por Francisco José Fonseca de Medeiros (*)
1. INTRODUÇĂO Cada vez mais a atividade de Inteligência é discutida, estudada e aplicada no mundo atual. Na realidade ela existe desde os tempos bíblicos, quando Moisés enviou espiões para lhe trazer dados sobre o que poderia ser a “terra prometida”. Também, não dá para imaginar os romanos mantendo o seu império sem dados pertinentes e confiáveis, muito menos os exploradores portugueses sem os conhecimentos da Escola de Sagres. O fato é que nas últimas duas décadas, o número de informações cresceu mais do que nos últimos 5 mil anos. O homem sempre pesquisa dados e informações e procura segurança no seu dia-a-dia. Guardem esta idéia.
A atividade de Inteligência no Brasil tem início no governo democrático do presidente Washington Luís, que instituiu em 1927 o Conselho de Defesa Nacional. O objetivo era suprir o executivo com informações estratégicas.
Desde então vários órgãos se sucederam, acompanhando a conjuntura nacional e internacional. Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, assim como as principais agencias do mundo, foi criado o Serviço Federal de Informações e Contra-Informações - SFICI, vinculado à estrutura do Conselho de Segurança Nacional. No final da década de 1950, o SFICI consolidou-se como principal instrumento de informação do Estado brasileiro. Seria sucedido pelo Serviço Nacional de Informações (SNI). Hoje a atividade de Inteligencia de Estado é exercida pela Agencia Brasileira de Inteligencia (ABIN) (1).
2. DESENVOLVIMENTO
Existem muitas discussões a respeito da denominação de Inteligência ou de informações. No Brasil buscou-se a tradução de intelligence, o que não agradou a todos. Conforme especialistas, Portugal continuou com o termo em inglês, por não concordar que a sua tradução mantinha a mesma idéia. Ficaremos com o que disse Sherman Kent, que Inteligência significa a organização (CIA (2), ABIN, etc.), o conhecimento como produto (Informe (3), Informação (4), Apreciação (5) e Estimativa (6), etc.) e a atividade como processo (ciclo da produção, medidas de proteção, etc.).
Segundo a ABIN, quando se trata de produção de conhecimentos voltados para a segurança do Estado e da sociedade, é consagrado o uso do termo "Inteligência". No entanto, hoje ele é muito mais amplo. Na realidade, esse já é um conceito em consolidação no Brasil.
A Inteligência deve coletar os dados e produzir conhecimentos necessários, relatando-os a quem couber decidir, que os avaliará e integrará aos outros fatores necessários à decisão ou ao planejamento estratégico da organização. Bem, é claro que antes de transmitir conhecimentos aos dirigentes, um órgão de Inteligência deve determinar o valor, a veracidade e a importância dos dados colhidos.
A Inteligência se desenvolveu nas guerras, particularmente na Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria (7). Nas últimas décadas, surgiram diversas denominações, tais como: Business Intelligence, Inteligência Organizacional, Inteligência de Estado, Inteligência Militar, Inteligência de Segurança Pública, Tecnologia da Informação, Inteligência de Compras, Inteligência Competitiva, Inteligência Empresarial, etc. Porém, tudo é uma adaptação da atividade de Inteligência “clássica" (8) à atividade de Inteligência específica.
No entanto, faz-se necessário diferenciar o que é um processo científico e metodológico de produzir um conhecimento de Inteligência e uma sofisticada ferramenta de coleta e armazenamento de dados. Também, há necessidade de uma uniformidade de definições para que todos falem a mesma língua e facilite a comunicação e a troca de dados tão importante para a Inteligência. Atualmente, discute-se uma consolidação doutrinária no âmbito do SISBIN.
Sobre a necessidade de um consenso terminológico na área de Inteligência, a professora Elaine Coutinho Marcial ressaltou essa precisão em recente dissertação com o título: “Utilização de modelo multivariado para identificação dos elementos-chave que compõem sistemas de inteligência competitiva”. Inclusive, ressaltou a carência de fundamentação teórica comprovada cientificamente.
Porém, tanto a metodologia científica para a produção de conhecimentos, quanto as ferramentas de coleta de dados são importantes dentro do processo, mas uma coisa é certa: um software é considerado inteligente por coletar dados, cruzá-los, compará-los, selecioná-los, mas nunca fará Inteligência, pois lhe faltam intuição, bom senso e experiência. Não sabe fazer a interpretação. O programa não diz o que fazer na hora certa, no momento apropriado, para que se possa tomar a decisão correta, ou seja, que fará a diferença. Por exemplo, após dados serem cruzados por softwares inteligentes, foi verificado que havia uma proporcionalidade no aumento de compras de fraldas e de cervejas. É o analista que sugere que os produtos devem estar mais próximos porque, provavelmente, são os homens que estão comprando as fraldas.
Além disso, não faz o acompanhamento da conjuntura, não possui relacionamentos com especialistas, não faz análise e síntese, muito menos o que deve ser protegido e como será feito. Isso quem faz é o homem. Assim, pode-se definir a atividade de Inteligência como sendo especializada, permanentemente exercida, com o objetivo de produzir conhecimentos de interesse da instituição/organização e a sua salvaguarda contra ações adversas.
Fazer Inteligência não é coisa de “inteligentes”. Aliás, é sempre confundida com a atividade cognitiva. Não é adivinhação ou contar o que já aconteceu. Precisa ter intuição, gostar e ter competência, traduzida em conhecimento, fruto de cursos e estágios, habilidade decorrente da experiência e atitude pró-ativa, com transparência e imparcialidade. Em síntese, precisa ter aptidão e ser técnico.
A fim de um melhor entendimento, a Inteligência é uma ferramenta de suporte à estratégia, porque realiza o monitoramento de forma contínua e sistemática, analisando as situações sob o enfoque social, político, econômico, tecnológico e militar, particularmente, na fase diagnóstica 9, buscando um planejamento mais eficaz que possa diminuir as incertezas para as decisões a longo prazo.
Bem, há necessidade de definirmos algumas coisas. No linguajar acadêmico dado é a informação em “estado bruto”, ou seja, não submetida à análise, síntese e interpretação. A informação já é submetida a algum trabalho de análise e interpretação. O conhecimento passa a ser dados e informações já submetidos à análise, síntese e interpretação necessários para a tomada de decisões. É o algo mais, ou seja, o e daí?
Na realidade, o que os chefes necessitam para apoiar a tomada de decisão é de Inteligência e não de informação, pois o método para a produção de conhecimentos é o conjunto sistematizado de procedimentos realizados pelo analista, fundamentados na metodologia 10 científica e no pensamento lógico, visando produzir um conhecimento objetivo, preciso e oportuno. As organizações que conseguem transformar dados e informações em Inteligência, e os protege da ação adversa, são as que ganham a competição. Isso é a síntese da Inteligência Competitiva.
Cabe à Inteligência identificar as ameaças e oportunidades no ambiente externo e as vulnerabilidades no ambiente interno da organização. As ameaças são atores, movidos por alguma razão, que realizam ações hostis com a possibilidade de comprometer a segurança dos recursos humanos, das informações, do material e das áreas e instalações por intermédio das vulnerabilidades. Essas ameaças, normalmente, aproveitam o relaxamento de pessoas responsáveis pela salvaguarda de dados e conhecimentos, de ações violentas geradas, ou não, por terceiros e dos efeitos lesivos dos acidentes naturais ou sinistros.
O fato é que o mundo mudou, a produção do conhecimento se tornou cada vez mais importante, exigindo do indivíduo e da organização ações voltadas para a antecipação e prevenção. Tornou-se um elemento estratégico e sua gestão e utilização para produção de Inteligência é elemento básico para o desenvolvimento estratégico das organizações, contribuindo para que a organização responda mais rapidamente às ameaças e oportunidades. Chefes tomam decisões muitas vezes errôneas e equivocadas, com consequente prejuízo, por falta de informações seguras.
A atividade de Inteligência é dividida no ramo Inteligência e no ramo Contrainteligência. O Decreto 4.376/2002, que regulamentou a Lei 9.883/1999 que criou o SISBIN, define Inteligência como a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.
O mesmo Decreto define Contrainteligência (CI) como a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem com o das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem (art. 3°, do Decreto 4.376/2002).
Cabe lembrar que a atividade de Inteligência deve ser desenvolvida, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado (Parágrafo Único do art. 3º da Lei 9.883/1999).
Bem, alguns conhecimentos de Inteligência possuem uma visão prospectiva. Uma das técnicas empregadas é a construção de cenários. Segundo Oscar Motomura (2008), a busca de resultados no curto prazo, comprometendo o futuro, não é absolutamente inteligente. Ainda, o mesmo autor (2003) diz que cenários são como sondas para o futuro. O seu valor está em sensibilizar os executivos para possibilidades que eles dificilmente perceberiam de outra forma. Reduzem as chances de surpresas indesejáveis e capacitam os executivos a tomar melhores decisões, em melhor timing.
“Nas próximas décadas, enfrentaremos surpresas inevitáveis nas esferas econômica, política e social. Cada uma delas modificará as regras do jogo tal qual praticado hoje. Todas estarão interligadas. Entender essas surpresas inevitáveis em nosso futuro é essencial para as decisões que devemos tomar no presente – não importando se somos líderes, executivos, governantes ou simplesmente indivíduos que se preocupam com suas famílias e sua comunidade”. Peter Schwartz – Cenários: As Surpresas Inevitáveis.
Os cenários têm o propósito de apresentar uma imagem significativa de futuros prováveis, em horizontes de tempo diversos. Podem projetar a organização em um ambiente daqui a alguns anos. Também, projetam formas de alterar essa imagem, visando assegurar um posicionamento mais favorável da empresa no futuro. É importante a distinção entre cenários e previsões. Estas não passam de simples extrapolações de tendências. A máquina pode fazer. Cenários são sistemas complexos, que buscam revelar sinais precoces de alterações do futuro. Utiliza, principalmente, a opinião de especialistas e pessoas de notório saber. O software pode ser usado como uma ferramenta.
Porém, muitas vezes, buscam-se resultados mais imediatos e a atividade de Inteligência produz um conhecimento com espaço temporal de até seis meses, onde o analista pode apresentar opiniões em sua conclusão.
Com o intuito de melhor entendimento, a CI é dividida em dois segmentos distintos, segundo a especificidade como Segurança Orgânica ou Corporativa e como Segurança Ativa. A primeira de caráter geral, e adotada por todos os integrantes da organização, aplica medidas preventivas de segurança aos recursos humanos, a informação, ao material e as áreas e instalações. A segunda, preditiva, requer pessoal e meios especializados por tratar com medidas destinadas a detectar, identificar, avaliar, explorar e neutralizar atos hostis de espionagem, terrorismo, sabotagem e ações psicológicas.
A proteção dos ativos é de fundamental importância para a vida de uma organização. Ela pode ter adquirido as melhores tecnologias de segurança, preparado seu pessoal muito bem para executar medidas de segurança e pode ter a melhor guarda para proteger as suas instalações. Mesmo assim ainda estará vulnerável. Isso porque, apesar de ser o mais importante, o fator humano é o elo mais fraco da segurança. É preciso criar uma mentalidade, incorporar a idéia, pois a informação privilegiada possui tanto valor que a hipótese de tê-la transforma o seu possuidor em um alvo altamente compensador. Assim, segurança precisa de conscientização, treinamento e educação. Traz resultados imediatos.
O desconhecimento sobre CI faz com que empresários, líderes, cientistas e pesquisadores deixem de conhecer mais uma forma de proteção de seus conhecimentos e ativos e até mesmo da própria integridade física contra atos de violência, sabotagem, espionagem e terrorismo, que existem de fato e são divulgados todos os dias.
Conforme ressalta Sanford Strong (2000) em sua obra “Defenda-se: um manual de sobrevivência contra a violência urbana”, os sociólogos especializados em avaliar as tendências no campo criminal são claros em suas previsões: “Nos próximos anos, os criminosos vão ser mais jovens e mais insensíveis do que hoje. Os crimes que testemunhamos até aqui são leves, em comparação com a onda de violência esperada”.
Nesse contexto, cresce cada vez mais os crimes cibernéticos. Segundo a mídia, os computadores brasileiros estão entre os mais infectados do mundo por programas que roubam senhas e vírus que destroem arquivos. Isso não só porque é mais fácil e menos arriscado, mas também porque o uso disseminado de programas piratas torna os computadores mais vulneráveis a ataques, já que, ao contrário dos programas legais, não são atualizados pelos fabricantes à medida que os criminosos inventam novas formas de infiltração.
O presidente Barack Obama reforçou a segurança virtual dos Estados Unidos. Ele anunciou em Washington a criação da agência federal de prevenção de ataques contra redes de computadores do governo e de empresas. “De agora em diante, as redes e os computadores do qual dependemos todos os dias serão tratados como deveriam: como recurso nacional estratégico”, afirmou Obama.
Vivemos novos tempos e uma nova ordem mundial. O conhecimento tecnológico é cada vez mais um produto comercial entre os Estados, as empresas e organizações. Não há dúvida de que, na atual conjuntura deste mundo globalizado, com rápidas mudanças, esses atores procuram mais eficiência para a proteção do conhecimento por eles produzidos e guardados.
Na atividade de Inteligência, existe uma íntima relação entre a consecução dos objetivos institucionais e os atributos pessoais que norteiam a execução das diferentes tarefas voltadas para o assessoramento da decisão. Fundamentalmente, estão agregados alguns princípios, tais como: da ética, do moral e da segurança.
Os segmentos da segurança têm, entre outros, os objetivos de prevenir os atos de espionagem, sabotagem e a ação de fenômenos naturais que possam causar a divulgação indevida, a destruição ou a adulteração do assunto sigiloso.
De acordo com Hércules Rodrigues de Oliveira (2009), Estados ou empresas buscarão adquirir o conhecimento de que necessitam onde quer que ele seja produzido, comprando-o ou roubando-o.
Seguindo esse raciocínio e longe das ficções dos cinemas, o Brasil tem se destacado em áreas estratégicas (aeroespacial, biotecnologia, matrizes energéticas, Tecnologia da Informação e biodiversidade), o que lhe dá vantagens competitivas no cenário internacional e torna o País, provavelmente, alvo de ações hostis como: a espionagem (11); a sabotagem (12); e a biopirataria (13).
A todo o momento a mídia noticia casos de espionagem e sabotagem. Assim, torna-se interessante saber que o ato de sabotagem pode variar desde uma pequena ação individual até uma de grande porte, integrando um plano de caráter estratégico. Pode ser ainda um ato deliberado para destruir idéias e/ou a reputação de organizações e de pessoas, praticado por motivos variados.
A espionagem utiliza práticas ilegais para acessar dados, informações e conhecimentos. Porém, cabe ressaltar que entorno de 90% do que se precisa pode ser coletado na Internet, em documentos públicos ou em entrevistas.
Os planos de sabotagem valem-se da espionagem para obter e atualizar dados, assim como para desenvolver procedimentos inerentes ao recrutamento de agentes para a sabotagem, que pode ser executado por elementos orgânicos ou não. Procura-se apresentar características de um acidente.
Não tenha tanta certeza que estará com os seus dados protegidos no seu computador, mesmo com antivírus e firewall instalados. Segundo uma pesquisa divulgada pelo provedor norte-americano Earth Link e pela fabricante de software de segurança Webroot, pelo menos um em três PCs têm programas espiões instalados. O spyware pode gravar e transmitir dados pessoais importantes sem que o dono do computador saiba.
O Brasil é o quarto país mais contaminado por vírus e programas capazes de furtar informações, alterar ou destruir dados dos computadores, segundo relatório divulgado pela Microsoft. Só o golpe da falsa página bancária é hoje o mais disseminado no Brasil. Foram 130 milhões de reais de prejuízo pelos bancos em 2008. O gasto com segurança digital chegou a 1,5 bilhão de reais.
Um dos mais conhecidos exemplos de captação de dados é o sistema Echelon. Acredita-se que a NSA (14) com a cooperação das agências equivalente nos Reino Unido (Government Communications Headquarters), Canadá (Communications Security Establishment), Austrália (Defence Signals Directorate) e Nova Zelandia (Government Communications Security Bureau), sejam os responsáveis pelo Sistema. Suspeita-se, que façam interceptação das transmissões telefônicas, de fax e até tráfico de dados da Internet, com o objetivo de procurar ameaças à segurança mundial.
Divulgou-se na mídia que nas High School americanas (segundo grau no Brasil) foi implantada uma nova grade curricular, contemplando matérias como terrorismo, cibercrime e armas nucleares, além do currículo tradicional.
Um exemplo citado nessa reportagem é de uma escola que oferece um curso de segurança interna de quatro anos, onde uma nova palavra foi incluída no vocabulário atual do curso: o agroterrorismo. Também, nesse sentido, foi criado pela Presidência da República o Núcleo do Centro de Coordenação das Atividades de Prevenção e Combate ao Terrorismo.
Hoje muitas pessoas conhecem o que significa engenharia social ou já ouviram falar dela. A Internet define como práticas utilizadas para obter acesso a informações importantes ou sigilosas em organizações ou sistemas por meio da enganação ou exploração da confiança das pessoas. Para isso, o golpista pode se passar por outra pessoa, assumir outra personalidade, fingir que é um profissional de determinada área, etc. Explora as falhas de segurança das próprias pessoas que, quando não treinadas para esses ataques, podem ser facilmente manipuladas.
Kevin D. Mitnick, um dos hackers mais famosos do mundo, em seu livro “A arte de enganar” afirma que os firewalls e protocolos de criptografia do mundo nunca serão suficientes para deter um hacker decidido a atacar um banco de dados corporativo ou um empregado revoltado determinado a paralisar um sistema. No livro, Mitnick fornece cenários realistas de conspirações, falcatruas e ataques de engenharia social aos negócios e suas conseqüências.
Convidando você a entrar na mente complexa de um hacker, o livro mostra como até mesmo os sistemas de informações mais bem protegidos são suscetíveis a um determinado ataque realizado por uma pessoa que se faz passar por outra, aparentemente inocente, para acessar dados e conhecimentos.
Dessa forma, a ABIN procurar sensibilizar para a proteção de conhecimentos sensíveis, por intermédio do Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento (PNPC), em parceria com instituições nacionais, públicas e privadas, que geram e detêm conhecimentos sensíveis e realizam serviços essenciais para o desenvolvimento socioeconômico do País.
O PNPC prevê, entre outras atividades, a sensibilização de pessoas, a elaboração de diagnósticos e a normatização de procedimentos de proteção direcionadas para áreas e instalações, documentos e materiais, pessoas e sistemas de informação.
Nos casos mais simples, ou seja, para empresas que não desenvolvem projetos estratégicos, é o caso de implementar um programa de conscientização, que poderá ser composto de: programa educacional; plano de segurança orgânica; plano de contingências; plano de controle de danos; programa de treinamento continuado; e auditorias e visitas técnicas.
A grande vantagem de um programa de conscientização é que não visa somente à implantação de medidas de segurança. Busca, primordialmente, a criação de uma mentalidade e do comprometimento de todos.
Tudo tem início com uma auto-avaliação das condições de segurança na organização ou empresa, levantando ameaças e deficiências que afetem negativamente os recursos humanos, às informações, os materiais e as áreas e instalações. Tudo baseado na legislação em vigor.
Para a elaboração do plano de contingência são necessários que sejam levantados alguns itens básicos, tais como: quais são os sistemas críticos que garantem a continuidade do negócio da organização ou empresa; análise de risco e impacto na missão ou nos negócios; e homologação dos sistemas críticos por parte dos líderes ou executivos da organização ou empresa.
O objetivo do plano é tomar as providências imediatas, executando as medidas de recuperação dos sistemas corporativos, considerando o tempo de paralisação previsto para o restabelecimento da atividade, definidos no planejamento.
Finalmente, ao tratar das atividades de CI vale ressaltar a importância, em qualquer situação, das ações contra a propaganda adversa (15) e a desinformação (16).
3. CONCLUSÃO
A atividade de Inteligência é um fato consumado. É um campo que cresce dia a dia com a necessidade de diminuir as incertezas e melhorar a projeção das organizações ou empresas no futuro. Sem conhecimentos pertinentes e confiáveis, dificilmente será feito um planejamento estratégico que permita alcançar os objetivos estabelecidos.
O processo de globalização provocou significativas mudanças no relacionamento entre as organizações. Não há, provavelmente, mais lugar para métodos tradicionais que não evoluíram com a eficiência e eficácia exigida pela interligação das conjunturas interna e externa, promovendo ampla conectividade e compartilhamento de dados, informações e conhecimentos.
Diante de novas demandas sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e militares e de situações cada vez mais complexas, as empresas e organizações devem valer-se de profissionais competentes de Inteligência e de novos métodos, técnicas e ferramentas que auxiliem a produção do conhecimento de Inteligência.
Há uma imensa “massa de informações” com a qual o profissional de Inteligência tem que lidar no seu trabalho, seja na produção ou na proteção dos conhecimentos. Certamente, violam o princípio constitucional da eficiência (art. 37, caput, CF) quando trabalham com esse “material” sem conhecimento técnico e experiência, acarretando grande desperdício de recursos humanos, materiais e financeiros.
Segundo especialistas, não há dúvida de que o mundo vai oferecer muitas oportunidades estratégicas ao Brasil nos próximos anos. A única incerteza é saber se saberemos aproveitá-las. Para isso, existe a necessidade da ação de líderes para iniciar as mudanças que farão a sua organização ou empresa ter maior representatividade e perspectivas em um ambiente cada vez mais competitivo. As mudanças precisam agregar valor, fazer a diferença, caso contrário, serão somente novidades.
Em um mundo globalizado, de extrema suscetibilidade a mudanças e, sobretudo, a crises é preciso estar preparado para monitorar o ambiente externo e se antecipar às ações dos oponentes ou concorrentes, prevendo a possibilidade de ameaças e oportunidades, bem como conhecendo muito bem as suas vulnerabilidades, para implementar com efetividade medidas que assegurem a salvaguarda dos conhecimentos e ativos das organizações.
O pessoal precisa saber contra o que se proteger, quais são as ameaças e o que fazer, quais são os controles e medidas a serem empregadas. Para isso é importante estabelecer diretrizes, normas e procedimentos compreensíveis e executáveis, baseados em uma autoavaliação real e objetiva.
Todas as oportunidades devem ser aproveitadas para abordar assuntos relativos à segurança. As ameaças e os riscos devem ser abordados e a comunicação bilateral estimulada, pois como normalmente se diz o fato do problema não ser do conhecimento de todos, não significa que não exista.
Assim, há a necessidade, antes de tudo, de executar um programa que eduque os integrantes de uma organização ou empresa. Que simplesmente não só sugira medidas de segurança, mas que mude a mentalidade da corporação, pois a segurança não depende apenas da tecnologia, mas, talvez, muito mais das pessoas. Do comprometimento de todos. Para isso é imprescindível a seleção e o constante treinamento do pessoal. Mais do que nunca, hoje a segurança é um fator estratégico.
O segredo para resultados imediatos está na conscientização, no treinamento e na educação, pois produzir um conhecimento de Inteligência e implementar medidas de segurança é uma questão, principalmente, de atitude.
Notas
1 A Agencia Brasileira de Inteligência (ABIN) é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Substituiu o SNI.
2 Central Intelligence Agency (CIA), em português Agência Central de Inteligência, é um servico de Inteligencia dos Estados Unidos.
3 É qualquer dado que possa contribuir para o entendimento de determinado assunto, problema ou situação, depois de submetido à avaliação quanto à idoneidade de sua fonte, bem como à veracidade do seu conteúdo.
4 Conhecimento de um fato ou situação, resultante do processamento de todos os dados e informes disponíveis sobre determinado acontecimento, e que expressa a certeza do analista, devendo, sempre, atender uma necessidade de planejamento, de execução ou de acompanhamento de atos decisórios.
5 É o conhecimento resultante de raciocínio elaborado e que expressa a opinião do analista sobre fatos ou situações, passadas ou presentes, e os seus reflexos no futuro imediato.
6 É o conhecimento resultante de raciocínio elaborado e que expressa a opinião dos analistas de um grupo de trabalho sobre a evolução futura de fatos ou situações.
7 A Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991).
8 Inteligência de Estado, conforme foi criada pelas grandes potências no início da Guerra Fria.
9 Primeira fase do Planejamento Estratégico, segundo o método da Escola Superior de Guerra.
10 Fases do método: Planejamento, Reunião/Coleta, Processamento e Difusão.
11 A espionagem é a prática de obter informações dos rivais ou inimigos, sem autorização destes, para se alcançar certa vantagem militar, política, ou econômica. A definição vem sendo restringida a um Estado que espia inimigos potenciais ou reais, primeiramente para finalidades militares, mas ela abrange também a espionagem envolvendo empresas, conhecida como espionagem industrial.
12 A palavra sabotagem deriva de sabot, tamanco de madeira em francês, pois no seculo 18 e 19 estava associada com os operários que os usavam, que quando não estavam satisfeitos com as condições de trabalho, os atiravam entre as engrenagens das maquinas.
13 A biopirataria é a exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos.
14 NSA ou National Security Agency (Agência de Segurança Nacional), criada em 1952, é a agência de segurança americana responsável pela Inteligência de Sinais (SIGINT), isto é, Inteligência obtida a partir de sinais, incluindo interceptação e criptoanálise.
15 Busca afetar valores ligados a ordem, a ética e a liderança.
16 Busca induzir ao erro a tomada de decisão.
REFERÊNCIAS
-KENT, Sherman. Informações Estratégicas, Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro. 1967.
-MARCIAL, Elaine Coutinho. Utilização de modelo multivariado para identificação dos elementos-chave que compõem sistemas de inteligência competitiva. Dissertação. Universidade de Brasília. 2007.
-MITNICK, Kevin. SIMON William. A Arte de Enganar. Pearson Education do Brasil. São Paulo. 2006
-MOTOMURA, Oscar. Entrevista ao Instituto Ethos. 2008. Consulta em http://www.rts.org. br. Acesso em 13/06/2009.
-NAISBITT, John. ABURDENE, Patricia, Megatrends 2000: dez novas tendências de transformação da sociedade nos anos 90. São Paulo. 1990.
-OLIVEIRA, Hércules Rodrigues de. Artigo. 2009. Disponível em: http://defesabrasil.com/site/index.php/Noticias/Inteligencia/Inteligencia-de-Estado.html. Acesso em 14/06/2009.
-PACHECO Denílson Feitoza. Atividades de Inteligência e Processo Penal. Disponível em: http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2005. Acesso em 13/06/2009.
-SCHWARTZ, Peter. Cenários: as Surpresas Inevitáveis. Editora Campus. São Paulo. 2004
-STRONG Sanford. Defenda-se: um manual de sobrevivência contra a violência urbana. Editora Harbra. São Paulo. 2000.
(*) Francisco José Fonseca de Medeiros é coronel do Exército
e especialista na área de Inteligência.
e especialista na área de Inteligência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário