domingo, 13 de março de 2011

Carro Mata Tanto Quanto o Cigarro

por Carlos Chagas
Ainda sujeita a aumentar, a estatística do Carnaval revela o abominável número de 189 mortos em acidentes de trânsito, em todo o país, além de 2.152 feridos em 3.563 acidentes. Descontada ou acrescida pela imperícia e a irresponsabilidade de motoristas, ou somada ao lastimável estado das estradas, a conclusão óbvia é de que carro mata. Caminhões e ônibus, também. São máquinas mortíferas.
Quem fuma é submetido às maiores discriminações e humilhações, ficando para outro dia a evidência de que na juventude fomos expostos  à mais espetacular das propagandas, capaz de induzir-nos ao vício. Não havia um herói ou uma mocinha que não fumasse nas mais diversas situações,  na tela dos cinemas.
Ao comprar um maço de cigarros, somos obrigados a levar, também,  execráveis imagens de gente sem perna, com feridas à mostra, estatelada em leitos de hospital, com as entranhas de fora  e mais horrores idealizados pela fúria dos não-fumantes.
Cigarro  mata? Mata. Mas se é para adotar medidas radicais contra o fumo, que se fechem as fábricas, que se proíba o seu funcionamento e a comercialização de seu produto. A isso, porém, não chegam nem  chegarão os adversários do cigarro, quando autoridades. Ou as fábricas não contribuem com fabulosas taxas e impostos para os cofres públicos, além de grandes doadoras  em todas as campanhas políticas?
O raciocínio precisa continuar: carro mata, e em certos períodos  mais do que o cigarro.
Por que, então, ao  saírem das montadoras, os automóveis, caminhões e ônibus  não são obrigados a ter incrustadas em seus pára-brisas imagens de desastres horrorosos, como alerta dos riscos a que estarão correndo motoristas e passageiros?
Mais ainda, por que não proibir, como proibiram a propaganda de cigarros, também a propaganda desses carrões, inundando  nossas telinhas e atormentando  nossa paciência, sem falar nos anúncios em jornais, revistas e sucedâneos? O carro  mata? Então que se adote, diante dele, as mesmas providências tomadas contra o cigarro.
Só para terminar: todos os dias somos surpreendidos com novas iniciativas contra o fumo e os fumantes. Havia hotéis, no mundo inteiro, com andares exclusivos para não fumantes. Agora virou. É proibido fumar na maioria dos hotéis, mesmo nos quartos pelos quais pagamos a hospedagem.  No Japão, impede-se que se fume parado na rua. Os japoneses precisam aspirar fumaça andando. Em Nova York ficou pior: é proibido fumar até no Central Park.
Vamos fazer votos para  a Humanidade, um dia desses, não proibir  que se beba água. Porque  água também mata. Que o digam os afogados...
COMENTO:  a mim, parece extremamente hipócrita o que se faz com a indústria do fumo no Brasil. Sabe-se que tanto a arrecadação de impostos quanto as contribuições para campanhas políticas da parte das empresas exploradoras do tabaco são imensas. Oficialmente o governo condena o consumo do fumo, mas sem tomar medidas efetivas para impedir tal ato. É mais ou menos parecido com a política adotada para comportamentos "não ortodoxos" como devassidão ou uso de drogas. Condena e ao mesmo tempo  incentiva distribuindo preservativos e seringas à freguesia, enquanto paga propaganda cara a respeito. Afinal,  propaganda e produtos distribuídos envolvem grana grande; o mesmo quanto às drogas, e sabe-se lá quanto rende a união dessas tetas?  Uma mostra da ambiguidade governamental quanto ao fumo é relatada por Políbio Braga:
"Produtores gaúchos mobilizam-se para impedir que governo acabe com produção de fumo
Quando o governo brasileiro mandou missão a Punta Del Este para participar da reunião da OMS, 15 de novembro do ano passado, que decidiria pela extirpação de uma modalidade de fumo trabalhado, o Burley, os produtores começaram a se preparar para o pior.

. A Anvisa veio logo em seguida e editou Consultas Públicas, as de número 112 e 117, propondo justamente a proibição de aditivos no tabaco do tipo Burley, o que inviabiliza qualquer processo de industrialização.

. Na prática é isto.

. O RS é o maior produtor brasileiro de fumo (51,5%), seguido de Santa Catarina (34%). São 700 municípios envolvidos com a produção, 235 mil famílias de pequenos produtores, 20 mil trabalhadores industriais e 1 milhão de pessoas envolvidas na cadeia produtiva. Muitos municípios dependem totalmente da receita da produção.

. Os sindicatos ligados à produção e à industrialização, inclusive de trabalhadores, querem que o governo pare com as consultas da Anvisa, cujo objetivo é extirpar a produção de fumo (a Consulta Pública 117 visa proibir até a exposição de cigarros nos pontos de venda).

. No dia 11/3, em Santa Cruz do Sul, RS, a Assembléia do RS realizará audiência pública para tirar uma posição comum e ir a Brasília. Na semana passada, numa reunião da Afubra, a senadora Ana Amélia lembrou que seis ministros assinaram uma Declaração Interpretativa sobre a Convenção Quadro, que prevê a eliminação do plantio e industrialização do fumo, repelindo qualquer restrição á atividade. A declaração é claríssima. Na época, Dilma Roussef era ministra da Casa Civil. O problema é que o governo assina uma coisa e manda fazer outra.

- Nas eleições do ano passado, a região fumicultura gaúcha votou em massa na candidata do PT. Alguns municípios concederam-lhe 80% dos votos.

CLIQUE AQUI
para ler a Declaração Interpretativa."
Aos gaúchos que deram 80% dos votos à atual Presidente, uma palavra de consolo:    "F***m-se!!"   Quanto aos automóveis, o raciocínio é igual. Há campanhas contra altas velocidades e propagandas de que modelos de carros vão do Zero aos 100Km/hora em 4 ou 5 segundos, ou que tal carro é o "mais veloz da categoria",  ou que o modelo "X" alcança 180 Km/hora quando a velocidade legal máxima no país é de 140 Km/hora. Pune-se, corretamente, o uso de  telefone celular ao dirigir mas não são raras as propagandas de um ou outro produto ligarem seus usos concomitantes, e ao "charme e liberdade" que isso provoca. O mesmo quanto ao uso de álcool. Raras propagandas de bebidas não juntam carros e mulheres bonitas ao "bonitão" bebedor. E assim segue a humanidade!

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