por Márcio Accioly
Vejam só que absurdo: representantes de nossa democracia, baluartes do “Estado de Direito” vigente no Brasil, já não são mais respeitados como antes. Por isso, está coberto de razão o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), que reclamou junto ao ministro Gilberto Gil (Cultura), na última sexta feira (23), de problema muito sério.
Como todos têm conhecimento, não se deve brincar com autoridades no Brasil. Desavisados buscam maneiras de levá-las ao ridículo. Aqui, se há grupo preocupado com o desenvolvimento do País, além do fortalecimento moral de nossas instituições, são justamente as autoridades que nos representam.
E com o quê está preocupado o excelentíssimo senhor senador? Com a possibilidade de aplicação de dinheiro público em filmes que retratem ex-presidentes em situação, digamos, desconfortável.
Ele se referiu claramente a um deles, rodado pelo diretor José Eduardo Belmonte, no qual assaltantes armados utilizam máscaras de José Sarney (PMDB-AP), Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e FHC (PSDB-SP). É possível, até, que seja criada uma lei para coibir tais abusos.
Isso, porque o Brasil é país sério, no qual seus homens públicos se sacrificam de forma desmedida para lutar e defender cidadãs e cidadãos que trabalham quase seis meses para pagar impostos, todos os anos, a fim de sustentar essa gente.
Nos EUA, em 1991, foi rodado um filme estrelando Keanu Reeves e Patrick Swayze, “Caçadores de Emoção” (Point Break), retratando uma gangue de ladrões de bancos que se autodenomina “Os ex-presidentes”.
Ali, membros da quadrilha cometem assaltos com máscaras dos ex-presidentes Lyndon Johnson (1963-69), Richard Nixon (1969-74) e Ronald Reagan (1981-89).
Apesar disso, o império norte-americano não se desmontou (muito pelo contrário, continuou matando e roubando os países ricos em reservas naturais da mesma forma), nem o conceito dos ex-presidentes piorou ou melhorou, pois existem centenas de publicações a respeito de todos eles, à disposição dos interessados em história.
Quem iria mudar seus conceitos com relação a Sarney, Collor e FHC, por conta de um mísero filme?
Sarney (1985-90), que foi acusado dos maiores desvios e roubos já praticados na Presidência da República, teve pedido de impeachment arquivado pelo então pefelista Inocêncio Oliveira, na hora em que assumiu interinamente a Presidência da Câmara dos Deputados, cujo titular era Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).
Collor (1990-92), afastado por impeachment, viu todos os processos a que respondia serem arquivados no STF — Supremo Tribunal Federal —, ficando o dito pelo não dito. Deveriam encontrar, isso sim, uma fórmula que lhe permitisse voltar ao Palácio do Planalto e terminar o mandato injustamente (na opinião do STF), cassado.
Já FHC (1995-2003), o que encontraram de negativo (ou positivo), contra sua ex-excelência? Nada vezes nada. Agora, até a CPI dos Cartões Corporativos, que deveria apurar alegados milhares de reais gastos com filhos que teve com Mirian Dutra e a cozinheira do então senador Ney Suassuna (PMDB-PB), foi sepultada em acordo.
O Brasil deve dar lição de moralidade ao mundo. Mostrar que com autoridades não se deve brincar. Daqui a pouco, se permitirem, vão fazer filme ou paródia com o próprio filho de Arthur Virgílio (o Arthur Bisneto), que, dia desses, embriagado, foi na Grande Fortaleza (CE), e baixou as calças na exibição de suas nádegas a transeuntes.
Afinal, a região glútea é dele e ele mostra a quem quer. Ninguém tem nada a ver.
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