Izidro Simões - piloto de avião
Em 2000, sendo piloto da Nimbus Táxi Aéreo, em Boa Vista-Roraima, recebi uma ordem de vôo que se mostraria muito singular. Tratava-se de voar de Boa Vista descendo o Rio Branco, passar por Santa Maria de Boiaçú, alcançando as localidades de Terra Preta e Lago Grande, retornando para a capital.
Eram quatro passageiros: Francisco Joaci de Freitas Luz, engenheiro agrônomo, sendo hoje o chefe geral da Embrapa-Roraima; Marcelo Francia Arco-Verde, engenheiro florestal, sendo hoje o diretor de sistemas agroflorestais da Embrapa-Roraima; e Haron Xaud também da Embrapa-Roraima. No caminho, pousamos em Caracaraí, para recolhermos uma engenheira, da qual não me lembro se era do Estado ou da CPRM. O Chefe da equipe da CPRM-Manaus e que estava em Boa Vista, era o geólogo Newton, que não foi no vôo porque “não apreciava” voar.
Recebi então a ordem de ir descendo o rio, mantendo uns 3.500 pés (pouco mais de mil metros) afastado uns 5 Km da sua margem esquerda. Os passageiros levavam vários mapas grandes, máquinas fotográficas e filmadoras. Uns 15 ou 20 minutos após a decolagem de Caracaraí, passei a ouvir exclamações assim:
— Ei, olhe só aquilo!
— Mas como é que pode?
— Dá uma olhada no mapa!
— Bate uma foto agora!
— Mas como é que pode?
— Dá uma olhada no mapa!
— Bate uma foto agora!
Foi assim até Santa Maria de Boiaçú, onde mandaram que voasse para Terra Preta e Lago Grande, localidades rio abaixo mais uns seis minutos de vôo, e situadas no lado oposto do rio, isto é, na margem direita do rio. Tendo sobrevoado aquelas localidades, mandaram retornar para Boa Vista, devendo também manter-me afastado uns 5 Km do rio. Estávamos agora, subindo o rio, e os passageiros continuavam consultando vários mapas e olhando atentamente o panorama que sobrevoávamos. Um pouco antes de alcançarmos a boca do rio Catrimani, vimos mais para a nossa esquerda, uma região de extensas campinas de areia branca, alguns laguinhos e igarapés (córregos, riachos). Mandaram então voar bem baixo em direção ao lago maior, o qual tinha águas tão cristalinas, que do alto víamos o seu fundo.
Fiz diversas passagens baixas por ali, e foram muitas as fotos e filmagens realizadas, prosseguindo o vôo, agora nuns 100 metros acima do solo, até alcançarmos novamente Caracaraí, de onde tomei altitude regulamentar e prosseguimos para o pouso em Boa Vista.
No dia seguinte, pela manhã, fizemos um novo vôo, desta vez, para a Serra da Lua, que começa uns 30 Km após a ponte dos Macuxi sobre o Rio Branco, sendo ela perfeitamente visível desde Boa Vista. No lugar da engenheira do vôo anterior, entrou uma outra pessoa da CPRM, e também levavam muitos mapas grandes, filmadoras e máquinas fotográficas.
“Cortei” a Serra da Lua na sua borda direita (lado Sul), até o final, quando então mandaram fazer diversas idas e vindas pelas cabeceiras do rio Baraúna. Tudo foi muito fotografado e filmado, com expressões de surpresa e espanto semelhantes as do vôo anterior, e convém salientar que tínhamos GPS a bordo.
Após o recolhimento do avião no hangar da empresa, Marcelo Francia Arco-Verde (o engenheiro florestal da Embrapa-Roraima) ficou por ali, entretendo-se em conversas com alguns membros do clube de paraquedismo, e do qual ele fazia parte, como instrutor de salto-duplo.
Aguardei uma folga nas conversas e, puxando Marcelo para um lado, perguntei:
— Você pode me dizer o que tem causado tanto espanto em vocês? Consultam mapas o tempo todo, filmam, fotografam. Parece que tem alguma coisa errada em algum lugar, pois até duvidaram que estivéssemos mesmo na região do Baraúna, com GPS e tudo!
Marcelo sorriu e disse:
— É o seguinte: o pessoal me contou que em algum lugar lá no Maranhão, que também é um Estado amazônico, fizeram um projeto de colonização ou coisa semelhante, e quando a equipe de campo foi até a região para demarcar estradas e lotes, não encontraram o que pretendiam. Até acreditaram que tinham perdido a entrada de alguma estradinha. Vai mais um pouco pra lá, volta, vai de novo, e não encontraram o que pretendiam. Retornando ao escritório, consultaram os mapas do RADAM (Radar da Amazônia) e os do Estado, e chegaram a conclusão de que o lugar só poderia ser aquele mesmo por onde tinham estado. Para dirimir dúvidas, dessa vez levaram um GPS e foram realmente parar no mesmo lugar de antes.
Aí então constataram que os mapas do Radam apontavam a região como sendo coberta por densa floresta, quando na verdade era um cerrado ralo!
Pelo Amazonas e aqui em Roraima já tinham acontecido desencontros semelhantes, e surgiu então uma grande desconfiança quanto aos mapas do Radam, e por isso foram feitos esses dois vôos de confirmação nas áreas em que surgiram dúvidas.
— E o resultado? Perguntei.
— Bem, confirmamos que por aqui também, os mapas do Radam mostram uma coisa, e lá embaixo, no solo, é tudo diferente. Floresta no mapa, mas no solo, é extenso cerrado.
Quando Collor foi Presidente, colocou na então Secretaria do Meio Ambiente o Lutzemberg, aquele agrônomo-ecologista maluco que criava sapos na piscina da sua mansão em Brasília e que falava mal do Brasil pelo mundo afora. Esse cidadão trouxe à Roraima, o italiano Giovani Gronchi, que tinha sido Presidente ou Primeiro-Ministro da Itália. Ambos, com alguns membros da comitiva, sobrevoaram os “lavrados” de Roraima e foram embora para Manaus e Brasília. O italiano voltou ao seu país, de onde deitou falação contra a “devastação” que os roraimenses tinham feito na floresta.
Atenção: a Amazônia não é toda ela de floresta. Em Mato Grosso, Rondônia, Maranhão, Pará, Amapá e Roraima existem extensas áreas de cerrado. Roraima, entretanto, tem as mais extensas terras agricultáveis, campos gerais do Norte do Brasil. Ao redor de Boa Vista, em todas as direções (360º) tudo é “lavrado” (campos naturais) por uns 120 Km em direção ao Norte, 230 Km em direção do Oeste (Normandia e Bonfim) e outros mais de 200 Km em direção do Sudoeste, de Bonfim até a Serra da Lua. São 1 milhão e 700 mil hectares na Raposa/Serra do Sol, mais de 700 mil hectares na São Marcos, mais outros 300 mil hectares nas vizinhanças da Serra da Lua, todo o município de Boa Vista e quase a metade do município de Alto Alegre, no Oeste, também são “lavrados”.
Assim, vê-se a ENORMIDADE da errada informação alardeada no mundo por Giovani Gronchi, por engano ou pura má-fé, com a cumplicidade do Lutzemberg, que também “não sabia de nada”, ou sabia e, calou-se propositadamente.
Qual o é então o truque que existe nos mapas do Radam?
Na década de 70, o Brasil pagou 20 milhões de dólares para que uma empresa americana mapeasse toda a Amazônia brasileira e os seus minérios. Os aviões Hércules (quadrimotores) da empresa TIGER, tinham a cabeça de um grande tigre pintada no leme e um avião ficava em Belém, outro em Manaus, outro mais em Porto Velho e um em Cuiabá.
Ali no aeroporto Marechal Rondon (em Várzea Grande — que serve à Cuiabá), durante uns dois meses, víamos diariamente o avião lá baseado, decolar bem cedo e retornar pelo meio-dia, decolando outra vez lá pelas 14:00 e voltando ao cair da noite. A autonomia desses aviões é oceânica.
Todo o material aerofotogramétrico e de sensoriamento remoto foi processado nos laboratórios da empresa nos Estados Unidos, que depois enviou ao Brasil, os mapas geográficos, da vegetação e mineralógicos.
Com os “enganos” constatados nesses mapas do RADAM, que mostravam floresta densa onde NUNCA existiu nada além de cerrados, “lavrados” e imensas clareiras naturais, fica desmascarada essa história freqüente de acusar o Brasil de ter desmatado lugares que a gente conhece bem, e sabe que não é e nem foi floresta de nenhuma espécie, em ocasião alguma.
Como é feita a coisa? Muito simples: apresentam os antigos mapas do Radam e as atuais fotos de satélite. Como o satélite mostra campos naturais ou cerrados, e o mapa do RADAM mostra extensa área colorizada de verde (floresta densa), BERRAM a acusação alarmista:
— Olhem o que era antes, e a devastação que Brasil deixou acontecer!
Diante de tais “evidências” (contra FATOS e FOTOS não há argumentos possíveis), o mundo “cai de pau” no nosso país.
Saibam e aprendam: não se deve acreditar em tudo o que é alardeado no estrangeiro.
ATENÇÃO: não estou afirmando que todo desmatamento é falso. Estou AFIRMANDO que muitos desmatamentos são forjados dessa maneira. Além disso, grande parte dos satélites tecnicamente não conseguem reconhecer diferenças entre real e parecido. Se sobre o lavrado roraimense for colocado um imenso pano VERDE, o equipamento do satélite interpretará como sendo floresta. Se a floresta for toda coberta por um pano branco ou amarelado, a interpretação será a de gelo ou areia.
Há poucos meses passados, a TV nos mostrou um desses tipos de engano. No Estado do Amazonas, diversas áreas tinham sido fotografadas pelo satélite, e interpretadas como sendo clareiras, eram apenas árvores SEM FOLHAS, na mudança de estação, e ali tudo continuava sendo floresta. Não havia nenhum desmatamento.
Quer dizer, além da má-fé das informações alarmistas, ainda há aquelas de má interpretação fotográfica, por desconhecimento das características vegetais na região.
Os mal intencionados (estrangeiros e, vergonhosamente, brasileiros também) usam e abusam dessas distorções, CONTRA O BRASIL e CONTRA OS BRASILEIROS.
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COMPLEMENTO:
Flávio Pikana Lemos
Militar da Reserva e Professor Universitário
Há mais de dez anos, enquanto cursava o Mestrado na UnB, um colega que tinha boas ligações com o pessoal de Inteligência já falava das conversas com esses profissionais e falava ainda, mais, da estranheza maior ainda quanto ao contrato com a empresa que levantou os dados do Projeto RADAM pois, em áreas que alguns sabiam por estudos próprios e, pior, por constatações "in loco", da subavaliação de fronteiras de minerais estratégicos nos estados do norte ou, pasme, a simples omissão delas nos mapas entregues às autoridades nacionais.
Além disso, a demora no processamento dos dados obtidos durante as missões de levantamento e os tipos de relatórios (segundo alguns relatos "ridículos") também colocavam em suspeição o resultado final do trabalho.
Além disso, já se sabia de alguns "próceres" de partidos "ecológicos" que à época, estranhamente, dispunham de muitos milhões em moeda estrangeira para fazer compras de quaisquer natureza (sic) junto à comunidade europeia em nome dos pobres silvícolas da "Nação Ianomami atrozmente dizimados por brasileiros" com a conivência do governo.
Hoje, a tibieza (para não dizer safadeza) de muitos membros dos poderes envolvidos nas querelas territoriais fundamentais para o futuro da Nação Brasileira e outros, no mínimo, deslizes, contribuem para tornar o futuro ainda mais sombrio. Ou, apenas os senadores e juízes do Supremo não sabem que demarcaram uma área que tem um subsolo imensamente rico em minerais que qualquer país razoavelmente desenvolvido almeja, nem que seja para fins de comercializar esse material se não tiver competência para processá-lo?
Estou certo de que eles sequer sonham em permitir, ou que seus filhos venham a permitir que netos e bisnetos vão, como "buchas de canhão" para uma guerra perdida contra potências que já lançam tentáculos — bases aéreas estrategicamente posicionadas perto da região para permitir desembarques massivos de homens, armas e equipamentos de toda sorte praticamente dentro daquele território — sobre países mal administrados politica e economicamente situados em nossa periferia.
Pela primeira vez concordo em grande parte com as colocações — por lúcidas e de visão fundamental para o futuro do país — sobre a necessidade de impor contingente militar de porte na região apesar de crer que, apesar das contingências orçamentárias que se impõem ao menos sobre a ala séria da Defesa, ser necessário um aporte de homens, material geral e verbas 30% superior ao previsto nessas colocações para que se possa ter alguma esperança de eficácia em "desincentivar" aventureiros que não se quer dizer os nomes mas que todos sabem quem são que podem tentar nos atacar sem se importar com nada a não ser seus próprios interesses.
Na saída da II Grande Guerra, pelo momento histórico até, foi possível diplomaticamente e, até por desinteresse dos beneficiados, dissuadir a comunidade que realmente decide no Mundo de implantar um estado estranho na Amazônia brasileira. Porém, agora, diante da escassez de muito material estratégico ali abundante podemos estar certos de que há muita gente voltada para invadir e tomar posse da área.
Que as pessoas que realmente se preocupam com o Brasil e seu futuro — a grande maioria da população brasileira — vença mais essa luta.
do meu amigo Felix.
Um comentário:
Numeros bem torturados pelo IBGE e pelo INCRA [MDA] confessam qualquer coisa...
A Amazônia é a região compreendida pela bacia do rio Amazonas, a mais extensa do planeta, formada por 25.000 km de rios navegáveis, em cerca de 6.900.000 km2, dos quais aproximadamente 3.800.000 km2 estão no Brasil. Já a Amazônia Legal, estabelecida no artigo 2 da lei nº 5.173, de outubro de 1966, abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás. Ela representa 59% do território brasileiro, distribuído por 775 municípios, onde viviam em 2000, segundo o Censo Demográfico, 20,3 milhões de pessoas (12,32% da população nacional), sendo que 68,9% desse contingente em zona urbana (IBGE). Att, Telmo Heinen - Formosa (GO) 61-9989-6005
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