por Janer Cristaldo
Lemos no Estadão de hoje (28/12) uma espécie de editorial disfarçado como notícia, sobre o regime de 64:"A preocupação com os adversários do governo militar era tão intensa que a Divisão de Segurança e Informações do então Ministério da Educação e Cultura (MEC) publicou, em 1970, uma cartilha específica intitulada Como eles agem. O documento dá a avaliação do regime sobre como, supostamente, os grupos clandestinos procuravam se infiltrar nas áreas da educação, cultura, imprensa e religião para influenciar os brasileiros mais jovens com suas idéias."
"As organizações esquerdistas vêm tentando conquistar o apoio popular através da identificação dos seus fins com as necessidades e aspirações do povo, utilizando-se da propaganda sub-reptícia, através das letras e artes e, muitas vezes, de meios ilegais como os atos de terrorismo e sabotagem", avisa a introdução da cartilha.
O artigo, assinado por Marcelo de Moraes, tem um tom irônico, como que afirmando tal preocupação ser um grosso equívoco do regime. "Supostamente, os grupos clandestinos procuravam se infiltrar..." Supostamente, um catzo! Os marxistas sempre estiveram infiltrados na Igreja, a tal ponto que a Igreja deu cobertura a terroristas como Marighella. Dom Evaristo Arns manifestou apoio público ao ditador Fidel Castro. No Rio de Janeiro, o cardeal Eugenio Sales alugou 80 apartamentos para abrigar apparatchiks de toda a América Latina, que chegaram a acolher grupos de 150, simultaneamente. O total de militantes hospedados, entre 76 e 82, chegou a cinco mil pessoas.
E continuam infiltrados também nas escolas e universidades, preferentemente nas ditas Humanidades, onde os cursos de Letras, História, Filosofia e Sociologia eram escolas de catequese comunista. Eram e ainda são. Embora a imprensa tenha noticiado a Queda do Muro de Berlim, o desmoronamento da URSS e a definitiva desmoralização da doutrina comunista, ao que tudo indica a universidade brasileira ainda não tomou conhecimento disto.
A imprensa contemporânea segue os mesmos rumos. Embora os jornalistas, por obrigação profissional, tenham noticiado tais fatos, parece que já os esqueceram. O mesmo Estadão que ironiza as preocupações dos militares de há quatro décadas, conseguiu um milagre em sua edição deste domingo. Dedicou em seu suplemento “Aliás” oito páginas em memória à Revolução Cubana, sem usar em um só momento a palavra ditador. Pelo menos no que diz respeito a Fidel Castro. Nas oito páginas do suplemento, a palavra ditador é usada quatro vezes... para definir Fulgencio Batista. E mais uma quinta vez, para designar Gerardo Machado, político que subiu ao poder em 1933, antecedendo Batista.
A Folha de São Paulo, por sua vez, dedica oito artigos às bodas de ouro da Revolução em seu caderno "Mundo", e mais um outro na "Ilustrada". Menção nenhuma a ditador ou ditadura. Em um só texto fala-se em ex-ditador. Mas isso na linha fina, e não no corpo do artigo. Por que ex-ditador? O Coma Andante continua ditando em Cuba.
Durante décadas de ditadura, a imprensa brasileira e mesmo a internacional, sempre referiu-se a Castro como presidente. Com a Queda do Muro e o desmoronamento da União Soviética, cá e lá, alguns jornais passaram a chamá-lo de ditador. Até mesmo a Folha e o Estadão. A imprensa parece hoje ter tido uma recaída, uma espécie de surto de nostalgia, na comemoração do meio século de ditadura castrista.
Até mesmo jornais que se pretendem independentes, como o espanhol El País e o francês Libération, não falam na ditadura de Castro. Convalescentinho, Fidelito virou coitadinho. Quando morrer, vai no mínimo virar santo.
A história me absolverá, disse um dia Castro. Pelo jeito, já o absolveu.
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