por José Geraldo Pimentel
Sentei à frente do Canal 2 e fiquei diante da tela tentando enxergar o espetáculo que teimava em se esconder na escuridão de uma transmissão que não era das melhores. Cinco bandas militares faziam evoluções no campo, com uma porção de cinegrafistas com varas que faziam o papel de suportes para microfone, atrapalhando o andamento do espetáculo.
— Melou! Pensei ao ver a evolução das bandas, onde somente a banda dos Fuzileiros Navais dizia a que viera. Sem desmerecer as outras bandas, achei que só uma daria o recado, sem ocupar todo o espaço do campo onde se apresentavam. Quando já me dispunha desligar o aparelho de televisão, anunciou-se a chegada da presidente da república, senhora Dilma Rousseff. “Opa!” Vibrei. A ex terrorista parecia bem disposta, embora com a carinha de menina que deixara a boneca em casa, e acompanhara a mãe para uma ida ao supermercado, atrapalhando a sua diversão. Grudei bem as vistas no palanque e só vi à direita da presidente o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o presidente da CISM. À esquerda o governador e o prefeito do Rio de Janeiro, respectivamente, Sérgio Cabral e Eduardo Paes. E os comandantes militares? A festividade seguiu em frente e terminou sem que eu notasse as presenças dos donos da festa.
“— Estariam confinados em um palanque à parte, como aconteceu na Parada de Sete de Setembro último?” Pensei.
Mais uma desfeita! O ministro da Defesa, por auto recreação ou cumprindo ordens superiores, manteve mais uma vez as autoridades militares longe dos holofotes, mesmo num evento militar.
Um corredor formado por jovens e crianças abriu espaço para a entrada das delegações. Achei maravilhoso ver as duas Coreias participando de um mesmo evento. Fiquei na expectativa de assistir a passagem dos italianos. O affair Cesare Battisti me preocupava. Não vi e nem escutei o anúncio da presença da representação de Israel. Perdi também a passagem dos americanos. O locutor anunciou que diversas delegações de países da África compareceram graças ao transporte patrocinado pela FAB que as foram buscar além mar. Ser pobre é uma desgraça; nem para competir tem chance, salvo se for pego em casa!
O espetáculo ficou por conta da representação de efeitos de luzes controladas por computador, que fez um histórico de mapas antigos, até chegar ao mapa-mundi, onde a presenças das delegações era acompanhada por iluminação no mapa. As riquezas naturais do Brasil e do planeta foram mescladas com a representação de figuras alegóricas e jogo de luzes. E para finalizar, já com a comitiva presidencial se retirando do estádio, começou um show de músicas de escolas de samba, com a cantora Alcione abrindo o espetáculo, e sendo o ponto alto desta parte do espetáculo.
O presidente do CISM discursou de improviso e não fez feio. A tocha simbólica foi acesa por Pelé que subiu uma escada que parecia caminhar na direção das nuvens. A cada dois lances de escada, fazia uma parada e descansava. Chegou no alto e acendeu, finalmente, a pira simbólica. Uma representação alegórica para impressionar os melhores artistas. Pelé, o "ex soldado 201 Nascimento", deu show de entusiasmo, mostrando todo o seu carinho pelas FFAA. A primeira oficial índia, Sílvia Wajãpi, conseguia realizar o seu grande sonho. Hastear o Pavilhão Nacional! Seus tempos de segregação nas escolas por onde passou na infância, sendo-lhe sempre negada a oportunidade de estar ao lado da Bandeira Nacional, agora era superado. Fez bonito. Emocionou pela sua firmeza e seu olhar fixo na Bandeira Nacional. Deve ter sentido que naquele momento estava realizando a coisa mais importante de sua vida. Eu a aplaudia de pé!
Vendo os entusiasmos dessa jovem índia e do Pelé, só pude lembrar os companheiros do passado, e da atualidade, que se orgulham de pertencer às FFAA brasileiras. Aí me pergunto: onde anda a fleuma das nossas autoridades militares? Será que a passagem para o posto de general obscurece a paixão pela farda? Perde-se um pouco do entusiasmo, trocando-o pelo vislumbre de uma bem valorizada passagem para a reserva, com uma colocação em uma diretoria de uma estatal, ou um cargo comissionado no exterior? Este pensamento levou-me à matéria que esta semana foi ao ar pela TV Bandeirante, abordando a situação de calamidade em que se encontra a Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, após a demarcação em área contínua, e consequente expulsão de pequenos produtores de arroz e criadores de gado. Fiquei chocado com a participação do ex Comandante Militar da Amazônia, General Augusto Heleno. Ele apareceu na reportagem seguindo o repórter, com a sua nova indumentária, agora de cidadão civil, caminhando praticamente atrás do entrevistador, que andava a passos largos em direção a uma maloca de índios. Ele parecia que falava sozinho! A cena me reportou também ao Brig-do-Ar Juniti Saito, correndo atrás do ministro da Defesa. Enquanto o senhor Nelson Jobim dava uma passada, o brigadeiro se desdobrava para acompanhá-lo, praticamente correndo para alcançá-lo. No caso da participação do General Augusto Heleno, a reportagem poderia dar um tratamento mais obsequioso ao entrevistado, colhendo o depoimento em um lugar mais adequado, como por exemplo: fazendo uma parada em uma elevação, ou sentado num tronco dentro de uma maloca de índios. Seria uma entrevista formal, e condizente com o posto do entrevistado.
Nossas autoridades militares têm se descuidado com as suas imagens. Um pouco mais de cerimonial, não faria mal. O mesmo digo com relação ao tratamento que deveriam receber do ministro da Defesa, que sem a mínima consideração as tratam como uns "Zé Ninguém"! Respeito é bom, e as nossas autoridades deveriam exigir!
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2011.
Fonte: Pequenas Histórias
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