por Mozart Hamilton Bueno
Brasília, 12 de julho de 2011.
Excelentíssimo Senhor ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com todas as vênias que Vossa Excelência se fez merecedor por ter atingido a primeira Magistratura do país, exerço meu direito de cidadão, não implicando este exercício em afronta, mas crítica de quem já não mais acredita nos rumos deste país, mercê dos desmandos que de há muito vêm ocorrendo.
Assim, inicialmente entendo oportuno esclarecer a Vossa Excelência que:
1. Nunca participei de qualquer movimento ou partido político;
2. Nunca fui guerrilheiro;
3. Nunca participei de assalto a banco, nem de seqüestros;
4. Nunca participei de qualquer ação terrorista assim como nunca ceifei vidas por razões ideológicas ou qualquer outra;
5. Nunca estive exilado em Cuba, na Rússia ou em qualquer outro país, em razão do que nunca recebi dinheiro alienígena nem aprendi a nefasta arte das guerrilhas urbana e rural;
6. Nunca recebi dinheiro desonesto, seja no bolso, na cueca, na meia, na mala preta ou mesmo em conta corrente, assim como nunca fiz remessa de qualquer numerário para o exterior;
7. Também nunca participei de “mensalão” “mensalinho”; ou qualquer outra modalidade de corrupção;
8. Nunca fui funcionário fantasma assim como nunca usufruí das benesses do nepotismo, direta ou indiretamente;
9. Infelizmente, nunca fui craque em qualquer esporte, razão pela qual nunca percebi salários milionários;
10. Não sou beneficiário de programas do governo denominados bolsa estudo, bolsa alimentação, bolsa transporte, bolsa bujão de gás, bolsa sem-terra, bolsa sem-teto, como também nunca me beneficiei do sistema de cotas para negros, índios, afro-descentes, quilombolas e outros tantos que andam por aí;
11. Também não integro qualquer ONG nem o MST.
Apenas e modestamente, dediquei ao todo, quarenta e quatro anos ao serviço público do meu estado natal, Minas Gerais e ao Estado de Rondônia, em razão do que percebo hoje aposentadoria que me garante sustento.
Então, não falo por mim, mas por milhões de brasileiros deserdados, esquecidos e maltratados pelo Estado.
Ao meu Estado de origem, Minas Gerais, e à Pátria, nada devo, exceto os quatro primeiros anos de estudo (antigo grupo escolar), pois os demais — ginasial, colegial, dois cursos superiores e vários de aperfeiçoamentos — foram conquistados a duras penas e às minhas próprias expensas.
Hoje se tem notícia de que Vossa Excelência enviou ao Congresso Nacional projeto de lei que premia os ex-campeões de futebol, (tidos como heróis), com determinada quantia e ainda estende esse benefício aos seus descendentes.
Muito justo...
Pena que, após, serão agraciados com o nosso dinheiro, os campeões de todas as outras modalidades de esportes, os artistas, cineastas e muitos outros campeões, pretéritos e vindouros, ainda que sob imposição de mais sacrifício à população mediante a elevação dos impostos já escorchantes e a volta de outros para satisfazer a insaciável fome do erário.
Os jogadores de futebol, Senhor ex-Presidente, não são heróis brasileiros.
Heróis de fato foram os vultos que fundaram a nacionalidade, como Joaquim José da Silva Xavier, por antonomásia “Tiradentes; os Inconfidentes Mineiros, os Bandeirantes, o Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, os Imperadores Pedro I e Pedro II, Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), Tamandaré, Osório, Deodoro e Floriano, Benjamin Constant, Ana Néri, os que lutaram na Guerra do Paraguai, os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira que tudo deram de si na II Guerra Mundial e ainda, os que, sem heroísmo bélico, honraram e engrandeceram a Pátria, como Rio Branco, Santos Dumont, Vital Brazil, Carlos Gomes, Villa Lobos, Rui Barbosa, Carlos Chagas e muitíssimos outros nas áreas da ciência, da tecnologia, das letras, da música, do direito e da política.
Estes sim alicerçaram as bases e os rumos do Brasil.
Heróis da nacionalidade, Senhor ex-presidente, embora no anonimato, são os professores de todos os níveis, que alavancam o progresso deste país; heróis são os militares das Forças Armadas, sempre prontos ao serviço da Pátria; heróis são os policiais militares que enfrentam diuturnamente os bandidos e ainda as famigeradas comissões de direitos humanos, assim como heróis são os bombeiros militares, verdadeiros anjos da guarda da população.
Heróis são os médicos, para-médicos e funcionários da saúde que labutam sem recursos, sem equipamentos e sem medicamentos nos prontos socorros improvisados e nos sujos e peçonhentos hospitais públicos, sem a contrapartida de um salário justo e digno.
Heróis, enfim, são os milhões de brasileiros anônimos, pacatos, cumpridores dos deveres e pontuais pagadores de impostos absurdos, que não recebem do governo a constitucional contra partida do estudo, da alimentação, da moradia, da saúde, da segurança e do transporte.
Vossa Excelência, retirante nordestino de origem pobre, talvez não saiba, pela aversão aos bancos escolares e aos livros — como reiteradamente proclamado em suas falas — que há professores neste país que percebem menos de um salário mínimo; que há escolas de taipa, de lona e sem carteiras e alunos sem qualquer material escolar, desnutridos e completamente desassistidos.
Vossa Excelência talvez não saiba que há professoras do primeiro grau que caminham léguas para lecionar e percebem metade do salário mínimo sem qualquer outro tipo de ajuda, enquanto outras navegam corajosamente pelos rios e igarapés da Amazônia para o sacerdotal sacrifício de alfabetizar crianças ribeirinhas.
Vossa Excelência talvez não tenha conhecimento de que o sistema bancário brasileiro cobra, com a conivência e sob a proteção do Estado, mais de 450% de juros ao ano e retribui nas aplicações dos seus correntistas 12% em igual período.
Vossa Excelência talvez não tenha conhecimento do estado precário das rodovias federais e estaduais, dos desvios de verbas e da corrupção que se agiganta nos três níveis da administração pública, muito embora tivesse o dever de tudo saber enquanto Presidente da República. E mais, de determinar apurações e punir exemplarmente os ratos que infestam a administração pública.
Vossa Excelência teve conhecimento de que os gastos do seu governo com os cartões corporativos superaram o orçamento de muitos órgãos da administração?
Vossa Excelência teve conhecimento das infindáveis “maracutaias” havidas em seu governo, sem que nada se fizesse para estancá-las?
Certamente que não, como negado reiteradamente durante todos os oito anos de governo. Cidadão do mundo, viajante contumaz, turista reconhecido, passou mais tempo no interior do “aero-lula” e em terras estrangeiras do que aqui no nosso Brasil.
Empenhou-se para que aqui se realize a Copa do Mundo, obrigando a Federação, os Estados e Municípios a gastos astronômicos em detrimento das mais urgentes e comezinhas necessidades do povo.
Alheio à realidade nacional e movido pelo populismo, Vossa Excelência idealizou, materializou e enviou ao Congresso Nacional projeto de lei que assegura pensão aos ex-campeões mundiais de futebol.
Muito bem...
Mas, e aos ex-campões da educação, hoje aposentados com salário de fome e maltratados pelo desdém da União, dos Estados, Municípios e INSS?
E aos ex-campeões da medicina que dedicaram suas vidas à salvação de outras vidas?
E aos ex-campeões da ciência, que dedicaram noites e noites indormidas para a melhoria da saúde pública e prevenção às doenças?
E aos ex-campeões da segurança pública, que enfrentaram diuturnamente a guerra ao crime?
E aos milhares de crianças e adolescentes moradores de rua e já escravos das drogas, que estatísticas já apontam em número de um milhão?
E aos atuais milhões de campeões anônimos que labutam diuturnamente para a melhoria das finanças, do progresso e da riqueza nacional?
Desses, Vossa Excelência não se lembrou, como não se lembrou dos atletas cubanos que lhe pediram asilo político. Entretanto dispensou especial atenção aos invasores de terras, às ONGs suspeitas, aos “cesares battistis” e aos falsos estadistas desta banda das Américas.
Por todos os títulos a iniciativa de Vossa Excelência é lamentável, antipática e discriminatória.
Como cidadão inconformado com tantos desmandos e tanta corrupção, alio-me ao pensamento de um dos maiores craques do nosso futebol, Tostão, cujo civismo o levou a repudiar essa demagógica iniciativa, porque cortesia feita com o chapéu alheio, ou seja, com o dinheiro do povo.
Só me resta esperar que Deus ilumine nossa presidente para que ela erradique de vez a corrupção neste país e que o Congresso Nacional, saindo da letargia e da genuflexão ante o Poder Executivo, ponha-se de pé e rejeite tão absurda proposta.
Atenciosamente,
Fonte: Resistência Democrática
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