por Marcos Pontes
A gente ouve falar, sabe que existe, mas não tem consciência de certas coisas até ter contato próximo com elas. A partir desse contato tomamos a devida, ou a mais real, noção de sua magnitude, sejam coisas boas ou más.O Nei é amigo de longa data e embora moremos na mesma rua, nos vemos pouco. Trabalho, família, poucos amigos comuns e as muitas viagens que ele faz não nos permitem contato mais próximo, mas sempre que isso ocorre a conversa rola fácil e, até uns três anos atrás, sempre ficava o convite de parte a parte para um churrasco e uma cervejinha, que nunca se concretizava.
Passamos dois anos sem nos ver, o que parece incrível dada a distância entre nossas casas. Com a filha estudando no interior, o filho no interior de São Paulo, empresa em Porto Seguro, espírito aventureiro e uma boa condição financeira fazem e permitem que esteja sempre dentro de seu jipe nas estradas do país ou em algum avião.
Em meados de 2010 nos encontramos casualmente na rua. Ele magro, envelhecido, muitas olheiras e um tremendo ar de cansaço. Depois dos cumprimentos efusivos, perguntei pela cervejinha que já deveria ter congelado dado o tempo em que a colocamos no freezer e jamais arranjávamos tempo para bebermos juntos. Meio sem jeito, disse que não bebia mais, havia contraído hepatite C e estava havia mais de um ano num tratamento doloroso, cansativo e interminável.
Aquela doença de que já havia ouvido falar me mostrava na aparência abatida do Nei que ela existe, machuca, abate.
Hoje, Dia Mundial de Combate à Hepatite C, sob sugestão de http://www.meglon.blogspot.com/, resolvi falar do assunto.
Telma e Sônia capitaneiam o blog que trata do assunto com depoimentos, artigos, entrevistas com especialistas, sempre alertas e alertando para os riscos da doença, sua prevenção, as leis que se aplicam ao tema, apoio aos portadores do vírus, enfim, uma cruzada particular que se espalha para a sociedade sem os recursos desviados que as ONG costumam superfaturar para colocarem em prática seus intentos nem sempre nobres.
Estas senhoras fazem uma campanha permanente que deveria caber ao Estado, mas que não recebe a devida atenção, afinal de contas, existem coisas muito mais urgentes com que os governos devem se preocupar e ocupar seu tempo e recursos, como trem bala, lei da palmadinha, kit gay, campanha antitabagismo em contrapartida à legalização da maconha, acobertamento da riqueza instantânea e mal explicada de seus componentes, emprego dos partidários sem concursos públicos, enfim, uma gama de preocupações mais urgentes e necessárias para o bem estar da população.
A hepatite do tipo C não tem vacina, sua prevenção é sanitária e sua principal causa de transmissão é a transfusão de sangue, embora possa ocorrer por meio de outras secreções corporais. Será que uma campanha pelos veículos de comunicação seria tão mais cara do que o José de Abreu anunciar a vacinação contra a gripe? Ou menos importante do que os cinco filmes que a Matisse Planejamento e Comunicação fez para elevar a confiança do brasileiro nas ações do governo federal? Ou não teria espaço entre as 138 licitações abertas pelo governo federal para propagandas somente nesses 5 primeiros meses de 2011?
É, talvez não seja mesmo importante. Depois que a campanha para a doação de medula e sangue veiculada por tuiteiros fez subir mais de 50% as doações, sem sequer a unha do dedo mindinho do pé esquerdo do Ministério da Saúde e nenhum centavo do dinheiro público, as campanhas particulares, boca a boca, e-mail a e-mail, Twitter a Twitter, blog a blog seja mais eficaz e crível.
Fonte: Esculacho e Simpatia
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