por Janer Cristaldo
Quando falo que o Brasil costuma importar do estrangeiro as piores idéias, me refiro a idéias dos Estados Unidos ou da Europa. O Senado Federal deu um passo adiante. Passou a importar as piores idéias da África e da Ásia. Me refiro à regulamentação da profissão dos mototaxistas. A decisão de jerico foi tomada nesta semana. O texto aprovado na Casa dos Horrores — como diriam os britânicos — segue para sanção presidencial e ao que tudo indica o jerico-mor não a vetará.Segundo a agência Estado, de 1990 a 2006, o número de mortes em acidentes de moto no Brasil subiu de 299 para 6.734, o que significa, em termos percentuais, um aumento de 2.252%. Em 2006, as motos mataram 19 pessoas por dia no país. A gripe suína, até agora, matou duas pessoas. Fala-se em epidemia. Não das mortes por motos. Mas epidemia da gripe suína.
Uma moto, teoricamente, conduz uma pessoa. Uma mototáxi, necessariamente, conduz duas. Fácil deduzir o que vem pela frente. O número de mortos duplicará. Com o aval da Casa dos Horrores e provavelmente do Supremo Apedeuta.
Segundo o engenheiro e sociólogo Eduardo Alcântara Vasconcellos, representante brasileiro na Organização Mundial da Saúde, o discurso de que a moto gera emprego e liberta o pobre é demagogia. Dado o apoio amplo e irrestrito do governo federal à indústria da motocicleta, haverá um incentivo muito forte para a proliferação do mototáxi. Em entrevista para a Folha de São Paulo, diz o engenheiro:
“O governo facilitou a ida da indústria para a zona franca de Manaus. Tem um subsídio muito alto. Agora, com a crise, o governo também reduziu o IPI da motocicleta. Além disso, a moto que entrou no Brasil é altamente poluente. O governo não exigiu que a indústria adaptasse os motores. É uma licença para poluir com um custo social enorme. Importamos o pior do que já existe na África e na Ásia pobre, de uma maneira populista e irresponsável".
Luíza Erundina, a prefeita petista de São Paulo, já havia dado um considerável passo — rumo à Idade Média — ao introduzir a tração humana em substituição à roda e ao motor, com suas carroças de coleta de lixo. O Senado não fez percurso tão longo para trás. Apenas legalizou instrumentos de morte contemporâneos. Em nome da expansão da indústria das motos, o Senado pede mais cadáveres.
Ave, Brasília. Morituri te salutant.
Fonte: Janer Cristaldo
COMENTO: as estatísticas de danos físicos ocorridos em função de acidentes com motocicletas são, sem dúvidas, escamoteadas pela imprensa. Raramente temos oportunidade de tomar conhecimento de acidentes envolvendo motociclistas, a não ser os ocorridos em vias de grande movimentação, ou aqueles em que a morte de alguém tenha sido de extrema violência e "agregue público", ou seja, "que dê ibope". Há tempos me assalta a impressão de que deve "rolar um por fora" por parte das grandes indústrias de motocicletas para que as tragédias envolvendo esse meio de transporte não venham à público. Pode ser que a ideia de melhorar a imagem governamental via gastos públicos em "comunicação social" tenham sido copiados dos investimentos que Honda, Yamaha, e outras multinacionais possam fazer, não só para divulgar seus produtos, mas também para a não divulgação das perdas ocorridas pelos usuários de seus produtos, em termos de mortes e mutilações. Sem falar nos prejuízos à Previdência Social, causados por benefícios pagos a jovens mutilados que pouco contribuíram com o sistema. Os órgãos responsáveis pela saúde pública devem ter dados a respeito disso, mas será que há vontade de divulgá-los??
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