantasma "mal resolvido".
.

Nenhum comentário: