por Fabiano Azevêdo (*)
Li ontem com preocupação a entrevista que um capitão do Exército concedeu ao jornal Folha de São Paulo. Seu interesse de lançar seu nome nacionalmente em uma plataforma política considerando a necessidade de democratizar as forças armadas, persi já estaria vazia, visto que não há instituição nacional permanente mais democrática que a de defesa, nesta incluindo a Marinha, o EB e a FAB. Conheço particularmente o EB, instituição a que faço parte com muito orgulho há quase trinta anos e que me serviu de esteio cultural desde os dez anos de idade, no saudoso colégio militar de Fortaleza.Julgo que o referido capitão entrevistado foi mais além em sua retórica e diz-se interessado em que haja um revisionismo na estrutura disciplinar castrense. Ora, as duas colunas de sustentação da vida militar são a hierarquia e a disciplina, conceito esse pacificado em lei datada de 1980. Antes de qualquer crítica às minhas palavras, quero estabelecer que não estou na condição de advogado do exército, nem quero desfigurar o que pretende o capitão em tela. Apenas acho que não deve esse episódio passar de maneira vazia por parte das mentes pensantes das instituições militares, principalmente por parte dos profissionais da ativa.
Todos os preceitos que regem a vida militar têm uma destinação e têm uma fundamentação. O que propõe o oficial candidato que concedeu a entrevista à Folha? Ele pede um abrandamento das punições disciplinares, num contexto de apoio de sua plataforma política, segundo ele já consolidada, aos candidatos propostos pela agremiação a que pertence o presidente da república. Pede também a não criminalização de movimentos sociais, uma América Latina integrada e outras coisas, através de respostas evasivas em que dificilmente respondeu o que a jornalista questionou na realidade.
Segundo o entrevistado, o regulamento disciplinar é inconstitucional, mas pelo visto não leu o que a constituição atribui como especificidades da vida militar nos incisos do parágrafo 3º do Art 142, principalmente o inciso X, que fala: "X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra..."
Como vemos, ao leigo é permitido tergiversar. Lembro, não estou advogando as causas do exército, até porque há doutos pagos para isso. O leitor poderá questionar se há falhas na instituição. Há e são próprias do julgamento humano. Não há, porém, extrapolação, pois o mesmo regulamento e os códigos que regem a fiel observância da hierarquia e disciplina, também caracterizam e enquadram o mau julgador, o mau árbitro das falhas humanas. Há outras falhas que são compensadas pelo que de principal temos em nossa profissão sacerdócio: o amor à Pátria. Não que o capitão tenha deixado seu patriotismo de lado. Está, a meu ver, iludido.
Vejo que o revisionismo disciplinar por ele pretendido é só um pano de fundo, interessando ao capitão e seu grupo, creio eu, o estabelecimento de um apoio irrestrito à causa partidária do chefe do executivo. Esse viés ficou bem elucidado em suas afirmações categóricas de solidariedade ao que ele chamou de Lula desenvolvimentista. Entendo que ao ser humano é lícito politizar-se, até porque a política está nos entremeios da rotina do ser humano que vive num regime de liberdade democrática. E a democracia pressupõe a alternância no poder, coisa que vejo como não ser do interesse do atual status dominante.
E sustento esta tese do apoio incondicional à causa petista, nas afirmações feitas por ele no sentido da não criminalização de movimentos sociais, integração continental e decisão do grupo em apoiar o candidato do desenvolvimentista Lula. Ora, o que há de convergência entre a disciplina militar prestante, a bandalheira promovida pelos movimentos ideologicamente e financeiramente patrocinados pelo PT, a apologia do bolivarianismo e a solidariedade à coisa petista? Tudo. Tudo, amigo. E quanto mais a opinião pública leiga e inocente for bombardeada por lavagens cerebrais como a que veio à mídia neste domingo passado, mais convergiremos para a socialização do querer, do achar e do pensar.
Ora, se um capitão do exército julga lícita a bolivarianização continental, por que eu, bancário, comerciante, professora, arquiteto, contribuinte e vacinado não julgarei lícita também e passarei também a achar que o presidente é um sujeito desenvolvimentista?! Acordai, ó zumbis. Nossa capacidade de ver e entender os contraditórios cada vez mais está sendo dominada pelos ditames do politicamente correto e do politicamente publicado.
E minha indignação se transforma em repúdio quando vejo que um indivíduo que foi formado sabendo dos desmantelos promovidos pela esquerda mundial, da qual o presidente da república é um dos promotores, se abster de criticar a histórica desestabilização que a ideologia de esquerda promoveu no mundo, mas pelo contrário silencia e elogia os podres ventos que a trazem ao nosso continente e ao nosso país, em escambos morais de submarinos nucleares e tecnologias que todos sabemos inviáveis pela pouca priorização orçamentária da indústria de defesa, principalmente em tempos de fundo soberano.
Outra matéria que merece análise, até em tom de finalização de meus pensamentos, é a desvinculação ao passado que o jovem oficial faz questão de demonstrar. Diz ele "A gente não tem nada a ver com a ditadura militar. Eu não quero entrar no mérito [e dizer] se foi certo ou errado. Cabe a nós pensar para frente, somos capitães, tenentes. Nosso pensamento é desenvolver o Brasil, um lugar para a gente crescer, com a não-criminalização dos movimentos sociais.". Ora, o que o capitão chama de ditadura foi um período em que os três poderes funcionaram e todas as instituições cumpriram suas missões constitucionais, promovendo um país feliz, que talvez ele não recorde por não ter vivenciado a paz que os movimentos sociais que ele defende hoje, e que não existiam naquela época, não deixariam que tivesse, caso existissem.
Eu, que sou mais velho que o capitão entrevistado, sei que eu tenho muito a ver com o período dos governos militares, esse sim desenvolvimentista, onde apenas o presidente era general e todo seu staff, que era bem reduzido em relação aos milhares de assessores hoje existentes, era composto de civis. Eu, por minha vez, entro no mérito e tiro meu chapéu pela democracia que eu aprendi a respeitar e que me fez um brasileiro vocacionado a gostar da vida militar pelos seus desafios, pelas suas normas, pela sua atividade fim. Trabalhei de sol a sol na construção e recuperação de inúmeras rodovias, numa época em que se fazia por gosto e se estufava o peito pelo sentimento de missão cumprida.
Logicamente vejo que minha profissão reconhece pouco. Muito do que eu ajudei a fazer não me rendeu nem um obrigado, quanto mais reconhecimentos que hoje vejo galardoando peitos e pescoços de pessoas que dantes foram apedrejadores da vida em sociedade. Mas tenho valores familiares que me fizeram entender que a noção de solidariedade social está num patamar muito mais importante do que o vil metal ou que títulos não merecidos que mofam pelos cantos dos vazios em que se transformam as vidas dos espertalhões, dos futriqueiros, dos bajuladores, das candinhas e dos vilões.
Falei muito pouco ao capitão petista do que realmente precisava falar. Muito pouco mesmo. Mas quero destinar a ele momentos de reflexão e oro a Deus, que faz suplantar todas as injustiças do mundo, que este oficial possa usar toda a coragem que o fez desafiar a única instituição ainda não tomada de assalto pelos objetivos trazidos pelos adoradores de Marx, Lénin, Guevara e outros humanóides, em prol de uma renovação moral da sociedade nacional.
Sei que é pedir demais a alguém que já está embriagado pelo canto da sereia que acolheu aqui em nossos mares o tirano Rául Castro, responsável por uma ditadura fratricida que ceifou mais de cinquenta mil cubanos. Mas nunca é tarde para visualizar a razão e dela extrair o voto necessário que irá não só bafejar os injustiçados pelos regulamentos militares, mas a toda Nação Brasileira, refém que está de leis que são editadas, publicadas e no mesmo DOU, remendadas, de um modo bem mais inconstitucional que o jovem capitão imagina ser o Regulamento Disciplinar do Exército.
(*) Major da ativa da Arma de Engenharia.
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