por João Mellão Neto
Se você tem um bom automóvel, uma casa confortável e uma renda folgada, parabéns! Mesmo sem saber, você faz parte "da zelite".
Você argumentará que seu carro é financiado, sua casa está hipotecada e sua renda provém de salário. Ou poderá dizer que é um profissional liberal que sua a camisa por cada centavo que amealha. Tanto faz. Em qualquer das condições acima, você, inapelavelmente, é "da zelite".
No caso de você possuir um negócio próspero e empregar alguns funcionários, aí, então, a coisa piora. De nada adianta você evocar a sua origem humilde e afirmar que tudo o que possui provém de seu próprio esforço. Em qualquer circunstância você faz parte "da zelite" mesmo.
E o que é, afinal, "a zelite"?
Segundo o discurso oficial, trata-se de uma gente míope, egoísta e inconsequente que — a partir de uma visão muito particular da História — esteve no poder nos últimos cinco séculos e é, portanto, responsável por todas as mazelas nacionais.
No caso de você ser branco e ter olhos azuis, a coisa piora. Segundo o líder maior, você é um sujeito irresponsável e ganancioso, que — fazendo parte de uma congregação maior — por sua cupidez e volúpia, acabou criando um clima propício para que se instalasse a atual crise mundial. Afinal, onde já se viu banco quebrar? Só pode ser porque era dirigido por gente cega como você.
Pelo sim, pelo não, vá a uma ótica e trate de comprar e colocar, ao menos, umas lentes de contato que mudem a cor de seus olhos.
"A zelite" é egoísta e voluptuosa. Dispõe-se a "explorar" todos, desde a coitadinha da doméstica até profissionais de nível superior.
Não tem como escapar disso. Quanto mais pessoas você emprega, mais explorador você é.
Qual é a lógica que preside e dá sentido a tudo isso?
Simples. Trata-se de uma espécie de marxismo cuidadosamente apurado e adequado às circunstâncias próprias a um clima tropical.
O raciocínio, devidamente resumido, é o seguinte: um trabalhador que labore 40 horas semanais acaba não recebendo do patrão um salário equivalente ao seu esforço. Recebe menos. A diferença fica com o patrão. É o lucro dele. E é por isso que ele é rico.
E o mérito?
Não há lugar para mérito nesse processo. O patrão é sempre um explorador.
O que fazer para identificar um membro "da zelite"?
Fácil. Basta reparar no relógio ou nas roupas com que costuma se apresentar. É tudo coisa "de grife", como se diz. Coisa que os pobres não podem usar. É muito cara e, portanto, supérflua.
Gente "da zelite" frequenta lugares da moda e costuma esbanjar dinheiro. O preço, por exemplo, de uma única refeição num restaurante chique daria para alimentar pelo menos uns dez meninos de rua. E "a zelite" ainda tem o desplante de reclamar quando esses desvalidos, num momento de desespero, tomam uma arma e a assalta nos semáforos. Exige punição. Acontece que a polícia não está aí para acudi-la. Ela deve, isso sim, é trabalhar nos bairros periféricos para garantir a segurança dos pobres.
Aliás, é justamente na área pública que se identificam os marxistas tropicais.
Ninguém propõe, pura e simplesmente, o massacre, a extinção "da zelite". Isso é coisa do marxismo antigo e não existe mais em lugar nenhum. Ela deve continuar existindo, ao menos para pagar impostos e, assim, garantir a arrecadação. Cabe ao Estado apossar-se desses recursos e redistribuí-los a quem deles precisa.
Agora, beneficiar "a zelite" com políticas públicas, jamais.
O preço a pagar pelo status de pertencer a ela é bastante elevado. Paga-se, no mínimo, um terço do que se ganha em tributos. A carga tributária nacional é de 38%.
Se for considerado que os membros "da zelite" pagam tudo em dobro, o peso do Estado em sua vida é muito maior. Paga-se pelo ensino gratuito e pela escola particular. Custeia-se a saúde pública e paga-se convênio pela assistência médica privada. Sustenta-se a segurança pública e mantém-se também um serviço de segurança das nossas ruas ou dos nossos condomínios.
Ninguém se recusa a pagar impostos, mas se entende que seria de bom alvitre se se visse o retorno disso em obras e serviços para os menos favorecidos. Qual o quê! Afora o Bolsa-Família, tudo o que mais existe não passa de discurso. Esse programa mesmo — menina dos olhos do atual governo — é puro assistencialismo, pois de nada serve para que os pobres possam deixar de sê-lo.
O discurso que se pratica é de ressentimento contra "a zelite". Seu surgimento é de longa data. Mas foi inaugurado publicamente em 1989, quando o atual presidente — então candidato ao cargo pela primeira vez — logrou passar para o segundo turno. Mesmo que os comunistas, no mundo, estrebuchassem em seus derradeiros estertores, aqui, no Brasil, suas palavras de ordem haviam obtido alento. Foi com esse discurso que elas deixaram os bancos das universidades para ganhar as ruas.
Esse tipo de discurso tem servido apenas para disfarçar e justificar a inatividade e a incompetência de quem o faz.
"A zelite", ou as elites, somos eu, você, todos nós que, pelo estudo ou pelo trabalho, logramos nos destacar dos demais. Todo povo tem elites. E nós, agora, além das elites tradicionais temos uma nova. Que se moldou nos sindicatos e nas universidades e pretende se firmar justamente por meio de um discurso antielites.
Nós nunca cobiçamos as casas dos nossos vizinhos. Trabalhamos e lutamos para construir as nossas. E esperamos dos nossos vizinhos que não as cobicem, também.
Você argumentará que seu carro é financiado, sua casa está hipotecada e sua renda provém de salário. Ou poderá dizer que é um profissional liberal que sua a camisa por cada centavo que amealha. Tanto faz. Em qualquer das condições acima, você, inapelavelmente, é "da zelite".
No caso de você possuir um negócio próspero e empregar alguns funcionários, aí, então, a coisa piora. De nada adianta você evocar a sua origem humilde e afirmar que tudo o que possui provém de seu próprio esforço. Em qualquer circunstância você faz parte "da zelite" mesmo.
E o que é, afinal, "a zelite"?
Segundo o discurso oficial, trata-se de uma gente míope, egoísta e inconsequente que — a partir de uma visão muito particular da História — esteve no poder nos últimos cinco séculos e é, portanto, responsável por todas as mazelas nacionais.
No caso de você ser branco e ter olhos azuis, a coisa piora. Segundo o líder maior, você é um sujeito irresponsável e ganancioso, que — fazendo parte de uma congregação maior — por sua cupidez e volúpia, acabou criando um clima propício para que se instalasse a atual crise mundial. Afinal, onde já se viu banco quebrar? Só pode ser porque era dirigido por gente cega como você.
Pelo sim, pelo não, vá a uma ótica e trate de comprar e colocar, ao menos, umas lentes de contato que mudem a cor de seus olhos.
"A zelite" é egoísta e voluptuosa. Dispõe-se a "explorar" todos, desde a coitadinha da doméstica até profissionais de nível superior.
Não tem como escapar disso. Quanto mais pessoas você emprega, mais explorador você é.
Qual é a lógica que preside e dá sentido a tudo isso?
Simples. Trata-se de uma espécie de marxismo cuidadosamente apurado e adequado às circunstâncias próprias a um clima tropical.
O raciocínio, devidamente resumido, é o seguinte: um trabalhador que labore 40 horas semanais acaba não recebendo do patrão um salário equivalente ao seu esforço. Recebe menos. A diferença fica com o patrão. É o lucro dele. E é por isso que ele é rico.
E o mérito?
Não há lugar para mérito nesse processo. O patrão é sempre um explorador.
O que fazer para identificar um membro "da zelite"?
Fácil. Basta reparar no relógio ou nas roupas com que costuma se apresentar. É tudo coisa "de grife", como se diz. Coisa que os pobres não podem usar. É muito cara e, portanto, supérflua.
Gente "da zelite" frequenta lugares da moda e costuma esbanjar dinheiro. O preço, por exemplo, de uma única refeição num restaurante chique daria para alimentar pelo menos uns dez meninos de rua. E "a zelite" ainda tem o desplante de reclamar quando esses desvalidos, num momento de desespero, tomam uma arma e a assalta nos semáforos. Exige punição. Acontece que a polícia não está aí para acudi-la. Ela deve, isso sim, é trabalhar nos bairros periféricos para garantir a segurança dos pobres.
Aliás, é justamente na área pública que se identificam os marxistas tropicais.
Ninguém propõe, pura e simplesmente, o massacre, a extinção "da zelite". Isso é coisa do marxismo antigo e não existe mais em lugar nenhum. Ela deve continuar existindo, ao menos para pagar impostos e, assim, garantir a arrecadação. Cabe ao Estado apossar-se desses recursos e redistribuí-los a quem deles precisa.
Agora, beneficiar "a zelite" com políticas públicas, jamais.
O preço a pagar pelo status de pertencer a ela é bastante elevado. Paga-se, no mínimo, um terço do que se ganha em tributos. A carga tributária nacional é de 38%.
Se for considerado que os membros "da zelite" pagam tudo em dobro, o peso do Estado em sua vida é muito maior. Paga-se pelo ensino gratuito e pela escola particular. Custeia-se a saúde pública e paga-se convênio pela assistência médica privada. Sustenta-se a segurança pública e mantém-se também um serviço de segurança das nossas ruas ou dos nossos condomínios.
Ninguém se recusa a pagar impostos, mas se entende que seria de bom alvitre se se visse o retorno disso em obras e serviços para os menos favorecidos. Qual o quê! Afora o Bolsa-Família, tudo o que mais existe não passa de discurso. Esse programa mesmo — menina dos olhos do atual governo — é puro assistencialismo, pois de nada serve para que os pobres possam deixar de sê-lo.
O discurso que se pratica é de ressentimento contra "a zelite". Seu surgimento é de longa data. Mas foi inaugurado publicamente em 1989, quando o atual presidente — então candidato ao cargo pela primeira vez — logrou passar para o segundo turno. Mesmo que os comunistas, no mundo, estrebuchassem em seus derradeiros estertores, aqui, no Brasil, suas palavras de ordem haviam obtido alento. Foi com esse discurso que elas deixaram os bancos das universidades para ganhar as ruas.
Esse tipo de discurso tem servido apenas para disfarçar e justificar a inatividade e a incompetência de quem o faz.
"A zelite", ou as elites, somos eu, você, todos nós que, pelo estudo ou pelo trabalho, logramos nos destacar dos demais. Todo povo tem elites. E nós, agora, além das elites tradicionais temos uma nova. Que se moldou nos sindicatos e nas universidades e pretende se firmar justamente por meio de um discurso antielites.
Nós nunca cobiçamos as casas dos nossos vizinhos. Trabalhamos e lutamos para construir as nossas. E esperamos dos nossos vizinhos que não as cobicem, também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário